24 de jan. de 2006

GENERALÍSSIMOS

por Ralph J. Hofmann

Observando uma foto do Fidel Castro em revista ou jornal, subitamente me veio a mente uma capa de uma edição de bolso do livro “O General” de C.S. Forrester. Abaixo do título tinha uma chamada: “A loucura da mente militar”.

O livro descreve a vida de um general desses que chegou à maturidade, aos altos cargos, nos anos entre 1914-18. No caso general era inglês, mas poderia ser francês ou alemão.

O interessante é que eu lera o livro aos 10 anos, junto com As Quatro Penas Brancas, Beau Geste e outros. Nessa idade me pareceu uma simples história de guerra. Na releitura, já homem maduro via se a loucura do pensamento daqueles generais que mandavam fuzilar por covardia soldados do front ocidental da primeira guerra mundial, porque deduziam que, qualquer unidade que tivesse poucas baixas estava demonstrando pouco empenho. Neste livro em particular a história cobre a vida do sujeito desde a escola, passando pela academia militar e pelo serviço nas colônias até o comando de um exército. Mostra a criação, condicionamento de um homem insensível, potencialmente inteligente, mas embrutecido pelo meio.

Entre 1918 e 1950 proliferaram os generais. E mais. Apareceram os Generalíssimos. Franco, Chiang Kai Shek e outros. Os generais dos generais. Idi Amin Dada após tomar o poder, se auto-promoveu a Marechal-de-Campo. Tito se fez Marechal. Alguns poucos realmente tinham uma experiência militar que até explicaria o título. Outros não. Churchill andava freqüentemente de uniforme. Mas tinha direito aos uniformes que usava. Fora oficial cursado por Sandhurst, fora coronel na França em 1917, fora primeiro lorde do almirantado e fora ministro da aviação. Mas seus uniformes eram expressões do líder num tempo de guerra. Considerava seu principal mérito ser um plebeu, civil, membro do parlamento. Era o legítimo representante do poder civil. E é o que queria ser. Sua viúva, após sua morte aceitou receber um título de nobreza em honra do marido, mas condicionou que fosse uma nobreza temporária. Não passaria para os filhos. Achava que o mérito da família consistia ter criado uma tradição de serviço independente da nobreza e das patentes militares.

O que nos chama a atenção é a sofreguidão com que pequenos líderes de guerrilha se agraciam com fardas e condecorações. Enquanto os generais brasileiros alçados a presidente cuidadosamente tratavam de usar ternos civis, vimos o Collor se fantasiando de piloto e outras figuras semi-militares. Fidel Castro, cuja experiência militar não pode ser considerada significativa. Derrubou um organismo mal organizado com ações de guerrilha, mas desde 1959 se fantasia de militar. Duvido que conheça um manual de estado maior, ou mesmo um manual de aramas ou de ordem unida. É líder na tradição de Mao e Chiang-Kai-Shek. Não Ho-Chi Minh.

Para Hollywood foi bom. Quando queriam caracterizar um ditador do Caribe bastava fazê-lo ser barbudo e de uniforme de combate verde-oliva. Quanto às suas iniciativas militares, ao trabalho de seus instrutores militares, tanto na África quanto nas Américas. Militarmente nenhuma deu certo. Só funcionam na Sierra Maestra. Sequer funcionaram na Bolívia.

Agora temos mais dois casos. Temos um General, com linhas de pensamento absolutamente básicas, “ para os amigos tudo, para os inimigos nada”, ou “pão e circo para o povo”, ou ainda “lhes prometo uma luta árdua e sangue”, passeando pelo mundo como se fosse um Guru indiano de araque, do tipo que coleciona veículos Rolls Royce. Adivinhe a roupa favorita do sujeito. Roupa de combate. Ou seja, é o Generalíssimo. Generalíssimo de golpes de estado.

E não vamos esquecer a fantasia favorita do Saddam Hussein.

Estou em dúvida se a estratégia do Evo Morales vai dar certo, mas está mais correta que a do Fidel. Fidel deveria vestir uma Guayabeira, a camisa elegante do Caribe. Assim seria povo. Mas não seria figura de autoridade. Talvez não durasse outros 46 anos no poder. Mas será que Evo Morales será salvo pela roupa de cacique quando suas políticas econômicas fizerem água.

Na dúvida melhor um terno bem cortado por um bom alfaiate.

Celso Daniel foi torturado antes de morrer, confirma legista

Foi confirmado nesta terça-feira à CPI dos Bingos que o prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em janeiro de 2002, foi torturado antes de morrer. Segundo o legista Paulo Vasques, "houve sinais claros de tortura. Eu e o doutor (Carlos) Delmonte (outro legista, morto em outubro do ano passado) tivemos convicção de que houve tortura. Houve um tiro de esculacho na boca e queimaduras nas costas que comprovam a tortura. Este tipo de execução não é comum".

Vasques sustentou, na CPI, a tese de que o crime foi encomendado. Ele ainda afirmou que, no laudo preliminar de Delmonte, realizado ainda em janeiro de 2002, já constava a descrição da tortura.

O legista, que foi um dos responsáveis pela autópsia, também negou que Delmonte tenha se suicidado. Ele confirmou que o médico-legista estava em depressão, que deixou dois bilhetes, mas afirmou que a morte ocorreu porque ele se asfixiou devido a uma bronquite. Segundo Vasques, não há ligação entre a morte do legista e o caso Celso Daniel.

A investigação da Polícia Civil sobre a morte do perito, feita em dezembro, já havia descartado a possibilidade de morte natural ou homicídio.

Fonte: Diego Casagrande