3 de fev. de 2006

EMPREENDEDORES X PERDULÁRIOS

por Ralph J. Hofmann, com autorização do autor - no Diego Casagrande

Não é novidade. Os governantes do Brasil, da Venezuela, da Argentina e da Bolívia, excetuando-se algum raro Ministro empresário nunca ganharam dinheiro. Não sabem gerar lucros, só gastá-los.

Aqui ninguém está desfazendo o curtíssimo espaço de tempo em que o Dr. Lula (Presidente é doutor por axioma), militou no comando de um torno. Nem se trata de desfazer as atividades do índio agricultor Evo Morales. Todos de alguma forma em algum momento tiveram emprego. Mas fomentaram o lucro?

Pegaram uns caraminguás da poupança ou do FGTS e fizeram algum negócio?

Um de meus colegas de primário formado pelo SENAI, comprou um torno velho, montou no seu porão, e dez anos depois tinha uma indústria. Outro comprou uma injetora de plástico, veio a ter uma razoavelmente grande indústria de componentes automobilísticos, que findou por vender e hoje tem uma indústria de vinagres temperados. Sua indústria de componentes crescera demais para sua capacidade administrativa. Optou por trabalhar num universo que domina. É um sujeito que gerou negócios novos que hoje devem estar dando emprego a 1.000 ou mais operários. Gerou lucros, pagou impostos, pagou multas quando as leis tributárias lhe deram rasteiras. Sustentou e sustenta muito funcionário em cargo de confiança que nunca contribuiu nada para a sociedade.

A minha diatribe de hoje se prende ao acordo de comércio perdulário dando novas vantagens à Argentina. Nenhum tratado comercial com a Argentina é integralmente respeitado. Certamente dentro de semanas, meses ou um ano a Argentina fará uso dessa concessão brasileira. Não dará explicações. Soberanamente invocará este acordo. Deslocará um fabricante brasileiro, e não satisfeito, adquirirá os bens de um terceiro país por alguma conveniência sua. Historicamente é o que a Argentina faz no decorrer de qualquer pendência com o Brasil. Lembrem-se, os argentinos se vêem como nobres europeus. Vêem o Brasil como uma coleção desprezível de mestiços. E se chocam quando nossa indústria, em grande parte gerada por exilados políticos e econômicos jogados nestas praias nos últimos 500 anos se mostra inteligente e pujante.

E o nosso governo o que faz? Independente de conselhos da FIESP, FIERGS, FIESC e outros, saca a caneta Cartier e assina mais uma concessão, gastando mais um pouco do patrimônio gerado pelos empresários.

Francamente, o governo deveria ter escutado atentamente as propostas do Sr. Kirchner, deveria ter lhe dado um belo presente algo como alguns quilos de carne de sol, uma caixa de bananada e um quilo de chá mate especial, e deveria ter dito. ”Não”. “Não” é uma opção. É algo perfeitamente aceitável. Nunca se deve entrar numa reunião achando que é absolutamente necessário chegar a um acordo. Ainda mais quando quem paga a conta não é o governo. São as empresas e os operários que nela trabalham.Francamente o que deveria ter sido dito ao Sr. Kirchner, além do não, é que o Brasil estará acionando algo como as investigações #301 do Departamento de Comércio dos Estados Unidos. Ou seja, ante um protesto de um número relativamente baixo de empresas que se sentem atingidas por ações de um governo estrangeiro o Brasil temporariamente aplica tarifas punitivas, sobre qualquer produto oriundo desse país até compensar às empresas que alegam perdas.

Depois disso começa uma negociação séria, com números claramente publicados, ao contrário da receita da comprovação de dano efetivo que a Argentina propõe, em que não há uma exposição de motivos, sonegando-se informação alegadamente confidencial.

O governo dos EEUU regularmente abre investigações de vendas abaixo de valor justo (LTFV – Less Than Fair Value) contra empresas no mundo inteiro. Não raro são indústrias americanas tentando compensar suas incompetências, ou seus custos incompatíveis com o produto com a aplicação de tarifas compensatórias. Mas vencendo ou perdendo, tudo sempre foi feito à luz do dia. Pelo preço da Xerox podemos a qualquer momento adquirir o processo todo, com todos os números, tabelas, cálculo de custos ex-fábrica...

Sigilo tem cheiro de maracutaia argentina, não é? E saber, detectar, combater este tipo de coisa neste país é um trabalho árduo e solitário. É coisa que o empresário é obrigado a fazer e bancar. Os governantes não sabem ganhar. Só gastar.