28 de fev. de 2008

No país do carnaval

Nos anos do “milagre econômico” de Delfim Neto, os estudantes mais sérios dos cursos de economia, administração e ciências contábeis costumavam dizer que: “Se a economia brasileira fosse o desfile das escolas de samba do Rio a dupla Roberto Campo e Bulhões seria a Riotur e o Delfim Neto uma escola de samba”.

Realmente, após colocar relativamente em ordem as finanças do país, apesar da pesada herança recebida dos anos JK, Campos e Bulhões haviam sido passados para as coxias do teatro e Delfim estava no centro do palco, qual gordo tenor italiano.

Delfim pegou um momento extremamente positivo das finanças mundiais, apresentou entre aproximadamente 1967 e 1973 figuras de desenvolvimento e crescimento de PIB, usou grande sobrevalorização das bolsas como crescimento de PIB e no final de 1973, ignorou os reais problemas do primeiro choque do petróleo, contabilizou uma inflação de 13% deixando todos os problemas e ratoeiras para serem enfrentados por Mario Henrique Simonsen no ano seguinte, já com o segundo choque do petróleo. O mundo estava nas barricadas para se precaver contra o custo da energia e no Brasil de Delfim o aumento de commodities básicos passava por não existir.

No Brasil de hoje, FHC e Malan passaram a ser a Riotur. Lula? É aquele Ewok gordinho desfilando na Marquês de Sapucaí.

Não entendendo muito bem como funcionam as coisas, como se fossem um neanderthal tentando operar uma mesa de commodities a futuro, seus homens deixaram tudo como estava, mandaram fazer um descarrego por um hábil Pai de Santo, chamaram um bispo para aspergir água benta, “et voilá”. A economia desabrochou.

Claro que ele não pagou as contas. Não entregou no destino o dinheiro da saúde, do combate às zoonozes e muitos outros valores de destino certo e vital.

Tudo que o governo opera, exceto o Aerolula, lembra uma indústria em que o empresário insiste em continuar usando uma máquina obsoleta “que é muito boa sim senhor, feita na Alemanha em 1938!”; em lugar de comprar uma máquina nova, mais rápida, de produção com maior qualidade, de custo de aquisição baixo, que deverá ser sucateada após cinco anos e trocada por uma nova geração de máquinas, ainda mais baratas, mantendo uma produtividade ainda maior.

E desfila todos os dias. Até na quaresma.

Mas o que se vai fazer. O povo gosta de carnaval.

Por que no te calas Lula?

Quanto Vale o Blastocisto?





Por Rodrigo Constantino

"Mesmo o homem supersticioso tem direitos inalienáveis. Ele tem o direito de defender suas imbecilidades tanto quanto quiser. Mas certamente não tem direito de exigir que elas sejam tratadas como sagradas." (H. L. Mencken)

O debate sobre as pesquisas com células-tronco ganhou força, pois o Supremo Tribunal está para julgar a sua proibição ou não no Brasil. Os avanços científicos obtidos com estas pesquisas podem significar a cura de inúmeras doenças, salvando ou melhorando a vida de milhões de seres humanos. Praticamente todos aqueles que se opõem a estas pesquisas o fazem por motivos religiosos. Ainda que vários crentes tentem conciliar religião e ciência, o fato é que a primeira sempre esteve criando obstáculos para a segunda. Quando um avanço científico esbarra num dogma religioso, é este que deve prevalecer, segundo os crentes. A cruzada contra os avanços científicos com estas pesquisas em embriões garante uma sensação de nobreza a seus adeptos, que buscam o monopólio moral da preocupação com a vida. A questão que surge é: qual vida?

Sam Harris escreve: "Os embriões humanos que são destruídos nas pesquisas com células-tronco não têm cérebro, nem sequer neurônios. Assim, não há razão para acreditar que eles possam sentir qualquer tipo de sofrimento com a sua destruição, de maneira alguma. Nesse contexto, vale lembrar que, quando ocorre a morte cerebral, atualmente julgamos aceitável extrair os órgãos da pessoa (desde que ela os tenha doado para esse fim) e enterrá-la. [...] A verdade moral aqui é óbvia: qualquer pessoa que creia que os interesses de um blastocisto podem prevalecer sobre os interesses de uma criança com uma lesão na espinha dorsal está com seu senso moral cegado pela metafísica religiosa. O vínculo entre a religião e a ‘moral’ – tão proclamado e tão poucas vezes demonstrado – fica aqui totalmente desmascarado, tal como acontece sempre que o dogma religioso prevalece sobre o raciocínio moral e a compaixão genuína".

Parece evidente que esses religiosos não estão tão preocupados assim com a vida humana. O sofrimento desnecessário de milhões de seres humanos não os sensibiliza tanto quanto a vida de um ovo sem qualquer característica atual que o faça ser considerado realmente um ser humano. O argumento que fala do potencial das células não leva a nada, pois uma potência não é uma atualidade, assim como sementes não são ainda uma floresta. Por trás da cruzada religiosa contra as pesquisas está o conceito humano de alma. Mas os religiosos precisam antes explicar algumas coisas importantes. Por exemplo: nesta fase embrionária inicial, o ovo pode se dividir naturalmente. O que ocorre então? A alma também se divide? O The Guf produz mais uma alma em caráter de urgência? Se ocorrer o oposto, a fusão de dois ovos, as almas praticam uma fusão também? Se as pessoas desejam barrar importantes pesquisas científicas em pleno século XXI, será preciso mais do que apelos dogmáticos que usam um conceito humano, demasiado humano, como alma.

Diante da vida de um blastocisto num tubo de ensaio e a vida e a dor de milhões de seres humanos vivos, incluindo crianças, não parece restar muita dúvida do que escolher do ponto de vista ético. Mas os religiosos se mostram intransigentes, pois assumem que o blastocisto já é uma vida humana, e não aceitam o ponto de vista utilitário, de que o bem maior pode justificar alguns sacrifícios individuais. Concordo com a segunda parte, pois os fins não justificam os meios. Mas discordo quanto à vida humana de um blastocisto. E lembro apenas que, para manter a coerência e não cair em hipocrisia, esses religiosos não podem abrir nenhuma exceção. Ou seja, no caso de uma gravidez com risco de vida para a mãe, o aborto deve ser condenado por eles, assim como no caso de um estupro ou feto anencéfalo. Nenhum aborto artificial pode ser defendido por estes religiosos, em hipótese alguma, mesmo que abortos naturais sejam algo extremamente comum (Deus é o maior abortista de todos, sabe-se lá os motivos). Mas quando vamos a tal extremo, é impossível não questionar novamente qual vida essa gente defende. O feto de um centímetro, sem cérebro ou sensação, vale mais que a vida de uma mulher estuprada?

Quando lembramos que o sofrimento humano é visto como nobre por eles, o caminho da salvação, e que a cruz, que vem de tortura (crucificare), é o grande símbolo que admiram, tudo parece mais claro. Não é a vida humana que realmente importa para esses crentes, tampouco uma vida humana feliz. Para eles, viver é sinônimo de sofrer. Logo, o que buscam mesmo é uma sensação de superioridade moral, obtida através da cruzada que empreendem contra os demais. As cruzadas costumam valer mais pela sensação que desperta nos seus membros do que pelos seus resultados concretos. Um bom exemplo é o de madre Teresa de Calcutá. Sam Harris diz: "A compaixão de madre Teresa estava muito mal calibrada, se matar um feto no primeiro trimestre a perturbava mais do que todo o sofrimento que ela testemunhou nesta Terra". Os conservadores religiosos aceitam as perdas acidentais de crianças inocentes na guerra do Iraque, que defendem. São baixas circunstanciais, justificadas por um objetivo maior. Mas não admitem qualquer contemporização quando se trata do blastocisto, cuja vida colocam acima da vida de milhões de crianças.

Se fosse por estes crentes, a ciência estaria num estágio bem menos avançado, e a vida humana seria bem mais dura. Talvez seja isso mesmo que eles colocam como meta. Ajoelhar no milho ou usar o cilício na perna são atos dos mais nobres para eles! Mas não vivemos mais nos tempos da Inquisição, e aqueles que não compartilham desses dogmas, são livres para questionar os reais motivadores dessa cruzada. Que ética é essa que ignora tanto sofrimento humano para salvar um blastocisto? Por mais que eu tente, não consigo entender ou aceitar tal ética, ou falta de ética. Os religiosos falam uma língua própria, compreensível somente para outros religiosos, que temem o "homem invisível", o sofrimento eterno num inferno e acreditam em alma. Para aqueles que estão mais preocupados com esta vida mundana, a única certa, e com os seres humanos vivos, este discurso não faz sentido algum. Se aquilo que buscamos é uma vida feliz, o uso de células-tronco em pesquisas científicas deve ser defendido como um meio bastante razoável para tentarmos melhorar a qualidade da vida humana. Agora, se o objetivo não é esse, mas sim valorizar a dor e o sofrimento como o leitmotiv da nossa existência "passageira" nesta vida "desprezível", então faz sentido colocar o blastocisto acima das crianças doentes. Mas faz ainda mais sentido estes que "pensam" assim procurarem ajuda psicológica com urgência!

25 de fev. de 2008

Ignorância bestial e tendenciosa. Ciência na TV

Assisti ontem, no Fantástico, em um rápido look, os progressos da ciência no tratamento da Depressão.

Uma paciente que sofria há mais de dez anos de uma variedade crônica da doença havia recebido - em uma cirurgia - um marcapasso no cérebro. A mesma já havia tentado todo tipo de tratamento, vários terapeutas - psiquiatras e psicólogos -, e drogas disponíveis no mercado.

Estava levando uma vida normal agora. Não ouvi em momento algum a mesma agradecer a alguma divindade.

The miracles of science is a trademark of DuPont
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Uma senhora e sua neta.
A senhora:
Se todas as pessoas - no mundo - acreditassem mais em Deus ninguém sofreria de depressão.
- A mesma está passando por um processo de recuperação de um problema na coluna, fruto de uma queda, com outras complicações em função da idade, 73 anos - etc. Bem, tal comentário não deve ser levado em conta pois trata-se de uma pessoa altamente instável, de há muito tempo, que muda de lado quando é conveniente; mente compulsivamente - também por necessidade, etc...
É protestante mas nunca a vi protestando por alguma coisa racional, brigando pela razão.

A neta:
Segundo a mesma só quem pode reclamar de depressão é quem está em estado terminal num hospital, vítima de câncer. O restante é frescura.
É uma mitômana tendenciosa e fracassada.

PS1.:
Segundo dados estatísticos, três em cada grupo de dez jovens que cometem suicídio nos Estados Unidos são vítimas dessa doença.
E não se trata de briguinhas com namorados não. É coisa séria. Somente a ciência para tratar como tal.

PS2.:
Toda uma comunidade científica ao redor do mundo, psiquiatras e psicólogos; indústria farmacêutica; Organização Mundial da Saúde - WHO(UNO) - todos atentos e trabalhando no que as figuras acima definem como ... não tem definição.

Cuba e o sedutor modelo chinês

Os leitores deste site que acompanham os meus artigos podem ter estranhado que até agora não falei na renúncia do ditador Fidel Castro. A razão para o meu silêncio é que considero toda essa história a respeito do afastamento de Fidel um embuste, uma jogada política para manter a dinastia de sua família. Aliás, seu irmão Raul já está no comando desde que Fidel adoeceu.

