30 de mai. de 2007

Pega Ladrão! - por Ubiratan Iorio

Está difícil agüentar toda a roubalheira, exaltação do vício, condenação da virtude e premiação da mediocridade! Está insuportável saber de tantos crimes, tanta demagogia, tantas mentiras e sentir tanto desencanto. Parece até que o mau cheiro que tresanda do Brasil subiu aos céus e virou a terra de pernas para o ar, levando, em um giro vertical de cento e oitenta graus, o hemisfério sul para o norte e o norte para o sul. Roubam juízes, desembargadores, deputados e senadores; roubam senhoras e senhores, ministros e assessores; roubam funcionários, construtores, vereadores e mentores; roubam atacantes e defensores, analfabetos e doutores; roubam agnósticos e pastores, prefeitos e governadores... Pega ladrão!

Curioso é que muitos dos que, aqui e ali, na mídia, reclamam contra todo esse descalabro moral que contaminou a política e a economia nacionais nem de longe imaginam que têm alguma culpa no cartório. Sim, pois muitos deles não condenaram, por “falso moralismo”, os que sempre levantaram as bandeiras da ética? Não atacaram e continuam atacando a tradição judaico-cristã em que sempre se baseou o ocidente? Não tentaram e tentam romper com nossas raízes católicas, esquecidos de que o Brasil foi batizado antes como Terra da Santa Cruz e de que o primeiro ato oficial aqui realizado pelos portugueses foi uma missa? Não compraram e compram revistas que exibem mulheres participantes dos big brothers da vida, estimulando o “vencer na vida sem fazer força”? Quantos desses fariseus não entraram e entram com seus carros, nos fins de semana, nos acostamentos de nossas estradas, para ganharem um tempinho e ultrapassarem os motoristas “otários”? Ou não defenderam e defendem que ganhar cada vez mais dinheiro, em detrimento do convívio familiar e de princípios morais universais, é o que conta? Ou não sustentaram e sustentam que a defesa da família não passa de um tradicionalismo incompatível com o mundo atual? Ou, ainda, que os valores políticos e econômicos devem sobrepor-se aos morais?

Não é difícil perceber que atitudes como essas guardam forte correlação positiva com a roubalheira geral que apodrece a nação, tornando-a fétida. Quando os princípios morais sob os quais fomos educados são atacados, espezinhados e ridicularizados; quando os valores éticos de nossos ancestrais são adrede postos de lado e substituídos por um verdadeiro supermercado de produtos “éticos” à escolha do freguês; quando Deus é rendido pelo “super-homem” de Nietzsche, com o pretexto de que o estado moderno é laico e que não importa a liberdade interior, mas a falsa liberdade exterior de fazer o que der na veneta; quando padres de passeata deixam o Evangelho na estante e incentivam invasões de propriedades; quando, enfim, tudo isso acontece, passa automaticamente a vigorar uma das poucas leis respeitadas “neste país”: a lei do vale-tudo!

O mundo – e, especialmente, o Brasil – está doente e a causa é bastante clara para continuar a ser escamoteada: o abandono dos princípios morais judaico-cristãos que sempre nortearam o ocidente! Quem quiser “xingar” os que pensam desta forma de “falsos moralistas” que o faça e que continue bebendo do veneno que ajudou a destilar, mas que não reclame diante das notícias de corrupção que se sucedem na imprensa a um andamento prestissimo, que chega a fazer com que o escândalo de hoje nos leve até a esquecer um pouco o de ontem e a apagar completamente da memória o de anteontem...

Quando o sistema moral está se putrefazendo, acaba inelutavelmente contaminando os dois outros que compõem a sociedade: o político e o econômico. A crise brasileira é, com todas as letras, uma crise de valores morais! E a opção é clara para quem preza a dignidade: lutar para que o moralismo deixe de ser um “delito” politicamente incorreto ou continuar a conviver com o verdadeiro crime, do qual toda essa corrupção generalizada é apenas uma das manifestações!

