3 de nov. de 2006

The Devil Wears Prada

O diabo veste barba. Ele perverte a democracia. Ele perverte a Justiça. Ele perverte as leis. Ele põe a mão no nosso ombro, chama-nos de irmão e de semelhante e nos deixa pobres de nossas verdades.

Mister Bob Fields

"Ao contrário dos anglo-saxões, que prezam a racionalidade e a competição, nossos componentes culturais são a cultura ibérica do privilégio, a cultura indígena da indolência e a cultura negra da magia..."

...Professor Roberto de Oliveira Campos

O caminho da servidão - Profº Orlando Tambosi

Friedrich August von Hayek
Para meditar...

Friedrich August von Hayek, Prêmio Nobel de Economia, publicou O caminho da servidão em 1944. Trata-se de uma severa crítica às idéias coletivistas. No trecho transcrito abaixo, veja se o quadro descrito pelo pensador (ah, horror dos horrores) liberal não tem algo a ver com a situação aqui no Acampamento.

Há três razões para que um grupo numeroso, forte e de idéias bastante homogêneas não tenda a ser constituído pelos melhores, e sim pelos piores elementos:


1. Quanto mais elevada a educação e a inteligência dos indivíduos, tanto mais se diferenciam os seus gostos e opiniões, e menor é a possibilidade de concordarem sobre determinada hierarquia de valores. Portanto, se queremos lograr alto grau de uniformidade e semelhança de pontos de vista, teremos de descer às camadas em que os padrões morais e intelectuais são inferiores e prevalecem os instintos mais primitivos.

2. As autoridades ou o ditador conseguirão o apoio dos dóceis e dos simplórios, que não têm fortes convicções próprias, mas estão prontos a aceitar um sistema de valores previamente elaborado, contanto que este lhes seja apregoado com estrépito e insistência.

3. Parece ser mais fácil aos homens concordarem sobre um programa negativo – ódio a um inimigo ou inveja aos que estão em melhor situação – do que sobre qualquer plano positivo.

P.S.: aqui você tem acesso ao livro em HQ.

De um leitor puto ...Mas muito puto mesmo!

Desabafo de um Brasileiro Envergonhado de sua Origem.
Desde que nasci, nunca tive muito orgulho de ser brasileiro. Hoje tenho vergonha !
Com tantos lugares no mundo para viver, triste a minha sorte de cair nesta terra premiada pela ignorância e pelo moral baixo (ou falta total dele).
Não sei o que meu bisavô tinha na cabeça, quando resolveu migrar da Itália para esta pocilga. Infeliz decisão.
Sinceramente, preferiria ser um miserável em qualquer lugar com dignidade, do que viver neste antro da esperteza.
Muitos se dizem aviltados com a corrupção e a baixeza de nossos políticos. Eu não, eles são apenas o espelho do povo brasileiro :
Um povo preguiçoso, malandro, e que idolatra os safados.
É o povo brasileiro que me avilta !
Não é difícil entender porque os eleitores brasileiros aceitam o LULA e a quadrilha do PT como seus líderes.
A maioria das pessoas deste país fariam as mesmas coisas que os larápios oficiais : mentiriam, roubariam, corromperiam e até matariam.
Tudo pela sua conveniência.
Com raras exceções, os brasileiros se dividem em 2 grupos :
1) Os que roubam e se beneficiam do dinheiro público, e
2) Os que só estão esperando uma oportunidade de entrar para o grupo 1.
Por que será que o brasileiro preza mais o Bolsa Família, que a moralidade?
Fácil : Com a esmola mensal do bolsa família não é preciso trabalhar, basta receber o dinheiro e viver às custas de quem trabalha e paga impostos.
Por que será que o brasileiro é contra a privatização das estatais?
Fácil :
Em empresa privada é preciso trabalhar, ser eficiente e produtivo; senão perde o emprego.
Nas estatais é eficiência zero, comprometimento zero e todos a receber o salário garantido, pago com o imposto dos mesmos idiotas contribuintes.
Para mim chega !
Passei minha vida inteira trabalhando, lutando e tentando ajudar os outros.
Resultado :
Hoje sou chamado de “Elite Privilegiada”.
Hoje a moda é ser traficante, lobista, assaltante, moto-boy e excluído social.
Por isso, tomei a decisão de deixar de ser inocente útil, e de me preocupar com este povo que não merece nada melhor do que tem.
Daqui pra frente, mudarei minha postura de cidadão. Vou me defender e defender os direitos e interesses da nossa “Elite Privilegiada”.
1) Ao contrário dos últimos 20 anos, não farei mais doações para creches, asilos e hospitais. Que eles consigam os donativos com seu querido “Governo voltado para o Social”.
2) Não contribuirei mais com as famosas listinhas de fim de ano de porteiros, manobristas, faxineiros e outros.
Eles já recebem a minha parte pelo Bolsa- Família.
3) Não comprarei mais discos e não assistirei a filmes e peças de teatro dos artistas que aderiram ao Lulismo.
Eles que consigam sua renda com as classes c e d, já que a classe média que os sustentou até hoje não merece consideração.
4) Não terei mais empregados oriundos do norte-nordeste (curral eleitoral petista).
Porque eles não utilizam um dos “milhões de empregos gerados por este governo”?
5) Depois de 35 anos pagando os impostos corretamente, entrarei no seleto grupo de sonegadores.
Usarei todos os artifícios possíveis para fugir da tributação, especialmente dos impostos federais (IR).
Assim, este governo usará menos do meu dinheiro para financiar o MST, a Venezuela, a Bolívia e as “ONG´s fajutas dos amigos do Lula”.
6) Está abolida toda e qualquer “gorjeta” ou “caixinha” para carregadores, empacotadores, frentistas, e outros “excluídos sociais”.
Como a vida deles “melhorou muito com este governo de esquerda”, não precisam mais de esmolas.
7) Não comprarei mais produtos e serviços de empresários que aderiram ao Lulismo.
É só consultar a lista da reunião de apoio ao Lula, realizada em Set/06.
Como a economia está “uma beleza”, eles não estão precisando de clientes da “Elite Privilegiada”.
8) As revistas, jornais e tv´s que defenderam os corruptos em troca de contratos oficiais estão eliminadas da minha vida (Isto É, Carta Capital, etc).
A imprensa adesista é um “câncer a ser combatido”.
As tv´s que demitiram jornalistas que incomodaram o governo (lembra da Record com o Boris Casoy?) já deixaram de ser assistidas em casa.
9) Só trabalho com serviços públicos privatizados. Como a “Elite Privilegiada” defende a Privatização, usarei DHL ao invés dos Correios, não terei contas na CEF, B.Brasil e outros Órgãos Públicos Corruptos.
10) Já avisei meus filhos : Namorados petistas serão convidados a não entrar em minha casa.
E dinheiro da mesada que eu pago não financia gasolina, nem balada com petista. Sem Negociação.
11) Não viajo mais para o Nordeste.
Se tiver dinheiro, vou para o exterior, senão tiver vou para o Guarujá.
O Brasil que eu vivo é o da "Elite Privilegiada", não vou dar PIB para inimigo.
12) Não vou esquecer toda a sujeira que foi feita para a reeleição do “Sapo Barbudo”, nem os nomes dos seus autores.
Os boatos maldosos da privatização (Jacques Vagner, Tarso Genro, Ciro Gomes), a divisão do Brasil entre ricos e pobres (Lula, José Dirceu), a Justiça comprada no STF ( Nelson Jobin), a vergonha da Polícia Federal acobertando o PT (Tomás Bastos), a virulenta adesão do PMDB (Sarney, Calheiros, Quércia), a superexposição na mídia do Lula (Globo) e também a hipocrisia do Serra e do Aécio Neves, sabotando o próprio partido pelos seus interesses políticos em 2010. Sugiro que vc´s comecem a defender sua ideologia e seu estilo de vida, senão logo logo, teremos nosso patrimônio confiscado pela “Ditadura do Proletariado”.
Estou pensando seriamente em viver fora do país.
Estou de luto !
O meu país morreu em 29/10/06.
ACORDEM !

Surrupiado dos Manguaçeiros

O quarto poder e o escorpião escarlate

por Glauco Fonseca

“Quando, alguma vez, a liberdade irrompe numa alma humana, os deuses deixam de poder seja o que for contra esse homem" - Jean-Paul Sartre

Lembra daquela fábula do escorpião, que faz um acordo com o sapo para atravessar um rio? Aquela historinha do batráquio que tem certeza de que o escorpião não o matará no meio do trajeto porque ambos morreriam, lembra? Isto mesmo, a velha e surrada história do escorpião que dá a ferroada no sapo no meio do rio e diz que é da natureza dele picar, mesmo que morra. Esta história é parecida com a de um partido político que nós conhecemos.

Só que o PT, como é de costume, adapta tudo que vê pela frente ao sabor de suas conveniências. A história do escorpião e do sapo foi modernizada pelo magnífico partido dos trabalhadores. Agora, o escorpião pica o sapo, mas apenas após chegar, em total segurança, à outra margem do rio. O sapo, como se vê na fábula original e na versão petista, sempre é trucidado no final.

Pois o escorpião acabou de atravessar o rio e o sapo já está tomando as primeiras ferroadas. Um dia apenas depois da proclamação de que o rio estava oficialmente vencido, as picadas ferozes apareceram e as prováveis vítimas todos já conhecemos: as rãs com gravadores, câmeras, microfones e bloquinhos de notas nas mãos, ligadas a “facções elitistas e irresponsáveis”, mais conhecidas, pelos petistas, como os tais veículos de comunicação.

Metáforas manjadas à parte, era mesmo de se esperar que as liberdades de expressão e de imprensa fossem ser atingidas num segundo governo do PT, alquebrado e embriagado de denúncias criminosas. Só que não se esperava que pudesse ocorrer tão cedo.

Que a revista Veja venha a sofrer retaliações do governo Lula por sua independência, já era esperado por ela e por todo o mercado. Que revistas como IstoÉ e Carta Capital venham a engordar seus faturamentos federais por suas posições favoráveis a Lula, também se entende como parte do jogo, mesmo que um tanto quanto opaco.

Só que, passadas apenas 48 horas da vitória de Lula, as primeiras e mais importantes vítimas são parte da tropa que, sim, ajudou Lula a se reeleger. A agressão da Polícia Federal aos jornalistas de Veja é uma grotesca agressão a toda uma categoria profissional e, cedo ou tarde, mais e mais jornalistas podem ser alvos de agressão, de intimidação, de ameaças. Isto para não dizer o pior.

Começa a ficar mais amargo o gosto de uma reeleição que sequer festejo teve (notaram?). A sensação é de que a maior parte dos cidadãos deste país, mesmo tendo votado em Lula, sabe instintivamente que pode ter cometido um equívoco de avaliação que pode ter graves conseqüências. Aliás, já começaram.

Não sabemos como terminará, mas que já começou, começou.
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O SAPO, O ESCORPIÃO E A PIZZA

por Paulo G. M. de Moura, cientista político

Com exceção de Reinaldo Azevedo, do site Primeira Leitura, jornalistas e comen-taristas políticos preferiram ver na pesquisa Ibope/CNI, divulgada ontem, a confir-mação da queda de popularidade do governo e a perda de competitividade da can-didatura Lula. Reinaldo Azevedo está certo. O Ibope apenas revelou números coin-cidentes com o Datafolha e a pesquisa CNT/Sensus.

Ainda que não seja correto comparar pesquisas de diferentes institutos, feitas em momentos diferentes e com metodologias diferentes, se Lula seguisse desabando, o Ibope deveria apresentar números piores para o petismo. Não foi o que aconteceu. Já se vai cerca de um mês que nenhum petista é envolvido em denúncias novas; o foco da mídia se voltou para Severino e o Congresso; a opinião pública está satura-da com os escândalos.

Só Lula, ao comentar o resultado do Ibope, constatou o que a mídia e a oposição não querem ver. Se fosse outro no meu lugar estaria em situação muito pior, co-mentou o presidente (com outras palavras, mas com o mesmo sentido).