Quem apóia a ditadura cubana? Os sequazes de Fidel, seus familiares e mais alguns idiotas latino-americanos.

Em função dos últimos acontecimentos Cuba voltou ao centro do noticiário internacional. Em decorrência disso as pessoas puderam ver na televisão as paisagens insólitas dessa Ilha que evocam os anos 50.

A ditadura comuno-fascista de Fidel Castro congelou Cuba no tempo e há 49 anos e o ditador repete um mantra idiota segundo o qual a Nação cubana é uma vítima do imperialismo americano.

Com o afastamento de Fidel desenha-se uma tentativa de transformar Cuba numa espécie de mini-china. Isto significa governo ditatorial nas mãos do Partido Comunista, a abertura econômica capitalística e ausência total de liberdade política.

Mas esta saída à chinesa esbarra no componente patrimonialista que faz da família de Castro a proprietária da Ilha, como numa dinastia. É bem provável que a fórmula chinesa fará explodir a luta pelo poder dentro das hostes do próprio partido comunista.

A solução deverá ser mesmo a adoção do modelo democrático que, com seus mecanismos de divisão e alternância do poder, garantirá um processo de transição pacífico.

E a posição do Brasil nesta história toda se configura como um terrível desastre em termos diplomáticos, já que Lula e seus sequazes, quando tratam do assunto, o fazem na forma de compadrio, sem qualquer censura à ditadura cubana. Lula se manifesta não como chefe de Estado, mas como amigo de Fidel.

No fundo, Lula e seus sequazes gostariam de transformar o Brasil numa segunda China. E nisso são apoiados por um empresariado vagabundo que sempre viveu à cata de caraminguás governamentais.

Os capitalistas brasileiros e, de resto, os latino-americanos, não são capitalistas. São patrimonialistas. Odeiam o liberalismo e também a liberdade de mercado porque esta demanda competência e competitividade balizada pelo risco. Por isso sempre apoiaram todos os tipos de ditadura.

A prosperidade com o conseqüente bem-estar social dela decorrente só acontece com o modo de produção capitalista combinado com liberdade política. Pois são os mecanismos institucionais democráticos, a segurança jurídica e os direitos da cidadania os únicos elementos capazes de coibir os abusos do poder do Estado e da concentração de riqueza e poder dos grandes agentes econômicos.

“Só se salvarão os que sabem nadar”


No Manual del Perfecto Idiota Latinoanericano, de Plínio Apuleyo Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Alvaro Vargas Llosa, o capítulo sobre Cuba começa com a seguinte citação: “Só salvarão os que sabem nadar”. Explicam os autores, sendo que Montaner é Cubano, que a frase memorável pertence a um cantor de nome Cataneo e foi pronunciada na manhã de 8 de janeiro de 1959 quando Fidel Castro entrava em Havana. Acrescentam que desde então Cataneo ficou conhecido como o profeta. Fidel e seus guerrilheiros provocaram entusiasmo e simpatia e a população cubana apoiou, através de suas organizações, o líder que prometia trazer para o país progresso e justiça ao derrotar o ditador Fulgêncio Batista, golpista que depusera em 10 de março de 1952 o presidente Carlos Prío Socarrás. Também a América Latina sucumbiu ao carisma daquele salvador da pátria que prometia restituir a Cuba as liberdades que a ditadura de Batista confiscara ao povo. Entretanto, como é comum acontecer nas revoluções, Fidel Castro traiu os anseios dos cubanos e se tornou um dos mais sanguinários ditadores latino-americanos. Antes, paladino da liberdade subtraída por Batista, no poder reprimiu com mão de ferro os que não concordavam com ele. Conforme dados citados por Reinado Azevedo em artigo na Veja de 27/02/2008: “Fidel mandou matar em julgamentos sumários 9.479 pessoas”. “Estima-se que os mortos do regime cheguem a 17.000”. E conforme a professia de Cataneo, dois milhões de cubanos fugiram para os Estados Unidos, sendo que não foram poucos os que morreram tentando a travessia para a liberdade. Mostra Azevedo, que isso corresponderia a “27 milhões de brasileiros no exílio”. Este é o herói, o estadista, o humanista, o democrata exaltado por Lula da Silva, Oscar Niemeyer, Chico Buarque, Frei Betto e tantos outros como José Dirceu que chora diante do comandante e adquiriu sua segunda cara em Cuba. Dirceu, outrora guerrilheiro marxista sem-tiro é agora capitalista inserido na globalização e gerentão dos negócios do chefe. Dois anos depois de apear Batista Fidel fez aliança com a União Soviética e o regime comunista foi estabelecido formalmente em Cuba em abril de 1961. Contudo, apesar de Cuba passar a ser sustentada pela potência comunista, Fidel só conseguiu produzir miséria. Os alimentos foram racionados (e continuam), o salário do trabalhador cubano foi aviltado (e assim permanece), todas as liberdades, incluindo a religiosa, foram anuladas. A pobreza dos cubanos é culpa dos Estados Unidos por conta do embargo, dirá esquerda, inclusive, a petista, que hoje pratica marxismo de mercado e esbanja luxo e consumo através dos cartões corporativos. A culpa norte-americana é uma das mentiras inventada por Fidel e disseminada largamente. Mas o que de fato existiu foi uma proibição de comércio de empresas dos Estados Unidos com Cuba, como represália aos confiscos do governo cubano a propriedades norte-americanas. Isso, contudo, nunca impediu que produtos dos Estados Unidos chegassem à Ilha vindos do Canadá, Venezuela ou Panamá. Com o colapso do império soviético Cuba passou por maus pedaços. Foram, então, encorajados investimentos estrangeiros. Para tanto o comunista Fidel promoveu uma abertura ao capital estrangeiro de forma quase indecente. Ofereceu mão-de-obra barata, ausência de conflitos trabalhistas, livre remessa de lucros de sócios estrangeiros para o exterior, inexistência de imposto de renda durante o tempo estabelecido em cada contrato, nenhum encargo social para as empresas. Todas essas vantagens excepcionais atraíram a Cuba especialmente espanhóis (maiores investidores em turismo), canadenses (mineração), italianos (telecomunicações) enquanto se processavam as associações com norte-americanos (indústria farmacêutica, etc.) apesar da choradeira de Fidel referente ao embargo. Entretanto, apesar da “abertura econômica” o povo cubano vive numa pobreza franciscana e afastado dos “negócios entre amigos” processados pelo governo. Contrastando com a miséria de sua gente, Fidel Castro foi classificado pele revista Forbes como o sétimo homem mais rico do mundo. Quanto aos nativos é proibido freqüentar os melhores lugares da Ilha, todos reservados aos estrangeiros a poder do turismo e dos seus efeitos colaterais, a prostituição. Deve-se ainda dizer, que Hugo Chávez substituiu a União Soviética no sustento da Ilha caribenha, e que o Brasil também tem dado generosamente seu quinhão ao democrático companheiro Fidel Castro. Com a renúncia de Fidel, depois de quase um século de opressão, cogita-se sobre quem será seu sucessor e se haverão profundas mudanças em Cuba. Provavelmente as mudanças serão lentas até que a múmia caquética do déspota cubano se una no além a de outros monstros que infernizaram seus povos. Com relação ao seu sucessor, na América Latina, sem dúvida, é Hugo Chávez com seu socialismo do século XXI. Cabe, então, lembrar, inclusive ao presidente Lula da Silva, o pensamento de Winston Churchill: “O socialismo é a filosofia do fracasso, a crença na ignorância, a pregação da inveja”. “Seu defeito inerente é a distribuição igualitária da miséria”. * a autora é socióloga

Denúncias devassam o santo dos santos


Desde há mais de vinte anos tenho me perguntado por que a imprensa não aborda a corrupção nas universidades. Até hoje, a universidade tem sido o Santo dos Santos, onde jornalistas não podem penetrar. O Santo dos Santos era uma sala do Templo de Salomão onde ficava guardada a Arca da Aliança. Era onde se realizava anualmente uma cerimônia de sacrifício expiatório de um cordeiro sem mácula pelos pecados dos judeus. Esta sala ficava separada do templo por uma cortina de linho. Segundo a lei de Moisés, somente ao sumo sacerdote era permitido entrar no Santo dos Santos, e ele tinha que ser cerimonialmente purificado antes que pudesse falar com Deus.

Em meus dias de UFCSTUR – como denominei a Universidade Federal de Santa Catarina – denunciei na imprensa as centenas de professores contratados sob regime de Dedicação Exclusiva e que continuavam tocando serenamente seus consultórios de médicos ou dentistas, seus escritórios de advocacia. Mais outros tantos que ganhavam bolsas em outros Estados do País ou no Exterior e voltavam de mãos abanando, após quatro ou cinco anos de turismo regiamente subsidiado – extensivo a mulheres e filhos, é claro – sem nada devolver ao Erário. Minha denúncia causou comoção na Universidade, mas ficou tudo por isso mesmo. A desfaçatez da UFSC era tamanha a ponto de a Reitoria abrigar uma agência de turismo em suas instalações. (E talvez ainda a abrigue). O reitor processou-me por calúnia e difamação, mas teve de tirar o cavalinho da chuva. Em suma, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. A universidade é o Santo dos Santos, onde não há pecados nem impurezas.

Isso sem falar naquela corrupção perfeitamente legal, tais como doutorandos que vão a Paris ou Londres pesquisar a obra de Machado de Assis ou Nelson Rodrigues. Ora, por que não pesquisá-la aqui, onde estes autores a elaboraram? Depois de quatro ou cinco anos, elaboram um textículo de 300 ou 400 páginas, que não será lido por ninguém – talvez nem mesmo pelos participantes da banca – e ficará mofando nalguma biblioteca. Isso quando elaboram as 400 pagininhas. Pois muitos nem isso conseguem. Isso quando fica mofando nalguma biblioteca. Porque às vezes nem fica. Na UFSC, nos anos 60, um incêndio providencial numa sala da Reitoria queimou as “teses” de boa parte dos doutores da Universidade. Estranho incêndio, queimou só as teses. “Ainda bem que queimou” – me confessou um deles, doutor em História – . Porque a minha tese não se sustentava”.

Isso sem falar em professoras que voam de Porto Alegre a Tóquio, para expor durante vinte minutos um comunicado vital... sobre Literatura Comparada. Em velhotes que se candidatam a doutorado aos 50 anos, quando já estão perto da aposentadoria. O doutorado, que deveria ser um especialização para o exercício do magistério, passa a ser um prêmio de consolação na velhice. Encontrei em Paris uma de minhas colegas de magistério, uma velhota quase sexagenária com dificuldades de locomoção, pois mal conseguia enxergar um semáforo. Fazia doutorado em Lingüística. Passaram-se os anos e não escreveu uma linha. A universidade queria trazê-la de volta. Mas para isso ela tinha de ser comunicada – sei lá porque razões – aqui no Brasil. Como ela não queria receber essa comunicação, permanecia em Paris. Com seus salários e subsídios de bolsa preservados. Não sei como foi resolvida a situação.

Mas isso tudo é perfeitamente legal. A UFSC teve um caso caricatural. Um professor, que foi contemplado com uma bolsa na Bélgica, jamais foi à Bélgica. Encontrou uma fórmula para abrir uma conta em um banco belga e receber seu dinheiro no Brasil. Com a bolsa, construiu uma mansão em Itapema. Me consta que a universidade não conseguiu afastá-lo de seus quadros.

