30 de jul. de 2008

Beleza

Roselyn Sanchez

Roselyn Sanchez

Echoes



Overhead the albatross hangs motionless upon the air
And deep beneath the rolling waves in labyrinths of coral caves
The echo of a distant tide
Comes willowing across the sand
And everything is green and submarine
And no one showed us to the land
And no one knows the wheres or whys
But something stirs and
Something tries
And starts to climb towards the light
Strangers passing in the street
By chance two separate glances meet
And I am you and what I see is me
And do I take you by the hand
And lead you through the land
And help me understand the best I can
And no one calls us to the land
And no one forces down our eyes
And no one speaks
And no one tries
And no one flies around the sun
Cloudless every day you fall
Upon my waking eyes
Inviting and inciting me to rise
And through the window in the wall
Comes streamin in on sunlight wings
A million bright ambassadors of morning
And no one sings me lullabies
And no one makes me close my eyes
So I throw the windows wide
And call to you across the sky

Last Night... Roger Waters @ Pepsi Center

Roger Waters Thu May 01, 2008 at 11:41:11 AM
Wednesday, April 30, 2008
Pepsi Center
Better Than: Anything and everything you could possibly imagine -- truly a don’t-miss show.

What can I say about Roger Waters playing Dark Side of the Moon last night? To be honest, I’m kind of at a loss for the right words. There’s awesome, spectacular, marvelous, phenomenal, amazing, fantastic and unbelievable -- none of those words, however, even come close to capturing what it was like to sit in the Pepsi Center and watch one of the greatest rock stars of all time work his magic on stage. I will say this: If you get the chance in your life to see Roger Waters perform, do it! Pay whatever it takes. You won’t be sorry, and it will be worth every penny.

From the nosebleeds up in section 316, the high-definition video projection on a giant screen hung behind the stage actually looked real. I wondered why Roger Waters had an enormous bottle of Bushmills, a rocks glass, an ashtray and a radio on his stage. That projection was the root of the show; when the band was ready to come on, a large hand appeared from nowhere on the screen, taking the rocks glass back to unseen lips for a sip, stubbing a cigarette out in the ashtray, then turning on the radio, which played some random songs (including Elvis Presley’s “Hound Dog”) before kicking into “In the Flesh.” The floor lights went off, the stage lights came on and the show began.
Pepsi Center

Waters went through every Floyd album, although not in any particular order. The first set was a comprehensive overview of his music, plus songs from his solo album, Amused to Death. He ran through "Mother," “Shine On, You Crazy Diamond” (complete with images of Syd Barrett flashing across on that ginormous screen), “Have a Cigar,” “Bring the Boys Back Home” (complete with an image of a soldier with a knife in his back), “Wish You Were Here” (which always brings tears to my eyes), “Vera,” “Set the Controls for the Heart,” “Sheep” -- and a new song of his, “Leaving Beirut,” which tells the story of a seventeen-year-old Waters stranded in Lebanon and taken in by a poor family for a night. The entire show was extremely political; Waters has issues with authority -- particularly a certain warmongering American President -- and he has no qualms expressing his outrage. I don’t think it’s a coincidence that out of the four shows he’s playing on the American leg of this tour, two are in Texas (Houston and Dallas).

After taking a break, the band hit the stage again to play Dark Side of the Moon in its entirety: “Speak to Me,” “Breathe,” “On the Run,” “Time,” “The Great Gig in the Sky,” “Money,” “Us and Them,” “Any Colour You Like,” “Brain Damage” and “Eclipse.” Again, words escape me. Not only was the music stellar, but I have never seen anything like the visuals -- the infamous floating pig was back (released in the first set during “Sheep”), and to close out Dark Side of the Moon, an LED pyramid appeared as if from nowhere in the middle of the Pepsi Center, projecting a rainbow spectrum from its center, which rotated around the stadium, bathing every person in turn with light.

Of course, when Dark Side of the Moon ended, the crowd went nuts. No one even thought about leaving their seats. We stood and clapped our hands sore and shouted our throats raw until the band came back to play “Comfortably Numb” and “Another Brick in the Wall” for the encore.

Throughout the entire show, Waters was very humble. He seemed surprised to be receiving such unequivocally enthusiastic feedback from the crowd, saying, “It’s been so long, I wasn’t sure…” One thing is for sure: Roger Waters has still got what it takes to rock out a stadium full of people, seemingly effortlessly. I have seen many, many shows, but this was easily the best single-stage, single-band concert I have ever been to in my life.

-- Amber Taufen

Critic’s Notebook


Personal Bias: I am almost ashamed to admit this now, but I wouldn’t have considered myself a Roger Waters/Pink Floyd “fan” until last night. I liked their music okay, but I wasn’t hard-core. I really bought those tickets for my boyfriend’s benefit. And I’m so glad I did.

Random Detail: The floating pig went AWOL during Waters’ show at Coachella; he played Sunday night, and they just found the remains of the pig on Tuesday -- too late to repair it. Yet the pig appeared during “Pigs” at the Pepsi Center. How the hell did they do that?

By the Way: Was it just me, or was just about everybody in the building on something?