Lula e o PT, outrora arautos da moralidade e detentores monopolistas das virtudes da ética e da moral na política, estão no centro de escândalos de corrupção há mais de cem dias seguidos, recebendo intensa cobertura negativa da mídia e igualmente intensa atenção da opinião pública e, mesmo assim, o candidato Lula, que fez 31,7% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial de 1998, tem algo em torno de 33% a 35% nas pesquisas para a eleição de 2006.

Convém observar que índices de pesquisas não se equivalem a resultados eleito-rais, pois não excluem do total aferido, os votos brancos e nulos. Isso significa que, se a eleição fosse hoje, Lula tenderia a ter, no primeiro turno, desempenho melhor do que teve no primeiro turno de 1998. Além disso, não vi ninguém dar a devida a-tenção ao quorum da eleição para a nova direção petista. É simplesmente impres-sionante.

Que partido, sob circunstâncias tão adversas como as que o PT vive, teria condi-ções de mobilizar cerca de 300.000 filiados para escolher sua nova direção?

Lula, portanto, embora tenha queimado a gordura que conquistou na eleição de 2002 e esteja perdendo uma parte de seu partido e de seus eleitores, que migram para outras legendas ou para a abstinência política, está mais robusto do que no passado se considerado o segmento dos seus eleitores em primeiro turno. Como se pode ver, não é qualquer denúncia de corrupção que derruba as convicções ideoló-gicas do petismo.

Para se convencer, essa gente parece que precisa ver mais podridão do que já apareceu. Caso contrário, com um partido com essa força e com o desempenho que Lula tem hoje nas pesquisas, o PT estaria garantido no segundo turno e faria belas bancadas legislativas.

Com Lula concorrendo no exercício do cargo e valendo-se de todas as vantagens competitivas daí decorrentes, corremos o risco de ver o PT reelegê-lo em segundo turno, no qual as condições de disputa lhe seriam bem mais favoráveis do que po-dem aparentar nesse momento. Suas condições de governabilidade num eventual segundo mandato, seriam péssimas. Mas isso é problema dos brasileiros. Não de Lula e nem do PT, que querem mesmo é o poder pelo poder.

Há, portanto, um aspecto dessa realidade que está sendo menosprezado por a-queles que acham que, mesmo diante de tantas evidências e provas de que esta-mos diante do maior esquema de corrupção da história política do país, protagoni-zado pelo PT e patrocinado por ação ou omissão do presidente da República, é me-lhor preservar Lula no cargo até a eleição de 2006, deixando ao povo a tarefa de removê-lo do poder.

Não estamos menosprezando as dificuldades que Lula e o PT deverão enfrentar na próxima eleição. Fruto dos escândalos, Lula perdeu o favoritismo, o PT está com a imagem seriamente arranhada, Lula terá dificuldades para compor alianças no primeiro turno, e sofrerá duros ataques pela esquerda. Mas ambos estão muito lon-ge da morte política, com estariam quaisquer outros políticos e partidos na mesma situação.

A displicência da oposição em considerar seriamente a hipótese do impeachment – e motivos jurídicos e políticos há de sobra para o recurso democrático a essa me-dida – nos força a relembrar a fábula do sapo e do escorpião, tão recorrente nos si-tes tucanos ultimamente.

O escorpião pede ao sapo que o ajude a atravessar um rio. O sapo resiste, te-mendo a ferroada fatal. Mas o escorpião argumenta: “Se eu viesse a matá-lo no meio do rio, morreríamos ambos, você envenenado e eu afogado, pois não sei na-dar”. Convencido pela lógica do argumento, o sapo oferece ao seu virtual algoz, as costas para a travessia. No meio do caminho, o sapo sente a ferroada. Entorpecido pelo veneno, exclama: “Mas vamos morrer os dois”. E o escorpião retruca: “Mas es-ta é minha natureza”.

Esse é o risco que as oposições correm ao flertarem com a idéia de dar carona a Lula até as urnas de 2006, aceitando o pacto indecente de abafar os crimes do pe-tismo em troca da mútua proteção dos envolvidos em denúncias, em ambos os la-dos do disputa pelo poder.

Nada impede que, concluídas as CPIs e devidamente abafados os escândalos com apenas meia dúzia de cassados, lá na frente, no início do ano eleitoral de 2006, o escorpião-PT, que está no governo; conhece as entranhas do passado de quem governou o Brasil antes de Lula e tem a ABIN a seu serviço, ressuscite denúncias ou encontre novidades a revelar sobre seus adversários, zerando a balança dos es-cândalos. Equilibrar-se-iam, assim, as condições da disputa entre tucanos e petistas nesse aspecto da pauta do debate eleitoral, recompondo dessa forma, a competiti-vidade da candidatura Lula.

O eleitor é hipócrita, imediatista e interesseiro. Em troca de benefícios econômicos é capaz de relevar denúncias de corrupção. FHC abafou inúmeros escândalos e im-pediu várias CPIs em seu primeiro governo, e reelegeu-se em primeiro turno. Só perdeu apoio popular depois que desvalorizou o Real, gerando perdas aos eleitores.

O efeito prático dessa virtual situação, na cabeça dos eleitores, poderia ser mais ou menos o seguinte:

Se petistas e tucanos são corruptos, por que não seguir com Lula, que não se cansa de dizer que o desempenho de seu governo na economia é melhor do que o do governo dos tucanos?

Ou, por outro lado, se petistas e tucanos são corruptos, que tal eleger alguém que não seja nem petista nem tucano?

Na segunda hipótese, o escorpião poderá até morrer afogado, surfando nas costas do sapo envenenado. Mas terá impedido seus algozes nas CPIs de hoje, de voltar ao poder amanhã.

Quem tem a perder com isso?

22/09/2005

2 de nov. de 2006

Dia de Finados - por Rodrigo Constantino


Há séculos que os cristãos rezam para os mortos. O segundo dia do mês de novembro acabou sendo escolhido como data oficial para a homenagem aos falecidos, tornando-se o Dia de Finados. Eu gostaria de prestar aqui minha homenagem ao mais recente defunto brasileiro: a Moralidade. Seu falecimento gerou profunda tristeza em milhões de brasileiros dignos. Não foi morte acidental, mas sim assassinato deliberado. Em massa! Na verdade, cerca de 58 milhões de brasileiros executaram a Moralidade a queima roupa, no dia 29 de outubro. Um tiro certeiro, proveniente da ponta dos dedos dessa gente toda. As armas usadas foram as urnas.

De tabela, levaram daqui a Lógica também. O tiro ricocheteou e matou-a. Um duplo assassinato! Está certo que a Lógica não tinha o hábito de dar muito o ar de sua graça por essas terras, mas ainda assim não merecia tamanho desprezo por conta desses criminosos todos. Massacraram a Moralidade, e tiraram a vida da Lógica também. Macunaíma venceu. Derrotou tanto a Moralidade como a Lógica. Na luta, o heróico Bom-Senso ainda tentou virar a mesa, mas não teve chance. Era tarde demais. Digladiando-se com o aliado de Macunaíma, Gérson – o da lei – o Bom-Senso perdeu feio. Foi esmagado, trucidado, aniquilado. Está em estado grave, entre a vida e a morte. As pessoas de bem nesse país torcem muito pela recuperação do Bom-Senso, mas nada garante sua vitória. Seu coma, ao que parece, irá durar pelo menos mais quatro anos, e não há certeza de que depois irá se safar dessa com vida.

É Dia de Finados! Devemos homenagear os mortos. E a perda da vida tanto da Moralidade como da Lógica, assim como o estado de morto-vivo do Bom-Senso, são lastimáveis. Em 2002 havia ocorrido um grande atentado contra suas vidas. Mas havia a desculpa (esfarrapada) de que os autores do atentado não sabiam que estavam mirando nelas. Nesse triste 29 de outubro não. A ignorância não vale mais como escusa. Os que perpetraram o crime contra a Moralidade, a Lógica e o Bom-Senso sabiam muito bem o que estavam fazendo. O objetivo era mesmo sepultar todos eles. Entre o certo e o duvidoso, sendo o certo a podridão completa, ficaram com esta, afastando qualquer possibilidade de mudança. A grande inimiga da Moralidade, a Perfídia, soube executar seu plano com maestria. Conquistou quase 60 milhões de indivíduos, cegou seus olhos e domou suas mentes, e conseguiu o grande objetivo: eliminar de uma vez a Moralidade do Brasil. É dia de luto!

1 de nov. de 2006

Irascível - por Ralph J. Hofmann

Estou tomado de uma irascibilidade que chega a me assustar. Durante as últimas semanas das eleições, ouvi mentiras da boca do Sr. Lula e me contive razoavelmente bem Vi o Sr. Alckmin responder ponderadamente às acusações quanto suas intenções e me contive. Vi o PSDB evitar defender as privatizações, papel que coube apenas a articulistas e cronistas, particularmente demonstrando os benefícios que foram estendidos ao uma nação inteira, particularmente no caso da telefonia, um gargalo de garrafa que ameaçava o progresso e causava custos excepcionais à nação, e me contive.

Estou agora passando por momentos de roer perna de cadeira para não explodir. Tenho visões de assembléias gerais de jornalistas decidindo jogar proponentes do controle governamental da imprensa por uma janela (Não mais do que três andares, não exagerem!). Imagino um interlocutor do ministro da Justiça aplicando lhe uma joelhada na virilha. Senhores da Polícia Federal, longe de mim fazer isto, sou um homem de paz, apenas acho que seria sumamente interessante ver isto acontecer, afinal de contas, a cada patacoada deste senhor é exatamente o que ele faz conosco.

Tenho visões de certos homens públicos serem internados para reeducação na Isla de los Pinos, a mercê dos atuais guardas do Sr. Fidel Castro. Usem sua imaginação para pensar quem seriam esses homens. Tenho certeza que dadas as excelentes relações entre a China e o Brasil esse país amigo forneceria uma equipe absolutamente preparada, com os registros da reeducação dos anos 50.

O presidente foi eleito democraticamente. Sem dúvida. Mas junto com seus companheiros de mesa ele consegue despertar hoje ódio profundo. Na minha vida vi outros assumirem o poder sem merecê-lo. Mas sem nos despertar tal ódio. Sempre tivemos a noção de que a pessoa que assumia o poder tinha objetivos próprios, mas nunca podíamos colocar em dúvida que no geral essa pessoa pretendia o bem estar do país, pretendia encontrar o caminho do progresso.

Esta vez não. Temos absoluta certeza que pretendem as benesses dos cargos, a fortuna pessoal, o poder por longos anos, doa a quem doa.

Estarei completamente pirado?

Terceiro Turno - por Rodrigo Constantino




Democracia deve ser mais que dois lobos e uma ovelha votando sobre o que terão para jantar.” (James Bovard)


O presidente Lula está reeleito com expressiva votação, acima de 50 milhões de votos. Um fato inegável. Defensores do petista logo correm para afirmar a “legitimidade” garantida pelas urnas, já que seu governo foi marcado por um recorde nacional – quiçá mundial – de escândalos de corrupção. Ignoram, entretanto, que num Estado de Direito, com império das leis, não são as urnas que fazem automaticamente as leis. Não realizamos plebiscitos para votar se criminosos vão ou não para a cadeia. Aplicamos as leis.

O povo brasileiro parece não compreender ainda o valor das instituições republicanas, que não permitem colocar cidadão algum acima das leis. Fala-se aqui em democracia como um fim em si, esquecendo do alerta na epígrafe. Países que não conseguiram construir sólidas instituições, deixando que a democracia se transformasse numa simples ditadura da maioria, jamais prosperaram. Sem que as liberdades individuais sejam garantidas através do império das leis isonômicas, a democracia pode virar um leilão vulgar onde dois lobos decidem que o jantar será a ovelha indefesa. Quem defende a justiça precisa defender as minorias, e a menor minoria de todas é o indivíduo. Somente um governo de leis, válidas igualmente para todos, preserva tais minorias. Ditaduras da maioria disfarçadas de democracia não trazem semelhança alguma com tal modelo. Quem acha que a escolha da metade dos eleitores e mais um cidadão dá uma carta branca ao governante eleito, não compreendeu nada sobre justiça e liberdade.

