23 de mar. de 2008

Brasileiros: miseráveis e desprezíveis

Charles Robert Darwin (1809-1882)
surrupiado do Aluízio Amorim

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Após 176 anos da passagem do navio inglês HMS Beagle pelo Brasil, um grupo de pesquisadores brasileiros busca as "pegadas" deixadas no país por seu passageiro mais ilustre: o naturalista Charles Robert Darwin (1809-1882), segundo informa reportagem na Folha de São Paulo deste domingo.

Darwin estudava para ser clérico e teve de convencer o pai a deixá-lo embarcar no Beagle e ficar quatro anos e nove meses longe de casa. Durante a viagem, escreveu um diário e um caderno de campo em que descrevia o ambiente que via. As observações culminaram na teoria da seleção natural como mecanismo da evolução.

O diário, publicado depois no livro "A Viagem do Beagle", serviria ainda de inspiração a outro jovem naturalista, o galês Alfred Russel Wallace. Ele acabou descobrindo a seleção natural de forma independente. Os trabalhos de ambos foram apresentados à Sociedade Lineana de Londres em 1858. No ano seguinte, Darwin publicou "A Origem das Espécies", um dos livros mais importantes da história da ciência.

Os parágrafo acima são excertos do texto da Folha que assinantes podem ler na íntegra clicando aqui.

Entretanto, a parte mais interessante não está nesta matéria de abertura, mas no texto subseqüente que pinça dos diários de Darwin algumas de suas impressões sobre os brasileiros e sua cultura botocuda. Aliás, isso não constitui novidade. Consta dos diários do naturalista e já foi publicado na imprensa em outras oportunidades.

Mas reparem que no fechamento da matéria o seu autor, Ítalo Nogueira, trata de atenuar as críticas ácidas de Darwin a respeito do botocudismo brasileiro, ouvindo uma espécie de sentença proferida por um tal de Ildeu Moreira, do Ministério da Ciência e Tecnologia, para quem Darwin era “preconceituoso”.

Enquanto houver essa condescendência com a estupidez e a idiotice dos brasileiros por aquelas pessoas que deveriam combatê-la, jornalistas, professores e técnicos como Ildeu, as quais se presume que tenham um mínimo de informação, o botocudismo permanecerá incólume, entranhado profundamente na cultura brasileira.

É muito fácil acusar de preconceituoso um cientista que deixou um dos maiores legados científicos à humanidade e que já está morto há muito tempo. Mas aqui no meu blog essa cretinice politicamente correta não passa. Se a repulsa à estupidez é preconceito, então eu também sou preconceituoso.

Eis a matéria assinada por Ítalo Nogueira, que está na Folha deste domingo:

Se a floresta tropical brasileira provocou "deleite" em Charles Darwin, o naturalista não teceu muitos elogios aos brasileiros. "Miseráveis" e "desprezíveis" foram algumas das classificações dadas por ele durante a sua temporada no país.

Logo no início, no Rio, Darwin se queixava da burocracia para conseguir a autorização para viajar pelo interior do Estado, exigida aos estrangeiros.
No dia 6 de abril, ele escreveu:

"Nunca é muito agradável submeter-se à insolência de homens de escritório, mas aos brasileiros, que são tão desprezíveis mentalmente quanto são miseráveis as suas pessoas, é quase intolerável. Contudo, a perspectiva de florestas selvagens zeladas por lindas aves, macacos e preguiças, lagos, roedores e aligatores fará um naturalista lamber o pó até da sola dos pés de um brasileiro".

Durante a viagem, queixa-se da falta de opções de comida na estalagem em Maricá . "À medida que a conversa prosseguia, a situação geralmente se tornava lastimável", escreveu, queixando-se das repetidas respostas "Oh, não, senhor" após pedir peixe, sopa e carne seca. "Se tivéssemos sorte, depois de esperar umas duas horas, conseguíamos aves, arroz e farinha."

