9 de dez. de 2007

A Máscara da Inveja

"A inveja é a paixão que vê com maligno desgosto a superioridade dos que realmente têm direito a toda a superioridade que possuem." (Adam Smith)


O escritor argentino Gonzalo Otálora causou polêmica ao defender a cobrança de impostos das pessoas consideradas mais belas para compensar o "sofrimento" daqueles que supostamente foram menos favorecidos pela natureza. O escritor disse que sua iniciativa tem o objetivo de provocar um debate sobre o culto à beleza. Com um megafone, ele foi à frente da Casa Rosada reclamar os "direitos" dos feios. Esperava contar com o apoio do então presidente Kirchner, a quem classifica como "pouco atraente". Otálora alega que os deboches sofridos na infância prejudicaram sua auto-estima e atrapalharam na conquista de melhores empregos. Em sua opinião, um dos assuntos que deveriam ser debatidos é a representação de "todos os tipos de constituição física" nos desfiles de moda. A inveja é alçada ao patamar de justiça, e a mediocridade é enaltecida enquanto o superior é condenado por suas virtudes, e não vícios.

Ainda que as demandas do argentino feioso pareçam absurdas – e são, elas no fundo representam apenas os ideais igualitários levados ao extremo de sua coerência. No fundo, um igualitário deveria pregar a igualdade plena, abolindo qualquer tipo de diferença entre os indivíduos. Aquele igualitário que prega uma distribuição de riqueza igual entre os indivíduos precisa aplaudir o apelo do argentino sob pena de ser acusado de materialista, caso não o faça. Ora, ficaria evidente demais que ele só pensa em dinheiro! Por que todos deveriam ter uma renda igual, mas rostos diferentes, podendo se destacar pela beleza num desfile? Onde estaria a igualdade? Na verdade, os igualitários, ou socialistas, pregam a igualdade das contas bancárias, assumindo involuntariamente que focam apenas nos bens materiais. Normalmente, são os primeiros a acusar os capitalistas de materialistas, mas só querem saber de dinheiro. Talvez porque demandar igualdade em outros campos tornaria o verdadeiro motivador de suas idéias aparente demais. E este motivador é conhecido: a inveja.

Na década de 1960, os igualitários ganharam força, levando George Orwell a escrever 1984, uma distopia que explorava a inveja na política. O Partido Trabalhista inglês, de esquerda, demandava uma sociedade de iguais "absolutos". Uma novela satírica iria explorar esta "paixão anti-social", como dizia Mill, no campo do cotidiano. O escritor inglês L. P. Hartley era o autor, e a obra chamava-se Facial Justice, comentada no excelente livro de Helmut Schoeck sobre o tema, intitulado Envy: a Theory of Social Behaviour. Na sátira, Hartley chega à conclusão lógica através das tendências do século passado, e expressada por Schoeck no seu livro, sobre a estranha tentativa de legitimar o invejoso e sua inveja, de forma que qualquer um capaz de despertar inveja é tratado como anti-social ou criminoso. Em vez de o invejoso ter vergonha de sua inveja, é o invejado que deve desculpas por ser melhor. Há uma total inversão dos valores, explicada apenas por uma completa aniquilação do indivíduo em nome da igualdade coletivista. Os seres humanos passam a ser tratados como insetos gregários, e o indivíduo que ousa se destacar passa a ser tratado como um inimigo da "sociedade". O rico, ainda que tenha criado sua riqueza de forma honesta através de trocas voluntárias, é execrado pelos invejosos. O sucesso individual é um pecado!

A heroína da novela de Hartley chama-se Jael, uma mulher que, desde o começo, não se conforma com a visão igualitária, recusando-se a aceitar porque pessoas mais bonitas ou inteligentes deveriam se anular como indivíduos por causa da inveja alheia. A novela se passa no futuro, depois de uma Terceira Guerra Mundial, e as pessoas eram divididas de acordo com o grau de aparência. A meta era obter uma igualdade facial, pois a igualdade material não era suficiente para acabar com a inveja: alguns sempre terão algo que os outros não têm e invejam.* Havia um Ministério da Igualdade Facial, e a extirpação dos rostos tipo Alfa, os mais belos, não bastava, pois os rostos tipo Beta ainda estavam em patamar superior aos do tipo Gama. Enquanto todos não tivessem a mesma aparência, não haveria justiça. Ninguém poderia ser desprivilegiado facialmente. Hartley combate a utopia dos igualitários, mostrando que a igualdade financeira jamais iria abolir a inveja na sociedade. Durante sua vida, ele demonstrou aversão a todas as formas de coerção estatal.