Em seu livro Política, Aristóteles pergunta: “Se, por serem superiores em número, aprouver aos pobres dividir os bens dos ricos, não será isso uma injustiça?”. Claro que será! Mas demagogos nunca deixaram de explorar o sentimento de inveja nos mais pobres para obter poder. Governantes aproveitadores e astutos conseguem dinheiro dos mais ricos com o pretexto de protegê-los dos mais pobres, assim como votos dos mais pobres com a escusa de que irão defendê-los dos mais ricos. Os iludidos não notam que ambos, ricos e pobres, precisam de proteção justamente contra tais governantes. E esta proteção vem através das sólidas instituições, da garantia das liberdades individuais, do império das leis. Quando a democracia – leia-se os votos válidos de mais da metade dos eleitores – passa por cima dessas normas impessoais, temos a troca do necessário império das leis pelo perigoso império dos homens. O governo vira então refém das vontades de maiorias instáveis. Se amanhã mais da metade do povo desejar o extermínio de uma determinada minoria, nada estará no caminho para impedir tamanha injustiça. A Alemanha nazista que o diga!

Tendo explicado esse ponto importante, de que democracia não deve ser a simples ditadura da maioria, podemos agora analisar um dado estatístico interessante. Na verdade, sequer podemos falar em maioria do povo quando falamos da reeleição de Lula. Foram quase 24 milhões de abstenções, um pouco mais de um milhão de votos brancos, quase 5 milhões de votos nulos e mais de 37 milhões de votos para seu adversário, Alckmin. Somando tudo isso, temos quase 70 milhões de eleitores que não votaram em Lula, contra menos de 60 milhões que nele votaram. Em outras palavras, sequer podemos falar mesmo em ditadura da maioria!

Os petistas acusam de “golpistas” aqueles que gostariam de um “terceiro turno”, ou seja, aplicar as leis através do TSE podendo cancelar as eleições caso ficasse comprovado o uso de dinheiro ilegal na campanha de Lula. As evidências de que isso ocorreu abundam, quando lembramos do dossiê que os petistas bastante ligados ao presidente tentaram comprar. Foram pegos com a “boca na botija”, em flagrante, usando dinheiro ilegal, quase 2 milhões de reais. O que podemos concluir disso é que golpe, para os petistas, é aplicar as leis em seus companheiros. Acham que eles, e especialmente Lula, estão acima das leis. E usam as urnas como “prova” dessa suposta legitimidade. Não se constrói um país sério, justo e próspero desta maneira. Será que estamos fadados a ser uma republiqueta das bananas?

Acusações não devem permitir a Lula uma segunda lua-de-mel - por Larry Rohter, no New York Times

Ao conquistar reeleição no domingo com 60,8% dos votos, Luiz Inácio Lula da Silva quase repetiu o desempenho acachapante que o tornou presidente do Brasil quatro anos atrás. Mas não parecem prováveis uma segunda lua-de-mel ou uma pausa nas acusações de corrupção e outras dificuldades que vêm prejudicando seu governo.

Lula enfrentará um segundo mandato difícil. Seu PT está debilitado por escândalos de corrupção, e ele está sob pressão para adotar políticas econômicas mais populistas. Mas para conseguir aprovar seu programa legislativo, ele corre o risco de se ver forçado a aceitar acordos eticamente questionáveis, exatamente como aqueles que causaram as dificuldades que seu governo vem enfrentando.

Mesmo antes do início de seu segundo mandato, Lula enfrenta a perspectiva daquilo que alguns brasileiros vêm definindo como "o terceiro turno" da eleição. Embora a dimensão de sua vitória deva desencorajar os oposicionistas a pedir seu impeachment, há processos em curso nos tribunais, e pode se mostrar ser mais difícil detê-los.

Há também a questão prática de como Lula planeja administrar a máquina do governo. O PT tinha escassa experiência administrativa, para começar, e como resultado dos escândalos muitas das figuras em que ele confiava caíram em desgraça.

Lula ocasionalmente expressa frustração por não conseguir o que quer do Legislativo. Em jantar recente, diz-se que ele teria afirmado que tinha "vontade de fechar o Congresso".

Lula se recusou a assinar uma petição que solicitava que os candidatos assumissem o compromisso de não convocar Assembléia Constituinte. Oposicionistas tomaram esses lapsos como motivo para sugerir que um segundo mandato veria Lula ceder a seus impulsos autoritários. Mas a maioria dos analistas desconsidera as declarações ambíguas e os alertas sombrios da oposição como simples retórica de campanha.

Não está claro se Lula interpretará sua vitória esmagadora como absolvição pelos casos de corrupção. "O PT disse que estava se reestruturando, e logo a seguir se envolve em um escândalo bizarro como esse", disse Jairo Nicolau, professor de ciência política: "Se não aprenderam nada de 2005 para cá, não há garantia de que não repetirão os mesmos erros".

A INDIGNAÇÃO - por Denis Rosenfield, na FSP

Um país que perde a capacidade de indignar-se arrisca a sua própria existência política. A moral não é um utensílio qualquer que possa ser utilizado segundo as conveniências partidárias. Ela é uma finalidade em si mesma que, instrumentalizada, perde seu próprio significado. A política se mostra como uma forma superior de sociabilidade humana se tiver um comprometimento com princípios morais e com a verdade, sem os quais as relações humanas abandonam sua própria dimensão cívica, a que se realiza pelo exercício dos mais diferentes tipos de direito.

O país cresceu nas últimas décadas pelo desenvolvimento e pelo aperfeiçoamento da cena pública. A liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral propiciou uma nova configuração da opinião pública, atenta ao comportamento de seus dirigentes. Líderes partidários e governantes tiveram de responder por suas ações e de se responsabilizar pelo que faziam. Políticos que baseavam suas ações em máximas do tipo "é dando que se recebe" ou "rouba, mas faz" perderam progressivamente credibilidade e foram sendo abandonados pelos eleitores.

Parecia que o país tinha ingressado em um distinto e superior patamar político. Um presidente da República chegou a ser afastado do seu cargo por corrupção e por infrações à moralidade pública em manifestações que tomavam conta das ruas deste país.

Nos escândalos que dominaram a cena do governo Lula, as ruas permaneceram vazias. As vozes, dificilmente audíveis, começaram a se calar, como se a perplexidade tivesse tomado o lugar da indignação. É como se as seguintes perguntas martelassem as cabeças: "O que fez com que o partido da ética a infringisse tão duramente?"; "Era tudo uma mera encenação de um partido oposicionista?".

A única resposta a essas perguntas veio sob a forma do "errar é humano" para justificar a corrupção e a falta de ética na política. É como se uma "nova teoria" estivesse nascendo das cinzas da moralidade, a de que "erros" justificam todo tipo de ação.

Ora, uma "teoria dos erros", cuja finalidade consistia apenas em acobertar a verdade, só podia se traduzir por uma valorização da "mentira" como forma de governo. O seu rebento é o "direito de mentir". Triste fim dos que se diziam defensores da moralidade, embora tenham com isso aferido "belos" resultados eleitorais.

Acontece que a beleza e a eticidade desapareceram em proveito de uma grande enganação pública. Criticar, porém, é preciso. Uma cena pública que perde seus parâmetros começa a se desestruturar. Entra-se no lugar do vale-tudo em que a verdade e a moralidade são as primeiras vítimas.

O mundo do vale-tudo é o mundo dos heróis sem caráter, que aproveitam as mínimas circunstâncias em proveito próprio. O tesouro público se torna privado ou privado-partidário, como se a República, a coisa pública, a coisa de todos nós e os recursos dos contribuintes pudessem ser dilapidados à vontade. Sempre explicações e justificativas serão apresentadas, algumas adornadas de belas expressões, como se um novo mundo estivesse sendo construído, um novo mundo possível, só que este surge sob a forma da usurpação e da perversão.

O exemplo que está agora sendo vendido ao país é o de que o crime compensa, toda regra e toda norma podendo ser transgredidas.

Tudo depende da "teoria do erro", chave mestra que procura colocar aquele que o cometeu na posição de vítima, de agente involuntário, injustamente acusado pelos malfeitores da imprensa, uma imprensa que não saberia investigar corretamente, porque não segue os ditames do partido no poder. De reveladora de fatos, ela se torna ré de um mau exercício da liberdade. De pequenos passos se constitui uma mentalidade e um uso autoritário do poder.

Quem defende a imoralidade, quem a justifica, a trai. Defende, na verdade, a asfixia da cena pública, a asfixia lenta e gradual das liberdades democráticas. O comprometimento do pensamento é com a faculdade de julgar, de emitir juízos sobre fatos e comportamentos que atentam contra princípios morais, contra a verdade e contra tudo aquilo que baliza as instituições republicanas.

Os que defendem os "erros" cometidos pelo governo Lula e pelo PT estão, de fato, abandonando o próprio exercício do pensamento, que não pode se tornar refém da servidão política -aqui, uma espécie de servidão voluntária. Se a "causa" toma o lugar da verdade e da liberdade, muito pouco se pode esperar da reflexão, da crítica. Lula ganhou, a ética e a verdade perderam.

31 de out. de 2006

Triste país este meu - por Janer Cristaldo

Resumo: Ainda na semana passada, o candidato derrotado na disputa pela presidência dizia que o PT "está fazendo apologia da mentira. Os petistas podem mentir. Não, o brasileiro não gosta de mentiroso". Ele só não contava que o povo corresse às urnas para desmenti-lo.

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Sempre vivi em conflito com o Brasil. Em verdade, sou mais platino que brasileiro. Nasci na pampa, a mais ou menos um quilômetro da Linha Divisória entre Brasil e Uruguai. Com meus pais, falava português. Com minha ama, doña Catulina, falava espanhol. Na estrada, em frente a nosso rancho havia um desses marcos divisores de fronteira, em concreto. Meu pai costumava colocar-me nos ombros para que eu subisse até o topo do marco. Mandava que eu me virasse para o nascente e dizia: "fala para os homens do Uruguai, meu filho". Depois fazia virar-me para o poente: "Fala agora para os homens do Brasil". Nasci entre duas culturas e o primeiro grande poema de minha infância foi o Martín Fierro. Meu pai era camponês sem maiores luzes, mas conhecia de cor dezenas de sextilhas de Hernández. Pergunte hoje a um professor universitário quem foi José Hernández. Poucos saberão responder.

Entender o mundo foi algo que sempre me fascinou. O aprendizado da leitura me absorveu a tal ponto que eu entrava noite adentro lendo à luz das brasas do fogão. As seleções do Reader's Digest, não sei como, chegavam até aqueles rincões. Não sei se algum leitor ainda lembra delas. Tinham o formato de um pequeno livro e o texto era disposto em seis colunas. Em minha sofreguidão, eu lia as linhas na horizontal, pulando de uma coluna para outra. Não era tarefa fácil, após a leitura, ordenar o texto todo. Fiz o primário em escola rural. Minha alegria de fim de ano era saber que no ano seguinte eu receberia novos livros.

Desde pequeno, tive a intuição de que um homem vale pelo que conhece. No ginásio, me fascinou o estudo de inglês, francês e latim. Sentia-me como que travestido falando uma língua estrangeira. Não o espanhol, é claro, que nunca foi estrangeira para mim. Enquanto meus colegas e parentes se dedicavam a projetos mais práticos, como o de ganhar dinheiro e comprar coisas, eu me preocupava em ler mais para entender melhor o universo que me cercava. Um dos apelidos que me pespegaram em meus dias de Porto Alegre foi "Pra-que-dinheiro?". Eu não entendia muito bem para quê.

Os livros foram minhas armas para enfrentar o mundo. Com eles enfrentei a arrogância dos padres, dos marxistas, dos acadêmicos. Nos dias em que estava abandonando a fé cristã, que me fora enfiada a machado na cabeça, um padre foi enviado à minha cidadezinha para reconduzir ao rebanho a ovelha prestes a perder-se. Conversamos um dia inteiro, esvaziando várias jarras de água. "Com que autoridade - me perguntava o padre Firmino - ousas contestar o que homens ilustres afirmaram?" Contesto, padre, com a autoridade da razão, da lógica e de minhas leituras. Eu teria 17 anos. Graças a meus livros, enfrentava com serenidade aquele Torquemada cinqüentão. A leitura me havia salvo do obscurantismo.