O massacre dos usos e costumes


O evento da exigência de venda de bananas por quilo em São Paulo, quando o costume popular é venda por dúzia, é típico. A violação desta lei torna o quitandeiro da esquina alvo de polpudas multas escudadas em mais uma miopia funcional de quem faz as leis ou mesmo legisla aboletado atrás de uma mesa de burocrata, numa sala com ar condicionado, através de portarias e resoluções não raro draconianas. Quando me mudei para Santa Catarina achei uma anomalia comprar laranjas a quilo. Lembrava-me de minha mãe me mandar à quitanda comprar duas dúzias de laranjas ou tangerinas no interior do Rio Grande do Sul. A verdade é que os quitandeiros é que sabem das coisas. Estão no negócio de atender ao seu mercado. Se os fregueses querem dúzias vendem dúzias. Se os clientes querem quilos vendem quilos. “O comércio e a indústria são um processo de satisfazer clientes”. O processo de montar imensas burocracias para fiscalizar a ferro e fogo normas decididas em escritórios com ar condicionado, conforme as opiniões de amanuenses que nunca venderam sequer uma rifa, quanto mais administraram um empreendimento que pode até ser tão humilde quanto uma carrocinha de pipoca ou a venda de balões em feira. Na Inglaterra, que sempre teve suas peculiaridades, começando pelos seus pesos e medidas diferenciados passando pelos nomes de certos quitutes e objetos todas as semanas há gritas contra as padronizações implantadas ferreamente pela Comunidade Européia atropelando os usos locais em nome de uma padronização. Por volta de 1974 vi em algum lugar que a British Standards Organization (Organização Britânica de Normas e Padrões) havia, após anos de discussões, determinado qual era o padrão para servir chá em estabelecimentos comerciais. Segundo a norma o chá (folhas secas) seria colocado na chaleira na proporção de uma colher de certo tamanho por xícara de água fervendo a ser agregada e mais uma colher adicional de chá para garantir. O chá deveria ser vertido nas xícaras na frente dos clientes. O normal seria agregar algumas gotas de leite que deveria ser frio, e que deveria ser adicionado após o chá ser colocado na xícara, e não antes disto. Contudo o cliente poderia mudar tudo isto. Poderia exigir o leite quente, poderia pedir limão em lugar de leite. A norma cobria a situação normal, como diz o nome. Mas o cliente mandava no que consumia. Então creio que o assunto das bananas é um sinal dos tempos. A frieza dos burocratas desvairados passa a operar como se fosse uma fúria insana dirigida às tradições populares. Um pequeno passo rumo a um mundo sem diferenças, absolutamente chato. Quanto tempo até que os burocratas normatizem os passos do frevo, do maracatu e da chula, do boi de mamão e do bumba-meu-boi? Porque as escolas de samba já são manifestações completamente formalizadas. Os burocratas das escolas de samba já destruíram a espontaneidade.

23 de jul. de 2008

22 de jul. de 2008

Beleza





Life

Nossa vida é como um veleiro que navega pelos mares. Porém quando o vento muda de direção, existem três comportamentos distintos:

  • Os pessimistas reclamam e insultam, por causa da mudança e assim permanecem.
  • Os otimistas creem que o vento vai mudar na direção certa e assim esperam.
  • Os realistas ajustam as velas.

21 de jul. de 2008

A crise da crise - por Nilson Borges Filho (*)

O quadro pintado pelo delegado Protógenes Queiroz, delegado da Policia Federal e responsável pela Operação Satiagraha, que consta do seu relatório, faz justiça às pinturas do seu homônimo grego. Protógenes, o grego, foi considerado um dos artistas mais brilhantes da sua época.

Dizia-se dele, com razão, que era incapaz de considerar um quadro seu totalmente acabado, tamanho era o preciosismo com que se dedicava à obra. Um de seus admiradores foi Apelles, tido como o maior pintor da Antiguidade. Nenhuma de suas obras sobreviveram ao tempo.

Uma das mais reverenciadas recebeu o titulo de “A Calúnia”. Protógenes, o novo, também é conhecido pelos seus pares como um homem perfeccionista, ou seja, um profissional obcecado pelo trabalho que realiza, chegando à fronteira de um messianismo moral de fazer inveja ao mais moralista dos mortais.

Protógenes, o brasileiro, também conta com grandes admiradores, de dentro e de fora da Polícia Federal, mas nenhum desses chega aos pés de um Apelles, no quesito brilhantismo. Assim como Protógenes, o velho, Protógenes, o novo, também deixou pelo caminho muitos desafetos que, mais do que nunca, desejam a sua caveira.

Segundo me consta, se encontram em curso dois processos disciplinares contra o delegado Protógenes Queiroz, conseqüência de algumas atitudes, nada formais, que tomou para a obtenção de provas contra as malfeitorias do banqueiro Daniel Dantas, que vive o seu pior inferno.

Não se pode dizer de Protógenes, o novo, que seu relatório é resultado de meras elucubrações e de que não passa de uma “calúnia de Apelles”. Botticelli tentou reproduzir o quadro “A Calúnia”, mas não obteve o menor êxito.

Parece que o governo tenta de todas as maneiras afastar o delegado Protógenes e conseguir, a qualquer preço, um Botticelli para terminar o inquérito policial da Operação Satiagraha. A questão aqui é saber se vão aparecer interessados em cumprir o papel de Botticelli.

Quando todos imaginavam que a crise gerada pelo prende-e-solta do banqueiro Daniel Dantas ficasse no âmbito da Polícia Federal e do presidente da Suprema Corte, eis que surge, sabe-se lá de onde, a figura do presidente Lula dando “pitaco” na condução do inquérito policial.

É difícil de imaginar que a principal figura da República abandona a liturgia do cargo de presidente da Nação brasileira e incorpora a do policial de quarteirão.

Ocorre que não é segredo para ninguém que Sua Excelência está por conta com o delegado Protógenes, por incluir nas investigações pessoas da cozinha presidencial, como o seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Mas ao falar sobre a disputa interna na Policia Federal, o presidente Lula trouxe a crise para dentro do Palácio do Planalto. O grupo duro da presidência sabe que a medida urgente que deve ser tomada é tirar, o mais breve possível, o presidente Lula do cerne da crise e, se possível, transferir toda a responsabilidade para Tarso Genro, ministro da Justiça e chefe da Policia Federal.

Não é de hoje que o ministro está sendo fritado pela cúpula palaciana. A cabeça de Tarso Genro foi colocada a prêmio, principalmente pelas suas falas tresloucadas, muitas delas servindo, justamente, para agudizar uma crise que o governo está fazendo de tudo para colocar um fim.

E Lula, como é do seu feitio, não levantará uma palha para segurar o seu ministro no cargo. O ex-ministro José Dirceu já encomendou as champanhotas.

(*) Nilson Borges Filho é doutor em Direito, professor e colaborador deste blog.