Graças ao escândalo dos cartões corporativos, a universidade brasileira finalmente entrou na berlinda. Descobriu-se que o reitor da Universidade de Brasília (UNB), Timothy Mullholland, gastou apenas 470 mil reais na reforma do apartamento em que residia. Em que residia gratuitamente, diga-se de passagem. Homem refinado, o Magnífico comprou – com o cartãozinho mágico – uma lata de lixo no valor de R$ 990 e um saca-rolhas de R$ 859. Gente fina é outra coisa.

Mais ainda. Leio hoje no Estadão (18/02) que os cartões corporativos da UnB serviram para pagar compras de valor elevado em supermercados, mercearias, açougues, peixarias e armazéns no ano passado. De 2004 a 2006, esse tipo de gasto tinha produzido uma despesa abaixo de R$ 13 mil, somadas as contas dos três anos. Levantamento do Estado mostra que somente em 2007 os cartões pagaram R$ 69.721,99 em compras feitas em estabelecimentos especializados na venda de gêneros alimentícios, como Carrefour, Pão de Açúcar, Tigrão e Oba, entre outros.

Mas também aparecem compras em lojas que vendem artigos mais refinados, como o minimercado e delicatessen La Palma, a confeitaria Monjolo - que vende biscoitos, tortas e bolos finos - e a padaria Pão Italiano, por exemplo. A profusão de compras desse tipo, pela universidade, mostra que o cartão público de débito é usado como um cartão pessoal - com a diferença de que a fatura é emitida contra o caixa do Tesouro Nacional.

É o que nos conta o jornal. Também informa que a segunda universidade com maior despesas de cartão corporativo é a Federal do Piauí, cujos gastos nem de longe rivalizam com os feitos pela UnB. Em 2007, a Universidade Federal do Piauí gastou R$ 356.772 nos cartões.

As denúncias chegaram ao Santo dos Santos do mundo acadêmico. Mas ainda são tímidas. No Brasil, quando se puxa um fio da corrupção, vem atrás um imenso novelo. E as demais universidades do país? Seus Magníficos Reitores e funcionários não usam cartões corporativos? Ora, se usam, é de supor-se que também terão caído na farra dos cartões. Alguém consegue acreditar que só as universidades de Brasília e do Piauí fazem uso indevido dos cartões?

As denúncias seguirão adiante? Duvido. Se seguirem, vai ser bom para o mercado de trabalho dos jornalistas. As empresas terão de contratar mais profissionais para apurar tanta malversação de dinheiro público.

De qualquer forma, a corrupção universitária é anterior à prática dos cartões. Corrupção são essas bolsas para pesquisas rumo ao nada, viagens para congressos inúteis, dobradinhas com Dedicação Exclusiva e exercício simultâneo de outra profissão, doutorandos que voltam de mãos vazias e nada devolvem à universidade. Em um colóquio literário, por exemplo, quem mais ganha não é a cultura, mas a hotelaria e as agências de turismo.

Puxa-se um fio e vem o novelo. Começou com o Executivo. Logo descobriu-se que Legislativo e Judiciários tinham também suas fórmulas de salário indireto. Agora, entra a Academia no baile. Antes tarde do que nunca. Mas se bem conheço os bois com que lavro, ninguém será punido. É gente demais para ser punida. Melhor então não punir ninguém.

23 de fev. de 2008

Requiem para um assassino

Resumo: Depois de tomar conhecimento de todas as barbaridades e crimes cometidos pelo novo regime cubano, é possível acreditar na tal “transição política” de Raúl Castro tão propalada mundo afora, só porque Fidel reconheceu sua decrepitude e saiu de cena sem deixar o poder?

© 2008 MidiaSemMascara.org

O anúncio do ditador Fidel Castro de que estaria se afastando do poder da ilha-cárcere, provocou enorme comoção dentre aqueles que defendem com unhas, dentes, lágrimas nos olhos e voz embargada a maior miséria humana do século XX, embora não se tenha notícia de que nenhum desses defensores do genocídio castrista tenha fugido do seu país para viver no “paraíso caribenho”. Que o digam os comunas que vivem como “burgueses”, Chico Buarque em Paris e o caquético Niemayer numa cobertura em Copacabana.

Tão repugnante quanto as entrevistas destes defensores do genocídio cubano, nostálgicos e sentimentais como se descrevessem uma passagem de filme romântico, foi ler os títulos das matérias, dentre os quais destaco este do Portal Terra: “ América Latina elogia transferência do poder em Cuba”. Engloba-se a opinião de meia dúzia de palpiteiros esquerdopatas - como se fosse o pensamento de toda a América Latina - que acham natural um infeliz tomar um governo de assalto, permanecer lá por malditos 49 anos e quando não tem mais condições físicas de empunhar o chicote e a baioneta, designa seu irmão para continuar o criminoso ofício. Estabelece-se assim uma ditadura hereditária e esses mesmos palpiteiros que não economizam palavras na hora de execrar a ditadura militar – com alternância de presidentes - que fomos obrigados a enfrentar, para o bem do Brasil, referendam e acham absolutamente normal e elogioso o gesto que, aliás, nem consideram como “ditadura”.

Ao lado disso, outros tantos desandam a falar numa “transição com abertura política”, como se a dinâmica utilizada por Raúl Castro – o ditador herdeiro - fosse muito diferente daquela do pai da revolução cubana. Como se Raúl fosse mais flexível e humano que Fidel, como se Raúl fosse mais “liberal” (no sentido de respeitar as liberdades individuais) do que seu irmão mais velho, e como se o velho abutre estivesse saindo de cena definitivamente. Lamentavelmente, não está!

É o próprio Fidel quem dá o recado quando diz no final de sua mensagem enviada dia 19: “Não me despeço de vocês. Desejo só combater como um soldado das idéias. Seguirei escrevendo sob o título ‘Reflexões do companheiro Fidel’. Será uma arma a mais do arsenal com a qual se poderá contar. Talvez se escute minha voz. Serei cuidadoso”, o que significa que só vai largar o osso quando o puserem no caixão. Até lá, quem continua mandando é ele, mesmo que como eminência parda.

No domingo 24 de fevereiro haverá eleições (ou simulacro disto) para a Assembléia Nacional do Poder Popular (Parlamento) e Raúl será ratificado nos cargos de presidente do Conselho de Estado (que já ocupa interinamente) e de Comandante-em-Chefe das Forças Armadas que o converterá oficialmente em Chefe de Estado ou ditador vitalício hereditário. Além desses dois cargos, Fidel ocupava ainda os de presidente do Conselho de Ministros e Primeiro Secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC), dos quais não se afastou oficialmente. Para a presidência do Conselho de Ministros três candidatos da maior confiança do clã Castro podem vir a ocupar o cargo: Ricardo Alarcón de Quesada, presidente do Parlamento, diplomata de carreira que é na prática o primeiro-ministro de Fidel e considerado o cubano com os maiores contatos no mundo; Carlos Lage, vice-presidente do Conselho de Estado e de Ministros e Felipe Pérez Roque, atual ministro das Relações Exteriores
.

Não por acaso, neste mesmo dia 24 de fevereiro de 1996, a ditadura cubana abateu dois aviões dos “Hermanos al Rescate”, assassinando 4 de seus pilotos: Armando Alejandro Jr. de 45 anos, cubano-americano; Pablo Morales de 29 anos, cubano residente legalmente nos Estados Unidos; Carlos Costa de 29 anos, americano de origem cubana e Mario de la Peña, de 24 anos, americano de origem cubana. O “Hermanos al Rescate” é um grupo de abnegados voluntários que buscam compatriotas cubanos que se aventuram no Mar do Caribe, expostos a todo tipo de riscos, inclusive naufrágio ou ataques de tubarão e os resgata, levando-os à terra firme nos Estados Unidos.

Naquele 24 de fevereiro de 1996, esses quatro rapazes faziam um vôo em águas internacionais em busca de alguma embarcação, quando foram atingidos por disparos de mísseis cubanos. A ordem veio de Raúl Castro, este que os palpiteiros acreditam ser mais “flexível” e “bonzinho” que seu irmão Fidel. Em entrevista a Dan Rather da CBS News, Fidel Castro admite cinicamente a responsabilidade por mais este crime, pois mesmo a ordem tendo sido dada por Raúl, que é o comandante das Forças Armadas, a última palavra era – e continuará sendo – de Fidel. No site www.rescatecubano.com, sob o título “A quien pueda interesar”, pode-se assistir um vídeo com a gravação feita na hora do ataque aos aviões. Lá pode-se ouvir todo o horror e sadismo dos criminosos que festejaram com gritos de “Pátria ou morte!”, o sucesso da investida contra civis desarmados e que não atentavam contra nenhuma “soberania”, como alegaram os irmãos Castro. Este crime foi denunciado e condenado pelo Conselho de Segurança da ONU em julho de 1996, mas os criminosos irmãos Castro continuam impunes, até hoje.

Durante esses quase dois anos em que Raúl comandou a ditadura, a repressão e a perseguição aos disidentes recrudesceu enormemente mas estas coisas nunca são divulgadas pelos meios de comunicação dos países livres porque seria “trair os ideais” desta revolução que os psicopatas comunistas adoram endeusar, desde que os confortos do mundo capitalista lhes sejam garantidos. Em 10 de dezembro do ano passado, Dia Internacional dos Direitos Humanos, por exemplo, uma pequena manifestação foi barbaramente reprimida e sete dos manifestantes acabaram presos porque vestiam camisas com a palavra “Cambio”.

Em 29 de novembro de 2007, dois jovens líderes estudantis foram presos na unidade de polícia nacional de “Zanja y Dragones” por pedir a autonomia universitária em Cuba; disseram-lhes que seriam processados e condenados sob a acusação de “periculosidade”. Em 28 de janeiro deste ano, opositores ao regime foram presos e golpeados por terem tido a “ousadia” de querer depositar flores no túmulo de José Martí! A quantidade de denúncias que recebo diariamente sobre abuso de poder, repressão autoritária, prisões arbitrárias e infundadas, além de torturas físicas e psicológicas aos que apenas desejam liberdade e respeito aos direitos mais comezinhos do ser humano, ocorridas neste curto período do comando de Raúl Castro, são incontáveis. Destaquei algumas para que se tenha idéia de como Raúl é generoso e respeitador dos direitos humanos: Condenado em julgamento sumário e oculto; sete são detidos pela atividade considerada criminosa conhecida como “o Rosário”, onde familiares de presos políticos se reúnem para rezar em prol da libertação de todos os presos; esposa de preso político, grávida, fica presa por cinco dias em calabouço por “desacato a autoridade” e é ameaçada de agressão física pela mulher do chefe da Polícia. Num só dia foram presos mais de 30 dissidentes por motivos tolos, como se reunir para rezar ou portar uma Bílbia na bolsa, todos considerados como crimes de “periculosidade pré-delitiva” que não se sabe exatamente o que quer significar.

A mais notável de todas as farsas e desrespeito ao ser humano, entretanto, ocorreu no início do mês de fevereiro após uma audiência promovida pela Universidade de Ciências Informáticas (UCI) com o presidente da Assembléia Nacional do Poder Popular, Ricardo Alarcón. O estudante Eliécer Ávila Cicilia fazia perguntas sobre direitos que lhes são negados, tão óbvios, que chega a ser estarrecedor ver alguém que não cometeu nenhum crime mendigar pela liberdade de ir e vir, como se isto fosse um favor enorme concedido por seu “dono”.