28 de mai. de 2007

O Futuro Previsto ...negro

"Ponha-se na presidência qualquer medíocre, louco ou semi-analfabeto e vinte e quatro horas depois a horda de aduladores estará à sua volta, brandindo o elogio como arma, convencendo-o de que é um gênio político e um grande homem, e de que tudo o que faz está certo. Em pouco tempo transforma-se um ignorante em um sábio, um louco em um gênio equilibrado, um primário em um estadista. E um homem nessa posição, empunhando as rédeas de um poder praticamente sem limites, embriagado pela bajulação, transforma-se num monstro perigoso”

Olympio Mourão Filho - 1978.

Surrupiado da Adriana / Giulio Sanmartini- Prosa & Política

27 de mai. de 2007

O "CONSUMISMO" da Sociedade Americana

Fiz, por curiosidade, uma busca no Google:

How many Universities are there in the United States. Encontrei o seguinte resultado, no site da THE UNIVERSITY OF TEXAS AT AUSTIN:

# - Em ordem alfabética - clique e veja - http://www.utexas.edu/world/univ/alpha/

# - Ordenadas por Estado - clique e veja - http://www.utexas.edu/world/univ/state/

Um bando de CONSUMISTAS, segundo aquela professora aloprada que deu uma entrevista no Jornal Hoje da Globo, culpando, atribuindo a tragédia na Virginia Tech ao CONSUMISMO da Sociedade Americana.

E não é que os gringos também "consomem" Conhecimento e Cultura. São Consumidores Vorazes.

21 de mai. de 2007

Doente Terminal


Não tenho remorsos, fiz tudo que estava ao meu alcance como simples cidadã . Acho até que fui além, pois me expus dando a cara prá bater. Em 2004 fui vítima até de intimidação, uma tentativa de coação (via internet) por parte de um deputado federal petista (não reeleito) para que eu parasse com minhas mensagens e ainda lhe passasse os nomes constantes em minha lista de endereços sob pena de sofrer o peso da Justiça....
Nem lhe dei retorno, e ficou nisso.

Recebí mensagens de petistas, ilustres professores universitários-militantes, catedráticos mestres que usaram de ferina ironia e desprezo para desqualificar meu trabalho e minha pessoa. Dei-lhes respostas pontuais e espalhei-as pela internet, já que isso só poderia proteger-me. Certo?

E finalmente sou a feliz destinatária de centenas de mensagens spams diárias, que é como a militância tenta inviabilizar minha maquineta para receber ou mandar mensagens. Nada que um sistema de bloqueio não me resolva em parte.
Nada disso me abateu.
E não reclamo, já que exercendo meus direitos de cidadania descobrí a amplitude da responsabilidade de efetivamente ser cidadã , e os correspondentes deveres inerentes à esta realidade.
Tudo valeu a pena nestes quase cinco anos de batalha.
Mas agora cansei.

O que me abate, me tira as forças, me desanima, é que nada que se faça em termos de denúncias, artigos e comentários vindos por parte de jornalistas ilustres parece abalar este governo. Ações do Ministério Público contra sabidos corruptos acabam todas em águas de bacalhau. E sabe porque?
Porque a Justiça está a serviço do partido do governo, não a serviço da Nação e de seu povo. Usa de todas as cômodas brechas legais da Constituição de 88 para livrar a cara dos que sejam "muy amigos".
Dessa maneira, comprovados corruptos foram até reeleitos e serão abençoados com o perdão, anistia ou mesmo com um atestado de inocencia.

Tão bem amarradinho foi o plano de posse e manutenção do Poder por parte dos petistas que , salvo o escorregão do mensalão que lhes valeu a queda do todo poderoso Zé Dirceu, no mais, conseguiram neutralizar todas as ações que escancararam suas maracutaias.

