3 de mar. de 2008

Axiomas da corrupção


Interessante também, O lugar da polícia, idem, idem.

E lá vou eu falar novamente, mas sem nenhum gosto, de corrupção. Alguns leitores certamente pensam que eu me deleito ao ler nos jornais que, em depoimento prestado à Justiça no dia 25 do mês passado, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares incluiu toda a executiva nacional petista na dívida não contabilizada de 26 milhões e que, dias depois, no início do mês corrente, Cláudio Valério, o operador do mensalão, confirma que a cúpula do Partido dos Trabalhadores sabia dos empréstimos; ou que fico feliz ao ver a carnavalização dos gastos sem controle e racionalidade com cartões de crédito por parte do governo. Ledo engano, projeção deslavada. Eu lamento muitíssimo. Para mim, todos os governos dariam certo, pois - sendo um basbaque - eu quero o bem do Brasil.

Como chegar perto disso? Começando por entender que a política partidária é um dos elementos da cultura brasileira e não o contrário. O importante não é o País ser guiado por uma pessoa, corporação ou partido, tornando-se parecido ou igual a essa agremiação, mas situar o partido como um meio para tornar o Brasil um país mais moderno e mais justo, o que só poderá ocorrer quando a sociedade brasileira for menos hierárquica e menos apaixonada pelos títulos, palácios, comilanças com dinheiros públicos, frotas oficiais, cartões corporativos, condescendências com áulicos e companheiros de agremiação, etc...

Enfim, com tudo isso que faz parte do nosso estilo autoritário de imaginar e exercer o poder. Um estilo que na sua prática suntuosa, perdulária e aristocratizante (a lembrar o Negara indonésio descrito por Clifford Geertz), pois quem lá entra e, conseqüentemente, desfruta um estilo de 'nobre' de existência, acaba vivendo uma iniludível contradição entre os ideais modernos (austeridade, justiça para todos, honestidade e eqüidade diante dos bens públicos) apregoados pelas agremiações políticas; e as suas ações concretas quando seus domicílios passam das salas modestas onde exerciam oposição, para os palácios onde - eleitos - residem e mandam como governantes.

Diria que um dos axiomas mais claros do poder à brasileira tem a ver com esse desejo ou projeto consciente, segundo o qual o partido deve englobar o governo. E quem manda no partido manda no governo cujo governante 'cuida' do País. Graças a esse princípio, fica complicado distinguir o Estado como máquina administrativa, com objetivos e interesses a longo prazo e com os quais todos estão de acordo; dos partidos, cuja vida e objetivos são muito mais imediatos do que os da nação e com os quais se deve discordar.

Um outro axioma é o constituído pela famosa e sempre usada expressão: 'Eu não sabia...' Sobretudo quando o sujeito do enunciado faz parte de uma organização política fechada, preocupada com suas metas, com sua pureza ideológica, e com suas fronteiras. Como realizar a ponte entre o partido ideologicamente preocupado com seus muros e palavras de ordem, com suas teorias sobre a vida social e econômica, e a sociedade que esse partido administra quando se abre para todos os setores da coletividade depois da vitória eleitoral? Como operar essa dialética entre o fechamento e a abertura; exceto pela divisão entre um público interno (que tudo sabe) e um outro, externo, para o qual se tem razões que, obviamente, a razão partidária se permite desconhecer? Como conciliar uma prática social baseada no coletivo e na totalidade, de preferência nas suas manifestações esmagadoras e agressivas, com erros, malversações, desfalques, incompetências, inapetências e ignorância individuais, senão por uma preferência patológica pela intransparência, pelo descaso para com a inteligência nacional e pela mentira? Vejam a contradição: o grupo tem sempre razão; o indivíduo isolado é continuamente culpado quando as coisas vão às favas. Ou seja: o indivíduo, com suas percepções e iniciativas, só serve como fonte de erro e culpabilidade.

Um terceiro axioma é bem conhecido, mas pouco explicitado. Ele diz o seguinte: 'O que é bom para nós é bom para o Brasil.' Se sabemos o que é bom para o povo, se estamos com os oprimidos, se o Brasil está doente de 'tudo isso que aí está' e temos certeza dos remédios, por que então não utilizá-los, mesmo se eles não são convencionais? Por que perder tempo com negociação e reformas, se temos a certeza política de que podemos chegar a um ponto zero; a um estado primordial de recomeço da própria vida social, mas sob o nosso controle? Se sabemos o remédio, por que esperar?