Reinaldo Azevedo

'Admitamos: somos corruptos'

Bolívar Lamounier
Como ROUSSEAU - 'Achamos que o povo é bom e a alite, ruim. É uma impressão de todo superficial'

SÃO PAULO - A história de Daniel Dantas se confunde com a do Brasil nos últimos 15 anos. Aluno dileto do economista Mário Henrique Simonsen, foi cogitado para o Ministério da Fazenda no governo Fernando Collor e teve atuação de destaque na venda de estatais. É também uma história passada na iniciativa privada, sempre sinuosamente entrelaçada com a política e o governo. Primeiro, pelas mãos de Antonio Carlos Magalhães, conterrâneo e protetor político. Então, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, nas estreitas relações com economistas ligados ao Plano Real, como Pérsio Arida e Elena Landau. Agora, no governo Lula, com petistas como Luiz Eduardo Greenhalgh e José Dirceu.

Dantas dominou manchetes e conflitos acionários, cultivou inimigos poderosos na iniciativa privada e no Planalto. Preso pela Polícia Federal, provocou uma briga jamais vista, com procuradores e juízes federais se levantando contra o Supremo Tribunal Federal. É uma história que insinua profundos veios de corrupção nas entranhas do Estado. "O Brasil é essencialmente corrupto e precisamos encarar isso", diz o cientista político Bolívar Lamounier, autor, com outros estudiosos, de Cultura das Transgressões no Brasil (Ed. Saraiva). "Vivemos há cem anos a ilusão de que com o crescimento econômico e a melhoria educacional tudo vai melhorar. O País está mais rico e, ao que tudo indica, mais corrupto. Existem avanços. O Ministério Público, a Polícia Federal, a própria Justiça. Mas, na avaliação do professor, temos uma política pior.

Daniel Dantas tem demonstrado habilidade de criar uma teia de sustentação em todos os governos. O que isso diz a respeito do Brasil?

É o chamado capitalismo político. Ele faz crescer sua fortuna pelos contatos políticos e o recebimento de informação privilegiada. O Brasil tem uma formação patrimonialista, ou seja, o Estado é o verdadeiro detentor da riqueza. Seu poder é avassalador. O emaranhado jurídico é tal que se tornou impossível manter uma empresa sempre em ordem. Daí a capacidade de pressão do governo ser devastadora. A influência do Estado em setores por natureza oligopólicos como telecomunicações, energia ou aviação é ainda maior. Desse jeito, um sujeito que tenha capacitação técnica e audácia, como Daniel Dantas, precisa de contatos políticos para se sustentar empresarialmente. É evidente que o caso dele, que dizem ter recorrido até a empresas de espionagem, é extremado. Mas todo grande empresário brasileiro precisa de uma relação simbiótica com o governo. Porque a mão do governo está presente em tudo.

Essa é a origem da corrupção no Brasil?

O problema da corrupção é muito mais profundo. Hoje estamos muito desarmados intelectualmente para compreender suas origens. O que nos sobra são dois consensos. O primeiro é de que a corrupção é generalizada na sociedade e todos discordamos do comportamento de todo mundo. O segundo é que a impunidade é ampla. Há uma total incapacidade de aplicar as leis. Se fôssemos punir, segundo o que manda a lei, toda a corrupção que há no País teríamos que pôr na cadeia metade da população. O que está acontecendo, agora, é uma tentativa de sair dessa síndrome da impunidade. Por isso um juiz federal manda prender, no Supremo mandam soltar, o juiz pede novamente a prisão. Mas daí pode haver um excesso do juiz federal, uma arbitrariedade, criando um clima de insegurança jurídica.

Por que não debelamos a corrupção?

Porque a enxergamos por uma ótica otimista. Atribuímos tudo ao passado: à colonização, aos portugueses, à formação do País. É uma análise evolucionista. Temos a impressão de que vamos em direção a algo melhor. O que atrapalharia seriam os grilhões do passado. Isso não é necessariamente verdade. Essa leitura esconde outra premissa, o conceito do bom selvagem de Jean-Jacques Rousseau. O homem é bom, mas a sociedade o corrompe. No Brasil, a elite é ruim, mas o povo é essencialmente bom. Essa impressão é profundamente superficial. O Brasil é essencialmente corrupto. A verdade é a seguinte: nada indica que estamos a caminho de um mundo melhor. Corrupção e clientelismo não estão dando sinais de terem diminuído. Acho que estão aumentando. Quando o governo diz que temos mais informação sobre corrupção e só por isso ela aparece mais, isso soa como uma afirmação tão válida quanto qualquer outra. Só poderia aceitá-la se o governo tivesse uma lista com todos os corruptos e quanto desviaram ao longo dos tempos. No Brasil, a transgressão é generalizada e ocorre sempre por motivos econômicos. Há casos passionais, mas esses existem em qualquer sociedade e são a exceção. Estelionato, assalto, corrupção, o crime brasileiro tem causas econômicas.

Quais as causas da corrupção brasileira?

São três. A primeira é o crescimento econômico. Lá nos anos 50, desenvolvimentistas, acreditávamos que o enriquecimento do País levaria a uma população mais bem educada e enfim teríamos um Estado impessoal no qual todos que quebrassem a lei seriam punidos. O Brasil enriqueceu e nada disso aconteceu. Sempre que há um momento de crescimento econômico e modernização, surgem novas oportunidades de corrupção. É assim em todo lugar, não só nas nações pobres. Na França ou nos EUA, também. É quando aparece o conluio de grupos para fraudar licitações promovidas pelo Estado, por exemplo. Porque são oportunidades óbvias, envolvendo grandes quantias. Mesmo nas nações mais liberais, quando a economia cresce o Estado contrata muitos serviços envolvendo valores altos. Quando um país passa por uma grande transformação econômica, como é nosso caso, a tendência aumenta. No caso das privatizações, por exemplo, grandes somas passaram de uma mão para a outra e a corrupção foi inevitável, por mais que existissem controles. Na Rússia foi muito pior. O Japão tem uma corrupção monstro até hoje. A Coréia do Sul, também. São governos que concentram muito poder. A China se tornou capitalista faz quanto tempo? Vinte anos. E já ostenta um número grande de bilionários. Mesmo considerando o ritmo de crescimento chinês, essa riqueza veio como? Não pelo mérito.

