25 de nov. de 2007

Doença Nacional - por Maria Lucia Victor Barbosa

Se você, caro leitor, não tem o hábito de ler jornais e sua informação deriva apenas do que é veiculado pelas redes de televisão, irá crer com fé inquebrantável que Deus é brasileiro porque nosso país é o próprio paraíso na terra depois que Lula da Silva ascendeu ao poder. A Saúde, disse o presidente, está perto da perfeição. O desemprego caiu. Os pobres comem três refeições por dia porque o programa Fome Zero deu certo. O mundo se curva para o Brasil, mesmo porque, ganhamos o jogo contra o Uruguai. Portanto, essa coisa de caos aéreo, caos da Saúde, caos do gás, impostos escorchantes, entre eles a famigerada CPMF apresentada como salvação nacional, falta de infra-estrutura, fracasso de políticas públicas, violência urbana chegando a níveis insuportáveis, violência praticada pelos chamados movimentos sociais ligados a Via Campesina, como o MST e congêneres, não existem. São intriga da oposição, mentiras dos que não aceitam que o Brasil deu certo. Tão pouco existe corrupção no governo, apesar da queda constante de ministros ou de casos escabrosos onde petistas, diante de montanhas de provas e evidências se declaram inocentes, enquanto seu líder afirma que nada vê, de nada sabe. Afinal, ele é apenas um pobre presidente da República.

Assim, idiotizados pela propaganda, enlevados pelo mito do "pobre operário" cuidadosamente construído pelo PT, aceitamos com naturalidade a total inversão de valores que aos poucos vai erodindo o que resta de nossa civilidade. Temerosos de infringir o politicamente correto damos por certo que elite é um termo pejorativo ao invés de significar produto de qualidade. Nos curvamos ao veneno destilado pelos seguidores dos novos donos do poder que, usando a velha tática de dividir para dominar, a qual por sua vez é indutora de simplismos maniqueístas, divide a sociedade entre maus (aqueles que não são do PT) e bons (os que são petistas); elites (ricos maus e exploradores, em que pesem as doações dos grandes empresários para as campanhas milionárias do mitológico pobre operário e do fato deste e de seus mandarins da cúpula petista terem chegado ao paraíso da burguesia) e pobres (classe majoritária que foi resgatada das garras do capitalismo selvagem por LILS, o iluminado salvador da pátria); brancos (transgressores dos direitos humanos e opressores dos negros) e negros (cujo direito de odiar brancos e agredi-los é algo natural, como disse uma ministra do bondoso pai Lula). E temos apenas dois partidos: PT e PSDB (quem não pertence ao Partido dos Trabalhadores fatalmente é tucano, ainda que não faça parte de nenhum partido).

Acentua-se no Brasil, portanto, o etnocentrismo, ou seja, o julgamento que tudo o que é de alguns é bom e de outros é mau. É o radicalismo do "meu" e do "seu". Não temos meios termos. Não existem morenos, mulatos, cafusos. Ou se é negro ou se é branco. Ninguém se salva fora do PT e todos que pertencem ao PT são cidadãos acima de qualquer suspeita, façam o que fizerem.

A chamada base governista, ou adesistas de ocasião, capazes de se vender a qualquer preço, mesmo por um "chinelinho novo", não possuem tanta imunidade. São usados e depois jogados fora. Que o diga o PMDB, partido cujos integrantes, segundo uma amiga internauta, trazem na testa um código de barra, é só passar em qualquer maquininha que sai o preço. Aliás, os mais experientes políticos de diversos partidos nunca aprendem que o PT possui leis próprias, entre elas, esmagar os que não pertencem à casta dos companheiros, triturar os que ajudam o partido e ao seu líder máximo.

Caminhamos rumo ao atraso e a decadência, sob o comando do espaçoso Hugo Chávez, mas vamos felizes entre uma partida de futebol e outra. Afinal, não vamos sediar a Copa do Mundo? Querer mais o quê?