O valor que mais cultivo é o conhecimento. Certa vez, em uma audiência judicial, um juiz me defendeu como me defenderia minha mãe. "Este homem nunca teve tempo de ganhar dinheiro, passou sua vida estudando". Estudando, continuo até hoje. Não tenho maior apreço por quem ostenta fortuna ou poder. Vivemos dias em que sucesso é um valor. Conheço pessoas de bom nível cultural que invejam o Supremo Apedeuta: "Ele teve sucesso". Tenha o sucesso que tiver, pessoa inculta para mim não vale um vintém. Respeito o analfabeto que não teve condições de alfabetizar-se. Não tenho respeito algum por quem, tendo a chance de educar-se, não se educou. Tenho mais respeito por minha faxineira, que surpreendi outro dia lendo Machado de Assis. Quem me acompanha sabe que abomino aquele carioquinha. Mas melhor ler Machado que não ler nada. Urge acabar com esse mito de que alguém vale alguma coisa só porque é presidente da República, bispo de Roma ou sabe chutar uma bola.

Falava de meu conflito com o Brasil. Quando fugi para a Suécia, fugia de duas coisas: carnaval e futebol. Mas por mais que um homem fuja, sempre carrega nas costas seu passado. Os suecos me interrogavam sempre sobre ... carnaval e futebol. Em todas minhas viagens, a peste Brasil sempre viajou grudada à minha pele. Seja nas fronteiras políticas do mundo socialista, seja nas fronteiras hipotéticas do Saara, ao mostrar o passaporte verde nunca faltou um policial analfabeto que me dissesse: "Brassil? Pelê, cafê, sambá".

Nunca tive razões para orgulhar-me de meu país. Tampouco encontro homens em sua história a quem possa conferir a comenda de herói. Tivemos alguns homens de visão, é verdade, Hipólito da Costa (que nasceu na Colônia do Sacramento, atual Uruguai), José Bonifácio, Silva Paranhos. É muito pouco para país tão grande. Santos Dumont? De acordo. Mas Dumont é fruto da cultura francesa, não da nossa. Meus heróis estão em outras culturas. Alexandre, Sócrates, Cervantes, Schliemann, Fernão de Magalhães, Nietzsche, Mozart, Pessoa, Hernández. Entre meus numes tutelares não há nenhum brasileiro.

Viajando, aprendi a gostar deste país. Gosto de repetir uma frase de Chesterton: "não se conhece uma catedral permanecendo dentro dela". Precisei sair para entender melhor a terra em que nasci. Se aqui existem mares de burrice, há também ilhas de inteligência. Se há miséria, há também riqueza. Se há feiúra, há também beleza. Todo país é lindo quando nele existe uma mulher a quem amamos. Essa mulher eu a tive e era daqui. Tivesse eu nascido no Congo ou em Ruanda, teria fortes razões para partir e não mais voltar. Mas ao Brasil dá pra voltar. Que o digam os exilados de 64, que nos cafés de Paris ou Berlim juravam só voltar de metralhadora em punho. Mal Figueiredo decretou a anistia, voltaram chorando a cântaros. Quando passamos muito tempo longe do Brasil, sempre dá um nó na garganta ao voltar. Se choramos ao voltar, é porque o país é viável.

Sempre nos doem na alma as mazelas do país do qual gostamos. Gostar do Brasil é viver de alma machucada. Temos tudo para ser ricos e - ilhas à parte - vivemos atolados na miséria. Eleições são momentos em que brota, no peito de quem gosta de sua pátria, um raminho de esperança: quem sabe, desta vez saímos do barro. Esse raminho, em meu peito há muito murchou. Faz hoje dezesseis anos que não voto, por não conseguir vislumbrar candidato em quem confiar meu voto. Se por um lado não voto, por outro sempre espero apreensivo o resultado das urnas.

Há quatro anos, foi eleito presidente da República um homem que se gaba de sua incultura. Parafraseando Lula: nunca houve na história deste país tamanho acinte à inteligência. Sua eleição gerou um clima funesto no país. Para "ter sucesso" não era mais necessário ter cultura. Analfabeto mesmo serve, desde que minta à vontade, conforme o gosto das gentes. Não bastassem suas demonstrações quase que diárias de analfabetismo, não bastasse a roubalheira institucionalizada de seu governo, não bastassem suas mentiras deslavadas e continuadas, candidatou-se novamente à Presidência da República.

Nos tempos d'antanho, para justificar suas vontades, os poderosos costumavam dizer: Deus quer, Deus quis, em nome de Deus. O tal de Deus parece andar um tanto fora de moda. Hoje, os poderosos ou candidatos ao poder dizem: em nome do povo, o povo quer, o povo diz. Soaria um tanto obsoleto, tanto para Lula quanto para Alckmin, dizer: eu sou o candidato de Deus. Mas não têm maiores pudores em afirmar que são o candidato do povo. As duas palavrinhas - Deus e povo - continuam sendo de difícil definição e têm tantas acepções quanto as bocas dos que as pronunciam. Jamais vi ou li uma definição de povo que satisfizesse a todas as mentes. Mas uma coisa é certa. Passe numa segunda-feira de manhã em um parque público ou em uma praia. Você pode não saber o que é povo. Mas é óbvio que o povo passou por ali. Nesta segunda-feira, Lula acordou reeleito presidente da República. Ontem, o povo passou pelas urnas.

Ainda na semana passada, o candidato derrotado dizia que o PT "está fazendo apologia da mentira. Os petistas podem mentir. Não, o brasileiro não gosta de mentiroso. Nada se sustenta em cima da mentira. Mentira é desvio". Santa ingenuidade tucana. Esta coisa informe que se chama povo parece ter-se indignado com as palavras de Alckmin. E correu às urnas para desmenti-lo: "somos brasileiros e gostamos de mentirosos, sim senhor. Quem disse que nada se sustenta em cima da mentira? Mentira não é desvio. Mentira é direito sagrado de todo cidadão".

Em um sistema democrático, bem ou mal o presidente representa as aspirações da nação toda. Triste país este meu, que elege e reelege um bronco sindicalista. Disse certa vez um político inglês que a Inglaterra era bem sucedida porque seus cidadãos honestos tinham a mesma audácia que os canalhas. Claro que no Brasil existirão não poucos homens honestos. O problema é que carecem de audácia, virtude que nunca faltou aos canalhas.

29 de out. de 2006

Quando a gente fizer o que estamos fazendo -#

-# - Presidente Lula no debate da Globo
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"O que se pode esperar de um país que em seu Hino Nacional se declara 'Deitado Eternamente em Berço Esplêndido', e que cuja maior manifestação de dinâmica associativa é o Carnaval?" ...Professor Roberto Campos

Leia mais, por Rodrigo Constantino
... Uma mente lúcida
... Uma mente lúcida - segunda parte

"Curar a moléstia britânica com o socialismo é como usar sanguessugas para curar leucemia." ...Margaret Thatcher


"Se pudermos impedir o Governo de desperdiçar o trabalho do povo, sob o pretexto de cuidar dele, este será feliz." ...Thomas Jefferson
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Surrupdate
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Lá vai o "povo" ...por Professor Orlando Tambosi

Tangida, lá vai a turba ungir quem lhe dá um pouco de sal. Aqui no Acampamento, é a esta massa dócil que chamam de "povo" - entidade que desconheço pessoalmente mas que é invocada toda vez que algo de ruim acontece. Há alguma coisa de bovino nesta eleição, no silêncio estranho que a acompanha. Ela é o testemunho da degenerescência do que um dia já chamamos de nação ou país. Só dá cabeça baixa.

O que sobrou? É o que pensa de nós o mundo: futebol, carnaval, sexo fácil (prostituição e pedofilia de exportação), isto na Itália, na Espanha, em Portugal, porque nos EUA ninguém sabe o que é o Bananão. Não tem a mínima importância. Ah, e tem a música, o rebolado...O Acampamento é pré-científico (quando não anticientífico), autocomplacente, autoindulgente, crédulo, semi-alfabetizado, anticapitalista. Seus pedagogos endeusam a "escola da vida" contra a disciplina intelectual (a exemplo do vetusto Paulo Freire).

O Acampamento consagra a intuição contra a racionalidade, desconfiando da inteligência, mas não da picaretagem. Cultua a indigência e invoca o Pai salvador, que algum político profissional sempre está disposto a encarnar, torpe e repetitivamente. Olha para o passado, porque não tem futuro. Futuro é manter a marmita.O Brasil se merece.

28 de out. de 2006

O Nazista em Allende - por Rodrigo Constantino


Rodrigo Constantino

“Quem não é são física e psiquicamente, e, por sua vez, não é digno, não tem o direito a eternizar sua miséria em um filho; o Estado deve permitir que só saudável venha a ter família.” (Adolf Hitler, em Minha Luta)

Em meu último artigo, Socialismo e Nazismo, mostrei com sólidos argumentos os claros paralelos entre o socialismo e o nazismo, semelhantes em inúmeros aspectos. Lembrei também que os socialistas, acostumados a repetir chavões sem reflexão alguma, xingam de nazistas seus opositores, ainda que coloquem assim estes lado a lado com liberais, enquanto na verdade os liberais são totalmente contrários tanto ao nazismo como ao socialismo. Neste artigo, pretendo demonstrar o nazista que existia num dos maiores ídolos socialistas da América Latina. Trata-se de Salvador Allende, presidente que afundou o Chile no caos e miséria. A fonte é o último livro de Víctor Farías, doutor em filosofia e autor de Os Nazistas no Chile. Seu mais recente trabalho, Salvador Allende: Anti-Semitismo e Eutanásia, busca em fatos históricos um passado sombrio do personagem, muitas vezes ocultado propositadamente pelos seus biógrafos. Levantar essa poeira e expor a real face nazista desse grande símbolo esquerdista é o objetivo do estudo.

Víctor Farías foi pesquisar Allende desde o seu passado como médico, passando também pelo período em que foi ministro. A figura de Allende já vem sofrendo consideráveis rachaduras, como quando foi descoberto que, durante seu governo, ele protegeu direta e deliberadamente Walther Rauff, um dos maiores criminosos nazistas, responsável direto pelo assassinato de cem mil judeus. Além disso, nos anos da fundação do partido socialista do Chile, seu criador, Marmaduke Grove, foi pago regularmente pelo Ministério de Assuntos Exteriores nazista. Um outro ponto controverso diz respeito à Colônia Dignidade, enclave racista alemão dirigido por nazistas e ex-nazistas, que cresceu e se consolidou consideravelmente durante o governo de Allende. Como fica claro, a simbiose entre socialismo chileno e nazismo alemão sempre existiu.

Mas o livro de Farías foca na fase médica de Allende, época em que sua tese Higiene Mental e Delinqüência foi escrita. Este texto de Allende é uma aberração que mostra um profundo racismo do autor, que chega a informar, com aprovação, sobre experimentos cirúrgicos feitos com réus de cárceres públicos a fim de fazê-los “recuperar sua identidade sexual”. Para Allende, uma das causas naturais da delinqüência é “a raça”. Ele chega a escrever que “os hebreus se caracterizam por determinadas formas de delito: fraude, falsidade, calúnia, e, sobretudo, a usura”, alegando que esses dados “fazem suspeitar que a raça influi na delinqüência”. Em resumo, no seu primeiro escrito científico, Allende afirma que os judeus são naturalmente delinqüentes.

Enquanto ministro da Salubridade do governo da Frente Popular, Allende teve a oportunidade de lutar para colocar em prática suas idéias bizarras. Anunciou em 1939 um projeto de Esterilização de Alienados Mentais como programa para a “defesa da raça”, e confiou a elaboração e implementação do projeto a cientistas abertamente racistas como o dr. Eduardo Brücher, associado ao dr. Hans Betzhold, fervoroso partidário da eutanásia nazista. O Artigo 1º do projeto dizia que “toda pessoa que sofra de uma enfermidade mental que, de acordo com os conhecimentos médicos, possa transmitir à sua descendência, poderá ser esterilizada”. Pelo projeto, seriam consideradas enfermidades mentais transmissíveis por via hereditária: a esquizofrenia; a psicose maníaco-depressiva; a epilepsia essencial; a idiotia; a debilidade mental profunda; a loucura moral constitucional e o alcoolismo crônico. As vítimas poderiam, pelo projeto da lei, ser forçadas pelo Estado a fazer a esterilização, como fica claro no Artigo 23º: “Todas as resoluções ditadas pelos Tribunais de Esterilização serão obrigatórias para toda pessoa ou autoridade, e se levarão a efeito, com caso de resistência, com auxílio da força pública”.

