8 de out. de 2006

Ilusão Coletiva - por Rodrigo Constantino





Os jornais são armas; eis porque é necessário proibir a circulação de jornais burgueses; é uma medida de legítima defesa!” (Trotsky)

Como tantos podem ao mesmo tempo serem enganados pela mesma falácia? Eis uma pergunta de difícil resposta, que irá depender do contexto histórico, do poder de persuasão da mentira, da propaganda, da capacidade intelectual das vítimas etc. A pergunta vem à tona quando lembramos da quantidade de gente enganada pelo socialismo. Lendo 10 Dias que Abalaram o Mundo, do comunista assumido John Reed, fiquei uma vez mais perplexo com essa questão martelando na cabeça. Como foi possível – e em muitos casos ainda é – que tantos desprezassem a razão por completo, aderindo à uma utopia tão estúpida como o socialismo?

John Reed afirma que “as classes dominantes pretendiam uma revolução unicamente política”, tirando o poder do Tzar e passando-o às suas mãos. Segundo ele, “queriam fazer na Rússia uma revolução constitucional, segundo o modelo da França ou dos Estados Unidos, ou então uma monarquia constitucional como a da Inglaterra”. O autor fala isso com desprezo, celebrando que “as massas populares queriam, porém, uma verdadeira democracia operária e camponesa”. De fato, não seguiram no rumo da França, Estados Unidos ou Inglaterra. Caíram no embuste socialista, lutaram pela “ditadura do proletariado”, e tiveram como “recompensa” genocidas como Lênin e Stalin. A “verdadeira democracia operária e camponesa” levou milhões para a cova, e o restante para a completa miséria.

O jornalista americano, elogiado por Lênin, chegou a escrever no livro que, se a revolução bolchevique for uma aventura, “trata-se de uma das mais maravilhosas em que já se empenhou a humanidade, aquela que abriu às massas laboriosas o campo da História, fazendo com que hoje tudo dependa de suas vastas e naturais aspirações!”. Na verdade, o campo aberto pelo socialismo foi o de concentração, para forçar o trabalho escravo. As “naturais aspirações” viraram puro desespero, fome, miséria e terror. O próprio autor viu o que o primeiro ato da revolução gerou, afirmando que “para comprar leite, pão, açúcar e fumo era necessário esperar, numa fila, durante horas seguidas, sob uma gélida chuva”. Mas ignorava a causa real disso, culpando a “burguesia” e seu egoísmo. Ora, segundo os próprios comunistas, a América era um antro de burgueses gananciosos, e no entanto não havia filas para comprar pão ou açúcar. O fanatismo ideológico cega a ponto da vítima não conseguir enxergar um palmo à sua frente.

Trotsky disse que “todos os governos burgueses têm a característica de sempre enganar o povo”, e garantia que eles, do Soviete dos Deputados Operários, Soldados e Camponeses, iriam “fazer uma experiência sem precedentes na História”, criando um “governo cuja finalidade única será satisfazer as necessidades dos operários, dos soldados e dos camponeses”. Poderia haver algo mais distante da realidade? De fato, a experiência foi sem precedentes, mas em termos negativos. Nunca antes tantos operários, soldados e camponeses sofreram tanto. Trotsky disse que “para cada revolucionário morto, mataremos cinco contra-revolucionários”. Antes tivesse sido esse o saldo de mortes. Teria ficado barato frente ao que ocorreu de fato. E diante dessa lamentável realidade, John Reed escreve: “Compreendi, de repente, que o religioso povo russo não precisava de sacerdotes para lhe abrir o caminho do céu, porque já começava a edificar na Terra um reino melhor que o paraíso prometido”. E ainda finalizou que “morrer por esse reino era uma glória, a maior de todas as glórias!”. Eis os dois quesitos básicos para a desgraça humana: a promessa de um paraíso e a transformação do indivíduo em um simples meio sacrificável para tal fim. A Rússia virou o verdadeiro inferno, e milhões de almas foram sacrificadas na tentativa de transformá-la no paraíso terrestre. Se a religião é o ópio do povo, o socialismo é heroína pura!

Na época desses sombrios acontecimentos, várias foram as vozes da razão, mostrando que o socialismo era o caminho da desgraça. Infelizmente, não encontraram muito eco em cabeças ocas, dominadas pela emoção e pelo romantismo do “paraíso terrestre”, ainda que os meios agridam tudo que sabemos da natureza humana. Mas se naqueles tempos já era atestado de irracionalidade crer no socialismo, o que dizer dos dias atuais, onde temos vasta experiência empírica do fracasso socialista? No entanto, não são poucos os que ainda sonham com tal utopia, condenando os “reacionários, burgueses e egoístas” pelas barreiras no caminho do “paraíso”, onde todos seriam iguais. Muitos afirmam que o socialismo morreu, mas ignoram que vários governantes atuais ainda admiram figuras patéticas como Lênin ou Trotsky. Esquecem que uma certa ilha do Caribe ainda segue, depois de 47 sofridos anos, na linha comunista. Fingem não notar que uma Heloísa Helena, defensora das jurássicas e podres idéias socialistas, consegue mais de 7% dos votos em todo o país. Fazem vista grossa ao fato de que um ex-operário chegar ao poder ainda agrada muita gente, independente de sua capacidade de gestão, honestidade, competência.