E a segunda causa?

Mobilidade social. Nosso País tem 200 milhões de pessoas, metade delas muito carentes, a outra metade louca para melhorar de vida. Há muita mobilidade social. Quem diz que, no Brasil, o pobre nasce e morre pobre está no mundo da lua. Qualquer pequeno movimento da economia provoca mudanças imediatas, toda oportunidade aqui é aproveitada, pois o mercado é imenso e tem carências enormes. Nos últimos meses, por exemplo, quando o crédito para automóvel se estendeu, todo mundo comprou imediatamente sem se preocupar com quantas prestações ia pagar ou com o trânsito ruim. Automóvel facilita a vida e é um símbolo de status. O brasileiro tem uma vontade incrível de melhorar de vida, de ter melhor situação que a que seu pai teve. Junte as duas questões, oportunidades de corrupção e a vontade de melhorar de vida, e una isso à terceira causa: as normas brasileiras são frouxas.

É nossa herança portuguesa?

As normas morais, no Brasil, sempre foram fraquíssimas. Comparado à Europa, tivemos, por exemplo, uma Igreja muito fraca. O Direito, até há muito pouco tempo, não chegava a boa parte do País. As normas sociais são débeis e o Estado é incapaz de aplicá-las. A origem disso é o de menos. Nosso problema não é o passado, é o presente. Voltemos a Rousseau. Há algumas décadas, a Igreja no Brasil era fraca, mas muito reacionária. Defendia a propriedade, o latifúndio. Hoje, a Igreja é outra, acredita em Rousseau. Essa visão de que o povo é essencialmente bom, mas corrompido pelo ambiente, se espalhou por todos os setores da sociedade. É uma mentalidade que impede a aplicação da lei. Só a defesa do altruísmo é legítima. Um grupo que defenda seus interesses é considerado imoral. A palavra "interesse" soa suja, sugere um indivíduo calculista. Acreditamos em Papai Noel. Cremos que as pessoas são boas por princípio. Nos EUA, a cabeça deles não é Rousseau. É Thomas Hobbes. Para eles, as pessoas são más. É preciso vigiar o comportamento a toda hora. É preciso cumprir a lei, porque se não cumprir, a transgressão será generalizada. Polícia não tem que achar que as pessoas são boas ou são más. Tem é que olhar transgressão. A política tem que lidar com a probabilidade de certos comportamentos ocorrerem e se prevenir. Achamos que tudo que deu errado no Brasil tem uma origem social em algum ponto do latifúndio, da família patriarcal ou do que quer que seja. É ingenuidade. Nós somos uma sociedade de 200 milhões de pessoas, completamente urbana e pobre. É um País diferente.

Gilberto Freyre está obsoleto?

Completamente. No tempo dele, acreditava-se naquela idéia de que geração de riqueza levava a um mundo mais perfeito. Vinte anos atrás havia uma discussão entre a esquerda e o malufismo, em São Paulo, se a polícia devia atuar preventiva ou repressivamente. Que discussão é essa? A polícia tem que atuar, só isso. Tínhamos que estar muito mais preparados em termos jurídicos e policiais para atuar quando há transgressão. Não se combatem valores culturais ou a propensão a certos comportamentos. Você combate infrações graves da norma legal. Nós não entendemos a gravidade da situação que o Brasil enfrenta. O nível de corrupção pode aumentar. Veja o exemplo paralelo, a violência urbana. Muitos teóricos falam como se fosse uma coisa de momento que, mais à frente, vai desaparecer. Mas como vai desaparecer? O país é urbano, tem periferias imensas, o tráfico de drogas atua em larga escala, não há nenhuma medida para combater o mercado da droga, que é o consumidor, ou a entrada da droga, nas fronteiras. A violência não vai desaparecer espontaneamente. O Brasil não enfrenta a transgressão.

Ricos não iam para a cadeia antes.

É verdade. Antes havia uma diferença de classes muito grande,. Você prendia o pobre, mas não o rico. Não estou negando que a Polícia Federal esteja mais eficiente. A mudança começa com a Constituição de 1988. Antes dela, os procuradores eram subordinados aos juízes. Ela deu autonomia ao Ministério Público e uma geração nova de procuradores veio com vontade de investigar. Por sua vez, isso fez com que muitos juízes também se mexessem. O fim da ditadura despertou, dentro da Polícia Federal, um debate. Estavam acostumados a agir sob os generais, o que a democracia representaria para eles? Demoraram uma década até encontrar um rumo. Ajudados pelo Ministério Público, que começou a investigar problemas em tudo quanto é área, ela encontrou sua vocação. Não foi só isso que mudou. Inflação corrói a sociedade, força todos ao comportamento criminoso. No início dos anos 90, ninguém comprava um imóvel, em São Paulo, sem uma mala cheia de dólares. Isso criou um câmbio negro e um mercado de ilícitos do qual todos participavam. Não há mais aquela inflação. A perna que não andou, nesse processo, foi a da CPI. Ela acaba se politizando tanto que fica inócua na maioria das vezes. O caso do mensalão é uma exceção. Levou 40 nomes para o Supremo.

Qual o problema do Congresso?

Câmara e Senado estão numa mediocridade como nunca vi. Vivemos uma entressafra de líderes políticos. No tempo da Constituinte você, sem dificuldades, punha no papel 20 nomes de imensa importância no cenário político nacional. Hoje, não dá. Não há incentivo para ser político. Vão chamar você de ladrão, sua família vai ficar chateada. O indivíduo que tem uma boa formação ganhará o triplo em outra profissão e terá fim de semana. Quando o crédito do político cai para quase zero, nasce um círculo vicioso. Ou você atrai corruptos ou gente despreparada. O Executivo não tem projeto. E os partidos não têm projeto. O resultado é que, sem ter o que fazer, deputados e senadores partem para a investigação. O Executivo reage com acordos políticos. A política no Brasil se resume a isso. Só.

