26 de mar. de 2006

Quem defende os direitos de Francenildo?

O Correio Braziliense deste domingo traz uma entrevista com o Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia Política da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Romano é também colunista da revista Primeira Leitura e foi capa da edição de fevereiro. Leia abaixo trechos do que ele diz ao Correio. Por que os parlamentares insistem tanto em contrariar — e até mesmo enfrentar — a opinião pública? –
“Porque foram acostumados a considerar a imprensa apenas enquanto meio de propaganda. Eles aprenderam que a comunicação possui sentido único: deles para os eleitores, sendo a midia só um instrumento ao serviço dos seus interesses. Como poucos deles possuem talento de comunicador, julgam que as críticas ou mesmo as notícias servem apenas para prejudicá-los. E imaginam que os veículos da imprensa que informam o cidadão os boicotam, perseguem etc. Isto, de um lado. De outro, sua formação política e humanística precária não integrou conhecimento histórico sobre a origem e a essência da democracia. Some-se a esse lapso em sua formação o fato de terem sido educados num país que sofreu sob duas longas ditaduras em menos de um século, a de Vargas e a militar. E acrescente-se o controle oligárquico do eleitorado, o qual permite aos políticos submissos à oligarquia certa independência diante da mídia, por motivos óbvios. Temos a receita dos parlamentares que votam em causa própria e "absolvem" seus pares, mesmo que estes últimos tenham contra si evidências de que romperam com a lei. O voto secreto — que só é admissível em grave crise ou guerra civil, ou em questões de segurança nacional — é um ingrediente na receita dos representantes que não`representam´ seus eleitores, mas apenas os seus interesses pessoais ou de grupo: eles sabem que é difícil para a imprensa atingir o seu voto real. Jogam com a ignorância do eleitor. E todos esses pontos levam os mesmos parlamentares ao ódio à opinião pública e à mídia. Eles fogem dos jornalistas como o morcego evita a luz solar. A transparência democrática é algo que fere a sua sobrevivência política.”
Mas a crise não se restringe ao Legislativo. No caso do ministro Antonio Palocci, há uma série de fatos nebulosos que descambou para um fato extremamente grave, que foi a quebra de sigilo do caseiro Francenildo…
"Platão diz, nas “Leis”, que nenhum Estado subsiste se nele as dores e alegrias dos indivíduos não forem as dores e alegrias do coletivo, e vice versa. Queria ele indicar que um Estado onde os indivíduos não são respeitados e não respeitam está à beira da ruína. O Brasil encontra-se naquela situação a partir da quebra do sigilo bancário do caseiro. Todos os brasileiros e, além deles, os investidores estrangeiros, passam a saber que o governo atual abrirá suas contas, desde que discordem das autoridades ou tenham a ousadia de testemunhar sobre sua falta de compromisso com a verdade. O episódio é particularmente grave porque o Estado moderno possui três monopólios que só podem ser mobilizados em defesa de todos e de cada um dos cidadãos: o da força física, da norma jurídica, da licença para extrair impostos. Os três foram usados pelo governo não para proteger uma pessoa sob sua guarda, mas, com silêncio dos outros Poderes (salvo a oposição parlamentar), para intimidar um cidadão que não tem a força, a norma jurídica, os impostos de seu lado. E isto no mesmo instante em que milhões foram usados ilegalmente para garantir o poder do partido dominante. Certa feita, um moleiro entrou em querela jurídica contra o poderoso rei da Prússia. O tribunal deu-lhe ganho de causa contra o soberano. 'Ainda existem juízes em Berlim', teria dito o moleiro. Quem defende os direitos de Francenildo? Existem juízes em Brasília ? Se a resposta for positiva, está com eles a palavra.”

Um comentário:

Anônimo disse...

em pesa a precisão dos comentários do professor,
ele devia dar mais classes de ética ao ambiente em que trabalha...
essa academia não é exatamente um exemplo em ética e correção