30 de set. de 2006

Militantes de Aluguel - por Nivaldo Cordeiro, economista

Só quem, como eu, um dia foi militante do PT pode ter a noção exata do abismo que separa os dias de hoje, das glórias cessantes do poder petista, daqueles tempos épicos do final dos anos setenta e começo do anos oitenta. Todo mundo então dava o sangue para viabilizar o partido. Fiz da minha casa núcleo do PT, saindo de porta em porta dos vizinhos a cadastrar títulos de eleitor para viabilizar o partido. Dei muitas festas em casa para arrecadar fundos para o partido. Era puro entusiasmo de uma idéia que parecia a salvação nacional.

No comício memorável pelas Diretas Já, realizado na Praça da Sé, tive participação intensa. Era do grupo do Eduardo Jorge, antigo secretário de Saúde da gestão Luiza Erundina. Levamos uma grande bandeira vermelha com o pentagrama estampado. Foi memorável. Nós, do PT, vaiávamos o que entendíamos por “direita”: Tancredo, Montoro e toda a social democracia. Vaia especial para Leonel Brizola, um traidor, sonora.

Quando chegava os tempos de eleições estávamos lá, panfletando cedo nas filas de ônibus e portas de fábrica. Fazíamos corpo-a-corpo. No dia do pleito fazíamos boca-de-urna. E, encerradas as eleições, revezávamos como fiscais de apuração, noite a dentro, que não havia essa de urna eletrônica e sempre suspeitávamos que poderiam roubar os nossos preciosos votos. Bons tempos, românticos. Era um auto-engano delicioso. Mal sabíamos que estávamos a construir esse governo safado, ladrão e descarado que tem sido Lula Lá.

Enquanto professor universitário induzi muitos jovens alunos a votar no PT. Terá sido esse o meu maior pecado, desencaminhar a juventude que a mim estava confiada enquanto professor. Fui desonesto e malicioso, mas o fazia em absoluta inocência, aquela dos desinformados cheios de boas intenções. Minha geração pagou o preço de ser vítima da revolução gramsciana posta em marcha nos anos sessenta e acabei por desempenhar um papel nessa farsa grotesca. Faço minha penitência por isso, embora tenha consciência de que fui usado, jovem e desinformado que era.

Lembrei de tudo isso ontem na Avenida Paulista. Por ela caminhei algumas quadras, da Rua Augusta até a Joaquim Eugênio de Lima. Vi alguns “militantes” do PT. Pareciam em luto, com o mastro das bandeiras a meio pau. Todos militantes de aluguel. Ninguém ali como nos velhos tempos, trabalhando gratuita e voluntariamente em favor da causa socialista, tão cara a todos nós outrora. Ficou provado que não se pode enganar a todos por todo o tempo.

Por isso que o PT vai perder em São Paulo, em Pernambuco, no Rio Grande do Sul, locais em que teve momentos de esplendor eleitoral. Os eleitores, assim como os antigos militantes, deram-se conta da farsa. Lula é uma farsa, Olívio Dutra é uma farsa, Mercadante é uma farsa e Humberto Costa é uma farsa. Todo o PT é uma farsa. E é por isso que Geraldo Alckmin está no segundo turno. Espero que os paulistas enxotem esse sonso e tonto Suplicy, que não é digno de representar São Paulo no Senado da República, consagrando Guilherme Afif Domingos, valoroso combatente da causa da liberdade.

Em penitência pelos meus erros do passado faço do meu palanque eletrônico uma tribuna para gritar em alto e bom som: Fora, Lula! E leve junto seus sicários, isto é, se a polícia não os pegar antes. Acabou a farsa, acabou a festa. Alckmin vem aí.

leia mais no.....Diego Casagrande

Geraldo - 45 - Alckmin
José Serra
Guilherme Afif Domingos

LIBERDADE: O ESPÍRITO DA COISA

Por Paulo G. M. Moura, cientista político

Entramos na reta final do primeiro turno. É a fase decisiva dessa eleição. Uma grande quantidade de eleitores começa a processar sua decisão de voto. Cresce o interesse pela propaganda política. Se as pesquisas estão certas, a possibilidade de um segundo turno é real. Serra surpreendeu indo ao segundo turno em 2002 quando muita gente já dava a vitória de Lula como certa no primeiro turno.