Antes da ditadura, partidos como UDN e PTB de fato representavam setores da sociedade. O senhor não acha que hoje isso deixou de acontecer?

A UDN era o partido da classe média urbana, aquela gente que ganhava a vida duramente e não esperava uma aposentadoria generosa. Ainda existe essa classe média urbana, muito maior hoje. É um contingente de pessoas que paga o serviço duas vezes: o imposto para a educação e a educação na escola particular. Era um partido liberal. O DEM, hoje, não é um partido liberal. Por isso mudou de nome. Um partido liberal, no Brasil, teria que vir de São Paulo ou das grandes capitais. Não é o caso. O PSDB. O que é? É o partido da reforma feita no governo Fernando Henrique. Mas não descobriu uma agenda própria depois disso. E o PT? Alguns dizem que é representativo. Não sei de quê. Qual a doutrina econômica do PT? Vimos que não tinha. O partido chegou ao poder e desdisse tudo. Não tinha projeto. E desconfia do capitalismo. Tem uma cabeça nacionalista dos anos 50, com preconceito contra o setor privado. Não é à toa que a doutora Dilma é o braço forte do governo. Os partidos, no Brasil, foram dissolvidos em 30, em 37 e em 64. Os militares acreditavam que as origens da corrupção estava neles. Dissolveram e tentaram impor um sistema bipartidário como o britânico. Quando a democracia voltou, o País era completamente diferente e os partidos de antes não queriam dizer mais nada. Ficou um vácuo. Em 1989, quando tivemos a primeira eleição presidencial, houve 22 candidatos. Eram 21 partidos de oposição. E nenhum dos partidos grandes se saiu bem. É sinal de que não representavam mais os anseios da população.

Qual a responsabilidade da ditadura pela atual corrupção?

Quando os militares instauraram o regime, diziam "nós vamos combater a corrupção". Além de se intrometerem no sistema partidário que tinha seu valor, criaram um governo dez vezes mais concentrado. Na pressa de desenvolver o País, contrataram obras públicas faraônicas. Transformaram o País apoiados num crescimento de 8% a 10% ao ano. Posso bem imaginar quanto de superfaturamento houve naqueles 21 anos.

18 de jul. de 2008

Zorra Total


Se a corrupção no Brasil tem uma longa história, a ponto de se tornar um elemento cultural, uma visão de mundo que permeia a sociedade de alto a baixo, tudo indica que agora chegamos ao clímax dessa mazela que, na verdade, se constitui um dos empecilhos ao nosso desenvolvimento.

O mais recente escândalo, que envolve figuras da cúpula política e econômica, e está presente no caso do banqueiro Daniel Valente Dantas, desnuda a zorra total em que se converteu o mais alto comando do país e é indicativo do grau de imoralidade pública a que se chegou. Se bem que os negócios escusos já tinham suas ramificações em governos anteriores, estão bastante acentuados desde 2003 e viriam à luz se não fossem abafados pelo Executivo.

Afinal, o caso Dantas ficou rente ao promissor Lulinha que, para orgulho de seu pai está tendo uma carreira, digamos, “empresarial” vertiginosa. Colou de forma inconveniente no companheiro mais chegado do presidente da República, seu chefe de gabinete Gilberto de Carvalho. Chegou perto demais do braço direito de Sua Excelência, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, indicada, pelo menos por enquanto pelo próprio Lula da Silva para sucedê-lo. Mostrou ligações perigosas com o ainda poderoso José Dirceu. Envolveu outros devotados colaboradores do presidente e do governo do PT, entre os quais, o dedicado compadre Roberto Teixeira, o ex-deputado federal petista Luiz Eduardo Greenhalg, o ex-ministro Luiz Gushiken, o colaborador do PT Marcos Valério, o exótico ministro Mangabeira Unger, sem falar em deputados, senadores, personalidades, empresas.

Para manter as aparências éticas, que o PT gostava de ostentar no passado, o presidente Lula da Silva apareceu diante de câmaras e microfones para dar um carão no delegado Protógenes Queiroz, responsável pelas prisões do banqueiro. Protógenes foi afastado do caso pela PF, ou seja, em última instância pelo próprio governo, mas Lula da Silva chamou Protógenes de mentiroso e disse que moralmente ele tinha que permanecer no cargo. Mais um espetáculo da política, é claro.

A bem da verdade, a prisão de Dantas, algemado, efetuada de modo espetacular e devidamente televisionada, e de mais dezesseis pessoas, entre elas, Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta teve lances de Estado Policialesco. Parece que o delegado reconheceu seus erros e exageros, mas supôs que não seria defenestrado.

O problema, porém, não se circunscreve ás trapalhadas do delegado ou a inconveniência do processo para a classe dominante. A questão mais grave está na crise sem precedentes que o caso gerou no Judiciário, algo que num país sério teria outros desdobramentos.

Dantas foi preso e solto duas vezes em uma semana, o que fez com que a Operação da polícia, denominada de Satiagraha, fosse jocosamente denominada de solta e agarra. O banqueiro foi solto por hábeas corpus concedidos pelo presidente do STF, Gilmar Mendes, que considerou a prisão, da forma como foi feita, ilegal. Tal ato desencadeou contra o ministro reações de repúdio da parte de juízes, que se solidarizaram com o juiz Fausto Martins De Sanctis que mandara prender Dantas duas vezes, e de promotores, sendo que chegou a ser aventada a idéia de impeachment do presidente do STF. Mas enquanto o caso se desenrola no vai vem do prende e solta cabe indagar o que significa tudo isso.

Será que houve apenas o legitimo anseio de cumprir a lei, da parte do delegado e do juiz? Mas se isso é verdade, por que nenhum petista envolvido foi preso?