No livro Teoria da Personalidade, o psiquiatra G. J. Ballone diz: "Todas as tendências ideológicas que enfatizam a igualdade dos seres humanos, num total descaso para com as diferenças funcionais, ecoam aos ouvidos despreparados com eloqüente beleza retórica, romântica, ética e moral. Transportando tais ideais do papel para a prática, sucumbem diante de incontáveis evidências em contrário: não resistem à constatação das flagrantes e involuntárias diferenças entre os indivíduos, bem como não explicam a indomável característica humana que é a perene vocação das pessoas em querer destacar-se dos demais". O sonho com um mundo de iguais, como se homens fossem cupins, denota um escancarado complexo de inferioridade. As diferenças agridem este indivíduo, pois ele é incapaz de aceitá-las, provavelmente por detestar ver no espelho aquilo que o diferencia dos demais. A inveja toma conta de seus sentimentos, e a destruição dessas diferenças passa a ser sua meta. Como ele não suporta as conquistas alheias, ele demanda a mediocridade geral. Os coletivistas odeiam admitir que indivíduos possam fazer a diferença. A riqueza precisa ser explicada como um fatalismo coletivista, os méritos individuais precisam ser derrubados, as escolhas individuais cedem lugar ao determinismo, tudo para anular o indivíduo enquanto indivíduo, substituindo-o pelo coletivo.

Em resumo, o que está por trás do igualitarismo é apenas a inveja mesquinha. O socialismo não passa da idealização da inveja. O foco desses igualitários costuma ser somente o material por dois aspectos: é inviável pregar de fato a igualdade facial, por exemplo; e fazê-lo iria rasgar de vez a máscara da hipocrisia que cobre seus apelos invejosos do mais "nobre" altruísmo. Mas a lamentável verdade é que igualitários não suportam as diferenças. E como os indivíduos, felizmente, são diferentes, parece evidente que existirão vários graus distintos de beleza, inteligência, altura, velocidade, talento musical e sim, também renda. Para Bill Gates ficar bilionário, ele não teve que tirar nada de ninguém. Foram os consumidores que, voluntariamente, julgaram os produtos de sua empresa valiosos, pois criavam valor para eles. Logo, não há motivo algum para que o governo meta suas garras na fortuna de Gates de forma compulsória, em nome da "igualdade". Ele tem o direito de ser bem mais rico que os outros. Aqueles que não aceitam isso, desejando um imposto extorsivo sobre sua fortuna, podem tentar mascarar seu motivador com a desculpa que quiserem, mas isso não mudará o fato de que, por trás dessa máscara, reside somente a abominável inveja daqueles que não são capazes de admirar o sucesso alheio.


* No filme Círculo de Fogo, que conta a história de um soldado russo que precisa enfrentar um sniper enviado pelos nazistas especialmente para matá-lo, isso fica bem evidente quando um companheiro político, interpretado por Joseph Fiennes, acaba traindo Vasily Zaitsev, o soldado russo interpretado por Jude Law. Sua constatação, quando realiza sua traição, expressa a essência da mensagem. Ele descobre que sempre haverá algo no vizinho que desejamos, mas não possuímos, independente da igualdade material. No caso do filme, trata-se do amor de uma mulher, disputada por ambos. A inveja é uma característica da pessoa, não fruto das desigualdades em si, que sempre existirão.