Com perplexidade, Eliécer perguntava: por que o comércio da ilha utilizava os pesos convertíveis em dólar e os trabalhadores – classe não pertencente à Nomenklatura – recebiam seus miseráveis salários em peso cubano, que tem 25 vezes menos poder aquisitivo? Por que os cubanos não podem freqüentar hotéis ou viajar para outros lugares do mundo? Por que é censurado o uso de internet, sobretudo proibido acessar o site Yahoo? Com um cinismo nauseante Alarcón respondeu que, “Se no mundo todo, os 6 bilhões de habitantes pudessem viajar para onde quisessem a confusão que haveria nos céus do planeta seria enorme; os que viajam realmente são uma minoria”, fazendo de conta que não sabe a diferença abissal entre ser livre para fazer escolhas próprias e depender da autorização de um tirano para tudo na vida. Assistam aqui o pseudo debate, num vídeo que foi feito clandestinamente e repassado à BBC.

No dia 9 de fevereiro, dias depois deste espetáculo montado para dar a impressão de que o novo ditador quer promover uma abertura política, este jovem foi levado de sua casa às 8 horas da manhã para a capital por agentes da Segurança e do Conselho do Estado. Os pais de Eliécer fizeram a denúncia a dissidentes do regime alegando que tinham muito medo, pois foram advertidos de que não podiam falar e que estavam sob vigilância. Eles estavam em pânico, temendo pela vida do filho, não sem razão, pois sua casa passou a ser vigiada constantemente por duas mulheres do Comité de Defensa de la Revolución (CDR) que interrogavam todas as pessoas que iam visitá-los.

No dia da detenção, um dos funcionários que identificou-se como sendo filho de Carlos Lage, disse para a família não se preocupar pois logo veriam Eliécer no programa “Mesa Redonda” informativo da televisão estatal. Conforme temiam seus pais, devem ter feito lavagem cerebral no jovem que ousou desafiar o todo-poderoso Alarcón para que diante da televisão se retratasse para todo o país. No dia 11 ocorre um novo debate entre alguns dos estudantes que estiveram presentes ao episódio com Alarcón e uma repórter de “Cuba Debate”, cujo slogan é “contra o terrorismo midiático”. Os estudantes negaram que foram reprimidos, presos e pior ainda, afirmaram que foram “vítimas de manipulação” de uma campanha difamente contra Cuba. Vejam neste vídeo como Eliécer se retrata e neste aqui os depoimentos dos outros estudantes. É de chorar de tristeza ver a lavagem cerebral que sofrem estes jovens...

Depois de tomar conhecimento de todas estas barbaridades e crimes, é possível acreditar nesta tal “transição política” de Raúl Castro tão propalada mundo afora, só porque Fidel reconheceu sua decrepitude e saiu de cena sem deixar o poder? Como se pôde constatar, ambos são criminosos sem escrúpulos, mentes pervertidas e más até as entranhas que não desejam o bem do seu povo mas escravizá-lo sempre e cada vez mais para compensar seus sentimentos de inferioridade: Fidel, por ser filho bastardo só reconhecido aos 17 anos e Raúl, por ser uma figura inexpressiva, mal amada e desrespeitada até mesmo dentro das Forças Armadas, invejoso do poder do irmão e cansado de ser durante toda a vida apenas uma sombra e uma escada para que Fidel brilhasse e aparecesse perante o mundo como o “Grande Líder”.

O povo cubano está farto de ser objeto na mãos desta sub-raça e os que acreditam nesta fanfarronice de folhetim barato são os colaboracionistas do regime, os que sonham com o mesmo poder que hoje lhes esmaga o crâneo e as vísceras. Esses aceitam o “borrão e conta nova” porque, em sua maioria não sofreram na carne nenhuma perseguição, tampouco tiveram parentes fuzilados pelo simples crime de serem cristãos ou discordar do regime comunista imposto na marra. Não há motivo para celebração nem sonho de dias melhores enquanto a máfia castrista estiver no poder, controlando a vida e a morte de cada um dos filhos daquela ilha.

O povo cubano digno não quer esmolas nem migalhas; não quer ser considerado cidadão de segunda classe dentro do seu próprio país nem quer a interferência de nenhum outro povo senão do seu próprio, cubano, residente na ilha ou em outros países, livre para decidir o que melhor lhe convém, livre para expressar-se sem medo dos calabouços ou “paredons”, livre para ir e vir, livre para ser dono de sua casa, do seu comércio, da sua vida. Enquanto esta maldita máfia castro-comunista não for deposta, julgada e condenada por seus milhares de crimes, tudo o que se fizer será apenas um arranjo mal feito, um faz-de-conta para inglês ver, e a esquerda mundial continuará tecendo loas nostálgicas ao “grande mito” Fidel e visitando Cuba, para dela desfrutar de tudo aquilo que seus legítimos donos há 49 anos não têm direito mas que ela, a maligna esquerda, aplaude e ajuda a manter.

21 de fev. de 2008

Os verdadeiros analfabetos

"Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem."

Quintana

O país da corrupção


De quando em quando vale deixar as primeiras filas da sala do cinema, de onde vemos com perfeição os detalhes dos pedaços da tela dispostos à nossa frente para, lá nas últimas filas, conseguirmos uma visão de conjunto. A mais recente pesquisa da CNT-Sensus presta-se a essa observação. O presidente Lula alcançou 68% de popularidade, e o governo, 52% de aceitação, como ótimo ou bom.

Enquanto isso, vai explodindo o escândalo mais recente, dos cartões de crédito corporativos, com 11.510 funcionários grandes e pequenos do Executivo autorizados a praticar qualquer tipo de despesas em seu favor pessoal ou para benefício dos interesses daqueles a que servem, com ênfase para familiares até do presidente da República. Deste e do antecessor. Uma lambança digna dos capítulos anteriores, dos sanguessugas que superfaturavam ambulâncias para municípios e da ação da quadrilha com cabeça no Palácio do Planalto e nas altas esferas do PT, criando o mensalão para comprar o voto de deputados.

Só isso? Nem pensar. A disputa por diretorias de empresas estatais, entre os partidos políticos, conduz ao raciocínio linear de que autorizar bilhões de despesas com obras públicas, para empreiteiras, e dispor do poder de liberar essas quantias, revela a prática do recolhimento de vultosas comissões para os privilegiados dirigentes e seus padrinhos.

Não foi sequer o PC Farias que inventou essas operações, dirão os acomodados, acrescentando vir essa roubalheira dos tempos do Império. Tem razão, mas é bom registrar que as operações sofisticaram-se tanto a ponto de obstar a ação da polícia e da Justiça.

A coisa pública foi transformada em coisa privada, como se fosse normal para aquele que puder, funcionário público ou empresário, cidadão comum ou desempregado, meter a mão e locupletar-se do erário e do próximo. E nem falamos, até agora, da vergonha que tem sido o aparecimento de milhares de ONGs fajutas, de fancaria, criadas à sombra do partido do governo e adjacências, sustentadas por dinheiro público, sem prestar contas de seus gastos. São bilhões, todos os anos, fluindo para o bolso de falsos benfeitores da sociedade, ainda que existam ONGs sérias e de relevantes serviços prestados.

O que espanta e assusta é o fato de que o povo continue dando seu aval a governantes que, no mínimo, toleram esse pantanal, quando não o estimulam ou dele não se beneficiam. Não se trata de denegrir os "companheiros", pela primeira vez no poder, que apenas confirmam aquele mote popular de que quem nunca comeu melado costuma lambuzar-se. Antes deles foram os tucanos, atrás vinham peemedebistas. A registrar emerge o fato de que a corrupção transformou-se em regra geral. Quem pode, aproveita, com o beneplácito da sociedade.

Pode ser simples a explicação: de tanto ver vitoriosa a roubalheira, a maioria passou a admirá-la e praticá-la. Como num sistema de vasos comunicantes, a corrupção estendeu-se a todas as camadas sociais. Quem contratou um pintor de paredes sabe que, com as exceções de sempre, o profissional vai misturar água na tinta para dali a pouco tempo seus serviços venham a ser novamente exigidos. Um cidadão que leva o carro a uma oficina mecânica, grande ou pequena, pode ter a certeza de que o defeito foi sanado, mas um gatilho instalou-se em outra parte do motor, de modo a precisar voltar mais ou menos como funcionaria o moto-perpétuo, se existisse.

O exemplo vem de cima, das exorbitantes taxas bancárias que levam a atividade a faturamentos jamais vistos, até os produtores de gêneros de primeira necessidade, como o leite, servido com soda cáustica. Ou os remédios, obra-prima de laboratórios que fariam a felicidade do Al Capone, se ele tivesse tido a idéia de controlá-los. Se puder, o produtor rouba no peso e nas especificações do pacote de feijão, assim como o usuário de um telefone fixo ou celular se verá envolvido por sedutoras promessas de prêmios miraculosos, caso admita mais um adendo em sua conta mensal.

É claro que tudo acontece pela falência do poder público, incapaz de obstar tanta bandidagem, seja por incapacidade, seja por estarem seus agentes atolados até o pescoço na flexibilização de seus deveres.

Torna-se necessário descer mais a fundo nesse poço infinito. Qual a causa de tanta corrupção? A impunidade, para começar. Se os outros podem, porque não poderá o cidadão comum, se em vez de punido, o corrupto é exaltado e seguido como um vencedor?

O modelo repousa na origem. Substituiu-se a ética pela livre competição. Vale tudo para afastar o colega do lado, o vizinho de porta ou o companheiro de jornada, mesmo mantidas certas normas corporativas, que apenas fazem confirmar o princípio maior. Para os céticos, a Humanidade sempre funcionou assim, em graus diferentes.

Convenhamos, porém, estar o Brasil outra vez dando lições para o mundo. Mudar o próprio, quer dizer, o mundo, nem Jesus Cristo, aliás, de uns tempos para cá servindo para justificar novos tipos de roubalheira. Ou não vemos montes de "bispos" virarem milionários através de promessas que misturam doações com a vida eterna?

Saída não há, para essa trágica fase em que nos encontramos. Nem PT, nem PSDB, muito menos PMDB ou outras siglas que nos assolam. São manifestações periféricas de algo bem mais profundo, já que não prosperariam se não houvesse campo fértil.

Falta-nos uma corporação, uma categoria social ainda não contaminada, pois todas se viram dominadas pela corrupção ou pela impotência. Chamar os militares de novo, para repetirem a ditadura? Felizmente não dá mais. Apelar para as igrejas, a Católica envolta no retrógrado conservadorismo dos novos tempos de Bento XVI? As evangélicas, acima referidas como as modernas cavernas do Ali Babá e do Ali Babão?

Acreditar no Ministério Público pleno de jovens idealistas que com o tempo vão aderindo ao sistema? Vale o mesmo para a Justiça. A Polícia Federal, que dia a dia parece amalgamar-se mais aos adversários que deveria combater? Dos partidos políticos não haverá que repetir outra vez estarem servindo de trampolim para a falência generalizada. O Congresso, coitado?

As centrais sindicais desapareceram, o MST constitui-se no portal da violência inconseqüente, assim como as elites empresariais puxam a fila do que de pior acontece no País. A imprensa, mero apêndice das decisões do poder econômico? Também não dá para a inteligência da universidade, com reitores capazes de locupletar-se no barro que só se forma pela anuência dos professores. Sequer os artistas seriam capazes de constituir uma força unida, tanto faz se escritores, poetas, pintores, atores e escultores, todos empenhados na deletéria competição que os divide entre realizados e fracassados.