Será que tudo não passa de manobra política para fortalecer ainda mais o Executivo e destruir o Judiciário? Afinal, a rebelião de juízes e promotores contra a instância máxima da Justiça significa a quebra total da hierarquia e o achincalhamento do STF.

Será que tudo não passou de uma ação mirabolante de um delegado que se compraz na luta de classes e combate os ricos para dar à sociedade aquele delicioso prazer da vingança contra os poderosos?

Será que foi uma manobra de Tarso Genro, ministro da Justiça, para tomar o lugar da mãe do PAC na próxima disputa presidencial?

Seja lá o que for o caso demonstra que há um perfeito conluio entre o poder político e econômico. Mas se perguntado ao simples cidadão o que ele acha sobre esse fragoroso escândalo, provavelmente ele responderá não tem conhecimento ou entendimento do que está se passando.

Além do mais, no nível de degradação moral a que chegamos, o brasileiro comum é aquele que diz que não devolveria dinheiro alheio se encontrasse, que aceita por qualquer pagamento ser laranja, que gosta mesmo é de ligar a TV e assistir um jogo do Corinthias. O brasileiro seja rico ou pobre é fácil de comprar, pois está sempre em liquidação.

Neste contexto a maioria se compraz na adorável zorra total, misto de circo e máfia que faz as delícias dos poderosos e dos bagrinhos espertos que sabem achacar pedindo: “Dá dois pau ai pra mim, ô meu”.

17 de jul. de 2008

Democracia, Estado de Direito

Democracy is a process by which people are free to choose the man who will get the blame.

Sobre a falta de juízo

"" O próprio juiz (juiz De Sanctis), quando declarou na manifestação com seus colegas, que ele está a serviço do povo... na verdade ele está a serviço do Direito, da Constituição. Quem está a serviço do povo são os deputados, senadores, o presidente da República. O Estado está a serviço do Direito. E, nesse caso, o ministro Gilmar Mendes tem toda razão.""

Dr. Ives Gandra da Silva Martins

Editorial - Estadão

''Atos de insubordinação'' na PF - 17/07/2008

A decisão da cúpula da Polícia Federal (PF), determinada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, de afastar da Operação Satiagraha o delegado Protógenes Queiroz - e que levou também ao afastamento de seus colaboradores mais próximos, os delegados Carlos Eduardo Pellegrini Magro e Karina Murakami Souza -, confirmou a procedência dos protestos diante do espalhafato e, mais do que isso, das irregularidades praticadas pelo condutor da investigação centrada na figura do banqueiro Daniel Dantas. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, foi o crítico mais contundente da conduta de Protógenes, porém não o único. O próprio Tarso Genro, embora com o cuidado de elogiar o trabalho de apuração da PF, envolvendo 300 agentes, fez reparos públicos ao comportamento do delegado.

A lista de suas impropriedades - ou "atos de insubordinação", como foram consideradas em Brasília - é alentada. Além da filmagem das detenções, do pedido de prisão de uma jornalista que revelara a operação em curso, da recusa ilegal aos advogados do seu direito de tomar conhecimento do que houvesse sobre os seus clientes no inquérito e dos vazamentos em cascata de gravações protegidas pelo sigilo, pesou decisivamente contra ele, na hierarquia da corporação, o seu pouco-caso em relação aos superiores - praticamente os últimos a saber de suas iniciativas. A pior delas, do ponto de vista institucional, foi a de envolver na investigação, sem autorização de quem fosse, quadros da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Eles acabaram tendo acesso a dados sob segredo de Justiça. Por essas razões, Protógenes é alvo de uma sindicância administrativa e de uma representação na corregedoria da PF.

A reiteração das evidências de que ele foi longe demais é importante para desmoralizar inevitáveis teorias conspiratórias segundo as quais o seu desligamento da Operação Satiagraha não passaria de uma operação-abafa em benefício do potentado Daniel Dantas e dos demais investigados por crimes como desvio de recursos públicos, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Mas o desmentido cabal de que se desejaria esvaziar o inquérito contra a patota só virá com a designação de um novo responsável que, à diferença do primeiro, tenha de competência técnica o que esse tinha de queda pela pirotecnia. Mesmo porque a leitura atenta do que vazou até agora do material reunido pela PF autoriza a conclusão de que nada, até aqui, contribuiu tanto para dificultar a condenação dos acusados quanto a monumental incompetência dos que comandaram, até agora, a Operação Satiagraha. Com a substituição desse comando a PF espera, em primeiro lugar, evitar um desfecho melancólico do inquérito. Não bastasse essa preocupação, o organismo e o próprio governo estão às voltas com uma ameaça vinda do interior da corporação.

Como este jornal divulgou ontem, pelo menos 450 delegados endossaram um manifesto não só de "apoio total e irrestrito" a Protógenes e seus colaboradores, mas ainda pedindo "punição" para o o titular do STF, Gilmar Mendes, por "graves ofensas" contra a PF. Eles o acusam de colocar em risco nada menos do que "a estabilidade da magistratura e a ordem legal do País". Eis, portanto, uma crise em gestação impossível de ignorar. Se o responsável pela Operação Satiagraha foi afastado por "atos de insubordinação", que outro termo se aplicaria ao manifesto? Os seus autores pretendem entregá-lo ao diretor-geral do órgão, delegado Luiz Fernando Correa (que, em meio à crise, saiu em férias), e ao ministro Tarso Genro. Se mantiverem a intenção e a audiência lhes for dada, só restará aos destinatários, a rigor, receber o papel e dar voz de prisão aos seus subscritores.

O governo não merece essa atribulação, logo agora que o titular da Justiça e o do Supremo, reunidos com o presidente Lula, tiveram a sensatez de calar as divergências recíprocas e firmar um "pacto republicano" para reduzir a margem de arbítrio dos agentes públicos aos quais os cidadãos se vejam expostos. Mendes tem se batido por uma nova lei de abuso de autoridade, no lugar do desatualizado texto em vigor desde 1965. Lula encampa a idéia - na reunião, tomou a iniciativa de citar como exemplo de abuso a operação da PF na casa do empresário Eike Batista, na semana passada. "Iniciamos um novo ciclo", anunciou Genro, "menos de debate público e mais voltado para o trabalho e a proposta."