As semelhanças entre este projeto e a Lei para Precaver uma Descendência com Taras Hereditárias, ditada pelo governo do Terceiro Reich, são impressionantes. Alguns parágrafos parecem cópia direta. Os nazistas pretendiam esterilizar vítimas nos casos de imbecilidade congênita, esquizofrenia, mania depressiva, epilepsia hereditária, cegueira hereditária, surdez hereditária e graves deformidades físicas hereditárias. Como resume Frías, “em ambos os casos a vontade esterilizadora radical não deveria ser impedida ou prejudicada por problemas financeiros”, pois “até para os indigentes havia recursos, entregues ao Estado pelos contribuintes”.

Sobre seu livro e os fatos que trouxe à tona, Víctor Frías acredita que muitos irão optar por um constrangedor silêncio, para proteger a fé ideológica e a imagem de Allende, que já era terrível antes disso tudo, mas ignorada pelos camaradas socialistas. Outros verão analogias fundamentais entre socialismo e nazismo, e conhecerão um pouco mais dessa figura que tanto contribuiu para o colapso chileno. Quanto ao que concerne o autor, ele acredita que “tudo o que foi investigado até aqui merece ser processado, incansavelmente, a fim de recuperar a luz que nossa gente merece”. Infelizmente, os idólatras do fracasso parecem nunca aprender com os fatos, preferindo um mundo de fantasias onde o socialismo trará uma vida melhor para todos. Entre a luz ou a escuridão ideológica, ficam com a última. E assim, o nazista em Allende acabará provavelmente ignorado e esquecido, enquanto os socialistas continuam rotulando seus opositores de nazistas, como se não fossem ambos uma mesma família.
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por Rodrigo Constantino

"Que significa ainda a propriedade e que significam as rendas? Para que precisamos nós socializar os bancos e as fábricas? Nós socializamos os homens." (Adolf Hitler, citado por Hermann Rauschning, Hitler m´a dit, Coopération, Paris 1939, pg 218-219)

Ensinada desde os tempos de Lênin, muitos socialistas usam a tática de acusar os opositores daquilo que eles mesmos são ou fazem. Tudo que for contrário ao socialismo, vira assim “nazismo”, ainda que o nacional-socialismo tenha inúmeras semelhanças com o próprio socialismo. Tanto o nazismo como o marxismo compartilharam o desejo de remodelar a humanidade. Marx defendia a “alteração dos homens em grande escala” como necessária. Hitler pregou “a vontade de recriar a humanidade”. Qualquer pesquisa séria irá concluir que nazistas e socialistas não eram, na prática e no ideal coletivista, tão diferentes assim.

Não obstante, para os socialistas, aquele que não for socialista é automaticamente um “nazista”, como se ambos fossem grandes opostos. Assim, os liberais, que sempre condenaram tanto uma forma de coletivismo como a outra, e foram alvos de perseguição dos dois regimes, acabam sendo rotulados de “nazistas” pelos socialistas, incapazes de argumentar além dos tolos rótulos de “extrema-esquerda” e “extrema-direita”. Tal postura insensata coloca, na cabeça dos socialistas, uma “direitista” como Margaret Thatcher mais próxima ideologicamente de um Hitler que este de Stalin, ainda que Thatcher tenha lutado para defender as liberdades individuais e reduzir o poder do Estado, enquanto Hitler e Stalin foram na linha oposta. O fim da propriedade privada de facto foi um objetivo perseguido tanto pelo nazismo como pelo socialismo, que depositaram no Estado o poder total. O Liberalismo, em sua defesa pela liberdade individual cujo pilar básico é o direito de propriedade privada, é radicalmente oposto tanto ao nazismo como ao socialismo, que em muitos aspectos parecem irmãos de sangue.

A conexão ideológica entre socialismo marxista e nacional-socialismo não é fruto de fantasia, e Hitler mesmo leu Marx atentamente quando vivia em Munique, tendo enaltecido depois sua influência no nazismo. Para os nazistas, os grupos eram as raças; para os marxistas, eram as classes. Para os nazistas, o conflito era o darwinismo social; para os marxistas, a luta de classes. Para os nazistas, os vitoriosos predestinados eram os arianos; para os marxistas, o proletariado. Além da justificativa direta para o conflito, a ideologia de luta entre grupos desencadeia uma tendência perversa a dividir as pessoas em parte do grupo e excluídos, tratando estes como menos que humanos. O extermínio dessa “escória” passa a ser desejável seja para o paraíso dos proletários ou da “raça” superior. Os individualistas, entrave para ambas ideologias coletivistas, acabam num campo de concentração de Auchwitz ou num Gulag da Sibéria, fazendo pouca diferença na prática.

A acusação de que a Alemanha nazista era uma forma de capitalismo não se sustenta com um mínimo de reflexão. O “argumento” usado para tal acusação é de que os meios de produção estavam em mãos privadas na Alemanha. Mas como Mises demonstrou, isso era verdade somente nas aparências. A propriedade era privada de jure, mas era totalmente estatal de facto, da mesma forma que na União Soviética. O governo não só nomeava dirigentes de empresas como decidia o que seria produzido, em qual quantidade, por qual método, e para quem seria vendido, assim como os preços exercidos. Para quem tem um mínimo de conhecimento sobre os pilares de uma sociedade capitalista-liberal, não é difícil entender que o nazismo é o oposto deste modelo. Para os nazistas, assim como para os socialistas, é o “bem-comum” que importa, transformando indivíduos de carne e osso em simples meios sacrificáveis para tal objetivo.

Existem, na verdade, vários outros pontos que podemos listar para mostrar que o nazismo e o socialismo são muito parecidos, e não opostos como tantos acreditam. O fato de comunistas terem entrado em guerra com nazistas nada diz que invalide tal tese, posto que comunistas brigaram sempre entre si também, e irmãos brigam uns com outros, ainda mais por poder. Apesar do Liberalismo se opor com veemência a ambos os regimes, os socialistas adoram repetir, como autômatos, que liberais são parecidos com nazistas, apenas porque associam erradamente nazismo a capitalismo. Se ao menos soubessem como é o próprio socialismo que tanto se assemelha ao nazismo!

27 de out. de 2006

Um Líder Carismático - por Rodrigo Constantino

Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa.” (Schopenhauer)

Era uma vez um sujeito humilde, que resolveu entrar para o Partido dos Trabalhadores, logo no começo de sua existência. Foi praticamente um dos fundadores do partido. Tamanha era sua influência sobre os demais membros, que logo se tornou o maior líder dentro do partido. Praticamente redigiu o programa que seria defendido pelo partido. Este programa era uma mistura de socialismo com nacionalismo.

O programa defendia a “obrigação do governo de prover aos cidadãos oportunidades adequadas de emprego e vida”. Alertava que “as atividades dos indivíduos não podem se chocar com os interesses da comunidade, devendo ficar limitadas e confinadas ao objetivo do bem geral”. Demandava o “fim do poder dos interesses financeiros”, assim como a “divisão dos lucros pelas grandes empresas”. Também demandava “uma grande expansão dos cuidados aos idosos”, e alegava que “o governo deve oferecer uma educação pública muito mais abrangente e subsidiar a educação das crianças com pais pobres”. Defendia que “o governo deve assumir a melhoria da saúde pública protegendo as mães e filhos e proibindo o trabalho infantil”. Pregava uma “reforma agrária para que os pobres tivessem terra para plantar”. Combatia o “espírito materialista” e afirmava ser possível uma recuperação do povo “somente através da colocação do bem comum à frente do bem individual”. O meio defendido para tanto era o centralismo do poder.

O líder era muito carismático, e sua retórica populista conquistava milhões de seguidores. Ele contava com um brilhante “marqueteiro”, que muito ajudava na roupagem do “messias restaurador”, enfeitiçando as massas. Foi projetada a imagem de um homem simples e modesto, de personalidade mágica e hipnotizadora, um incansável batalhador pelo bem-estar do seu povo. Seus devaneios megalomaníacos eram constantes. Sua propaganda política incluía constante apelo às emoções, repetindo idéias e conceitos de forma sistemática, usando frases estereotipadas e evitando ao máximo a objetividade. O Estado seria a locomotiva do crescimento econômico, da criação de empregos e do resgate do orgulho nacional. A liberdade individual era algo totalmente sem importância neste contexto.

Seu Partido dos Trabalhadores finalmente chegou ao poder, através da mesma democracia que era vista com desdém por seus membros. Uma “farsa” para tomar o poder. O real objetivo tinha sido conquistado. As táticas de lavagem cerebral tinham surtido efeito. Uma vez no governo, o líder foi concentrando mais e mais poder para o Estado, controlando a mídia, as empresas, tudo. Claro que o resultado foi catastrófico, como não poderia deixar de ser. O povo pagou uma elevada conta pelo sonho do “messias” que iria salvar a pátria.

Caro leitor, o líder carismático descrito acima não é quem você está pensando. Ele é, na verdade, Adolf Hitler, líder do Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista da Alemanha, mais conhecido apenas como “nazistas”. Schopenhauer estava certo no alerta da epígrafe. O diabo costuma se vestir de nobre altruísta. Os chifres aparecem somente depois que a vítima vendeu-lhe sua alma. Aí já é tarde demais...

Com autorização do Rodrigo Constantino

Denise x Cabral: entre o sonho e o zero absoluto

Fabio Grecchi da Tribuna da Imprensa

De um lado, um candidato que aposta no relacionamento intenso com o governo federal a solução de boa parte dos problemas do Estado do Rio. Do outro, uma candidata que assegura que somente resolvendo a questão da violência é que as mazelas serão superadas. De um lado, um candidato que prevê o sétimo céu via plano de governo. Do outro, uma candidata cujo realismo por vezes soa como pessimismo e ceticismo. De um lado, Sérgio Cabral Filho prometendo um futuro róseo, com base em trabalho e esperança. Do outro, Denise Frossard, que pretende partir do zero, mesmo porque seu programa de governo não parece muito bem explicado.

Os dois se enfrentaram ontem à noite, no debate da Rede Globo. E procuraram marcar suas posições: um como a antítese do outro. Denise, aliás, percebeu que se entrasse na exposição de metas e planos administrativos, daria a Cabral o palco que pretendia. Então, partiu logo para a desconstrução do adversário: sob a capa de querer a opinião sobre o segundo emprego dos policiais, colocou em dúvida a honestidade do rival, pois lembrou que o senador justificou a compra da mansão na Costa Verde do Estado como sendo a prestação de um serviço de assessoria.

Da mesma maneira, Denise aproveitou uma pergunta sobre energia nuclear para alfinetar Cabral sobre a privatização da antiga Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro (Cerj), hoje Ampla. Lembrou que o então presidente da Assembléia Legislativa teve imenso interesse na venda a empresa.

A deputada espertamente quis jogar em sua seara, discutindo a questão da violência e colocando Cabral como propositor de idéias mirabolantes, que jamais se concretizarão. A ponto de, na última pergunta do bloco, afirmar que era balela a história de que dois portos, um em Quissamã, outro em São João da Barra, dariam emprego à população local. Denise explicou que o Rio é o maior importador de mão-de-obra exatamente porque não qualifica quem mora aqui.

A candidata foi eficiente ao rotular Cabral como um enganador, que está prometendo demais coisas que não poderá cumprir. Ficou uma dicotomia interessante: Denise, a senhora da realidade; o senador, homem que enxerga as soluções para o Rio panglossianamente. A ponto de ele tachar a deputada como uma figura de "baixo astral". Melhor para ela, que deixou evidente que a resposta para boa parte dos males do Estado passa pelo combate inteligente à violência e ao crime organizado.

Cabral apelou para a decoreba de números, dados e fatos para sustentar suas propostas de governo. Um cérebro fabuloso, capaz de discorrer sobre qualquer assunto do Estado; um conhecedor profundo dos males do carioca e do fluminense. Postura artificial que ficou mais evidente quando Denise sustentou que estava há pouco tempo na política e que somente agora, como candidata ao governo do Estado, conheceu um hospital público. Pode até representar despreparo, mas passa uma imagem mais palatável e mais de acordo com o que pretende o eleitorado, farto de promessas que são realidade apenas na campanha.

