23 de dez. de 2007

Proxeneta Petista

Cruel, desumano, degradante - por Reinaldão Azevedo

A grande “conquista” da Teologia Achada na Rua, de Lancelotti e congêneres, em São Paulo, foi a antiga Cracolância, que viveu seu apogeu na gestão de Marta Suplicy, do PT. Para quem não conhece São Paulo: tratava-se de uma região na área central da cidade que foi tomada, verdadeiramente “colonizada”, por consumidores de drogas e traficantes. Farrapos humanos ocupavam as calçadas, destruídos pelo crack. Caridosas, algumas ONGs passavam por ali, acreditem, distribuindo cachimbos grátis e folhetos ensinando como aplicar cocaína na veia “com segurança”. Tudo sob o pretexto de fazer política de redução de danos. A Prefeitura se negava, por exemplo, a lavar as calçadas porque elas eram consideradas “moradias”. A região foi tomada por bares e hotéis, todos irregulares, que serviam de base de apoio para os traficantes. Confesso a vocês que raramente assisti a cenas tão degradantes. Era o paraíso do padre e dessas ONGs só dedicadas a fazer o bem...

Com a derrota do PT e o início da gestão Serra — depois seguida por Gilberto Kassab —, foi posto em prática um plano de revitalização do Centro. A tal “cracolândia”, na forma como existia, acabou, embora existam, sim, ainda, consumidores de drogas por ali. Bares e hotéis foram fechados. A coleta de lixo foi regularizada. As ruas estão sendo lavadas. Uma área foi desapropriada e demolida para receber empresas e prédios de moradia. Lancelotti estrilou. O parque de diversões da degradação humana, que serve ao baixo proselitismo, chegava ao fim. ONGs que vivem da proxenetagem da miséria e da violência, em companhia do padre, acusaram a prática de uma “política higienista”. Em vez de ajudar a Prefeitura a encaminhar os que não têm casa para os albergues, os valentes decidiram defender o “direito” de morar na rua, de privatizar o espaço público.

A revitalização daquela área central da cidade está em curso. A depender do que aconteça na cidade no ano que vem, tudo volta à estaca zero: a miséria e a degradação humanas voltarão a ser vistas como um ato de resistência, como o destino fatal dos humildes. Trata-se da mistura asquerosa do esquerdismo mais vagabundo com a Escatologia da Libertação.

Proxeneta Petista

Cruel, desumano, degradante - por Reinaldão Azevedo

A grande “conquista” da Teologia Achada na Rua, de Lancelotti e congêneres, em São Paulo, foi a antiga Cracolância, que viveu seu apogeu na gestão de Marta Suplicy, do PT. Para quem não conhece São Paulo: tratava-se de uma região na área central da cidade que foi tomada, verdadeiramente “colonizada”, por consumidores de drogas e traficantes. Farrapos humanos ocupavam as calçadas, destruídos pelo crack. Caridosas, algumas ONGs passavam por ali, acreditem, distribuindo cachimbos grátis e folhetos ensinando como aplicar cocaína na veia “com segurança”. Tudo sob o pretexto de fazer política de redução de danos. A Prefeitura se negava, por exemplo, a lavar as calçadas porque elas eram consideradas “moradias”. A região foi tomada por bares e hotéis, todos irregulares, que serviam de base de apoio para os traficantes. Confesso a vocês que raramente assisti a cenas tão degradantes. Era o paraíso do padre e dessas ONGs só dedicadas a fazer o bem...

Com a derrota do PT e o início da gestão Serra — depois seguida por Gilberto Kassab —, foi posto em prática um plano de revitalização do Centro. A tal “cracolândia”, na forma como existia, acabou, embora existam, sim, ainda, consumidores de drogas por ali. Bares e hotéis foram fechados. A coleta de lixo foi regularizada. As ruas estão sendo lavadas. Uma área foi desapropriada e demolida para receber empresas e prédios de moradia. Lancelotti estrilou. O parque de diversões da degradação humana, que serve ao baixo proselitismo, chegava ao fim. ONGs que vivem da proxenetagem da miséria e da violência, em companhia do padre, acusaram a prática de uma “política higienista”. Em vez de ajudar a Prefeitura a encaminhar os que não têm casa para os albergues, os valentes decidiram defender o “direito” de morar na rua, de privatizar o espaço público.

A revitalização daquela área central da cidade está em curso. A depender do que aconteça na cidade no ano que vem, tudo volta à estaca zero: a miséria e a degradação humanas voltarão a ser vistas como um ato de resistência, como o destino fatal dos humildes. Trata-se da mistura asquerosa do esquerdismo mais vagabundo com a Escatologia da Libertação.

A Guerra dos Deuses


Voltando ao Deus à la carte. Na crônica anterior, escrevi que me incluía entre os que pensam que a vida não tem sentido algum. Um leitor me pergunta: “Se a vida é sem sentido (e sou um dos que também nisso acredita) por que então continuamos vivos?”

Minha frase estava incompleta. Sim, a vida não tem sentido em si. Mas tem o sentido que a ela damos. Esta primeira percepção, eu a tive lendo um autor hoje fora do mercado, Somerset Maugham, nascido no século XIX na embaixada britânica em Paris. Não saberia dizer se o local de nascimento determina a vida de uma pessoa, em todo caso Maugham foi um dos escritores mais cosmopolitas do século passado. Em A Servidão Humana, Philip, o personagem central, recebe um tapete, com o recado de que nele encontraria o sentido da vida. Guarda o tapete por longos anos para finalmente descobrir o enigma: o tapete não tinha sentido algum. Como a vida.