P.S. - Este editorial já estava composto quando o presidente Lula declarou que o delegado Protógenes deve permanecer na operação Satiagraha até o final da investigação.

16 de jul. de 2008

Gosto do Ministro Marco Aurélio Mello

"O uso de algemas não deveria ser algo corriqueiro nas diligências policiais."

Defende o Estado de Direito, o que está na Lei. E está acabado.

3 de jul. de 2008

Limites à propaganda: essa gente finge cuidar do nosso corpo porque quer roubar a nossa alma

por Reinaldo Azevedo em 03 de julho de 2008

Resumo: Eis aí o caminho do nosso bolivarianismo. A terra está amassada pelo discurso hipócrita da saúde. © 2008 MidiaSemMascara.org O governo quer limitar agora, conforme se noticiou aqui ontem à noite, a propaganda de alimentos que “engordam”. Prometi que falaria a respeito na madrugada. Acabei me ocupando de outros assuntos. Retomo a questão. Há um excesso de intromissão do estado na vida do cidadão e na sua capacidade de escolha para que isso não caracterize um método. Entendam: há uma questão é geral, que é de princípio, que deveria provocar a nossa repulsa fosse qual fosse o governo: o entende estatal não pode tratar o indivíduo como um menor de idade, incapaz de saber o que é bom para si mesmo. Sendo o governo Lula em particular, a atenção deve ser redobrada. Há um núcleo no petismo que está empenhado em criar dificuldades financeiras para o que ele chama “mídia”. O texto que segue a partir do parágrafo seguinte repete, com poucas alterações, o que escrevi a respeito no dia 4 de julho do ano passado, quando essa idéia veio à luz pela primeira vez. Como se vê, não é iniciativa nova. E também percebemos que eles jamais desistem de uma idéia. Vamos lá. O método Este texto identifica um método de ação do governo Lula: o chavismo à moda da casa. Denuncio aqui os instrumentos a que pretende recorrer o governo para implementar entre nós o bolivarianismo light. Porque o PT sabe que não pode fazer da Rede Globo a sua RCTV, por exemplo, resolveu criar dificuldades para a emissora. No mundo ideal do petismo, devemos ficar todos subordinados à TV de Franklin Martins, que não precisa do mercado para existir, ou à TV Record — que, se ficar sem anunciantes, jamais ficará sem a Igreja Universal do Reino de Deus, dona do partido do vice-presidente e do de Mangabeira Unger, aquele secretário que fala uma língua mais incompreensível do que a do Espírito Santo quando baixa em Edir Macedo — deve baixar, eu suponho. Penitencio-me aqui. Dizem que sou arrogante, que nunca assumo um erro. A segunda parte, ao menos, é mentirosa. Errei, sim. Errei na única vez em que apoiei, ainda que parcialmente, uma proposta do governo Lula. Fui enganado pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Uma recomendação: eis um nome do governo Lula que deve ser visto com muito mais cuidado. Como sabem, o governo limitou o horário da propaganda de cerveja na televisão. E também enrosca com o seu conteúdo — Temporão, por exemplo, invocou com a tal “Zeca-Feira”. Mais: afirmou que a publicidade glamouriza o consumo do produto... No programa Roda Viva eu lhe disse que era favorável à limitação de horário, mas contrário a que o governo se metesse no conteúdo publicitário. Ora, isso seria nada menos do que censura. E o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária é um órgão que funciona, sim, senhores! Só falta agora a gente ter um Romão Chicabom também na Saúde... É claro que a limitação da publicidade acarretaria uma diminuição de receita para as emissoras de TV. "Fazer o quê?", pensei. "Aconteceu isso quando se proibiu a propaganda de cigarros; que procurem novos nichos, novos produtos, novas fontes de receita". Eu, o liberal tolo diante de um petista... Nova pretensão anunciada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) deixa evidente que a limitação da propaganda de cerveja tem mais a ver com a saúde do governo Lula do que com a saúde dos brasileiros. Eu passei a considerá-la parte de uma estratégia para asfixiar as emissoras que dependem do mercado para viver: que não têm estatais ou igrejas de onde tirar a bufunfa. Fui um idiota. Não apóio mais. Penitencio-me. A Anvisa, órgão subordinado ao Ministério da Saúde, agora quer limitar ao horário das 21h às 6h a propaganda de alimentos considerados poucos saudáveis, "com taxas elevadas de açúcar, gorduras trans e saturada e sódio" e de "bebidas com baixo teor nutricional" (refrigerantes, refrescos, chás). Mesmo no horário permitido, a propaganda não poderia conter personagens infantis e desenhos. Segundo a Abia (Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação), isso representaria um corte de 40% na publicidade do setor, estimada em R$ 2 bilhões em 2005. Dos R$ 802 milhões que deixariam de ser investidos, aos menos R$ 240 milhões iriam para a TV — a maior fatia, suponho, para a Rede Globo. Virei caixa dos Irmãos Marinho agora? Não! Virei guardião da minha liberdade. É evidente que se tenta usar a via da saúde para atingir o nirvana da doença totalitária. É evidente que estão sendo criadas dificuldades para as emissoras — e, a rigor, nos termos dados, para todas as empresas que vivem de anúncios — para vender facilidades. O ministro Temporão, que ainda não conseguiu fazer funcionar os hospitais (sei que a tarefa é difícil; daí que ele deva se ocupar do principal), candidata-se a ser o grande chefe da censura no Brasil. Na aparência, ele quer nos impor a ditadura da saúde; na essência, torna-se esbirro de um projeto para enfraquecer as empresas privadas de comunicação que se financiam no mercado — no caso, não o mercado do divino ou o mercado sem-mercado das estatais. Temporão quer propaganda de camisinha, não de biscoito Imagine você, leitor, que aquele biscoito recheado (em SP, a gente chama “bolacha”) que sempre nos leva a dúvidas as