A lição que veio da Venezuela


Já mencionei em artigo que a leitura de jornais velhos é bem interessante. Especialmente as matérias relativas à política mostram claramente algumas coisas, dessas corriqueiras, tais como: traição, mentira, não cumprimento de promessas, negativa na prática dos discursos, sobretudo os de cunho ideológico e uma cultura do cinismo que chega a ser espantosa. Se essas atitudes são comuns aos seres humanos, acentuam-se de forma mais evidente no palco do poder. Assim, as metamorfoses ambulantes dos nossos governantes, que nos surgem em jornais passados, ajudam a refrescar a memória. Aliás, é costume dizer que a memória do povo é curta, verdade incontestável, sendo que uma curiosa e recente experiência científica demonstrou que os chipanzés ganham dos humanos quando se trata da capacidade de memorizar.

No Brasil parece que realmente perdemos para nossos simpáticos primos macacos. Para começar, sabemos pouquíssimo sobre nossa história e muito menos sobre história mundial. E como somos parcos em heróis e tradições, nossos valores estão ligados àquilo que nos parece ser mais importante em termos de destaque coletivo, ou seja, o futebol. Já nossos ídolos não são mártires, estadistas ou vencedores do mundo empresarial. Diga-se de passagem, que odiamos a riqueza alheia, sempre vista com grandes desconfianças, apesar de desejarmos ardentemente sermos ricos.Na verdade, o que nos empolga são artistas ou cantores populares em seus fugazes momentos de glória. Faz também imenso sucesso programas televisivos como Big Brother Brasil que, ao espelhar através de seus participantes, mazelas sociais como mau-caratismo, vulgaridade, mediocridade, total ignorância dos mais básicos conhecimentos e abundância de anti-valores provocam aquela profunda e deliciosa sensação de identificação com os vencedores do glamouroso mundo da fama. Então, bem lá no seu íntimo, o homem comum, frustrado com sua vidinha desenxabida, conclui exultante: sou igualzinho a eles.

Mas, não apenas o desconhecimento da história é nossa marca registrada. Fatos recentes também nos escapam. E para piorar, ficou demonstrado que a Educação brasileira vai tão mal que nossos estudantes não entendem o que lêem e amargam a rabeira em matemática numa vasta lista de países. Conclui-se que passamos da civilização baseada na escrita e na racionalidade para a civilização auditiva, visual e emocional.

Desse modo, somos presas fáceis dos demagogos, dos populistas, dos tiranetes que satisfazem sua desmesurada ânsia de poder simulando ajudar os pobres, enquanto os mantém na pobreza através de caridades oficiais.

Na América Latina isso tem sido uma constante com momentos históricos em que a emergência de caudilhos é acentuada. Eles dão esmolas aos pobres, lucros aos ricos e carregam a classe média com impostos, fonte do sustento de suas cortes nababescas e perdulárias. Mas seu suporte político vem mesmo da classe mais baixa, sequiosa de um pai que lhe prodigalize facilidades e sedenta de revanche perante as classes médias e altas, que nem sempre, mas muitas vezes, não tratam bem os "de baixo", além de estabelecer o contraste que, na sociedade de apelo desenfreado ao consumo, chega a ser doloroso.

É nesse caldo cultural que vicejam com êxito os Fidel Castro, os Hugo Chávez, os Evo Morales, os Rafael Correia, e, porque não, os Lula da Silva e tanto outros que já passaram em nossas plagas latino americanas e que ainda surgirão, pois a mentalidade do atraso, que rejeita a riqueza e a democracia dos países capitalistas, apóia em nossos países a esquerda que, explorando o recalque, o complexo de inferioridade e a inveja, promove subliminarmente aquilo que tem como base esses ingredientes, ou seja: a luta de classes.

Quanto aos que governam em nome da esquerda, ao invés de promover o verdadeiro desenvolvimento de suas nações, através do tripé: Saúde, Educação e Trabalho, apelam para o discurso fácil e emocional das promessas ilusórias, aproveitam da pouca instrução do povo para anestesiá-lo com falsa propaganda e pretendem viverem felizes para sempre nas suas cortes de luxo e corrupção, visto que na América Latina não se valoriza a verdadeira democracia porque não se tem noção do que isto significa.

Há, porém, por conta de origens coloniais e históricas uma diferença marcante entre nós e nossos vizinhos: eles sabem se opor a governos indesejáveis e radicalizam suas atitudes políticas, inclusive, sendo capazes de morrer por seus ideais.