Cooptaram politicos e partidos para ter o controle do Parlamento, infiltraram militantes assumidos em vários Ministérios inclusive e especialmente o da Justiça ; usaram de deslavada benemerência para comprar votos de eleitores carentes; dominaram a mídia com acenos de patrocínios de estatais ou com a ameaça de retirada dos mesmos. Transformaram as instituições em cabides empregatícios, amansaram os sindicatos, apresentaram ao povo ações espetaculares e sempre sob o foco das cameras de TVs de capturas de corruptos de colarinho branco, saciando a fome de justiça daqueles que se sentem injustiçados.
Neutralizaram até a oposição, se é que assim ainda pode ser chamada...
Descolaram a imagem do presidente de qualquer ação menos honesta simplesmente com a afirmação do mesmo de que nada sabia ou viu....

Então, em vista do exposto, só consigo imaginar nosso país como uma Nação sofrendo de uma doença. Mas não de uma doença qualquer! E sim de uma grave enfermidade que pode lhe ser fatal.
Pois que uma gama enorme de remédios foi ministrada por jornalistas, juristas, politicos, cidadãos de todos os níveis, e nada... nada surtiu efeito.
Minha gente , nosso País está enfêrmo, e se não lhe aplicarem uma medicação que consiga obter alguma reação positiva, pode-se dizer que este é um paciente em estado terminal..

É isto que me tira o ânimo...lutar para que? Nosso país está morrendo, gente!

Leia ainda SINAIS INQUIETANTES, por MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA

Lula e Delúbio: eles venceram o Brasil - por Glauco Fonseca

Houve pelo menos um dia em que Jader Barbalho foi algemado e preso. Maluf chegou a ser detido por vários dias com seu filho. O juiz Lalau ainda está (está?). Collor perdeu seu mandato e PC Farias foi assassinado. Até mesmo José Dirceu sofreu – e ainda sofre – pelo seu “conjunto da obra” no caso do mensalão, segundo o procurador-geral da República.

Muitas outras “personalidades” brasileiras envolvidas em algum escândalo foram expostas à opinião pública, outras até morreram, como os prefeitos de Santo André e de Campinas. O próprio Marcos Valério já não tem mais agência e nem tão cedo terá (ou será que já tem e eu não sei?).

O certo é que temos de render homenagem a dois ilustres brasileiros que, mesmo tendo sido personagens fundamentais nas mais importantes ocorrências do mensalão, dos empréstimos mentirosos e dos conchavos no Congresso Nacional, esses dois são Delúbio Soares e Lula da Silva.
Delúbio está de bem com a vida. Nenhuma responsabilidade foi apurada, mesmo tendo sido ele dono da caneta mais rápida do velho sudeste. Esteve à frente das falcatruas mais famosas dos poucos séculos de história do Brasil e nada, absolutamente nada se fez para elucidar e enquadrar o cidadão. Já Lula, o presidente, cujos compadres, assessores, chefes de gabinete, amigos, financiadores, pagadores de contas permaneceram como estão, não só foi isentado de tudo como ganhou de prêmio mais quatro anos no comando deste país que tem muito, muito mais sorte do que juízo.

Lula e Delúbio são a dupla que venceu o Brasil em todos os certames a que foi exposta. Delúbio foi expulso do PT e isto foi sua maior pena. Nada foi imputado a Lula, entretanto, nem mesmo a presunção do adágio “diz-me com quem andas...”.

Delúbio é hoje um pop star. Dá autógrafos, distribui sorrisos e não está nem aí para o que um país inteiro diz dele. Tira fotografias com “fãs” e investe em longa cabeleira, como se quisesse demonstrar displicentemente não só sua magnífica inocência como a brancura imaculada de sua consciência. Lula, cujo filho enriquece à custa de dinheiro público via uma concessionária de serviços públicos, cujo irmão estabanado bem que tentou influenciar e ganhar mas não levou como queria, do amigo que pagou suas contas e de sua filhota catarinense, do amigo que intermediou o milionário negócio entre companhias aéreas, do assessor citado no escândalo eleitoral do dossiê anti-tucanos, Lula, esse mesmo, não fosse ele o sofrido ex-metalúrgico, pobre, retirante, que combateu as elites e se tornou o presidente da República, “contrariando as oligarquias e os interesses do imundo capital internacional”, teria sido suspeito, indiciado, acusado ou até mesmo impedido. Bastaria que não fosse o Lula ou que não fosse do PT.

