4 de abr. de 2006

FÉ CEGA - por Ralph J. Hofmann

Há um momento em que se percebe que os clichês dos famosos não valem nada. São pura figuração.

Uma semana atrás o ator Lima Duarte praticamente colocou as coisas em perspectiva. Não chegou a detalhes, mas lembrou que a filha dele Paloma Duarte à época das eleições quase exorcizara a Regina Duarte por dizer que considerava uma pessoa como o Lula impossível como presidente por, entre outras coisas, falta de cultura, estatura e capacidade. Venceu a corajosa Regina contra toda categoria dos artistas e músicos.

Nem mesmo aqueles entre nós que não somos figuras públicas, tivemos coragem de falar essas coisas ditas pela atriz muito alto ante a enxurrada de críticas de que estávamos sendo muito esnobes intelectualmente.

Os atores e escritores do país fecharam com o PT. Os professores universitários idem.

Quem é Paulo Betti para endossar quem seja tecnicamente? O ter feito o papel do Mauá não o faz ser Mauá. Aliás, sempre que faz declarações sobre economia se vê que se leu o "Mauá, Empresário do Império" não entendeu nada. O Ziraldo declarou no programa do Jô que a turma do PT estava governando o país bem. E continua dizendo isto.

Quem é o LF Veríssimo? A opinião dele vale mais que a minha?

Ou seja, a fama não faz bons analistas. O sujeito é um bom escritor, ator, cronista, músico, mas ainda é prisioneiro de seus pressupostos. Assim uma Marilena Chauí ou uma Maria da Conceição Tavares podem ser convincentes, mas infelizmente ao longo prazo sua opinião técnica não vale mais do que as nossas, de pessoas vividas e que pagamos o pato quando aparece a conta do restaurante.

No fim, essas pessoas de destaque são torcedoras desportivas. Interessa o time. Não se é justo o time ganhar. Interessa ganhar por sermos seus torcedores.

BURROS DE CARGA

por Paulo Leite, de Washington, DC - reproduzido do Diego Casagrande

Em meio às notícias todas sobre os escândalos do momento, uma notícia das mais importantes passou meio despercebida semana passada. Falo do fato da carga tributária brasileira ter batido um recorde histórico, chegando a 37,82% do Produto Interno Bruto, conforme cálculos do IBPT, Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário.

Com base em números do IBGE, o Instituto avalia que a carga tributária em 2005 tenha crescido 1,02% em relação a 2004. Pior, a arrecadação tributária per capita teve um aumento real de 11,72% de 2002 até o ano passado. Depois, tem gente que ainda pergunta por que o Brasil teve um dos índices mais baixos de crescimento da América Latina no ano que passou...

O governo, que prometeu não aumentar os impostos, disputa os cálculos do IBPT, e jura que a carga tributária não é tão grande assim. Então tá.

O governo só pode continuar agindo desta forma, ignorando solenemente notícias como a divulgada pelo IBPT, porque o impacto dessas notícias sobre a opinião pública é mínimo. Uma discussão honesta sobre o impacto da carga tributária sobre a atividade econômica no Brasil é o debate que está faltando em nosso país. Quanto antes comece, melhor.

Não é de hoje que se sabe que uma carga muito elevada de impostos elimina qualquer incentivo para trabalhar, poupar e investir na criação de novos negócios. Quando os impostos são altos demais, os empresários tomam decisões baseadas não no melhor caminho para seu negócio, mas na melhor maneira de minimizar seus recolhimentos ao fisco.

Isso, na verdade, quando não decidem simplesmente ignorar o recolhimento de impostos e trabalhar por baixo do pano. A experiência de países como a Rússia mostrou na prática o acerto da chamada "Curva de Laffer", que preconiza que a partir de um certo ponto, aumentos da carga tributária diminuem a arrecadação de impostos ao invés de aumentá-la.

O Brasil só consegue aumentar a arrecadação de impostos porque sufoca cada vez mais a atividade econômica privada. Por quanto tempo mais vai ser possível manter essa tática?

O país precisa crescer. Os jovens que se formam a cada ano em nossas universidades precisam de empregos. Os trabalhadores que estão no mercado informal, condenados a viver "da mão para a boca", merecem uma vida melhor. Os brasileiros que levam seu talento e seus conhecimentos para o exterior por motivos puramente econômicos necessitam de perspectivas concretas para permanecer no país.

O Brasil não pode mais continuar a tratar a questão tributária com tanta indiferença. O fato do país ter a maior carga de todos os países emergentes é um recorde nada lisonjeiro se pretendemos manter um mínimo de competitividade num mundo cada vez mais integrado.

Infelizmente, um governo que trata seus cidadãos como tratou o caseiro Francenildo com certeza não vê nada demais em tratar seus cidadãos como simples burros de carga.

Do Blog: "Beast of Burden", só dos Stones