E enquanto o povo se alegra assistindo futebol, gesta-se nos bastidores do poder o terceiro mandato do amado avatar, Lula da Silva. Quem poderá impedi-lo? E que outro mito o PT possui para se perpetuar no poder? Como o próprio presidente afirma que seu comandante Hugo Chávez é um democrata, basta seguir seus passos, como, aliás, vem acontecendo de forma mais branda, conforme a marca registrada brasileira da dubiedade. Calmamente, cuidadosamente o PT fabrica sua ditadura sob aplausos gerais e toques de tambores de guerra de seus estridentes e fanáticos militantes e simpatizantes. Alertas parecem soar inutilmente enquanto triunfa a ignorância, a truculência, a incompetência, a corrupção. A decadência da nossa sociedade já é uma doença que parece incurável, pois progrediu muito. Perdemos nossa elite no sentido dos melhores, dos mais virtuosos e isso faz lembra o portentoso pensamento de José Ortega y Gasset em Espana Invertebrada: "quando a massa nacional chega a determinado ponto, são inúteis os argumentos racionais. Sua enfermidade consiste, então, no fato de que a maioria não se deixará influenciar, fechará freneticamente os ouvidos e pisoteará com mais força naqueles que queiram contrariá-la". A partir daí se segue o triste espetáculo dos piores suplantando os melhores".

É preciso chutar o pau da barraca

por Adriana Vandoni

Pra tudo nessa vida existe um limite. O amor e o ódio não são infinitos, um dia o sentimento acaba ou ao menos esmaece. A tolerância com os fatos corriqueiros da vida também é assim. Um belo dia você acorda e pensa: porque ainda não reagi? Porque aceito o que me incomoda sem iniciar uma mudança? Daí você começa a se questionar se merece ou não viver essa situação. E pode estar certo: a culpa é nossa. Nós sempre somos os responsáveis por cada coisa que nos acontece.

O que é preciso fazer para mudar? Infelizmente nada muda por si só. O processo de mudança é inerte, não acontece sem que antes tenhamos chutado o pau da barraca. É preciso iniciar uma revolução, desconstruir para construir algo novo. Não, não uma revolução ao molde dos fascistas, que utilizam a ignorância como massa de manobra, nem tanto, mas uma revolução de conceitos, uma revolução no modo de ver e sentir as coisas, construindo a coragem de defender a verdade dos fatos, sem se intimidar por fascistas travestidos de democratas defensores dos pobres. Sem essa coragem de revolucionar os conceitos, tudo permanecerá como está, e o Brasil, ah, o Brasil, continuará na mão desses neo-burgueses, os burgueses do dinheiro público.

Como é possível calar quando esses fascistas têm a coragem de defender a ideologia que já matou mais de 100 milhões de pessoas pelo mundo afora?, batendo no peito como orgulhosos defensores de genocidas. Como é possível ficar quieto ouvindo suas asneiras como se fossem verdades, intimidados para não sermos taxados de "reacionários" por esses fascistas. Como é possível aceitar declarações do tipo "desviei sim tal recurso, mas não foi para enriquecimento próprio, foi por uma causa", como se a causa legalizasse o crime. Esses antes "guardiões da ética" agora se lambuzam no dinheiro público pela "causa". Farsantes!

Não consigo me acomodar com isso. Não tenho dom para viver nem na ignorância, nem na mentira. Por isso, com muito orgulho, reajo contra essas atitudes e me lixo a essas pessoas que me chamam de golpista – não foram poucas. Esses que me chamam assim, estão incutindo na população que reagir é um ato golpista, querendo lembrar a ditadura militar, mas agora são defensores da ditadura militar na Venezuela. Daí a importância de uma revolução de conceitos, só ela será capaz de romper com essa mentira exaustivamente contada.

Sou parte daquelas que, como escreveu Reinaldo Azevedo, faz parte da mídia do contragolpe. Aliás, em seu texto ele mostrou bem que os verdadeiros golpistas são esses cínicos que estão fazendo do roubo uma ideologia, que estão usando a democracia para solapar a democracia e que separam o joio do trigo, mas escolhem o joio. Por fim ele acrescenta que "golpista é defender tiranias e ditaduras".