Quem quiser que responda, mas, em termos de instituições nacionais em condições de virar o jogo, só mesmo as torcidas do Flamengo e do Corinthians. Mas o que fariam depois de deixarem a emoção dos estádios?

Sob o império das “minorias”


Resumo: O governo sem freios e amoral do sr. Luiz Inácio se condói com o assassinato de três travestis e algum vexame passado por um representante da casta gay, mas dorme tranqüilo com o assassinato de 50 mil brasileiros por ano pois, afinal o que são cinqüenta mil brasileiros senão mera estatística? © 2008 MidiaSemMascara.org

 No último dia 13 de fevereiro o governo do Sr. Lula, através do site do Partido-Estado – o PT -, emitiu uma nota de repúdio à agressão sofrida pelo presidente da “Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo” (APOGLBT), Alexandre Peixes, bem como ao assassinato de três travestis na cidade do Recife. Segundo a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, tais atitudes ferem os princípios básicos da Declaração dos Direitos Humanos. Diz a nota: “A homofobia, explícita na violência física ou moral, limita o exercício dos direitos de todo cidadão e não pode encontrar espaço em nossa sociedade. Um Estado Democrático de Direito não pode ser conivente com práticas sociais e institucionais que criminalizam, estigmatizam e marginalizam pessoas por motivo de sexo, orientação sexual ou identidade de gênero”. Não sou apologista da violência – de qualquer tipo - e muito menos de crimes de morte, admitindo como “justificáveis” apenas em caso de guerra ou em legítima defesa. Entretanto, o que se vê na nota do Partido-Estado é de uma exacerbação sem tamanho, primeiro porque, como diz no texto, os exames de corpo de delito realizados no “agredido” presidente da APOGLBT “não apontaram nenhum traumatismo”, o que significa que não foi nada além de algum xilique. Depois, porque não há qualquer prova de que os travestis foram assassinados por sujeitos homofóbicos sedentos de sangue. Os dois primeiros foram mortos a tiros por três homens que estavam dentro de um carro em Boa Viagem, dia 9 de fevereiro, e o terceiro morto a facadas no bairro do Pina no dia seguinte. O que se sabe dos criminosos? Nada até agora. Seriam agressores homofóbicos de fato? O escritor Júlio Severo publica em seu blog excelentes análises sobre a questão do movimento homossexual no Brasil e no mundo, cujas formas de abordagem e pontos de vista nem sempre concordo, mas que não posso deixar de referendar como fonte de pesquisa séria e confiável. Nesta postagem “Onde estão os espancadores e assassinos homossexuais?”, por exemplo, ele aponta a parcialidade e camuflagem da mídia quando os crimes cometidos contra homossexuais são praticados por outros homossexuais, prática muito comum entre a “espécie” mas jamais divulgada para não atrapalhar a aprovação da lei anti-homofobia em curso. E por que estou criticando esta nota de repúdio? Porque no dia 07 de fevereiro pp. completou-se um ano do brutal assassinato do menino João Hélio Fernandes de apenas 6 anos, quando o carro em que viajava em companhia da mãe e de uma irmã foi assaltado. Por cerca de 7 km João Hélio foi arrastado pelo asfalto preso ao cinto de segurança do carro durante 15 minutos, passando por 14 ruas, sob os gritos desesperados dos que viam a cena dantesca, ficando completamente dilacerado. Foi um dos crimes mais hediondos já ocorridos e que provocou grande comoção no país inteiro, e o que disseram as autoridades da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República? NADA! Que nota de pesar emitiu o presidente da República à família? NENHUMA! Que palavra de consolo à mãe de João Hélio ouviu-se da boca da primeira dama – também mãe -, dona Mariza Letícia? ABSOLUTAMENTE NENHUMA e após um ano do fato ocorrido, esta nota de pesar ainda continua inaudita! Também nunca se ouviu ou leu qualquer nota de repúdio por parte desta Secretaria quando um policial da Brigada do Rio Grande do Sul foi degolado em praça pública por hordas de criminosos do MST que permanecem impunes até hoje. Do mesmo modo que NADA foi dito às famílias dos PMs mortos durante a rebelião promovida pelos narco-traficantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) em 13 de maio de 2006, mas os bandidos mortos em confronto foram largamente pranteados por uma imprensa venal e conivente, sem contar com as notas de repúdio dos “defensores” dos direitos humanos dos bandidos. Tampouco mereceu tratamento de pesar o assassinato do segurança da fazenda Syngenta, Fábio Ferreira, morto com um tiro na cabeça pelos marginais do MST em Santa Tereza do Oeste no Paraná, em outubro do ano passado. Ao contrário, houve até homenagem na Câmara dos Deputados pela morte do militante do MST Valmir Mota de Oliveira, vulgo “Keno”, (não por coincidência, no mesmo dia em que aquela casa legislativa homenageava a “máquina de matar” Guevara) que morrera em confronto ao invadir a fazenda. Desta barbárie, resultou indiciado o dono da fazenda pela morte do sem-terra e sete funcionários presos, apesar de trabalharem em uma empresa de segurança legal, com autorização para portar armas e que faziam a segurança de uma empresa privada que estava sendo assaltada, sob a alegação de “formação de quadrilha”. E, mais uma vez, nenhum dos invasores foi indiciado pela morte do segurança Fábio. Até a imprensa colaborou, citando o caso sem dar nome à vítima que era tratado apenas como “o segurança”. Estamos nos transformando num país sob o império das “minorias”, estas novas castas que sob os auspícios do próprio governo impõem padrões de comportamentos a toda uma sociedade estupidificada e silente: são os quilombolas, os “afro-descendentes”, os gays, as lésbicas, os sem-teto, sem-terra, sem-moral ou vergonha na cara, os narco-traficantes que determinam toque de recolher ou quando o comércio pode abrir as portas. Estamos nos transformando num país sem Lei, numa terra de ninguém onde vale mais quem grita mais alto. E o governo sem freios e amoral do sr. Luiz Inácio se condói com o assassinato de três travestis e algum vexame passado por um representante da casta gay, mas dorme tranqüilo com o assassinato de 50 mil brasileiros por ano pois, afinal o que são cinqüenta mil brasileiros senão mera estatística?

Credibilidade


Nossa TV anuncia uma entrevista com um ministro, um secretário geral de ministério, um senador ou um deputado.

Prontamente procuramos um filme noutro canal ou vamos ouvir música . Simplesmente não agüentamos mais ouvir promessas, avaliações, projetos ou estudo apresentados pelo governo.

Particularmente porque estamos amplamente conscientes de que neste [período gastos essenciais, que deveriam ser cumpridos anualmente são deixados de lado enquanto se propões projetos novos a gerarem gastos. Evidências são igualmente; postas de lado. O governo alega não haver perigo de febre amarela enquanto as baixas se acumulam e a Organização Mundial de Saúde alerta que nossa situação já representa uma ameaça.

A União Européia recusa nossa carne, ficamos revoltados com a União Européia e logo mais descobrimos que se o governo se tivesse dedicado nestes últimos anos a orientar os pecuaristas a implantar critérios de rastreabilidade em conformidade com o mercado europeu não haveria problemas. Outra função do governo seria a de inspecionar as empresas que implantam sistemas de rastreabilidade. Os europeus alegam que a maioria não executa um trabalho sério. Talvez seja verdade.

A admissão do erro brasileiro feita pelo Ministro Reinhold Stephanes foi como colírio nos nossos olhos cansados. Uma lufada de ar fresco. Pela primeira vez em muito tempo vimos a honestidade no pódio. Um homem que prefere manter alguma integridade mesmo que isto signifique talvez abrir mão do cargo. E ainda mais, se penitenciou pelo Brasil antes que os fatos viessem à tona trazidos por outras pessoas. Uma atitude inteligente.

O contraste é maior ainda porque para onde olharmos veremos casos em que o poder público serve de ornamento ao ocupante, mas o ocupante diminui o cargo.

A verdade é que este governo não possui credibilidade nenhuma. Aquela população que sabe escrever mais do que seu nome só acredita neste governo se estiver recebendo vantagens do mesmo, ou se, por sua natureza estiver se negando a encarar a realidade.

O problema é que quando olhamos para os que deveriam zelar pelo bem estar o país e vemos que não há no que acreditar nem esperar, que tudo de bom que é realizado neste país é feito à margem do governo. Somos arrastados para o desânimo. No que deverão acreditar as próximas gerações? Nas gerações anteriores sempre houve elementos impolutos nos governos. Agora só vemos uma planície árida à nossa frente e se houver um ou outro homem de consciência no governo está cuidadosamente e covardemente oculto é imóvel sob pena de ser considerado um traidor pelos seus companheiros.

20 de fev. de 2008

Está sendo aberta a caixa-preta da Universal

Edir Macedo, o assaltante da crença - por Helio Fernandes no Tribuna da Imprensa

Passando de pobretão a bilionário, de desconhecido a todo-poderoso, monopolizando canais de rádio e televisão, Edir Macedo cometeu um erro terrível ao querer tripudiar sobre a liberdade de imprensa, e processando a todos que fazem qualquer restrição a ele e ao seu enriquecimento, explorando a fé (a boa fé) dos que acreditam nele.

Há 4 meses está processando este repórter, isoladamente. Não me intimida, não me assusta, não impede que continue a mostrar o seu caráter, sua descrença, sua delirante e abusiva determinação de enriquecer, TOMANDO (a palavra exata é essa) o dinheiro dos que estão desesperados, e pretendem ajuda divina.

Na Record (propriedade do falso "bispo" Macedo) e nos horários comprados em outras televisões, Macedo e seus acólitos dizem abertamente: "Nós somos o caminho entre vocês e Deus". Quem traçou esse caminho para eles? E na "ajuda" para chegar a Deus, vão enriquecendo com o dinheiro dos crentes.

No processo contra este repórter, pedindo indenização moral, Edir Macedo, digamos, até tinha direito. Deveria ter utilizado a Lei de Imprensa, embora seja incapaz de desmentir qualquer coisa que eu tenha dito. Quanto à sua honra, qualquer juiz reconhecerá que não se pode atingir o que não existe. Condenado, Macedo é que terá que pagar indenização. Não se incomoda, o dinheiro não foi ganho com trabalho e sim roubado de crentes ou fiéis, usando essa força que é a televisão.

Já no caso dos processos contra a Folha, Edir Macedo afrontou ou enfrentou a própria Justiça, e terá que pagar por isso. Não se apresenta como autor das ações, APELOU aos crentes para que processassem o jornal. Muitos deles, mais de 50, obedeceram ao mago, mestre e manda chuva da Universal (IURD) e entraram na Justiça, nos lugares mais distantes.

Dois dias depois de publicada a excelente reportagem de Elvira Lobato, e revelada a decisão de Edir Macedo, expliquei aqui: "Nenhum juiz receberá uma ação dessas. Os ouvintes, crentes ou fiéis, não são partes na questão. Se desligarem a televisão, acabou a ligação com a IURD".

Agora surge o primeiro caso, confirmando minha análise: a juíza Zenair Ferreira Bueno, de Xapuri, no Acre (vejam até onde chega o braço longo de Macedo), recusou a ação, textual: "Fiéis da Igreja Universal não podem se considerar ofendidos por jornalistas". E concluindo: "O Poder Judiciário não pode admitir que seja usado por quem quer que seja que pretenda atingir objetivo ilegal".