26 de out. de 2006

EFEITO "BOCA MALDITA" - por Christina Fontenelle

Lugar de agitação, Boca Maldita é a famosa tribuna livre de Curitiba (PR), criada em 1957 e institucionalizada em 1966, onde as pessoas passeiam, comem, visitam boas livrarias e protestam. Foi lá que Lula esteve, sábado de manhã (21/10), realizando um comício para milhares de militantes. O marketing da propaganda eleitoral de Lula insiste em pintar mechas verdes e amarelas no vermelho do PT, mas, não adianta, onde Lula reúne gente para ouvi-lo é um mar de camisas, bonés e bandeiras vermelhas. Faz sentido.

"Educação se aprende no berço. Não preciso ofender nenhum adversário para vencer a eleição. Vou me manter com o comportamento digno de um presidente da República, altivo e sabedor do ódio que eles têm. Eles sabem que eu não roubo e que eu não roubei. Eles sabem do meu caráter e dos meus compromissos. O ódio deles é porque, pela primeira vez, o pobre brasileiro levantou a cabeça".

Uma aberração. Uma confissão de descumprimento e de desrespeito à Constituição, o supremo mandatário da nação dizer, como vem fazendo em todos os seus discursos, que governa para os pobres e não para todos os brasileiros, mesmo que vez ou outra, dependendo da ocasião, ele se corrija. Uma vergonha ver um presidente da República pregar o ódio entre patrícios. Ódio que já se espalhou, com certeza, pelos quatro cantos do país.

Em Curitiba, Lula chegou a utilizar-se do infortúnio de uma cidadã carioca ao recomendar, ironicamente, aos militantes petistas que não apontassem o dedo ao defender o PT perante os adversários, porque poderiam perder parte dele. Ele estava fazendo alusão a uma suposta militante petista que perdeu parte de um dedo ao brigar com o que ele julgava ser uma também suposta defensora do PSDB, num bar (o Jobi) do Leblon, zona sul do Rio de Janeiro. Perdeu mais uma oportunidade, das mais de um milhão que já teve, em que devesse ter ficado calado. A briga foi entre uma petista fanática (a que perdeu parte do dedo), que xingou uma dona de casa de "patricinha alienada do Leblon", e esta que, por sua vez, reagiu e chamou a militante de "baranga chata". As duas rolaram no chão brigando e a dona de casa arrancou com uma mordia parte do dedo da militante. Detalhe: a dona de casa vota em Lula, segundo seu próprio marido – ou pelo menos o tinha feito até o dia da briga.

O troco para a campanha segregacionista de Lula pode ter vindo lá de cima, lá do céu. A vitória do piloto brasileiro Felipe Massa, que venceu o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 e que recolocou um dos nossos no degrau mais alto do pódio, aqui em Interlagos (SP), após 13 anos de ausência, fez os brasileiros relembrarem os gloriosos tempos de Ayrton Senna e ouvirem novamente o tema da vitória, que enchia de alegria as manhãs de tantos domingos. E porque eu digo isso? Digo porque o Ayrton era um ídolo nacional, um cara rico que encantava a todos, sem distinção, e que sempre dedicava suas vitórias a todos os brasileiros. Ele promovia a congregação e a união. O TAN, TAN, TAN do Tema da Vitória emocionou muitos brasileiros, sim, neste último domingo, não só pelo feito de Felipe Massa, mas também pelas saudades do Ayrton e do Brasil.

Saindo de Curitiba, no mesmo dia, Lula esteve em Caxias do Sul (RS). Lá, não foi diferente. "Ódio" é a palavra de ordem nos discursos do atual presidente. Ele mostrou o apreço que tem pelos estudos e pela instrução: "O doutor (FHC) que sabia de tudo na teoria, não fez nada na prática. Eles (a oposição) me odeiam por não compreenderem que, sem falar inglês, fiz uma política externa melhor". Fez é? Nesses últimos quatro anos não chegaram notícias a esse respeito aos nossos meios de comunicação. Minto, chegaram sim – agora me lembrei. Deixamos, por exemplo, todos os investimentos da Petrobras na Bolívia de presente para os bolivianos, aos quais também perdoamos uma dívida de U$52 milhões e ainda abrimos linha de crédito do BNDES para a construção de estradas naquele país. Cuba também foi presenteada por Lula - a Ilha de Fidel nos deve cerca de 40 milhões de Euros, mas a dívida com o Banco do Brasil terá redução de 20%, e serão liberados U$20 milhões do BNDES para a construção de uma usina de álcool e mais não sei quanto para financiar a compra de frotas de ônibus. A Nicarágua teve o perdão de 95% de sua dívida de U$141 milhões. O presidente também perdoou as dívidas que vários países africanos tinham com o Brasil, perfazendo um total de U$438,1 milhões.

Finalmente, em não querendo incrementar as negociações para a criação da Alca, o Brasil fez um enorme favor a alguns de seus vizinhos, abrindo espaço para que eles fechassem acordos bilaterais de livre-comércio, diretamente com os EUA. Em nosso benefício, não conseguimos nem ser candidatos a um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e nossas candidaturas à direção da OMC, à secretaria-geral da Cepal e à presidência do BID fracassaram solenemente. As "alianças estratégicas" do Brasil com a Rússia, com a China e com a Índia tiveram um pífio impacto sobre as relações econômicas do planeta. Já para a nossa indústria tiveram um impacto negativo, principalmente porque acordo a gente deve fazer com países que tenham uma economia de mercado – o que não é, definitivamente, o caso da China.

Dando prosseguimento à campanha segregacionista, no dia seguinte, Lula fez comício na Cidade Tiradentes - na Zona Leste da capital paulista. O presidente não desiste de dizer que Alckmin representa a elite e que irá privatizar estatais. Repete isso em todos os discursos que faz e, nos programas do horário eleitoral sugere, ou melhor, afirma que Alckmin estaria mentindo ao negar. O candidato do PSDB já repetiu "n" vezes que isso não é verdade, mas Lula mente deliberadamente e PT saudações. Engraçado é que o PT ganhou direito de resposta de um minuto na propaganda de Geraldo Alckmin, porque, na avaliação do ministro do TSE Carlos Alberto Menezes Direito, a propaganda da coligação PSDB/PFL ofendeu a honra do presidente-candidato à reeleição, ao afirmar que Lula "manda na Polícia Federal", "manda nos ministros", "manda no PT", mas não sabe dizer "de onde vem o dinheiro".

Ora, em relação às privatizações, Geraldo e principalmente Lula sabem perfeitamente que já existe e será cada vez mais incentivada a parceria público privada – forma mais moderna, inteligente e eficaz de gerir as empresas que atuem em áreas consideradas estratégicas. Esse tipo de composição empresarial no setor de telefonia, por exemplo, além de ter engordado, e muito, os cofres da União, com a arrecadação de impostos, também colocou os telefones fixo e celular ao alcance dos brasileiros de todas as classes – sem falar na internet. Se Lula diz que é o candidato do povo, dos pobres, não deveria insistir hipocritamente na demonização das privatizações, ou pelo menos deveria reconhecer publicamente alguns de seus benefícios.

Até 1997, por exemplo, uma linha de telefone celular custava em São Paulo, cerca de R$ 3.500. Para conseguir uma linha telefone fixo, o consumidor tinha que aguardar em listas de espera que chegavam a durar mais de 2 anos. Por isso, havia o mercado paralelo, onde estas linhas chegaram a custar até U$ 7 mil. Quanto custa hoje? Uma solicitação e uma taxa de cobrança mensal fixa pela assinatura, com a qual, aliás, pretende-se dar um fim. Hoje, o Brasil tem 130 milhões de acessos telefônicos. No dia da privatização da Telebrás (29-07-1998), tinha 24 milhões. Em 1998, o percentual de domicílios com telefone era de 32% , hoje é de 74%. O número de usuários de celulares saltou de 5,2 milhões para 93 milhões, sendo que 81% destes são de brasileiros pertencentes às classes C, D e E. A rede telefônica de 1998 gerava R$ 8 bilhões de impostos por ano. A atual gera R$ 35 bilhões por ano. Isso tudo sem falar nos empregos diretos e indiretos gerados pelo setor. Portanto, se o governo é o maior sócio das telecomunicações privatizadas, Lula cospe no prato que come e ainda se aproveita da ignorância do povo para deles conseguir votos. (1)

O presidente segue alardeando que a "elite" está com ódio porque ele tirou 6 milhões de brasileiros da classe D/E (86%, com renda de até dois salários mínimos) e os levou para a classe C (68%, com renda de até três salários mínimos). Lula está falando a verdade. Mas, naturalmente, não falou das outras 1,48 milhões de pessoas que tirou da classe média média (renda de 2 a 5 mil reais) e despejou nessa mesma classe C. O presidente também esqueceu-se de falar que dentro desse grupo de 6 milhões de brasileiros está um de seus próprios filhos – o Lulinha – que ganhava R$600,00, como tratador de zoológico, no início do governo do pai, e que também ascendeu, só que direto para a classe A "super-mega-plus" (com renda incalculável).

Temos que reconhecer, porém, que entre os pobres e os miseráveis os números são positivos. Em matéria publicada na Isto É Dinheiro, por exemplo, um estudo do economista Ricardo Paes de Barros, coordenador de avaliação de políticas públicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostra que esse movimento começou em 2000 e vem se mantendo forte. O poder aquisitivo dos 10% mais pobres do Brasil subiu animadores 16%, só em 2004. Isso aconteceu por causa do Bolsa Família e da concessão de crédito. Vale lembrar, também, que, para quem não tinha nada, qualquer quantia que se receba sempre representará um crescimento de 100% na renda.

A revista trás um exemplo emblemático: "Dona Maria das Graças (57) é aposentada pelo governo do Maranhão, está em Brasília passando uma temporada com um dos seus nove filhos. Deixou três no Piauí, desempregados, que têm como única renda fixa a paga pelo Bolsa Família. Por mês, o governo deposita pouco menos de R$ 100 em um cartão, que complementado com "bicos", garante o sustento dos filhos, noras e netos de Maria. 'Eles fazem tanta coisa, entregam mercadoria, consertam máquinas, são pedreiro, carpinteiro...'", diz ela. "Lá no Nordeste, o emprego está mais difícil, mas eles se viram".

"A gente precisa cuidar dos mais fracos porque o rico não precisa do Estado brasileiro. Quem precisa é o pobre. O pobre precisa de universidade. O rico pode pagar e, se quiser, até em Paris", disse Lula, também na Cidade Tiradentes.

Não, presidente, pobre precisa de emprego. Precisa que o Estado garanta as condições para que a sociedade, através da iniciativa privada, gere empregos. Mesmo porque (e o presidente se esqueceu de mencionar isso também em seus discursos) vai ficar difícil pensar em universidade, com cerca de 252 mil crianças de 5 a 14 anos que não trabalhavam em 2004 e que passaram a fazê-lo, agora, em 2005. Principalmente no Nordeste, onde o percentual de trabalho infantil cresceu 15,9%. Isso tudo depois de o Bolsa-Família ter aumentado de 6,5 milhões para 8,7 milhões o total de famílias beneficiadas.

É bom também que ninguém se esqueça de que os produtos que eventualmente sejam consumidos com o dinheiro dos benefícios acabe, de um jeito ou de outro, retornando aos governos Estadual ou Federal, em forma de impostos que são recolhidos sobre a venda desses produtos. A média, no Brasil, fica em torno de 42% dos valores que pagamos sobre bens e serviços. Portanto, no caso da Dona Maria das Graças, por exemplo, aproximadamente R$42,00 dos R$100,00 que seus parentes gastam no Piauí acabam voltando para os Estados e/ou para a União. Lembre-se ainda que é dos impostos cobrados sobre o salário (e não sobre a renda) de milhares de brasileiros que também sai esta ínfima parte de tudo o que se arrecada com taxação no país, para tripudiar em cima dos pobres e dos miseráveis do país.

Sabendo-se que a Constituição determina que o Presidente da República governe para todos os brasileiros, vamos esclarecer umas coisas.