Até o Carnaval baiano o incomodou. "As ameaças consistiam em sermos cruelmente atingidos por bolas de cera cheias de água (...) Achamos muito difícil manter nossa dignidade andando pelas ruas."

Durante a viagem, Darwin relata com horror as condições a que os escravos eram submetidos. Relata o caso em que um dono de fazenda, em razão de uma briga, "estava prestes a tirar todas as mulheres e crianças da companhia dos homens e vendê-las separadamente num leilão". "Não creio que tivesse ocorrido ao proprietário a idéia de desumanidade de separar trinta famílias.

- Ele tinha um posicionamento preconceituoso. Apesar de ser abolicionista, ele tinha uma visão aristocrata - disse Ildeu Moreira, do Ministério da Ciência e Tecnologia.

surrupiado do Aluízio Amorim
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Eu gosto do Império - por Diogo Mainardi (Veja)


"Eu sou o tupinambá colonizado que aceita parar de comer carne humana. Eu sou o caraíba rendido que oferece passivamente suas filhas púberes ao conquistador. Mas tem de haver uma contrapartida: o Império deve assumir suas responsabilidades de Império"

– Cem anos no Iraque!

Esse era o mote da campanha eleitoral de John McCain. Ele foi ainda mais longe. Declarou que estaria disposto a manter as tropas americanas no Iraque por mil anos, por dez mil anos. Quando o eleitorado chiou, ele deu para trás, garantindo que a guerra terminaria muito antes disso. E terminaria porque ele saberia como ganhá-la.

Eu elegeria um candidato que prometesse:

– Cem anos na Rocinha!

Melhor ainda:

– Mil anos na Maré! Dez mil anos no Cantagalo!

A guerra no Iraque acaba de completar cinco anos. Em seu discurso no Pentágono, George W. Bush reconheceu a impopularidade do conflito, repetiu que os Estados Unidos acertaram ao derrubar Saddam Hussein e acrescentou que se trata de uma guerra que pode e tem de ser vencida. Os americanos erraram tudo nesses cinco anos. Erraram militarmente, erraram politicamente, erraram estrategicamente. O custo da guerra foi alto demais. George W. Bush tem de ser responsabilizado por isso. Mas eu topo dizer que os Estados Unidos acertaram ao derrubar o tirano genocida Saddam Hussein. E topo dizer também que a guerra no Iraque pode e tem de ser vencida.

O fracasso no Iraque está gerando uma onda isolacionista nos Estados Unidos. Uma onda igual a outra do passado: a que tentou impedir o país de entrar na II Guerra Mundial. Em vez de Charles Lindbergh, o herói do momento é Barack Obama. Isso é o pior que poderia acontecer. Eu gosto do Império. Eu gosto da idéia do Império. Creio que ele tem um papel regulador sem o qual o mundo acabaria se esfarelando. Eu sou o tupinambá colonizado que aceita voluntariamente parar de comer carne humana. Eu sou o caraíba rendido que oferece passivamente suas filhas púberes ao conquistador. Mas tem de haver uma contrapartida: o Império deve assumir suas responsabilidades de Império. No caso do Iraque, assumir responsabilidades significa combater até o fim a Al Qaeda, reprimir os bandos religiosos armados e fazer jorrar dez vezes mais petróleo. Nem que leve cem anos. Nem que leve mil anos. Nem que leve dez mil anos.

O debate político se infantilizou tremendamente nos últimos tempos. Foi mais um dos efeitos deletérios da guerra no Iraque. A retirada das tropas americanas produziria um massacre generalizado no país. Que essa hipótese atraia tanto consenso nos Estados Unidos é sinal de um abastardamento das idéias. O mundo é brutal. O mundo é perigoso. Alguém tem de policiá-lo. Alguém tem de bombardear os terroristas. Alguém tem de impor regras que sejam acatadas por todos. Alguém tem de deter os planos nucleares iranianos. Alguém tem de armar Israel. Só os Estados Unidos podem fazer tudo isso. O trato é muito simples: nós entramos com as filhas púberes, eles entram com os tanques.

– Cem anos no Iraque!