A Venezuela mostrou isso no recente referendo quando Chávez levou um "por que não te calas", não de um rei, mas do povo. Como bom democrata, segundo os petistas, e democrata elegante, conforme nosso chanceler de direito, Celso Amorim (o chanceler de fato é Marco Aurélio Garcia, aquele dos gestos obscenos), Chávez disse que a vitória de seus oponentes era de m... Só esqueceu de que o povo o mandou a isso mesmo. Aprendamos a lição dos venezuelanos.

A Virada da Irlanda



Reproduzido do Ratio Pro Libertas

“Não há como escapar das inexoráveis leis do mercado.” (Ludwig Von Mises)

Através da pura lógica econômica e de uma teoria apriorística acerca da ação humana podemos, em minha opinião, concluir quais são as principais bases para o desenvolvimento econômico de um povo. Mas isso não anula a importância do estudo de casos e de testes empíricos, o popular “teste do pudim”, que ilustra essas conclusões teóricas. Não devemos esquecer que uma observação empírica dos fatos foi o que levou Adam Smith a condenar o mercantilismo vigente em seu tempo. O caso da Irlanda vem bem a calhar então, pois se trata de um impressionante exemplo do sucesso das reformas liberais, que reduzem a intervenção estatal e aumentam a autonomia individual. A Irlanda aderiu com vontade ao capitalismo global, e isso permitiu um enorme crescimento econômico, levando a renda per capita dos irlandeses para patamares espantosos. O país, que era um dos mais pobres da Europa, mereceu o título de “tigre celta”. Não há milagre por trás deste sucesso, apenas lógica e respeito aos fatos da realidade. Atualmente, os cerca de quatro milhões de habitantes do país desfrutam de uma expectativa média de vida de 80 anos, e a mortalidade infantil está em apenas 5,2 para cada mil nascimentos (no Brasil essa taxa é de 27,6). O crescimento médio da economia foi de 6% ao ano entre 1995 e 2006. A agricultura, que já foi o setor mais importante do país, agora representa uma pequena parte do total, empregando apenas 8% da mão-de-obra e respondendo por 5% do PIB, cedendo espaço para a indústria e o setor de serviços. A Irlanda é agora um grande exportador de software e conta com a presença de várias empresas importantes de tecnologia. A taxa de desemprego ficou em apenas 4,3% em 2006. A renda per capita chegou a impressionantes US$ 44.500 em 2006, sendo 40% maior que a média das quatro maiores economias européias. Durante a última década, o governo irlandês adotou uma série de medidas liberais, atacando a inflação, reduzindo os gastos públicos e promovendo o investimento estrangeiro. O período de ajuste não foi fácil nem indolor, mas os resultados estão cada vez mais visíveis. Em conjunto com o The Wall Street Journal, o The Heritage Foundation publica todo ano o Index of Economic Freedom, onde calcula o grau de liberdade econômica existente em diferentes áreas para cada país. A Irlanda ocupava a sétima posição no ranking no último dado disponível, atrás apenas de Hong Kong, Cingapura, Austrália, Estados Unidos, Nova Zelândia e Reino Unido, não por acaso lugares ricos e desenvolvidos. A Irlanda conta com um elevado nível de liberdade para negócios, investimentos e finanças, além de garantir bem os direitos de propriedade privada. O empreendedorismo foi facilitado através de mudanças regulatórias, e iniciar um negócio lá leva apenas 19 dias, comparados a 48 dias de média mundial. No começo de 2003 o governo reduziu o imposto corporativo para 12,5%, bem abaixo da média européia. O país recebe quase um terço dos investimentos americanos destinados a União Européia. As tarifas médias de importação são de apenas 1,7%, ainda que outras formas de protecionismo vigorem, como no caso dos subsídios agrícolas. O setor financeiro é totalmente competitivo e aberto aos estrangeiros, e 115 bancos e instituições de crédito operam no país. Em 2002, o governo vendeu sua participação na última estatal do setor financeiro, o ACC Bank. Os