Em primeiro lugar, o número de milionários aumentou no governo Lula. As 227 principais empresas de capital aberto (com ações negociadas em Bolsa) do país embolsaram nada menos que R$ 131,7 bilhões de lucro líquido (limpinhos!!!) - uma alta de 349,8% em relação a 2002. Já as pequenas e médias empresas estão "de pires na mão" e sem condições de concorrer com os preços e a oferta de crédito das mega-empresas, que, aos poucos, vão apossando-se do mercado, monopolizando-o, e uniformizando tanto o tipo de produtos ofertados quanto o próprio perfil da demanda. Além de sofrerem, é claro, com a concorrência desleal dos produtos chineses que invadem o mercado brasileiro. Também foi no governo de Lula que os 23 bancos de capital aberto do país tiveram juntos um lucro líquido de R$ 54,5 bilhões, sendo que os 5 maiores deles (Bradesco, Itaú, Banco do Brasil, Santander/Banespa e Unibanco) ficaram com R$ 44,125 bilhões (2). O Brasil possui 207 bancos, mas os dez maiores acumulam três quartos dos depósitos. E sabem o que mais contribuiu para esse espetáculo de lucratividade? As altas taxas de juros e o volume de empréstimos, principalmente os consignados, feitos à pessoa física e descontados em folha.

Viram? Miséria, desemprego e baixos salários podem ser bastante lucrativo para alguns, principalmente para os atravessadores do negócio, no caso o Estado. Sabem quanto o governo Lula gastou com o Bolsa Família, em 4 anos? R$23 milhões. Ora, os números estão ai: 131, 7 e 54,5 bilhões de reais para os mega empresários e para os bancos. Vou repetir: 23 milhões de reais para o Bolsa Família (dos quais, aproximadamente 10 milhões voltam aos cofres públicos por causa de impostos sobre mercadorias e serviços). É assim que Lula diz governar para o povo, destruindo a classe média e distribuindo esmola, enquanto a nomenklatura enriquece? Sabem quanto Lula pagou de indenizações e ainda paga por pensões a anistiado político (entre os quais ele mesmo se inclui) – que não recolhem imposto de renda sobre o que recebem? A conta das indenizações para anistiados políticos já passa dos R$ 3 bilhões – É o 'Bolsa Continuem Mentindo Sobre o Que Aconteceu de Verdade".

Em segundo lugar, de acordo com estudos da UICAMP (Folha de S. Paulo, 14/nov./2004), nos últimos anos a classe média brasileira teria perdido 1/3 de sua renda e, 2 ½ milhões de pessoas teriam migrado desta para a classe pobre. Os brasileiros com renda mensal média de R$1000,00 vem decrescendo sistemática e constantemente nos últimos anos. Em 2002, aproximadamente 57 milhões de brasileiros pertenciam à classe média. Em 2004, ficaram reduzidos a 53 milhões. A cada período de estagnação (ou de crescimento mínimo) ou de retração do PIB, uma parcela da classe média é reduzida à condição de proletário.

Um trabalho do professor do Instituto de Economia da UNICAMP, Waldir Quadros, com base em estatísticas da Pnad 2003, do IBGE, entre outras coisas, revelou que a renda média das famílias de classe média-alta (renda média familiar superior a R$ 5.000) caiu 4,7%, em 2003, tirando 1 milhão de pessoas dessa classe. A classe média média (com renda entre R$ 2.500 e R$ 5.000) perdeu 850 mil pessoas e hoje representa menos de 6,6% da população. Despencaram da classe média baixa (renda mensal que varia de R$ 1.000 a R$ 2.500) 1,48 milhões de pessoas. O grupo de trabalhadores de baixa renda (de R$ 500 a R$ 1 mil) somado ao dos brasileiros considerados pobres (menos de R$ 500) aumentou em 4,8 milhões e passou a representar 68% da população. Abaixo deles estão os indigentes.

Pois é, os ricos estão cada vez mais ricos; a nomenklatura governamental e seus apaziguados também enriquecem a olhos vistos; os pobres recebem esmolas, mas não têm empregos – por isso, ai deles se perderem essa migalha! - e a classe média fica assim, despencando de casta em casta, enquanto trabalha 5 meses por ano para pagar a conta da política assistencialista e eleitoreira de governos populistas. Essa é a realidade do país. Caberia aos integrantes desta variada classe média entrar, coletiva ou individualmente, na Justiça, contra o Estado, para exigir seus plenos direitos sobre aquilo que produz e/ou sobre seus salários, já que por este Estado vem sendo extorquida, expropriada e deliberadamente prejudicada, justamente para sustentá-lo, e aqueles a que dele se locupletam, ao mesmo tempo em que nada recebem – ao contrário, a classe média paga por segurança, por saúde, por educação, por transporte e até pelo direito de trabalhar.

Não é possível que a democracia só se faça valer na hora do voto. Se devem todos os brasileiros respeitar a maioria, que por hora vem decidindo nas urnas privilegiar o assistencialismo, então que todos paguem igualmente por isso, ou pelo menos em proporções que sejam justas. O voto da maioria não deve ter o poder de condenar grande parte dos brasileiros a trabalhar, 5 dos 12 meses do ano, exclusiva e graciosamente para o Estado. Isso tem nome: é escravidão. Acontece que ela foi abolida deste país, por Lei, em 1888.

Essa proclamada "preferência da maioria", que é alardeada como se fosse o ônus da democracia republicana e que serve também de "álibi incontestável" para manter no poder políticos e governos que literalmente trabalham contra aqueles que os elegem, é uma grandessíssima fraude. É muito simples: preferência pressupõe escolha; e escolha pressupõe conhecimento e informação. Se não for assim, não é escolha legítima, é "um tiro no escuro", um "chute". Acontece que o eleitor brasileiro não é desinformado coisa nenhuma – ele é, sim, des-informado por uma mídia de massa cujo compromisso com a verdade está muitíssimo aquém dos compromissos financeiros e ideológicos. Tanto mais falsificada será a "preferência da maioria" quanto maior for o tamanho da mentira que a mídia de massa sustentar e quanto maior forem as forjadas e mal arrumadas proporcionalidades de representatividade da nossa República.

Voltando ao nosso candidato-presidente, no Maranhão (dia 24/10), ele voltou a apostar na disputa sudeste x nordeste: "É este país que eles (a elite e a oposição) não estavam habituados a ver, e agora eles vão ter que ver o Nordeste se desenvolver, o Nordeste crescer, e aí a gente não vai ver diferença entre o Sul, Sudeste, Nordeste e o Norte do país"... "Nós não nascemos para ser pobres, nós não nascemos para ter educação de segunda categoria, nós não nascemos para passar fome. Na verdade, o nordeste é uma região rica, de um povo trabalhador, mas que os governantes nunca se preocuparam com a parte pobre da população", disse Lula.

Parece que Lula – que sempre alega de nada saber (o que não lhe convém, é claro) – precisa realmente se conscientizar de que ele esteve, de fato, como presidente do Brasil, nos últimos 4 anos, e que, de lá do Palácio do Planalto, simplesmente não fez nada daquilo que anda dizendo, em palanques espalhados por todo o Brasil, que precisaria ser feito. Lula caminha por esta campanha dizendo tudo o que pretende fazer se for eleito, inaugurando o início de uma série de projetos, inclusive placas onde se lê "Aqui, Em Breve...", de janeiro deste ano para cá, a toque de caixa, para mostrar serviço e angariar votos. Reclama para si coisas que não fez (como no caso das leis que beneficiaram os deficientes físicos (3)), copia descaradamente programas de candidatos da oposição, dizendo que os implantou recentemente ("tipo ontem") ou que serão implantados no próximo mandato. Enfim, Lula fala como se fosse começar a governar, agora, no próximo mandato – quando se lembra que esteve como presidente, é para dizer que distribuiu bolsa-esmola e que criou 5 milhões de subempregos.

A proposta do governo é a seguinte: "Deixa o homem trabalhar". Isso mesmo: esqueçam tudo o que foi roubado, tudo o que foi aparelhado, todas as armações, todo o enriquecimento ilícito, todas as mentiras, toas as mafiosas ligações latino-americanas e parem de investigar e de denunciar. Deixa o homem terminar de aparelhar o Estado. Deixa o homem terminar de distribuir as terras brasileiras aos sem-terra, enchendo nosso país de pequenas propriedades de agricultura familiar e mandar nosso agronegócio para o espaço, como querem os países ricos. Deixa o homem trazer universidade para todo mundo em vez de levar todo mundo para a universidade. Deixa o homem distribuir bolsa-esmola-voto e enganar os pobres. Deixa o homem fazer a imprensa de refém do dinheiro do Governo. Deixa o homem rifar a Amazônia para ONGs. Deixa o homem fazer de nossas FFAA uma força da Defesa Civil e de polícia para combater o narcotráfico. Deixa o homem continuar deixando que nossos recursos minerais sejam vendidos a preço de banana. Deixa o homem transformar o Brasil industrial em exportador de matéria prima. E finalmente deixa o homem terminar de misturar as fronteiras do Brasil, para que desapareçam dentro da União das Repúblicas Socialistas da América Latina (URSAL).

Christina Fontenelle
26/10/2006
E-MAIL: Chrisfontell@gmail.com
BLOG/artigos: http://infomix-cf.blogspot.com/
BLOG/Série CAI O PANO: http://christina-fontenelle.blogspot.com/

Impunidade ou responsabilidade? - por Márcio Del Cístia

Resumo: Mesmo na atual anarquia constitucional deste nosso ridículo arremedo de democracia, o poder emana do povo.

© 2006 MidiaSemMascara.org

Em uma roda de amigos, comentando-se as atuais condições políticas, saltou a proposta cômica de uma ‘maisoumenoscracia[*], na qual os governantes se comprometeriam a não descambar para uma desvairada, obsessiva, absoluta e mui canalha busca por poder e riquezas, mas se limitariam a serem ‘mais-ou-menos’ mentirosos, ‘mais-ou-menos’ ladrões, ‘mais-ou-menos’ obcecados pelo Poder... de maneira que sempre houvesse chances para que outros mais pudessem ser ‘mais-ou-menos’ mentirosos, ladrões, egomaníacos, canalhas...

Desesperança? Talvez aquele cinismo jocoso que se desenvolve como defesa à realidade insuportável. É, dói menos se se pode rir...

Mas, subjacente ao bom-humor, desvela-se a crença na imutabilidade das degradantes condições presentes. Efetivamente, tal como certos tipos de terreno premiam a seleção e multiplicação de plantas específicas, campos sociais – por características prevalescentes – atraem seletivamente tipos específicos de perfis caracterológicos.

Pensando dos efeitos para as causas, ou, dos atuais privilegiados do Poder, para as estruturas institucionais facilitadoras, conclui-se que temos um pântano político, ou melhor, sócio-político, fértil em pestilências. Foi a sociedade civil – nós – quem os pusemos lá e permitimos fazer o que fazem.

Tal como parece que nosso corpo de leis foi criado por advogados para que advogados enriqueçam, nossas instituições de governo – começando pela Constituição – parecem estruturas normativas oriundas da Lei do Gerson, priorizando o benefício dos perversos – ‘ideológicos’ ou em causa própria.

E não obstante a cambada comuno-esquerdótica-progressista sempre se destaque como insuperável, temos visto que independentemente das ideologias vigentes – ou sua absoluta ausência - a corrupção e os crimes por abuso do Poder tendem a uma constante. E constante que se incha celeremente pela arrogante e descarada criminalidade, escudada no Poder e na evidente convicção de impunidade.

Sabemos que esta impunidade – ou mesmo sua razoável possibilidade – é o mais eficaz adubo jamais idealizado para a multiplicação do crime. A facilitação dos meios, fornecida pela forma das instituições, mais a garantia de impunidade oferecida pela alienação da sociedade civil – nós, outra vez – moldam um convite irresistível para os pré-humanos movidos exclusivamente pela ambição de Poder e riquezas fáceis. E o pior é que estes, sanhudamente desprovidos de escrúpulos mínimos, criam um campo mortífero para a honestidade e para os honestos.

Nossa natureza humana, enquanto espécie, não mudará a curto ou médio prazo.