Nesse momento, todos os brasileiros que temem pelo futuro da democracia têm o dever de agir para evitar o mal maior. Está em jogo mais do que eleição de um candidato da oposição. Está em jogo o futuro da nação que queremos para nossos filhos. Desde 2002 estamos sendo governados por gente que, segundo o Ministério Público Federal, constitui uma quadrilha para assaltar os cofres públicos. A cada dia novos escândalos emergem. Os cidadãos de bem e com algum nível de educação e informação foram levados da indignação à perplexidade e da perplexidade à paralisia e à falsa sensação de impotência. A saturação da mídia com uma avalanche de escândalos foi o artifício usado para levar-nos à letargia entorpecente. A garantia da impunidade e o poder de dar continuidade aos crimes contra o patrimônio público é o prêmio dos corruptos.

Por mais de uma vez os inquilinos do poder tentaram calar seus críticos. Projetos de controle da produção cultural e cerceamento da liberdade de imprensa foram ensaiados e somente contidos pela reação da opinião pública. Está em curso nesse momento, a primeira fase de outra escalada autoritária já utilizada pelo governo dessas mesmas forças no RS. Trata-se da manipulação deliberada da Justiça, através do patrocínio de uma verdadeira indústria de processos contra jornalistas e intelectuais críticos do governo, na tentativa de calar as vozes discordantes e que ousam se levantar contra descalabro político e administrativo vigente.

A cultura do “rouba mas faz” não é novidade na política brasileira. Mas, até então, confinava-se numa dimensão menor e localizada do sistema político. A novidade é o tamanho da roubalheira e a auto-anistia aplicada pelo sindicato da corrupção, que, recorrendo a artifícios da processualística parlamentar e a acordos imorais entre governistas e oposicionistas de rabo preso, patrocinaram o escândalo de todos os escândalos: a impunidade do mais hediondo dos crimes; o roubo do dinheiro público cujo destino seria a educação, a segurança e a saúde da população carente desse país, a qual o governo populista e autoritário corrompe com a distribuição de esmolas.

A vitória eleitoral do comandante mor de todo esse processo de corrupção moral da nação, embute um prejuízo de implicações históricas incalculáveis. Trata-se do aval político, concedido pelo povo, nas urnas, à continuidade e ampliação do processo de degeneração moral das instituições, patrocinado pelas forças políticas no poder.

Por mais que se defenda a tese, correta, de que as urnas não substituem a Justiça - não nos iludamos - a força com que um governante autoritário e populista emerge das urnas, se ungido com uma vitória em primeiro turno, será usada com o aval para a perpetuação no poder e a legitimação fraudulenta da corrupção, tornada sustentáculo oficial do governo.

Boa parte do resultado das pesquisas que se observa desde o início da campanha eleitoral na mídia se deveu à ilusão convincente da propaganda do projeto “bolsa-família” ao qual, por razões auto-evidentes, chamo de “bolsa-esmola”. Corremos o risco real, fruto da manipulação da opinião pública pelos inquilinos do poder, auxiliados por seus aliados na imprensa e pela incompetência e conivência das forças que deveriam lhes opor resistência e oposição, de ver perpetuarem-se no governo, indivíduos amorais e descomprometidos com a defesa da liberdade e da democracia.

Sinto-me um órfão sem representação política em quaisquer dos partidos existentes no país. Meu voto para presidente será destinado a um dos concorrentes da oposição, por falta de opção melhor. Considero-me um cidadão relativamente bem informado. Até onde sei, esse senhor em quem vou votar é moralmente íntegro; administrador competente e defensor da liberdade, da democracia e da redução dos impostos que alimentam a máquina de clientelismo e da corrupção que se instalou de forma generalizada na gestão pública brasileira.