Uma variante deste axioma escreve-se assim: o que é bom para mim é bom para o Brasil. Nele, encontramos a visão da coisa pública como sendo propriedade de quem governa e 'toma conta' dos recursos disponíveis para 'fazer' isso ou aquilo. A colagem do papel à pessoa do governante; e, de ambos, ao gerenciamento da coisa pública, legitimada por uma rotina governamental aristocratizada, leva de volta ao primeiro axioma: o Brasil não é governado, é possuído e mandado.

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Diferentemente do Roberto, adoro o assunto CORRUPÇÃO, pois é o que diviso em quase tudo que vejo 'nestepaíz'.

Católica Enrustida


Os homens fazem enxertos para conseguir melhores sementes, cruzam gado para conseguir melhores espécimes. E toda vez que se fala em eugenia em relação à espécie humana, pensa-se logo em Hitler e nazistas. Mas Winston Churchill era a favor da eugenia. Em uma antiga reportagem de Veja, há dez anos atrás, lemos que Suécia, Noruega, Finlândia, Dinamarca, Suíça e Áustria esterilizaram discretamente, durante décadas, cidadãos qualificados de "baixa qualidade racial".

Só entre 1935 e 1976, a Suécia esterilizou pelo menos 62.000 pessoas, em sua maioria mulheres. Todos seriam "voluntários" na letra da lei, mas os depoimentos contam história diferente. Vamos às histórias narradas pela revista.

"Maria Nordin, hoje com 72 anos, teve os ovários removidos aos 17. "Quando fui para a escola, tinha problemas de vista. Não enxergava a lousa, mas não tinha dinheiro para comprar óculos. Concluíram que eu tinha dificuldade para aprender e me mandaram para a escola de excepcionais", contou ela ao jornal Dagens Nyheter, que denunciou o assunto em reportagem especial de enorme repercussão. Para sair, já moça, exigiram que aceitasse a esterilização. "Assinei o papel, porque sabia que só assim sairia dali", disse Maria, a única dos cerca de 25.000 sobreviventes a aparecer para contar seu drama. Mesmo sem nome nem sobrenome, contudo, os casos citados no jornal são estarrecedores. Um menino foi esterilizado porque o julgaram "sexualmente precoce". Uma moça, por já ter três filhos e levar "vida ruim: é suja, usa esmalte vermelho e tem mau hálito". Tudo dentro da lei, que servia a três propósitos declarados: impedir a "degeneração da raça", "proteger" os portadores de "genes fracos" e, por último, poupar dinheiro. O Estado do bem-estar social, que começava a se instalar e a produzir resultados tão bons em tantas áreas, não queria ter de gastar recursos com quem considerava incapaz".

A esterilização para limpeza da raça estendeu-se à Dinamarca, Noruega e Finlândia, Áustria e Bélgica. A Suécia criou em 1921 um Instituto de Biologia Racial e foi seguida pelos Estados Unidos, onde 60 mil pessoas foram esterilizadas a força. Mas até aqui há uma ação impositiva, que fere a liberdade de escolha do indivíduo.

Em entrevista à Veja desta semana, Mayana Zatz afirma ser “um absurdo manipular um embrião para que a criança nasça com olhos azuis, por exemplo. Sou totalmente contra". Ora, se fazemos enxertos para melhorar sementes, se cruzamos gado para melhor os espécimes, por que seria absurdo manipular embriões para que crianças nasçam com olhos azuis?

Se tomamos todos os cuidados pré-natais para que uma criança nasça forte e sadia, por que não tomarmos providências para que uma criança nasça com olhos azuis, se esta for a cor do olhos que queríamos ver em nossos filhos? Manipular um embrião para que uma criança nasça com olhos azuis - ou verdes, ou castanhos - em pouco ou nada difere de manipular um embrião para que uma criança nasça com dois braços e duas pernas.

A cronista de Veja está se revelando uma católica enrustida, dessas que acham que o homem não pode interferir nos desígnios divinos.