Mesmo nas culturas saudáveis fatalmente surgirão ervas daninhas, perfis psicopatológicos voltados a predar bens e vidas alheios – e entre estes, uns tantos abrirão caminho para o poder estatal. Como um todo, nossa espécie transita por uma adolescência frequentemente infantilóide. Entre alguns poucos absolutos disponíveis, vincamos a necessidade de limites à imaturidade pré-consciente. Tal como os adolescentes necessitam de balizas para o certo-e-errado, nossa jovem humanidade – enquanto não desenvolve madura e generalizada consciência crítica - precisa de padrões limitadores aos impulsos primários. Óbvio, não é?

Para formalizar socialmente tais limites instituíram-se as leis. E o que é ‘lei’? Cedo a palavra ao genial Frédéric Bastiat: (Lei) é a organização coletiva do direito individual de legítima defesa. Implícito aí o fato, nem sempre claro, que o direito individual – à Vida, à liberdade e à propriedade – é anterior e precedente em relação às leis e sua única origem válida.

Acredito que as idéias de intenção e proporcionalidade são implícitas ao conceito de Justiça: a lesão acidental por imperícia a direito alheio será menos criminosa que aquela intencional e tirar a vida muito pior que roubar carteira. Ululante, n’é mesmo?

Então, o que é mais grave – roubar um indivíduo ou todo um povo?

O pé-de-chinelo que, empunhando um tresoitão, nos leva a carteira também nos cria dúvidas sobre a eficácia da segurança pública. Mas o canalha entronizado na sinecura do Estado nos rouba – além do dinheiro oriundo do trabalho, vertido em impostos - a confiança nas regras de convívio e na própria idéia de Justiça, na valência maior da honestidade, de respeito aos direitos, como princípios normativos de uma vida sadia e produtiva. Enquanto exemplo, é foco de mortal corrupção destes valores, pelos quais a humanidade tem pago rios de sangue e oceanos de esforços. Um tal canalha nos lesa em algo muito maior e valioso que dinheiro: destrói a confiança, item fundamental e essencial à formação de grupos sociais saudáveis. Sua ausência é o princípio do caos e bica de ditaduras, dentre as quais, a mais corruptora e lesiva tem sempre perfil esquerdopata.

Entretanto, o usual é que apenas o ladrãozinho menor passe pela experiência de castigo (algo agora menos freqüente, desde que comunóides progressistas passaram a fazer leis defensoras dos “direitos humanos do criminoso”). O criminal engravatado responsável por atuação imensamente mais lesiva sai-se sempre – ademais de impune – rico e respeitado como “Sua Excelência”.

O que resta então do conceito de justiça? Como ficam os princípios de intencionalidade e proporcionalidade?

Mesmo na atual anarquia constitucional deste nosso ridículo arremedo de democracia, o poder emana do povo. Cabe a nós, povão, agora e sempre, manifestar nossa vontade e exigir seu cumprimento.

Nada nos impede de exigir aos representantes eleitos, a criação de leis com sanções duras para tais crimes; um códex prescritor de punições crescentes em severidade na razão direta do poder exercitado pela função pública, em obediência ao princípio de proporcionalidade.

Todo funcionário público, a partir de certo nível de responsabilidade, teria uma metafórica lâmina suspensa sobre sua cabeça – tanto mais pesada quanto maiores os poderes e responsabilidades funcionais. As mais mortíferas, suspensas dos mais delicados fios, sobre os juízes da Suprema Corte.

Um elenco de sanções cuja certeza e temibilidade dissuadissem a priori os mal intencionados, abrindo espaço político para aqueles realmente motivados pela vocação de Serviço.

Nenhum candidato honesto, e seguro da honestidade de suas intenções, se oporia a isto. Tal como os deputados e senadores honestos lutaram pelo voto aberto: quem nada deve, nada oculta. Nem teme.

Talvez que possamos em breve começar a discutir uma tal barreira dissuasória.

Como evidenciado pelas pesquisas de opinião – não pelos números, mas pelo que intentam ocultar – Geraldo Alckmin ganhará a presidência. Ao longo de anos vem demonstrando inteligência, competência, coragem e integridade. Não creio ser exageradamente otimista ao ver nele o crescente perfil de estadista motivado pela vontade de Bem Servir. Mais que provável que venha a ter a mais difícil gestão presidencial em nossa sofrida história, e mais que qualquer outro antes, precisará do apoio persistente, corajoso e infatigável de seus eleitores, obviamente a mais lúcida porção de nossa gente.

Que ele possa iniciar a higienização da coisa pública, lançando finalmente os alicerces de uma nação em que os brasileiros possam, com segurança, construir sua verdadeira e rica humanidade.

Que assim Deus nos ajude.

[*] O crédito pelo neologismo pertence ao Dr.W.Zusman.

Coisa de débeis-mentais ideológicos

Ai, esse tar de materialismo histórico-dialético, sô! - por Reinaldo Azevedo

Vocês já ouviram, por certo, falar em Santo André. Pois é. Recebi um e-mail sobre um evento que vai acontecer por lá na área de educação. Peço a vocês que leiam o texto, que segue em itálico. Depois comento. É um primor.

De 6 a 11 de novembro, em Santo André – SP, acontece a “I Conferência Internacional: o Enfoque Histórico Cultural em Questão”. O enfoque histórico-cultural constitui-se em uma perspectiva teórico-metodológica, configurada pelos aportes do materialismo histórico-dialético, sobre a formação e o desenvolvimento humano. A Conferência, cujo tema central é a pedagogia e a psicologia histórico-cultural, tem como finalidade criar condições para que especialistas de Cuba, Brasil, Rússia e Estados Unidos exponham em mesas redondas suas leituras e interpretações sobre esse enfoque, assim como a aplicação prática deste referencial teórico, promovendo o debate e a análise crítica de modo a contribuir para uma melhor compreensão do processo de formação e desenvolvimento da psicologia humana e da educação.

Há mais de 50 anos, em diferentes países do mundo, vêm sendo produzidas múltiplas interpretações e aplicações desse enfoque em diferentes campos de conhecimento e atuação profissional. Tal produção enriqueceu e diversificou o estudo, a análise e as aplicações do enfoque histórico-cultural. Por essas razões, se faz necessário ampliar os espaços de debate e análise crítica sobre o conhecimento acumulado nessa área, abrindo outras possibilidades de inserção teórico-prática.”

25 de out. de 2006

Carta Aberta a Otavio Frias Filho - Olavo de Carvalho

Resumo: Você, como outros empresários de mídia, está apostando seu jornal, sua carreira, sua reputação e sua fortuna contra uma verdade muito bem confirmada.

© 2006 MidiaSemMascara.org

Prezado Otávio Frias Filho,

Peço que você leia atentamente o artigo abaixo reproduzido. Não há nenhuma razão decente para o seu jornal continuar ocultando sistematicamente os fatos que ali apresento, os quais se tornaram ainda mais indesmentíveis depois do discurso pronunciado por Lula no Foro de São Paulo em 2 de julho de 2005. E não adianta alegar que o jornal publicou alguns dos meus artigos a respeito. Você sabe perfeitamente que artigos na seção de opinião não têm força nenhuma, quando os fatos em que se baseiam estão ausentes das páginas de noticiário. Nestas, o Foro de São Paulo e seus crimes foram meticulosamente omitidos ao longo de muitos anos, e continuam a sê-lo num momento em que essa omissão arrisca ludibriar novamente os eleitores, induzindo-os a confirmar na presidência da República um homem cuja verdadeira história ignoram por completo. Você, como outros empresários de mídia, está apostando seu jornal, sua carreira, sua reputação e sua fortuna contra uma verdade muito bem confirmada. Algum dia ela será fatalmente revelada aos olhos de todos, provando a covardia e a desonestidade daqueles que se furtaram à obrigação de mostrá-la em tempo. Isso é absolutamente inevitável, e se acontecer quando você tiver setenta ou oitenta anos não será nem um pouco menos doloroso do que se acontecer no mês que vem. Você tem dinheiro e influência; mas a verdade tem do lado dela uma arma invencível: o tempo. A única esperança dos que apostam contra ela é morrer antes de que ela apareça. O único consolo que lhes restará, nesse caso, será o alívio barato de haver conseguido fugir ao desprezo em vida, escondendo-se por trás do seu próprio cadáver. Pelo respeito mútuo e boas relações que sempre tive com você, espero, sinceramente, que esse não seja o seu destino.

Atenciosamente,

Olavo de Carvalho

PS - Estou divulgando esta carta por todos os meios ao meu alcance.

PS 2 - Como você sabe, tentei publicar os fatos sobre o Foro de São Paulo na própria Folha, como matéria paga. Informado de que pela lei eleitoral o anúncio não poderia ultrapassar um oitavo de página, desisti da idéia, para não ser acusado de gastar dinheiro de amigos num empreendimento inócuo.


***

Um negócio quase honesto

Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 13 de abril de 2006


Ao mesmo tempo que o Exército Brasileiro comunicava a prisão de agentes das Farc na Amazônia, a IstoÉ de 12 de abril informava: documentos apreendidos com Fernandinho Beira-mar "

Beira-Mar não decerto é o principal amigo brasileiro dos delinqüentes colombianos. A Resolução número 9 do X Foro de São Paulo, de 7 de dezembro de 2001, condenou a repressão à narcoguerrilha como "terrorismo de Estado" e como "verdadero plán de guerra contra el pueblo". Entre as assinaturas estava a do sr. Luís Inácio Lula da Silva, então ainda presidente do Foro.

No mesmo ano, líderes das Farc foram recebidos como hóspedes oficiais pelo governo petista do Rio Grande do Sul.

Mas seria injusto dizer que a colaboração do PT com as Farc se limitou à troca de gentilezas. As duas organizações publicam juntas uma revista, "America Libre", dirigida pelo sublime dr. Emir Sader, na qual defendem seus interesses comuns contra o governo da Colombia e dos EUA, o Exército brasileiro e outras entidades malignas. Pelo menos até 2004, o chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, estava no Conselho Editorial da publicação ao lado do comandante das Farc, Manuel Marulanda Vélez, o famigerado "Tiro Fijo". Lá estava também o impoluto deputado Greenhalgh -- aquele mesmo que propunha controlar a criminalidade mediante o desarmamento geral das vítimas.

Quando o porta-voz das Farc, Olivério Medina, contou que a organização tinha dado dinheiro para a campanha eleitoral do PT, houve uma correria geral para persuadir o público de que tudo não passava de bravata. Mas, logo depois, a elite petista organizava um movimento de protesto para libertar da prisão o homem acusado de manchar a reputação do partido com fanfarronadas irresponsáveis. Em vez de enxergar algo de suspeito em tamanha incongruência, a nação preferiu acreditar que o PT era um partido cristianíssimo, que retribuia o mal com o bem.

Em 2002, três dos quatro concorrentes à presidência eram membros de partidos aliados às Farc no Foro de São Paulo, e o quarto, José Serra, informado de tudo, preferiu perder a eleição de bico fechado, provando fidelidade estóica às suas raízes esquerdistas. Enquanto a mídia local celebrava a lisura do pleito, o vencedor confessava ao "Le Monde" que a eleição tinha sido "apenas uma farsa, necessária à tomada do poder", sendo confirmado nisso pelo sr. Marco Aurélio Garcia em declaração ao jornal argentino " La Nación " de 5 de outubro de 2002. Em julho de 2005, o então já tarimbado presidente admitia ter tomado decisões de governo em reuniões secretas do Foro de São Paulo, longe do Congresso e da opinião pública.

A troca de cocaína pelas armas que Fernandinho Beira-Mar trazia do Líbano era feita na Tríplice-Fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai). Semanas atrás, o promotor do Distrito de Manhattan, Robert Morgenthau, conseguiu fechar um canal de dinheiro pelo qual três bilhões de dólares de drogas, seqüestros, contrabando e outros crimes tinham fluído dessa região para organizações terroristas muçulmanas, por meio de um banco de Nova York. Quando a existência desse canal foi denunciada pela primeira vez, a esquerda brasileira protestou com veemência, dizendo que era tudo uma sórdida mentira imperialista.

Aos poucos, a verdade está aparecendo. Mas ela é ainda grande e feia demais para os olhos sensíveis de uma nação que se deixou enfraquecer por uma longa dieta de mentiras cor-de-rosa. O Brasil talvez precise de mais alguns anos para entender que, comparado à trama do Foro de São Paulo, o Mensalão é quase um negócio honesto.