Mas esse á uma decisão que cada um deve tomar segundo sua consciência. Não escrevo essas linhas para convencer meus leitores a votar no candidato que me parece o melhor ante as circunstâncias. Escrevo para apelar aos cidadãos de bem desse país. Falo para todos aqueles que desejam uma nação na qual a corrupção seja punida com a mesma Justiça que se devem punir os crimes hediondos. Na qual a manipulação da ignorância seja punida pelo voto. Na qual os patrocinadores de gerações de escravos políticos (miseráveis e eternos dependentes de esmola governamental), e vilipendiadores da liberdade e dos melhores valores morais sobre os quais se erigiu e civilização ocidental, sejam alijados do poder pelos mecanismos legais da democracia.

Parem para pensar! Será a perpetuação no poder desse descalabro o que desejamos para nós e para nossos filhos? Não posso acreditar que a nossa passividade se tornará co-responsável por isso tudo. Se você ainda tem alguma dúvida, dê a si mesmo a oportunidade de refletir. Ofereça-se a oportunidade de um segundo turno nessa eleição presidencial. Não anule seu voto. As cadeiras do poder que os corruptos, amorais e autoritários ocupam, não ficarão vagas por causa de sua atitude. Vote em alguém. Em qualquer um, menos em mensaleiros; menos em sanguessugas. Menos no chefe de todos eles!

Se você, como eu, sente-se órfão de representação política, saiba que nada me atormenta mais nesse momento que esse sentimento de indignação e quase impotência ante uma realidade tão adversa. Olho para meus filhos inocentes - um deles já é eleitor - e tenho vontade de chorar. Mas eu disse quase impotência.


No dia 1º de outubro, no sagrado momento da democracia em que todo o poder e a liberdade de escolha repousam nas mãos de cada um de nós, no silêncio solitário da urna, a decisão de tentar mudar tudo o que aí está, ou de deixar tudo com está, estará ao alcance das mãos e da consciência de cada um de nós.

Acorda! Levanta! Vai para rua! Lembre-se dos valores morais que você aprendeu com seus pais e que ensina a seus filhos. Defenda a liberdade e a democracia. Vale a pena!

Se você encontrar pela frente um eleitor dele, peça-lhe para mudar o voto. Se for o caso, diga-lhe que ele pode confirmar a intenção de voto no segundo turno. Convença seus amigos; colegas de trabalho; vizinhos, a acreditar que é possível mudar. Nós fizemos isso no referendo das armas. Contra todas as pesquisas, nós votamos em defesa da liberdade de escolha! E vencemos! Convença todos que você puder, a votar pela garantia de um segundo turno. Nem que seja apenas para termos a oportunidade de refletir e avaliar melhor, se a continuidade do que está aí é o que realmente queremos para nossa nação. Vale votar em qualquer um; repito, menos neles! Menos nele!

Véspera - por RA

No dia 18 de setembro, estive na Casa Mário Quintana, em Porto Alegre, para participar de um bate-papo com o cientista político Francisco Weffort e com o escritor Moacyr Scliar. A propósito: já havia um certo quê pró-Yeda Crusius no ar. Estávamos ali para falar sobre a política e o Brasil contemporâneo, uma das atividades do Projeto Brasil Copesul Cultural, organizado pelo professor Fernando Schüler. Faziam parte do conjunto de eventos, além de dois debates, uma exposição, mostra de cinema e show. Impressionante o grau de mobilização dos porto-alegrenses. Há ainda um livro de ensaios, chamado Brasil Contemporâneo – Crônicas de Um País Incógnito (editora Artes e Ofícios), que integra o projeto. Assino um dos textos. Lembrei-me disso porque Scliar, numa palestra doce e douta, falou que a perplexidade era a marca do nosso tempo.