Felizmente ainda tenho as minhas palavras para gritar e combater esses atos vis. Mas, e daí?, as vezes me perguntam! Isso não leva a nada! Onde é que você vai chegar com isso tudo, com as denúncias e as batalhas que trava? Onde vou chegar, não sei, mas travo cada uma dessas minhas batalhas com as armas que possuo com o dom que Deus me deu. E faço de tudo para que a inquietação não deixe de me impulsionar a ação. Travo minhas batalhas pelo que acredito, contra o que julgo estar errado. Brigo por uma vida verdadeira e faço isso por acreditar que sempre podemos melhorar, sempre podemos nos superar, ou simplesmente, podemos perseguir uma vida mais plena, feliz e menos hipócrita.

Estou errada? Não acho. Errado é aquele que se acomoda. Aquele que corrompe sua própria vontade por conformismo. É perverso burlar nossas vontades de nós mesmos. Isso quem faz são apenas os covardes, os que se satisfazem com uma vida alicerçada na hipocrisia e no conformismo. Não, isso não é digno. Conformar-se com a ilicitude e com a mentira é o mesmo que acomodar-se na mediocridade.

Medíocres!, digo aos que se conformam. Dos que não vêem ou não querem ver que o bem estar seu e de sua família dependem do seu inconformismo! É, realmente estou de saco cheio. Estou mesmo de saco cheio dos medrosos, daqueles que se conformam com o discurso do "são todos iguais", e usam isso para justificar sua inércia e sua própria mediocridade. Estou de saco cheio desses que aceitam a mentira por preguiça de mudar, por medo de lutar.

Como começar uma mudança? Só há uma forma: chutando o pau da barraca, e isso quer dizer revolucionar os conceitos e se inconformar.

A Múmia, o Cínico e o Psicopata - por Ipojuca Pontes

Resumo: Eles são hoje, na América Latina, os agentes do mal. Os três atuam em conjunto, dia e noite, sem descanso. Eles são: a Múmia, o Cínico e o Psicopata.

© 2007 MidiaSemMascara.org
(O autor é cineasta, jornalista, escritor e ex-Secretário Nacional da Cultura.)

Eles são hoje, na América Latina, os agentes do mal. Os três atuam em conjunto, dia e noite, sem descanso. Eles são: a Múmia, o Cínico e o Psicopata. Embora muitos ignorem, o fato é que o casamento da Múmia com o Cínico - firmado durante a primeira reunião do Foro de São Paulo em 1990, logo depois da derrocada da União Soviética - gerou a figura do Psicopata, um tipo cujo estado mental, caracterizadamente doentio, transformou-se num completo Sociopata.

A Múmia, sobrevivente em estado de aguda morbidez, em vez de se decompor pela putrefação, enrijeceu os tecidos do corpo descarnado levado pelo desejo de contaminar o mundo à sua volta com o vírus do mal. Tal qual Satã na tradição primitiva, a Múmia procura há meio século, travestido de anjo, semear o ódio na alma dos seus contemporâneos, sempre querendo impor sua vontade insana. Seu vício predileto é o trovejar loas à “la revolución”, de per si um embuste falacioso, que serve, no máximo - em nome de um amanhã hipotético -, de ferramenta para tornar a escassa luminosidade do presente na absoluta escuridão do porvir.

Com efeito, prometendo ao seu povo um mundo de glória, riqueza e liberdade, a Múmia terminou por reduzi-lo ao mais lastimável patamar de desgraça, miséria e escravidão. Do seu reino, transformado em ilha-cárcere banhada de sangue por todos os lados, poucos podem sair, salvo os apaniguados da corte que se louva comunista. Os que procuram escapar do seu paraíso infernal, saturados de promessas que nunca se cumprem, logo se tornam parias ou prisioneiros levados à morte pela tortura, vergonha, inanição ou o “paredón”. Sim, com a Múmia, ao contrário do que ensina Jesus Cristo, não há remissão.