direitos de propriedade são garantidos por um sistema judiciário de alta qualidade. Há pouca corrupção, como reflexo disso tudo. O calcanhar de Aquiles encontra-se nas questões trabalhistas, ainda que possam ser consideradas “ultra-liberais” se comparadas a situação brasileira. Mas há menor flexibilidade trabalhista se comparado aos Estados Unidos, por exemplo. Demitir um empregado pode custar caro na Irlanda, o que prejudica a contratação e as mudanças de emprego, afetando negativamente a produtividade. Um trabalhador médio recebe 15% do seu salário em benefícios, o que não chega ao patamar ridículo do Brasil, mas ainda assim limita a liberdade dos trabalhadores de escolher como receber seus salários. Ainda há o que melhorar nessa área. A comparação dos dados irlandeses com aqueles belgas é interessante para demonstrar o contraste do desempenho nos últimos anos. Os gastos públicos na Irlanda saíram de quase 50% do PIB no final da década de 80 para 34% atualmente, enquanto os gastos públicos na Bélgica continuam perto dos 50% do PIB. O desemprego, que oscilava perto de 10% até o final da década de 90, caiu para menos de 5% na Irlanda, e ainda encontra-se perto dos 7,5% na Bélgica. O crescimento da renda per capita dos dois países vinha num ritmo parecido até o final da década de 80, mas a virada irlandesa deixou um abismo entre ambos. Atualmente, a renda per capita da Irlanda já é 35% maior que a da Bélgica. Em 1994, os impostos sobre o salário eram de 55% na Bélgica e 38% na Irlanda. Em 2005, continuavam 55% na Bélgica, mas estavam em 25% na Irlanda. A dívida pública irlandesa, que estava em 94% do PIB em 1990, caiu para 25% do PIB em 2006, enquanto a da Bélgica ainda estava em 88% do PIB. A trajetória entre ambos os países foi bem diferente na última década, com a Irlanda sendo bem mais agressiva nas reformas liberais e redução do governo. Os resultados estão aí. O índice de desenvolvimento humano irlandês subiu 6,9% de 1995 até 2004, enquanto o belga aumentou apenas 1,7%. Atualmente, a Irlanda ocupa o quinto lugar no ranking, enquanto a Bélgica está no 17º lugar. Não é preciso limitar a comparação ao caso belga. A Irlanda dá um show em praticamente qualquer país europeu na última década. Seu crescimento na renda per capita foi quase o dobro daquele experimentado pelos demais países. Os gastos públicos de 34% do PIB são bem menores que a média de 46% na Europa ou 53% na França, que vive sérios problemas por conta do excesso de governo. A criação de empregos na Irlanda foi praticamente o dobro daquela observada no restante da região desde 1985. Somente a Espanha se aproxima do nível irlandês, também como resultado de várias reformas liberais. Enquanto a Alemanha, França e Itália fecharam 2006 com um déficit fiscal de 1,6%, 2,5% e 4,4% do PIB, respectivamente, a Irlanda apresentava um superávit de 2,9% do PIB no mesmo ano. Enquanto a dívida pública da Alemanha, França e Itália estava em 68%, 64% e 107% do PIB em 2006, respectivamente, a irlandesa era de apenas 25% do PIB. Os passivos sem cobertura das pensões garantidas pelos governos representam uma bomba relógio na região, chegando a impressionantes 285% do PIB na Eurolândia. Na França, esse montante passa dos 330% do PIB. Estima-se que aumentos de impostos de 5% a 15% serão necessários no futuro se as políticas sociais não mudarem. A Irlanda, por outro lado, apresenta 150% de passivo sem cobertura em relação ao PIB, pior apenas que Holanda e Reino Unido. Uma situação bem mais confortável e sustentável. Em resumo, a grande virada da Irlanda na última década não tem muito mistério, tampouco se explica por algum milagre qualquer. O país simplesmente resolveu encarar a dura realidade, adotar o capitalismo global como modelo, receber de braços abertos os investimentos estrangeiros, especialmente americanos, e reduzir drasticamente o peso do governo na economia. O resultado é uma das maiores rendas per capita do mundo!