mais intrigantes (Como as duas de uma vez? Separo para comer primeiro o recheio? Como o recheio junto com um dos lados?) seria elevado à categoria de um perigoso veneno para as nossas crianças — mais um querendo defender as crianças! —, que serão, então, protegidas por Temporão desse perigoso elemento patogênico. Mais: mesmo no horário permitido, a propaganda teria de ser uma coisa séria, né? De bom gosto. Sem apelo infantil. O Ministério da Saúde é uma piada: quando faz propaganda de camisinha, sempre recorre a situações que simulam sexo irresponsável. Mas não quer saber de desenho animado em propaganda de guaraná. A criatividade dos publicitários, coitados, teria de se voltar para comida de cachorro. Imagine o seu filho, ensandecido, querendo comer a sua porção diária de Frolic, estimulado pela imaginação de publicitários desalmados. Assim como o governo pretendia impor a censura prévia na presunção de que os pais são irresponsáveis, agora quer limitar a propaganda de biscoito e refrigerante porque as nossas crianças estariam se tornando obesas e consumistas. Estupidez A proposta não resiste a 30 segundos de lógica. É evidente que biscoito não faz mal. Biscoito não é ecstasy. Em quantidades moderadas, de fato, não havendo incompatibilidade do organismo com os ingredientes, até onde sei, faz bem. Se o moleque ou a menina comerem um pacote por dia, acho que tenderão a engordar. Acredito que há um limite saudável até para o consumo de chuchu... Ora, carro também mata. Aliás, acidentes de automóveis são uma das principais causas de morte no Brasil. A culpa, quase sempre, é da imprudência do motorista ou das péssimas condições das estradas. Nos dois casos, é preciso usar/consumir adequadamente a mercadoria. A Petrobras é uma grande anunciante — e certamente estará no apoio à TV de Franklin Martins. Os produtos que ela vende poluem o ar e aquecem o planeta (sou de outra religião, mas dizem que sim...). A publicidade, então, deverá estar sujeita a severas limitações? Uma pergunta: água entra ou não na categoria das “bebidas com baixo teor nutricional”? O ridículo desses caras é tamanho a ponto de propor limites à propaganda de água? Ela alimenta mais ou menos do que um copo de coca-cola ou de mate? E de lingüiça, pode? A gordura animal em excesso também faz mal à saúde. Quem garante que o sujeito não vai consumir o produto todos os dias, até que as suas artérias se entupam? Não ande de moto. Há o risco de cair. Numa bicicleta, você pode ser atropelado. E desodorizador de ambiente do moleque que quer fazer “cocô na ca-sa do Pe-dri-nho”? Pode ou não? Não fere a camada de ozônio? Nazistas Observem: se isso tudo fosse a sério, fosse mesmo com o propósito de cuidar da saúde dos brasileiros, já seria um troço detestável. Sabiam que os nazistas foram os primeiros, como direi?, ecologistas do mundo? É verdade: não a ecologia como uma preocupação vaga com a natureza, mas como uma política pública mesmo. Hitler gostava mais de paisagem do que de gente, como sabemos. Eles também tinham uma preocupação obsessiva com a saúde, com os corpos olímpicos. O tirano odiava que se fumasse perto dele, privilégio concedido a poucos. Mas o mal em curso não é esse, não. A preocupação excessiva do governo nessa área, entendo, é também patológica, mas a patologia é outra. Por meio da censura prévia — de que foi obrigado a recuar — e da limitação à publicidade de vários produtos, pretende é atingir gravemente o caixa das empresas de comunicação, que fazem do que conseguem no mercado a fonte de sua independência editorial. Ora, é claro que, sem a publicidade da cerveja, dos alimentos e do que mais vier por aí, elas ficam, especialmente as TVs, mais dependentes da verba estatal e do governo. O raciocínio é simples: vocês acham que a porcentagem da grana de estatais no faturamento global é maior numa Band ou numa Globo? Numa Carta Capital ou numa VEJA? No Hora do Povo ou no Estadão (a propósito, veja post abaixo)? Os petistas não se conformam que o capitalismo possa financiar a liberdade e a independência editoriais. Quer tornar essas grandes empresas estado-dependentes. Quanto mais se reduz o mercado anunciante — diminuindo, pois, a diversidade de fontes de financiamento —, mais se estreita a liberdade. Golpe Trata-se, evidentemente, de um golpe, mais um, contra a imprensa livre. E por que digo que o alvo é a Globo? Porque, afinal, ela concentra boa parte do mercado publicitário de TV — é assim porque é melhor e mais competente, não porque roube as suas “co-irmãs” — e porque, no fim das contas, o que importa mesmo a Lula é aparecer bem no Jornal Nacional. E ele deve considerar que isso é tão mais fácil de acontecer quanto mais ele disponha de instrumentos para tornar difícil a vida da principal emissora do país. Acho que vai quebrar a cara. E Temporão, tenha sido ou não chamado à questão com esse propósito, tornou-se o braço operativo dessa pressão. Curioso esse ministro tão cheio de querer impor restrições do estado à vida e às opções das pessoas. É aquele mesmo que já deixou claro ser favorável à descriminação do aborto até a 14ª semana porque, parece, até esse limite, o feto não sente dor, já que as terminações nervosas ainda nem começaram a se formar. É um ministro, digamos, laxista em matéria de vida humana, mas muito severo com biscoitos. O que faço? Recomendo a ele que tenha com as crianças que estão no ventre o mesmo cuidado que pretende ter com as que querem comer Doritos? Eis aí o caminho do nosso bolivarianismo. A terra está amassada pelo discurso hipócrita da saúde. Farei agora uma antítese um tanto dramática, cafona até, mas verdadeira: essa gente finge cuidar do nosso corpo porque quer a nossa alma. PS: Divulguem este texto, espalhem-no na Internet, montem grupos de discussão no Orkut, passem a mensagem adiante, mobilizem-se.