30 de ago. de 2008

O VOTO EM MIM MESMO


Quanto mais eu ouço falar em descrédito da classe política, mais eu me preocupo com a política e menos os políticos parecem se preocupar com seu descrédito. Os programas eleitorais parecem pílulas de ficção científica, quando não piadas surradas e de mau gosto, coisa que a gente já cansou há muito tempo. É o que temos e é o que somos, pois cada povo tem a nação que forma e que merece, cada povo tem uma democracia que é seu próprio reflexo no espelho e, por decorrência, cada povo tem a classe política que é a sua cara.

Se as assertivas acima continuam verdadeiras, com elas a triste verdade de se constatar que nós, o povo, somos iguais aos nossos políticos e somos, afinal, o que merecemos ser. Recebemos o que merecemos receber, temos o que merecemos ter. Culpamos a classe política como se ela não fosse nós mesmos. O político corrupto é parte de uma sociedade em que há um corruptor. É nesta mesma sociedade onde eu vivo, crio meus filhos e eles a meus netos. É desta sociedade que brotam os bons e os maus, os limpos e os sujos. Eu não sou apenas parte desta sociedade. Eu sou ela.

Vivo as contradições de minha sociedade todos os dias. Sinto-me tocaiado por ladrões e assassinos em meu próprio bairro. Minha praça está cheia de agulhas, seringas contaminadas e cacos de vidro. Meu filho tem a praça que merece, eu tenho a rua que mereço e a polícia que mereço, a lei que mereço. Eu sou o que mereço ser em meu país, minha cidade, meu bairro.

Viro o rosto e, sustentando meu queixo com os dedos polegar e indicador, chego à triste conclusão: Eu não acredito mais em mim. O descrédito não é apenas na classe política, nos juízes e na justiça, na polícia e na força do regramento social. Eu cheguei ao fundo de um poço que cavei e nem percebi. Chegamos ao final de um limite possível. Depois deste limite, resta-nos a barbárie.

Fragmentos da barbárie já nos são cotidianos. Há jovens carimbando seus passaportes para saírem do Brasil e não voltarem mais. “Ame-o MAS deixe-o”, decidem. De lá, mandam mensagens do tipo “posso caminhar à noite nas ruas sem me preocupar com a violência”. Ora vejam só! A Disneyworld da nossa juventude agora é andar nas ruas sem medo. E não são os velhos e cansados que estão em busca de uma nova nação. São os jovens. O tempora, O mores, Cícero.

Vou votar em quem, mesmo? Quem será o Chapolim Colorado (ou Gremista) que virá me salvar? É esta a minha democracia? É isto que eu sou?

Preciso de um motivo forte o suficiente para me demover da maldita e sedutora idéia de me transformar em um cidadão em Sidney ou em Toronto.

Inteligente

If men were angels, no government would be necessary