18 de abr. de 2007

Um Bonito Exemplo - por Ubiratan Iorio

Nestes tempos inacreditáveis, em que uma ministra que ganha para promover uma “igualdade racial” que já existe constitucionalmente, manda às favas o seu cargo de “heroína” – que, sobre ser redundante, também é caro para os contribuintes -, para semear nos nossos irmãos negros o ódio contra os brancos; em que, a pretexto de uma “igualdade na chegada”, muitos, inclusive magistrados, justificam crimes bárbaros pelas “desigualdades”; em que se pretende premiar famílias de bandidos com “bolsas”; em que um rabino esquerdista tisna a respeitável tradição moral judaica furtando gravatas (caras, pois ele não é bobo); em que “teólogos”, que se dizem católicos, atacam o Papa e exaltam hereges da “Teologia da Libertação”; em que a hierarquia militar é desrespeitada pelos controladores de vôo e o governo cede à insubordinação, só recuando por pressão; em que os deputados decidem que não trabalharão mais em Brasília às segundas-feiras; em que a mediocridade é enaltecida e a inteligência execrada; nestes tempos incríveis, o exemplo – real – de Marlene é uma lufada de ar fresco no ambiente moral podre que nos circunda e um veemente desmentido às teses sociológicas e antropológicas das “esquerdas”.

Moradora de um morro carioca em área bastante violenta - que redundância! -, abandonada pelo marido com quatro filhos ainda crianças, pobre, mas digna, não buscou as bolsas-esmolas que os governos distribuem, em troca de votos e de adesão compulsória à seita do mau pastor de plantão que detém sua partilha. Pelo contrário, olhou para dentro de si e enxergou-se uma mulher de fibra, valente, honesta, trabalhadora e, sobretudo, empreendedora. Esperar pelos governos? Para que? Reclamar? Nada disso! E Marlene foi à luta, sozinha. Primeiro, voltou a estudar, no supletivo de uma escola estadual, perto do pé do morro. Esforçada e sempre com um sorriso para oferecer, despertou a simpatia de professoras dedicadas, verdadeiras heroínas como ela e abandonadas como ela pelos governantes. Abriu uma tendinha ao lado de sua casa, onde vendia café e média com pão e manteiga, feitos com esmero e carinho, mostrando que qualquer trabalho honesto, por mais humilde que seja, deve ser realizado com dedicação. Em meses, passou a vender também sanduíches, com grande saída, porque, além de bem feitos, tinham preços justos.

Soube ser firme com os filhos: nenhum deles envolveu-se com o tráfico que domina o morro e que, diversas vezes ao ano, “ordena” que a escola seja fechada. O mais velho, inclusive, está terminando o segundo grau, prepara-se para prestar vestibular no segundo semestre deste ano e vai ganhar um computador da mãe, comprado a prazo, ainda neste mês.

Vendo que seu negócio ia bem, matriculou-se em um curso gratuito de preparação de salgadinhos, que já sabia fazer, mas sem aquela arte que, segundo ela, cativaria os consumidores. Assim que se sentiu em condições, passou a vendê-los em sua tendinha, sempre com limpeza, capricho, ingredientes de boa qualidade e preços bons. A demanda, naturalmente, foi grande, o que a conduziu, com seu espírito de iniciativa, à quarta etapa, a de preparar refeições “quentinhas”, vendidas, primeiro, no morro, mas, logo, a famílias do asfalto, atraídas pela fama, já corrente, de limpeza, qualidade e bom preço. Hoje, Marlene vive a quinta fase de seu empreendimento: fornece refeições para alguns restaurantes e, como a procura tem sido grande, já conta com quatro auxiliares de cozinha, que, com olho na qualidade, orienta em tempo integral. Segue firme na escola, sempre com bons conceitos e notas. E a sexta etapa já sabe qual será: abrir uma loja no asfalto, daqui a um ou dois anos.

Que Deus abençoe você, Marlene, que não é “pobre por vocação”, pois nunca esperou que os governos fizessem chover o maná! Houvesse muitas e muitos com a sua têmpera, os políticos populistas que preferem manter a pobreza, ao invés de atacar suas causas, morreriam de fome.