Todas as outras ações terão o mesmo destino. E a Folha poderá entrar com ação de RECONVENÇÃO para que Edir Macedo pague com o dinheiro roubado. A Folha pode destinar essas indenizações para fins humanitários. Um deles já terá sido atingido: ajudar a abrir a caixa-preta dessa Universal que enriqueceu o "bispo" sem fé, sem caráter e sem esperança. Apenas conta bancária.

Quanto vale apenas a Record? Mais de 2 bilhões de dólares e pertence ao "bispo" e sua mulher, Ester Bezerra. (Isso está na biografia autorizada do próprio Macedo, "A história revelada"). Tem quase 30 estações de TV e mais de 40 de rádio, conforme revelação dele mesmo. De onde veio o dinheiro para acumular tudo isso?

PS - Aqui o começo da caixa-preta de Edir Macedo e da Universal. O supersônico de Edir Macedo foi derrubado há muito tempo, só agora encontraram essa caixa reveladora. DESVENDEMO-LA.
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O lugar desse Pilantrão é na CADEIA.

Tapioca na cara


Sujeito apresenta cartão para pagar a conta no restaurante e o garçom diz:

- O senhor por acaso não teria um outro? Não se trata de problema nem na tarja, nem no chip nem na maquininha. O problema é de ordem ética mesmo. É que lamentavelmente não poderemos aceitar este cartão. Sua despesa não configura urgência e relevância para o Estado brasileiro.

No supermercado, a moça do caixa olha com desdém para o cartão corporativo e diz ironicamente ao cliente:

- O moço encontrou tudo que precisa? Não quer aproveitar para comprar produto para proteção de madeira contra cupim? Não quer aproveitar para comprar lixa de madeira, pregos e verniz? Sim, porque nunca vi tamanha cara-de-pau comprar uísque, picanha argentina e vinho importado com um cartão pago por mim que ganho salário mínimo. Eu, hein?

No posto de gasolina, diz o frentista com as mãos na cintura para o descolado dono do carro particular em pleno sábado à tarde:

- Num sábado, amigão? Indo pra praia, meu chapa? Não aceito. Ou paga com outro cartão ou vou tirar a gasolina. Leva a mal não, cidadão, mas essa gasolina aí ta sendo paga por mim também, né? E eu não tô a fim de rachar contigo, não.

No hotel de luxo, a autoridade apresenta o cartão para pagar a hospedagem. O atendente diz à cliente VIP:

- A senhora não gostaria de pagar com outro cartão? É que, como se trata de dinheiro público, o povo ta numa dureza braba, eu sou povo e estou liso como sabão também, estamos tentando economizar um pouquinho, sabe com é. Se a senhora ajudar, pagando com um cartão próprio pelo menos os extras, já ajudaria nas MINHAS finanças.

Na casa de massagem:

- Olha, amigo, cartão de crédito a gente aceita. Se o cliente for um cara bacana, a gente pendura e até vale-transporte e ticket alimentação a gente recebe. Agora, esse cartão como essa estrela aí eu não vou aceitar não. Aqui a gente passa a mão no cliente, sim. Mas a mão no bolso a gente não mete não e isso aí é dinheiro público. Mão boba aqui só da iniciativa privada.

No freeshop, o rapaz do caixa repassa as compras do cidadão bacana chegando de Miami:

- Cigarros, chocolates suíços, gravatas Hermès, iPods para as crianças. Era só isso, Excelência ou vai cravar mais alguma facada no combalido erário através deste cartão corporativo pago com dinheiro público?

E digo eu:
- Ah, se um dia o povo descobre...

O magnatinha


Cremos que o biólogo Lulinha deve estar aproveitando a tranqüilidade e o silêncio das gélidas paisagens da Antártida para entre um e outro grito da mãe lembrando-o de vestir as galochas e o blusão antes de sair do abrigo, e as entrevistas com pingüins, para avaliar novos lances para sua Gamecorp.

Chegou o momento de vender a empresa de novo. Consta que seu IBOPE é superior ao da MTV.

É, mas a MTV aparentemente fatura setecentos milhões de reais. A Gamecorp fatura sete milhões de reais.

Ou seja, a MTV sabe produzir programas e sabe vender anúncios. A Gamecorp sabe apresentar o que a audiência quer. Mas entende bulhufas do resto.

Na realidade só sabe se vender. E isto com intensos interesses políticos por detrás.

E lá estava Lula, o Pai, comparando seu filho com Eike Batista e outros.

E se Lulinha não está tendo lucro na Gamecorp, de onde está tirando dinheiro para se tornar um magnata da pecuária?

Será que o dinheiro da venda da Gamecorp espichou tanto? Ou é este dinheiro que está faltando para a Gamecorp se tornar rentável?

É difícil transformar uma orelha de jumento numa bolsa de seda. Mas com as metamorfoses ambulantes o caso é outro. Tudo é viável.

A cruzada contra o individualismo


O tenista Gustavo Kuerten está encerrando, aos 31 anos de idade, sua vitoriosa carreira. É um talento uno que inspirou até quem não joga tênis. Eu era um daqueles aficionados pelo tênis que perdiam 2, 3 ou até mais horas assistindo àquelas partidas épicas de 5 sets.

Kuerten só não fez mais sucesso porque, no Brasil, realmente ninguém gosta de tênis. O tênis é um esporte individual. Assim como nas preferências políticas e ideológicas, os brasileiros são mais adeptos ao coletivo. O individualismo, o mais ocidental de todos os valores, no Brasil, sempre foi mal visto.

Muito provavelmente, essa ojeriza ao individualismo tenha berço na ignorância do conceito da palavra. O individualismo, conforme alguns confundem por aqui, flertaria com o egoísmo, com a mesquinharia, com o orgulho. Esse delírio é comum não só aos iletrados, mas também a muitos “intelectuais” coletivistas. Também costuma-se associar o individualismo -- desta feita, de maneira correta -- ao capitalismo, “pecado mortal” em nosso país. Ao invés de criarmos uma cultura que incentive os homens a enriquecerem, cultuamos o “pobrismo”.

As bases do individualismo estão fundamentadas na igualdade, na liberdade e na crença nos conceitos de propriedade privada. O individualismo é a afirmação e o livre-arbítrio do indivíduo perante a sociedade e o Estado, que não tem – nesta ideologia – controle sobre o indivíduo, pois este despreza as hierarquias sociais existentes. É a negação do sentimento de grupo. Bem ao contrário do coletivismo comunista, que subjugou individualidades durante seu regime, por exemplo, na União Soviética – e hoje subjuga em Cuba.

Para ilustrar melhor, podemos nos lembrar como o individualismo foi soberbamente retratado em três clássicos do cinema contemporâneo, como em “Forrest Gump”, “O Náufrago” (ambos com Tom Hanks), e “A Procura da Felicidade” (com Will Smith). Recomendo assisti-los.

No campo religioso, dirimimos quaisquer dúvidas sobre a nobreza destes valores que tanto os coletivistas recriminam. Basta lembrarmos dos princípios do individualismo cristão, onde podemos até alcançar Jesus Cristo pela palavra ou pelo exemplo do próximo, mas só seremos realmente cristãos quando descobrirmos isto por nós mesmos. Ou então a salvação prometida por Jesus, que consiste na busca – individual – pela verdade, e na responsabilidade pelos nossos próprios atos.

Quando esteve na pior, seriamente lesionado, sem disputar torneios, Gustavo Kuerten foi esquecido. Agora, no momento da despedida, onde as lembranças de um passado glorioso de vitórias e títulos fragilizam a todos e, as lágrimas escorrem para viver as emoções da despedida, bem, aí todos aparecem. Até Lula tirou uma casquinha, pegando carona na despedida de Kuerten, prestando-lhe “homenagens”. Proselitismo e populismo, como vêem, não tem hora nem lugar para acontecer. Mas é o que o coletivo (o povo) gosta de ouvir. Por essa, o tenista de “simples” – modalidade individualista do tênis – Guga poderia ter passado incólume.

19 de fev. de 2008

Limão azedo

Outro dia, um amigo comentou comigo que não conseguia entender porque as pessoas vivem tão "armadas". Ele não se referia ao porte de armas brancas ou de fogo, mas aos espíritos armados, desses que andam pelas ruas ou dirigem seus carros cheios de pedras na mão, com olhar ameaçador; chutando cães e gatos; distribuindo mau humor e agressividade; incapazes de reagir positivamente mesmo a um sorriso de bebê.

Refleti bastante sobre o que ele disse, procurando analisar meu próprio comportamento. De fato, há dias que a paciência sai de férias ou se quer sumir do mapa, fechar para balanço... Ninguém é de ferro! Até as personalidades mais equilibradas e santas têm seus momentos de tolerância zero.

O problema não é o extravasar, mas sim como se extravasa! Tem a ver com a pressão sofrida e a capacidade de suportá-la, controlá-la ou ignorá-la, sem respingar magma para todo o lado.

Mas, voltando à queixa de meu amigo, parece existir tanta desconfiança e prevenção entre as pessoas, que, às vezes, até manifestações de boa educação e cortesia são mal-recebidas.

Desde adolescente sempre tive o hábito de ceder lugar, em meios de transporte coletivos, ou passagem para crianças, idosos, grávidas e mulheres em geral. Uma vez, ao fazê-lo para uma jovem, recebi dela o seguinte comentário: "Mas que atitude machista"!

Esse tipo de espírito armado, preconceituoso por princípio, também desconfia de ajuda gratuita, honestidade, franqueza e bondade; tem medo de receber e fazer perguntas; faz de conta que não ouve, olha para o lado e pensa: "Xiii... Esse cara está com segundas intenções...".

Infelizmente, o cotidiano das cidades confirma que, em muitos casos, isso é verdade. A população se divide em gatos escaldados e lobos em pele de cordeiro. O resultado é que as pessoas estão perdendo a sensibilidade e até a humanidade.

Francamente, é impossível viver o tempo todo numa redoma! Isso consome muita energia, esgota, faz envelhecer mais cedo! Quem persiste nesse padrão de vida acaba virando mais um na estatística da solidão das cidades, ou forma mais uma tribo ou gueto.

Praticar cortesia: dizer bom dia a um subalterno ou superior; ceder passagem ou lugar a quem tem necessidades especiais; sorrir, respeitar e dialogar é a melhor forma de prevenir e combater o mau humor e a depressão, próprios ou dos outros. E não pense que fazer isso é um sinal de fraqueza. Fraco - e imbecil - é quem faz uso desnecessário ou irracional de inteligência ou força para amedrontar inocentes, mostrar que manda ou simplesmente “manter a fama de mau”

17 de fev. de 2008

A revolução silenciosa

por Diego Casagrande, jornalista
publicado em 17.07.2006

Não espere tanques, fuzis e estado de sítio. Não espere campos de concentração e emissoras de rádio, tevê e as redações ocupadas pelos agentes da supressão das liberdades. Não espere tanques nas ruas. Não espere os oficiais do regime com uniformes verdes e estrelinha vermelha circulando nas cidades. Não espere nada diferente do que estamos vendo há pelo menos duas décadas.

Não espere porque você não vai encontrar, ao menos por enquanto.