O “companheiro de viagem” mais antigo da Múmia é, no espaço continental, a figura do Cínico. De fato, os dois se entendem admiravelmente bem. Quando juntos, o Cínico chora nos braços da Múmia e a Múmia, por sua vez, sempre leva “algum” da algibeira do Cínico. E embora os métodos do Cínico, à frente do seu desditoso reino, sejam aparentemente menos virulentos, os seus objetivos são idênticos aos da Múmia. Pela ordem, o Cínico deseja: apropriar-se do aparelho estatal; permanecer eternamente no poder; “recuperar na América Latina o que foi perdido no Leste Europeu”; aumentar a carga tributária; gozar à tripa forra os infinitos privilégios do poder sustentados pelo suor da patuléia ignara.

Para conquistar tais objetivos, que em parte já os atingiu, o Cínico tem se mostrado competente. Diga o que se disser, assessorado por uma trupe bem escolada, regado à Romanée-Conti (R$ 11 mil, a garrafa), ele topa qualquer parada: diz uma coisa agora, desmente amanhã, inverte, subverte, tripudia, fecha os olhos, os ouvidos - e vai adiante com o projeto de viabilizar, ao lado da Múmia e do Psicopata (vá lá, Sociopata), a Pátria Grande – que outra coisa não é se não a tenebrosa União das Repúblicas Socialistas da América Latina.

Malandro esperto, o Cínico proclama que é contra o exercício de um terceiro mandato presidencial e se diz solidário à ordem democrática. Mas, intramuros, por debaixo do pano, permite que cupinchas e aliados políticos articulem emenda constitucional que autoriza o presidente a promover plebiscito nacional para regulamentar mais de uma reeleição. Todavia, vez por outra, sem temer a oposição (da qual zomba às claras) no seu jogo de puxa-encolhe, o Cínico não se faz de rogado e mostra a que veio. Por exemplo: em entrevista concedida à imprensa argentina, foi explicito: “Eu e o Chávez estamos na mesma corrida. Ele corre numa Ferrari a 200 km enquanto eu corro num fusca a 60 km, tendo em vista as diferenças das relações surgidas em nossos países”.

Peça de um matreiro balão-de-ensaio, fiel cumpridor das resoluções aprovadas anualmente por 180 organizações esquerdistas no Foro de São Paulo (e na grana fácil que o petróleo lhe empurra), o Psicopata não mede palavras ou gestos ao executar o papel para o qual foi concebido: o de se portar como ponta-de-lança da nova revolução comunista na América Latina.

Herdeiro de Satã, o Psicopata passa o seu rolo compressor totalitário por cima de tudo e de todos. Em âmbito interno, dentro do próprio feudo, prende e arrebenta os antagonistas, aniquila a liberdade de expressão, controla a Assembléia Nacional, domina o sistema judiciário e cala a imprensa.

Sua última façanha, depois da pretensão de estabelecer o fim do limite para as reeleições presidenciais, é a criação de cinco novos tipos de propriedade, a vigorar na constituição “bolivariana” da Venezuela: 1) a social, pertencente ao povo e controlada pelo estado; 2) a coletiva, pertencente a grupos sociais ou comunitários, mas sob o controle do estado; 3) a mista, com participação do setor privado e do estado, mas sob o controle deste; 4) a pública, administrada pelo governo; 5) a privada, que poderá ser confiscada quando afetar os direitos de terceiros ou da sociedade. De quebra, a pretexto de enfrentar uma imaginária “invasão ianque”, o Psicopata parte para a corrida armamentista, com gastos acima de U$ 10 bilhões na compra de armas e aviões russos, cujo objetivo real é abastecer às FARC e desestabilizar a Colômbia.

O filho do escritor peruano Vargas Llosa, Álvaro, numa entrevista concedida à Veja, divide entre “carnívoros” e “vegetarianos” os integrantes da esquerda revolucionária na América Latina. Para ele, a Múmia e o Psicopata seriam “carnívoros”, enquanto o Cínico, mais light, não passaria de “vegetariano” – um risco, portanto, tolerável. Bobagem. Álvaro Llosa, como o próprio pai, está por fora. O Psicopata, rebento dileto da Múmia e do Cínico, funciona no esquema como um chamariz. Como diria a Múmia, não se faz revolução no pedaço sem se contar com a adesão do Cínico e seu país continental.