Se o comunismo morreu mesmo, não sei. Tendo a concordar que foi bastante danificado após uma dose – com absurdas seqüelas – de experiência prática. Mas o sonho permanece vivo, infelizmente. Talvez tenha mudado um pouco de cor, tornando-se um vermelho mais desbotado, fazendo concessões ao “cruel” capitalismo. Mas a praga coletivista, o ideal igualitário, ainda vivem. Muitos ainda não perceberam que a podridão socialista está em sua raiz, em sua (falta de) moralidade. Lendo o livro de John Reed, escrito no calor dos acontecimentos de 1917, fiquei pensando em quanta gente ainda não entendeu a essência do problema, em quantos ainda são vítimas dessa ilusão coletiva que é o socialismo. Espero que um dia a razão ainda vença, de barbada, tais impulsos emocionais e irracionais. O homem é capaz disso. Ele tem a capacidade de entender, no fundo, que socialismo é coisa para insetos gregários. Basta fazer uso da razão, instrumento que nos distancia dos demais animais e permite o uso do rótulo homo sapiens.

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Petralhas e Trapaceiros Pilantras

Uma Nação Movida à Corrupção Desenfreada

PF prende quadrilha de juiz e policiais

CUIABÁ - Um juiz e quatro delegados da Polícia Civil de Mato Grosso foram presos ontem, acusados de envolvimento com o tráfico de drogas no estado. Ao todo, 24 pessoas entre advogados, policiais civis, investigadores e traficantes foram detidos na Operação Overlord, da Polícia Federal. Foram cumpridos todos os mandados de prisão preventiva e 28 de busca e apreensão no Sul do estado, a pedido do Ministério Público Estadual.

A investigação, segundo a PF, constatou a participação de autoridades do judiciário que estariam contribuindo com o tráfico de entorpecentes em Rondonópolis (MT), segundo nota. Entre os acusados foi detido o juiz Pedro Pereira Campos, preso por porte ilegal de armas. Não havia mandado de prisão contra ele, mas havia um mandado de busca e apreensão.

Também foram presos os delegados Anaíde Barros dos Santos, Antonio Moura Filho, Eduardo César Gomes da Silva e Maurício Braga. Todos são acusados de tráfico de entorpecentes, associação ao tráfico de entorpecentes, corrupção passiva e ativa, prevaricação, concussão, formação de quadrilha ou bando, tráfico de influência, falso testemunho, falsidade ideológica, violação de sigilo funcional, extorsão e exploração de prestígio, entre outros. As investigações tiveram início ano passado.


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por Antônio Ermírio de Moraes, na Folha de S. Paulo

Em artigo publicado neste espaço em 13/8/2006, defendi a idéia de que pouco adianta saber se a corrupção que atinge os três Poderes na nação -com honrosas exceções- é maior ou menor do que a do passado ou se causa mais prejuízo hoje do que ontem. O que mais me preocupou ao escrever aquele artigo foram os estragos que esse câncer moral ocasiona na juventude brasileira.

Isso não significa um menosprezo pela dimensão econômica do problema. Estudos realizados pelo professor Marcos Fernandes Gonçalves de Souza e colaboradores chamaram a minha atenção para o quanto a corrupção compromete a produtividade do Brasil e o seu crescimento econômico (A Economia Política da Corrupção no Brasil, 2000; "How does corruption hurt growth", 2006).

Os economistas reconhecem serem controversas as medidas de corrupção e de produtividade. Alertando para a necessidade de cautela, os autores citados estimaram a corrupção com base nos levantamentos da percepção dos agentes econômicos e a produtividade com base no quociente do PIB per capita.

Aplicadas ao nosso país, as estimativas produziram resultados aterrorizantes. O Brasil perde cerca de US$ 3,5 bilhões por ano em decorrência de problemas criados por quem "inventa dificuldades para vender facilidades".

É muito dinheiro. Isso daria para fazer investimentos colossais em infra-estrutura, saúde, educação e segurança. No nível individual, a corrupção, em si, reduz em cerca de 43% a renda per capita dos brasileiros, concluem os autores.

Por isso, a dimensão econômica tem de ser levada a sério. Há ainda efeitos econômicos indiretos e que não podem ser medidos, na medida em que a corrupção vai esgarçando o tecido social, provocando a descrença nos valores éticos, enaltecendo a esperteza, cultivando a nefasta "filosofia" do "rouba, mas faz" e desorientando as mentes das nossas crianças e jovens.

Nada disso cabe em um modelo matemático. Mas a minha intuição diz que seu poder destrutivo é maior do que aquilo que é "matematizável", pois diz respeito à falência moral da sociedade.

Corrupção é uma doença incurável e bastante generalizada. Mas, como o diabetes, ela deve ser rigorosamente controlada, como fazem muitos países -aliás, com bastante sucesso.

Não podemos ficar parados. Precisamos melhorar muito as nossas instituições, em especial a Justiça, para, então, operacionalizarmos um programa eficiente de combate à corrupção em nosso país. Espero que os dirigentes dos três Poderes ajudem a salvar a juventude do Brasil. Se não atrapalharem, será uma grande contribuição.

antonio.ermirio@antonioermirio.com.br