Isto não exclui, é claro, que Maugham tenha dado um sentido à sua. Se a vida em si não tem sentido, nada impede que seja plena e rica. Uns se dedicam a fazer poemas, outros a fazer pães, uns fazem revoluções, outros fazem pontes e estradas, há quem crie filosofias e quem construa religiões. São maneiras de enfrentar o vazio. E há também os que buscam deuses.

Outro dia, em discussões internéticas, ouvi de um amigo um depoimento singular. Ele e sua mulher foram às compras em busca de um deus. Pesquisaram o mercado, não encontraram deus que agradasse e voltaram pra casa sem adquirir nada. Confesso que fiquei surpreso com tal atitude, da qual jamais havia ouvido falar. O que só confirma minha tese do deus à la carte. Se nenhum deus me agrada, então não compro. Quem sabe ano que vem a indústria das crenças lança no mercado um modelito mais conveniente.

Reagindo às angústias da procura, as religiões se adaptam. Por exemplo, o tal de Santo Daime. É um culto sem pé nem cabeça, criado por um seringueiro da Amazônia, cujas cerimônias consistem na ingestão da ayahuasca, beberagem feita de um cipó, que produz vômitos e diarréias, as chamadas “peias”. A nova empulhação cultua o Cristo,a Virgem… e a floresta amazônica, ecologia oblige. Pelo jeito, as tais de peias não eram muito convincentes a ponto de por si só arrebanhar acólitos. O Santo Daime então adaptou-se.

A Folha de São Paulo, em sua edição de domingo passado, traz uma reportagem das mais significativas sobre a nova religião – ou coisa que o valha. O Santo Daime assumiu elementos de hinduísmo, umbanda e hare krishna. Deus para todos os gostos. Aqui pertinho de São Paulo, em Nazaré Paulista, a escola espiritual tem dois gurus, um tal de Sri Prem Baba, o mestre da cerimônia, que pelo jeito é tupiniquim com nome indiano para melhor enganar. Mais o guru Sri Hans Raj Maharaji, que vive na Índia, mas já apita no Santo Daime. Mais o sedizente mestre Raimundo Irineu Serra, seringueiro brasileiro neto de escravos, que morreu em 1971, e teria sido o fundador da doutrina do Santo Daime.

Na zona sul de São Paulo – continua a reportagem – no Centro Espírita Sete Pedreiras, a miscigenação de crenças se repete, com orixás da umbanda, santos católicos e retratos de daimistas posicionados em lugares estratégicos do terreiro. A fusão resulta na umbandaime, que promove a mistura entre a doutrina do daime com a religião afro-brasileira. Para o antropólogo Edward MacRae, da Universidade Federal da Bahia, assim como outras religiões o Santo Daime também tem a propriedade de aglutinar elementos de outras crenças, como umbanda, traços indígenas, cristãos, afro e esotéricos, ocidentais ou orientais. Mais um pouco de criatividade vocabular e teremos o catodaime, o krishnadaime, o budidaime. O fenômeno já existe, só falta batizá-lo.

Sincretismo, direis! Nada de novo sob o sol. O cristianismo apoderou-se do Livro dos judeus, temperou-o com elementos da mitologia grega e do paganismo e voilà: temos uma nova religião. Nada se cria, tudo se copia. Mesma vigarice dos tais de Osho, Maharishi Yogi, Sathya Sai Baba, Dalai Lama e outros escroques que servem coquetéis de hinduísmo, budismo e cristianismo para enganar Oriente e Ocidente. Nestes dias de globalização, o Santo Daime quer globalizar-se e abre um grande leque de opções, para consumo dos pobres de espírito.

Já tem até budista e hare krishna tomando chá de cipó. Para a monja tibetana Ani Sherab, o chá “oferece mais clareza para expressar e reconhecer a verdade. Com o daime, recebo muitas bênçãos e ensinamentos dos budas”. Líderes das comunidade hare krishna desaprovam o daime, mas não negam que alguns membros consumam o chá. Para o professor de português Pandita, 51, Krishna se revela de formas diferentes. “O daime pode ser uma delas.”

Nas cerimônias – diz a reportagem – manifesta-se a salada toda. O altar é de Ganesh, deus hindu do sucesso. O som oriental de cítaras é substituído por maracás indígenas e mantras em sânscrito se sucedem a hinos em português. Não faltam sequer as entidades de umbanda. Segundo a mãe-de-santo Maria Natalina, “a ayahuasca proporciona sensibilidade maior. É um instrumento de contato superior com os orixás”.

Para o professor Antônio Flávio Pierucci, da USP, na tentativa de competirem umas com as outras, as religiões acabam se anulando, copiando fórmulas e formatos e, com isso, perdem sua verdadeira identidade. “É como ocorre no comércio alimentício. Tem o McDonald’s e o Bob’s. (…) No fundo, todas alegam que Deus é um só. Mas, na verdade, o que existe é uma guerra entre deuses”.

Como dizia, o Ocidente está caindo em pleno politeísmo. Cientes disto, as religiões já oferecem um farto cardápio de crenças. Se você quer outros deuses, nem precisa buscar outros templos. O nosso os oferece. A necessidade de crer do bicho-homem não recua diante de absurdo algum. Mais adiante, conto sobre o culto dos carregamentos, praticado por indígenas da Melanésia.