7 de jul. de 2006

VIZINHO FORTE? - por Ralph J. Hofmann

Vivemos neste momento ao lado de um vizinho que está encomendando 350 mil fuzis, dez submarinos, sei lá quantas belonaves, várias esquadrilhas de aviões Sukhoy.

Aparentemente todo este aparato bélico é para defender-se dos Estados Unidos, segundo ele seu inimigo jurado de morte.

Interessante, mas insuficiente para enfrentar os Estados Unidos. Contudo um país vizinho?

A Bolívia já foi conquistada. Parece-me que somos nós, as antigas Guianas e a Colômbia que temos com que nos preocupar por enquanto.

Sempre que um país se arma muito mais que seus vizinhos e estiver sob o comando de um único líder com poder de vida e morte, sem obrigação de consultar pares ou parlamentares há um momento em que surge a tentação de verificar na prática o que todo este poderio militar poderá fazer.

A Alemanha alegou que precisava proteger os alemães étnicos dos Sudetos e invadiu toda a Checoslováquia. O Iraque decidiu que o Kuwait há 800 anos atrás fazia parte de seu país e invadiu aquele país. Pelos mesmos argumentos poderia ter dito que a Arábia Saudita também fazia parte de seu país.

A Argentina, necessitada de bois-de-piranha para distrair seu povo da violência com que estava tratando seus dissidentes decidiu que era dona das Ilhas Falkland da Inglaterra e do Canal de Beagle do Chile. Acabou causando uma guerra.

Em breve podemos esperar que o Hugo Chavez se lembre de que já houve um contencioso sobre a região do Essequibo, assunto que está dormente desde quase um século, mas que servirá muito bem para uma “guerra patriótica”.

Depois do Essequibo, a vez de quem será? Bem, um dia será o Brasil. Pelo menos quando não sobrarem outros vizinhos.

Naturalmente ainda temos bastante tempo, ao menos no que diz respeito a um ataque ao Brasil. Comprar aviões, submarinos e outros produtos bélicos sofisticados completamente novos representa um ou dois anos de treinamento de tropas que possam operá-los eficazmente.

Contudo, considerando a mingua que sofrem as forças armadas do Brasil não se sabe se haverá recursos para adestrá-los para enfrentar uma ameaça vinda do nosso norte próximo.

Também nada nos diz que nossas tropas efetivamente estão preparadas para enfrentar trezentos e cinqüenta mil milicianos venezuelanos armados de Kalashnikovs de última geração, se infiltrando para tomar nossas jazidas de ouro e diamantes.

É claro que provavelmente esses milicianos não estarão muito bem treinados, donde provavelmente após sofrerem uma ou duas emboscadas das tropas brasileiras devem ir para casa. Mas se forem assessorados por pessoal das Farc? Essa gente entende do riscado. Não que devam ganhar, mas onde ficamos depois de uma agressão dessas? Vamos invadir a lagoa de Maracaibo? Destruir os poços de petróleo bolivarianos para que falte dinheiro para continuarem se armando? E onde acaba isto?

Está na hora de agir pela via diplomática. O momento de protestar contra essas copiosas compras de armas capazes de agredir o Brasil é agora. Antes do fato consumado. Depois será tarde.

Somos vizinhos dos argentinos, que não morrem de amor pelo Brasil, sem que nos últimos 150 ou mais anos tenhamos entrado em guerra com eles. Em função disto temos um Itamaraty bem adestrado em fazer sua parte para garantir a paz. Deveríamos já estar acionando equipes qualificadas para trocar idéias com nossos militares.

De resto, peço desculpas aos nossos militares e ao Itamaraty, se, na penumbra, discretamente, tudo isto já estiver sendo avaliado.

Mas é preocupante.

...Com autorização do Ralph J. Hofmann