A revolução comunista no Brasil já começou e não tem a face historicamente conhecida. Ela é bem diferente. É hoje silenciosa e sorrateira. Sua meta é o subdesenvolvimento. Sua meta é que não possamos decolar. Age na degradação dos princípios e do pensar das pessoas. Corrói a valoração do trabalho honesto, da pesquisa e da ordem. Para seus líderes, sociedade onde é preciso ser ordeiro não é democrática. Para seus pregadores, país onde há mais deveres do que direitos não serve. Tem que ser o contrário para que mais parasitas se nutram do Estado e de suas indenizações. Essa revolução impede as pessoas de sonharem com uma vida econômica melhor, porque quem cresce na vida, quem começa a ter mais, deixa de ser “humano” e passa a ser um capitalista safado e explorador dos outros. Ter é incompatível com o ser.

Esse é o princípio que estamos presenciando. Todos têm de acreditar nesses valores deturpados que só impedem a evolução das pessoas e, por conseqüência, o despertar de um país e de um povo que deveriam estar lá na frente.

Vai ser triste ver o uso político-ideológico que as escolas brasileiras farão das disciplinas de filosofia e sociologia, tornadas obrigatórias no ensino médio a partir do ano que vem. A decisão é do ministério da Educação, onde não são poucos os adoradores do regime cubano mantidos com dinheiro público. Quando a norma entrar em vigor, será uma farra para aqueles que sonham com uma sociedade cada vez menos livre, mais estatizada e onde o moderno é circular com a camiseta de um idiota totalitário como Che Guevara.

A constatação que faço é simples. Hoje, mesmo sem essa malfadada determinação governamental - que é óbvio faz parte da revolução silenciosa - as crianças brasileiras já sofrem um bombardeio ideológico diário. Elas vêm sendo submetidas ao lixo pedagógico do socialismo, do mofo, do atraso, que vê no coletivismo econômico a saída para todos os males. E pouco importa que este modelo não tenha produzido uma única nação onde suas práticas melhoraram a vida da maioria da população. Ao contrário, ele sempre descamba para o genocídio ou a pobreza absoluta para quase todos.

No Brasil, são as escolas os principais agentes do serviço sujo. São elas as donas da lavagem cerebral da revolução silenciosa. Há exceções, é claro, que se perdem na bruma dos simpatizantes vermelhos. Perdi a conta de quantas vezes já denunciei nos espaços que ocupo no rádio, tevê e internet, escolas caras de Porto Alegre recebendo freis betos e mantendo professores que ensinam às cabecinhas em formação que o bandido não é o que invade e destrói a produção, e sim o invadido, um facínora que “tem” e é “dono” de algo, enquanto outros nada têm. Como se houvesse relação de causa e efeito.

Recebi de Bagé, interior do Rio Grande do Sul, o livro “Geografia”, obrigatório na 5ª série do primeiro grau no Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora. Os autores são Antonio Aparecido e Hugo Montenegro. O Auxiliadora é uma escola tradicional na região, que fica em frente à praça central da cidade e onde muita gente boa se esforça para manter os filhos buscando uma educação de qualidade. Através desse livro, as crianças aprendem que propriedades grandes são de “alguns” e que assentamentos e pequenas propriedades familiares “são de todos”. Aprendem que “trabalhar livre, sem patrão” é “benefício de toda a comunidade”. Aprendem que assentamentos são “uma forma de organização mais solidária... do que nas grandes propriedades rurais”. E também aprendem a ler um enorme texto de... adivinhe quem? João Pedro Stédile, o líder do criminoso MST que há pouco tempo sugeriu o assassinato dos produtores rurais brasileiros. O mesmo líder que incentiva a invasão, destruição e o roubo do que aos outros pertence. Ele relata como funciona o movimento e se embriaga em palavras ao descrever que “meninos e meninas, a nova geração de assentados... formam filas na frente da escola, cantam o hino do Movimento dos Sem-Terra e assistem ao hasteamento da bandeira do MST”.

Essa é a revolução silenciosa a que me refiro, que faz um texto lixo dentro de um livro lixo parar na mesa de crianças, cujas consciências em formação deveriam ser respeitadas. Nada mais totalitário. Nada mais antidemocrático. Serviria direitinho em uma escola de inspiração nazi-fascista.

Tristes são as conseqüências. Um grupo de pais está indignado com a escola, mas não consegue se organizar minimamente para protestar e tirar essa porcaria travestida de livro didático do currículo do colégio. Alguns até reclamam, mas muitos que se tocaram da podridão travestida de ensino têm vergonha de serem vistos como diferentes. Eles não são minoria, eles não estão errados, mas sentem-se assim. A revolução silenciosa avança e o guarda de quarteirão é o medo do que possam pensar deles.

O antídoto para a revolução silenciosa? Botar a boca no trombone, alertar, denunciar, fazer pensar, incomodar os agentes da Stazi silenciosa. Não há silêncio que resista ao barulho.

16 de fev. de 2008

A falta que Voltaire faz

Mal completados vinte anos, chegou a Paris François Marie Arouet, que ainda não se assinava Voltaire. Logo escandalizava a capital francesa com acres comentários a respeito dos costumes e da política. Naqueles idos, a França era governada por um regente, tendo em vista a morte de Luís XIV e o fato de que Luís XV, seu bisneto, era ainda uma criança.

Cioso das dificuldades que envolviam o tesouro real, o regente determinou que fosse posta em leilão metade das cavalariças a seu serviço, quase mil cavalos. O irreverente jovem escreveu que melhor faria o governante se tivesse dispensado não a metade, mas a totalidade dos jumentos que povoavam a corte.

Pouco depois, passeando no Bois de Boulogne, o regente defrontou-se com o detrator e foi sutil: "Monsieur Arouet, vou proporcionar-lhe uma visão de Paris que o senhor jamais imaginou pudesse existir." E despachou Voltaire para uma cela na Bastilha, onde ele ficou por nove meses.

Depois, arrependido, o regente mandou soltá-lo e, como compensação, deu-lhe uma pensão vitalícia. Por carta, o jovem agradeceu porque sua alimentação estaria garantida até o fim da vida, mas disse ao regente que não mais se preocupasse com sua hospedagem, que ele mesmo proveria. Perdeu a pensão e teve de exilar-se na Inglaterra, para não voltar à Bastilha.

Conta-se essa história não apenas em homenagem ao extraordinário Voltaire, que viveu até quase os noventa anos polemizando e batendo de frente com o poder e os poderosos, mas porque, na política brasileira, através da História, sempre encontramos seus discípulos. Falamos daqueles que não se curvam nem perdem oportunidade para opor-se aos detentores do poder, mesmo à custa da própria tranqüilidade e bem-estar.

Seria perigoso começar a citá-los, sob o risco de graves esquecimentos, mas do padre Antônio Vieira a Evaristo da Veiga, nos primórdios da nação, até o Barão de Itararé, Carlos Mariguela, Luís Carlos Prestes, Gregório Bezerra, Agildo Barata, João Amazonas e mesmo Carlos Lacerda e Leonel Brizola, nos tempos modernos, algum erudito poderia dedicar-se à sua exegese. Seria excepcional contribuição apontar quantos se insurgiram contra a prepotência, cada um à sua maneira, tanto faz se pelo humor, pela agressividade, a veemência e até a violência.

Todo esse preâmbulo se faz para uma conclusão: no Brasil de hoje desapareceram quase por completo os Voltaires caboclos. Usando uma lupa, pode-se citar os irmãos Millor e Helio Fernandes. Porque instalou-se no País uma pasmaceira, de alguns anos para cá, a ponto de transformar até mesmo os líderes do PT em dóceis beneficiários de pensões concedidas pelo regente.

Não se encontra quem se insurja, ainda que através do humor, contra a verdade absoluta da globalização e do neoliberalismo que assolam o País e o planeta, transformando o cidadão comum em mero apêndice dos ditames das elites. Substituíram a liberdade pela competição. O trabalho pela prevalência do capital. O livre arbítrio pela acomodação. A independência pela submissão.

Convenhamos, tanto faz se o regente tenha vindo da realeza ou dos porões. Desde que ele se acomode e dite as regras dessa nova escravidão, todos o reverenciam. Uns por interesse, outros por falta de coragem. Voltaire faz falta, como inspiração.

Dois livros de peso
Encontram-se no prelo dois livros de excepcional valor para a memória nacional. Um, de autoria do ex-ministro da Justiça e batalhador incansável pelos direitos humanos, José Gregori. Em linguagem clara, são revelados os meandros da luta contra a ditadura e, depois, da reconstrução democrática. Dentro de poucos dias dedicaremos uma ou várias colunas a respeito do depoimento de Gregori.

O segundo livro prestes a ser editado é do ministro Flávio Flores da Cunha Bierrembach, do Superior Tribunal Militar, por coincidência companheiro de José Gregori em muitos episódios da história recente. Sob o título "Dois séculos de Justiça", Bierrembach desce aos meandros do mais antigo tribunal do Brasil, o Militar, através do relato da participação dos ministros que, como ele, vieram das Arcadas, a Faculdade de Direito de São Paulo.

O STM estava mesmo merecendo uma obra desse peso, já que mesmo nos momentos mais agudos de intolerância e truculência política sempre se constituiu numa instância de ponderação e justiça. Da mesma forma, aguardamos para comentá-la em detalhes.

Um reparo

Um reparo, apenas, à competente senadora Marisa Serra, do PMDB de Minas Gerais. Todo mundo escorrega, e, esta semana, foi a vez dela. Como integrante de um partido que apóia o governo, ela levou longe demais sua fidelidade, ao dizer que "a sociedade está passando do limite porque todo mundo me pergunta: cadê o meu cartão corporativo".

Não foi a sociedade que passou da conta, senadora. Foi o governo, ao locupletar-se desses inadmissíveis benefícios pessoais...

Evangélicos e canalhas


Enquanto os cabeças-de-toalha tentam censurar a Wikipedia, no Brasil são os fanáticos da Igreja Universal do Reino de Deus que tentam censurar a imprensa nacional. Em dezembro passado, a repórter Elvira Lobato, da Folha de São Paulo, assinou reportagem intitulada "Universal chega aos 30 anos com império empresarial". Para intimidá-la, a IURD entrou com 47 ações de indenização por danos morais em Juizados Especiais de vários Estados. As ações são impetradas por diversos crentes desses vários Estados, mas o texto é sempre o mesmo.

A intenção é clara, forçar a jornalista a nomear advogados e ter de viajar pelo Brasil todo para defender-se. Em esquema semelhante ao usado contra a Folha, a IURD impetrou mais 41 ações de indenização por danos morais contra dois jornalistas dos jornais Extra, do Rio de Janeiro, e A Tarde, da Bahia, por terem noticiado ato de vandalismo numa igreja católica em Salvador atribuído a adepto da igreja.

Ou seja, a IURD não quer que os jornais informem. Felizmente ainda há juízes sensatos neste insensato país. O juiz Edinaldo Muniz dos Santos, 36, titular da comarca de Epitaciolândia, no Acre, extinguiu processo em que um reclamante, Edson Duarte Silva, pretendia obter indenização da Folha e da repórter Elvira Lobato.

O juiz entende que há um "assédio judicial", ou seja, "uma atuação judicial massificada e difusa da Igreja Universal contra o jornal". Já o juiz Alessandro Leite Pereira, de Bataguaçu (MS), condenou outro reclamante, Carlos Alberto Lima, por litigância de má-fé.