Concordei com ele, mas observei — e é o gancho deste texto — que, não sabendo jamais ser neutro, repudiando sempre a torre de marfim dos isentos, até a minha perplexidade tem lado. Penso nisso ao constatar que estamos na véspera da eleição presidencial, e só cabe uma postura aos democratas e aos que defendem o Estado de Direito: o voto contra Lula. E isso é ter lado. Mesmo que o voto contra Lula não seja um voto a favor de Alckmin, Heloísa Helena ou Cristovam. E aí está a perplexidade. É um tanto assustador nos darmos conta de que, no prazo de 15 meses, dois grandes escândalos puseram a nu o governo, revelaram a sua essência autoritária, expuseram a carranca de um projeto de poder que é a negação da democracia representativa, da tolerância, da alternância de poder, da convivência com o outro.

O cinismo, a desfaçatez, a trapaça política assumem dimensões inéditas. O Brasil já teve o “rouba, mas faz” — mas ainda não havia conjugado esses dois verbos na primeira pessoa: “Roubo, mas faço”. O Brasil já teve gente sem nenhuma vergonha no poder. Os sem-vergonhas, no entanto, tinham vergonha de não ter vergonha. Hoje, a sem-vergonhice se jacta de sua esperteza, é vista como ato de resistência. Antes, acuados por denúncias, muitos inocentes, talvez por isso mesmo, se deixavam intimidar. Hoje, os culpados, flagrados, saem acusando, com o dedo em riste. Olhem o caso da divulgação das fotos da dinheirama. Submetida a investigação ao descarado e confesso interesse eleitoral, o ministro Tarso Genro não se vexa de vir a público para denunciar uma conspiração dos adversários.

Sim, estamos todos perplexos. Uma perplexidade que já é longa. Que já voltou a sua face indignada contra a própria oposição para indagar: “A aí? Por que vocês são tão lentos? Por que não se mexem? Por que não fazem política com mais clareza, unidade, determinação? Por que permitiram que chegássemos aqui e não denunciaram antes que o rei estava nu?” Sim, todas essas são perguntas pertinentes, são indignações justas. Mas nada supera o fato de sabermos que as instituições estão se vergando sob o peso da baixa esperteza, da malandragem, do sofisma, do mau-caratismo. Nada supera o asco de sabermos que a miséria, mantida cativa do assistencialismo e do eleitoralismo, é o combustível da máquina que tentou e tenta assaltar o Estado de Direito.

Os golpistas denunciam o golpe.
Os conspiradores denunciam a conspiração.
Os ladrões das esperanças alheias (também delas) denunciam o roubo da esperança.
Os trapaceiros denunciam a trapaça.
Os imorais denunciam a imoralidade.
Os vigaristas denunciam a vigarice.

Estamos perplexos, todos nós. Mas, nessa disputa, é preciso ter lado.Tentaram governar sem oposição. Tentaram fraudar a vontade das urnas. Tentaram transformar inocentes em culpados. Tentam agora transformar os culpados em vítimas de injustiças que seriam históricas, só reparadas com a intervenção de um demiurgo, no comando de um partido redentor. Digam a si mesmos e a todo mundo: quem deu anuência à operação do dossiê fajuto é capaz de qualquer coisa. As instituições são hoje reféns do autoritarismo, da irresponsabilidade, da vilania. Por perplexos que somos, certamente pensamos coisas distintas. E nem sempre são minudências, detalhes desprezíveis. Mas isso fica, com efeito, para depois.

Agora, interessa constatar: a sr. Luiz Inácio não deveria ter sido candidato. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, que tome posse se a lei permitir. Empossado, devemos recorrer às instâncias legais para impedi-lo de governar. Não, a gente não é Carlos Lacerda. Nem Lula é Getúlio Vargas. Essa farsa histórica também não vai vingar.