Reproduzo trechos de entrevista da Folha:

FOLHA - Por que o sr. extinguiu imediatamente o processo?
EDINALDO MUNIZ DOS SANTOS - Lendo a reportagem, vi de cara que o requerente, um simples fiel da igreja, era manifestamente ilegítimo, não poderia se aproveitar da matéria para pedir da Folha uma indenização. Legalmente só a própria Igreja Universal poderia, ao menos em tese.
FOLHA - Por que o sr. diz que está havendo um assédio judicial patrocinado pela Igreja Universal?
SANTOS - O Judiciário está sendo usado apenas para impor à parte requerida um prejuízo processual, isto com centenas de deslocamentos para audiências, passagens aéreas, advogados etc. O processo judicial, que é meio de punição e reparação, passa ser a própria punição.
FOLHA - Quais são os riscos quando os juízes, sem compreender a gravidade do caso, mandam citar os réus?
SANTOS - Se o requerido for citado e não comparecer, corre o risco de ser condenado à revelia. Depois, para desfazer isso leva tempo e dinheiro. O caminho da simples importunação judicial não é tão complicado. O "piloto automático" do Juizado Especial pode sim gerar injustiças que para serem desfeitas leva tempo e dinheiro.

Com outros métodos, a igreja do bispo Edir Macedo em nada difere dos cabeças-de-toalha que querem censurar a Wikipedia. A técnica é antiga. Já fui alvo de pelo menos três processos que tentavam intimidar-me. Qualquer jornalista mais combativo tem um histórico de processos em sua vida. Mas a IURD foi maquiavélica. Se o Judiciário aceita esta estratégia safada de processar um jornalista em diversos Estados da União, a vida do profissional se torna um inferno. E o livre exercício da crítica se torna inviável.


Canalhas!
Todos PILANTRÕES

Por que a Finlândia tem a melhor escola do mundo

Por Thomaz Favaro, de Helsinque:

Quem entra numa escola na Finlândia se espanta com a simplicidade das instalações. Era de esperar que o sistema educacional considerado o melhor do mundo surpreendesse também pela exuberância do equipamento didático. Na verdade, na escola Meilahden Yläaste, em Helsinque, igual a centenas de outras do país, as salas de aula são convencionais, com quadro-negro e, às vezes, um par de computadores. Apesar do despojamento, as escolas finlandesas lideram o ranking do Pisa, a mais abrangente avaliação internacional de educação, feita pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O último teste, em 2006, foi aplicado em 400 000 alunos de 57 países. O Brasil disputa as últimas posições com países como Tunísia e Indonésia. O segredo da boa educação finlandesa realmente não está na parafernália tecnológica, mas numa aposta nas duas bases de qualquer sistema educacional. A primeira é o currículo amplo, que inclui o ensino de música, arte e pelo menos duas línguas estrangeiras. A segunda é a formação de professores. O título de mestrado é exigido até para os educadores do ensino básico.

Clique aqui para saber como se operou o milagre educacional finlandês

A Coréias não são iguais


Ainda bem que existem histórias nefastas como a dos cartões corporativos. Se não fossem elas, o que seria feito da imprensa brasileira? Em um vazio de idéias como o da política brasileira, sem propostas, sem soluções, sem objetivos, se estivéssemos também sem estes escândalos, morreríamos de tédio. Imagine se a imprensa dependesse tão somente de publicar o que o senador Eduardo Suplicy pensa sobre a segurança pública? Ou sobre as idéias viscerais de Tarso Genro sobre a educação? Ou da filosofia de bolso emprestada pela senhora Marilena Chauí, aos governantes? Ainda bem que apareceu uma Matilde.

Chistes à parte, como trabalho com números e análise de dados, puxo o histórico deste governo e relembro -- de maneira bastante lacônica -- a quantidade de barbáries que foram cometidas nos últimos anos e que todo mundo já sabe: foi dólar na cueca, foi mensalão, foi achaque nos Correios, foram os sanguessugas e, agora, a farra dos cartões corporativos. Fico imaginando se isso acontecesse em um país sério, como os Estados Unidos. Primeiro, que não aconteceria porque lá as pessoas não dormem com as consciências atormentadas por tamanha falta de pudor ético e moral. Mas em uma situação hipotética, já teriam caído presidente, ministro, e quem mais fosse necessário.

Mas aqui no Brasil, isso tudo é perfeitamente tolerável. É permissível. As pessoas não cobram atitudes energicamente porque, de fato, são moralmente muito parecidas com a classe política que as ordenha. Em sua enorme maioria, cometeriam os mesmos delitos. Temos muitas Matildes espalhadas por aí. As pessoas só tiram a bunda da cadeira para protestar nas ruas, quando alguém sério como o Presidente Bush vem ao Brasil. Não se sentem insultadas em serem abusadas por políticos. Se sentem insultadas apenas pelo seu complexo terceiro-mundista frente à nação americana.

Voltando ao caso dos cartões corporativos, o que se viu por parte da imprensa, foi vexaminoso. Ao invés de buscarem apurar os gastos, travou-se uma disputa ideológica entre PT e PSDB. Os dois partidos disputaram o troféu tapioca, onde o vencedor é quem consome menos indevidamente o dinheiro público.

Neste caso, a blindagem da imprensa aos petistas foi clara. Ela quer dizer para o bocó do eleitor que PT e PSDB são iguais. Quando surge um novo escândalo petista, logo dizem que “no governo FHC também era assim”. Primeiro jogam a acusação. A oposição que se vire para provar o contrário.

Assim como as Coréias do Sul e do Norte, o PT e PSDB não são iguais. Estou longe, bem longe de simpatizar com os tucanos, mas jamais os vi apoiarem ditadores delinqüentes de esquerda; jamais os vi aparelharem o estado de maneira tão sórdida; jamais os vi metidos em tamanha sorte de maracutaias; nunca os enxerguei praticando a corrupção como filosofia de governo. Mas nos dias de hoje, eles que se virem para provar o contrário.

12 de fev. de 2008

Tributo a Charles Darwin

Surrupiado do Profº Orlando Tambosi

Charles Darwin nasceu em Shrewsbury (Inglaterra), em 12 de fevereiro de 1809. Em sua homenagem, uma exposição percorreu o mundo no ano passado (tive a oportunidade de ver a versão brasileira na querida São Paulo, ano passado, no Masp). Um resumo de sua vida e sua obra (com textos, fotos e vídeos) está disponível no Museu Americano de História Natural.

Darwin revolucionou as ciências naturais e a história da humanidade, mas ainda hoje tem inimigos. É rejeitado pelo criacionismo, que lhe dá combate sem tréguas. Para estes inimigos, que põem a Bíblia acima das ciências, vale o que ele escreveu em sua Autobiografia, escrita em 1876:
O antigo argumento do plano da natureza, tal como exposto por Paley, e que antes me parecia tão conclusivo, cai por terra, agora que a lei da seleção natural foi descoberta. Já não podemos argumentar, por exemplo, que a bela articulação de uma concha bivalve deve ter sido feita por um ser inteligente, do mesmo modo que o homem criou as dobradiças das portas. Parece haver tão pouco planejamento na variabilidade dos seres orgânicos e na ação da seleção natural quanto na direção em que sopra o vento. Tudo na natureza é resultado de leis fixas.

A Autobiografia, aliás, é uma boa introdução ao pensamento de Darwin. Há tradução brasileira, da editora Contraponto, RJ, 2000.

Cartões e ladravões


Resumo: O absurdo se propagou como uma metástase. Os membros do politburo petista viram, na rapinagem dos cofres públicos, um atalho para o enriquecimento ilícito.

© 2008 MidiaSemMascara.org

De tudo que foi dito e escrito sobre a farra apoteótica da gastança de comissários e familiares do presidente da república com os cartões de crédito administrativos, faltou enunciar claramente, sem subterfúgios nem meias palavras, uma verdade conclusiva: foi roubo puro e simples, e os roubadores, se vivêssemos sob o império da lei, deveriam ser indiciados como ladrões comuns. É o espetáculo da impunidade.

O absurdo se propagou como uma metástase. Os membros do politburo petista viram, na rapinagem dos cofres públicos, um atalho para o enriquecimento ilícito. A Comissária Dilma Roussef diz concordar com a pilhagem dos cartões; tudo vale pela causa do socialismo. Seja como for, o fato nu e cru é que, nos últimos quatro anos, a roubalheira cresceu 500% e já atinge um montante anual superior a R$80 milhões; os saques em dinheiro correspondem a 60% deste total. Eles sabem saquear. São gatunos profissionais sem qualquer resquício de vergonha. É o espetáculo da desonestidade.

A bandalheira começa no gabinete da presidência da república. Lula da Silva sustenta a família com os cartões oficiais. Seus cúmplices gastam fortunas em supermercados, açougues, lojas de bebidas e padarias. Não nos referimos só às compras para o municiamento do palácio, mas das residências particulares. Lurian Cordeiro, filha do presidente, gasta R$ 6 mil mensais no cartão corporativo em Florianópolis onde mora; autopeças, material de construção, alimentos, livros, combustível, etc. Não é preciso ser filólogo para saber definir esse comportamento. Por qualquer padrão lingüístico, trata-se, sim, de ladroagem na genuína acepção do vocábulo. É o espetáculo da safadeza.

Na esteira do chefe, vêm os ministros, encabeçados — pasme o leitor — pelo hiperbólico Comissário Gilberto Gil que não quer explicar despesas de R$ 278 mil no seu BB Visanet chapa-branca. O que diz a autoridade cultural? O artista alça a fronte, limpa um falso pigarro e se defende: “Ganho este valor em dois shows”. Então deveria ter usado seu próprio dinheiro; não precisava dissipar o nosso. Segue-se na fila, a obscura Comissária Matilde Ribeiro que, desde 2003, sob o olhar complacente ou displicente ou indecente do tribunal de contas, promovia a igualdade racial em meio a uma farra hedônica com verba do erário; hotéis cinco-estrelas, redutos da boemia, bares da moda, “free shops” e aluguéis de carros sem licitação. Interpelada, responde que cometeu um “equívoco”. Eis o mais recente eufemismo da alta administração federal para ladroeira. É o espetáculo do sarcasmo.

Altemir Gregolin, Comissário da Pesca, esbaldou-se no Carnaval de 2007, esbanjou em diárias de hotéis, empanturrou-se na churrascaria e deu polpudas gorjetas aos garçons do Hera Bar. Flagrado, Gregolin não se explica nem se justifica. O Comissário dos Esportes, Orlando Silva, com a verba de inúmeros impostos extorsivos, financiou almoços e jantares para convidados durante o ano inteiro em requintados restaurantes paulistanos. Sabemos, porém, que o perdulário comissário incluiu, entre suas despesas a serviço do povo, uma modesta tapioca que nos custou apenas oito reais. Por isso, recebeu o apelido, entre os próprios subordinados, de Ministro da Tapioca. Consta que, ao perceber o escândalo, correu pressuroso a restituir R$ 30 mil ao erário. Será que agiria assim, se a ladroíce não fosse descoberta pela imprensa? Improvável, porque quem faz o que ele fez não costuma ter arroubos de honestidade espontaneamente. É o espetáculo da malandragem.

Falta-nos espaço para comentar as falcatruas da caterva do segundo escalão com sua enxurrada de mais de dez mil cartões sem critérios nem limites. Diante da evidência, o cinismo governamental atinge o ápice: chamaram a pilantragem de mero erro administrativo e pretendem censurar o Portal da Transparência de onde retiramos a informação, alegando questões de segurança. É o espetáculo da impudência.

Desmoralizados, são mais do que ladrões: são ladravazes, são ladravões.