Delúbio e Lula, vinho da mesma pipa, farinha do mesmo saco, não só riem do Brasil como estão “em busca da perfeição”. E nos assusta o que eles entendem por “perfeição”. Perfeição pode ser governar com sabedoria, com lucidez e justiça. Perfeição pode ser, quem sabe, melhorar de fato a distribuição de riqueza entre os cidadãos. Perfeição pode até ser atingir indicadores de primeiro mundo, erradicando a dor e fazendo a delícia de ser brasileiro. O problema é quando perfeição é considerar apenas que... compensa.

Publicado no Diego Casagrande

9 de mai. de 2007

SOBRE NIETZSCHE, DEUSES E MIOLO DE PICANHA

Ao que tudo indica, com a vinda do papa ao Brasil, as pesquisas sobre religião parecem ter entrado na ordem do dia. Neste domingo, foi a vez do DataFolha . Que chega à conclusão de que 97% dos brasileiros dizem acreditar em Deus. Dúvidas, só têm 2%. Quanto a nós ateus, ficamos reduzidos a 1% do universo pesquisado.

Os pesquisadores que me desculpem, mas ponho sob suspeição estes dados. A pergunta pela existência de Deus é muito subjetiva. Se eu perguntar pra Dona Maria da quitanda se Deus existe, tenho 100% de chances de que ela responda afirmativamente. Mas se insistir e perguntar qual deus ela acredita que exista, Dona Maria vai embatucar e provavelmente vai dizer: "no Deus, ué!, naquele que está lá em cima". Ocorre que deus não é um só, e só na Bíblia há vários. Há desde aquele deus antropomórfico, que visita pessoalmente Sara e entra em pugilato com Jacó, nos primeiros momentos do Gênesis, até aquele deus que se intitula o Deus dos Exércitos e ordena massacres dos povos que não lhe prestam vassalagem. À medida em que Israel cresce em poder, Javé se torna mais impessoal, mais distante e mais surdo ao clamor dos povos. No Novo Testamento surgirá um outro deus, o encarnado, que se pretende amoroso. Mas no Apocalipse promete voltar para ceifar o resto da humanidade. Isso sem falar no Espírito Santo, o deus preferencial dos pentecostais, e a Maria (nada a ver com a Dona Maria da quitanda), mortal elevada à condição de deusa. O católico inculto não sabe. Mas, calculando por baixo, ele crê no mínimo em quatro deuses: Jeová, Jesus, Paráclito e Maria. O antigo politeísmo grego, expulso do Ocidente pela porta, voltou voando pela janela.

(Pausa para o almoço. Estas bíblicas reflexões me fazem evocar o miolo de picanha que comi hoje no Tranvia, um acolhedor restaurante uruguaio cá do bairro. Judeus, não sei se o leitor sabe, não comem picanha. E por que? Aí entra a luta de Javé com Jacó. Jacó acabava de atravessar o vau do rio Jaboque, com suas duas mulheres, suas duas servas e seus onze filhos, quando foi desafiado por um homem com quem lutou até o romper do dia. Quando este viu que não conseguia vencer Jacó, tocou-lhe a juntura da coxa, que foi deslocada. O oponente de Jacó era Deus, que lhe deu um novo nome: "Não te chamarás mais Jacó, mas Israel; porque tens lutado com Deus e com os homens e tens prevalecido". E que tem tudo isso a ver com a picanha, se perguntará o leitor? Diz o hagiógrafo: "Por isso os filhos de Israel não comem até o dia de hoje o nervo do quadril, que está sobre a juntura da coxa, porquanto o homem tocou a juntura da coxa de Jacó no nervo do quadril". Os judeus são homens que conhecem deus a fundo e seguem seus mínimos preceitos. Azar deles. O miolo de picanha estava ótimo. Fim da pausa para o almoço).

É claro que a Dona Maria da quitanda nem suspeita disto. Ela talvez imagine que o deus bíblico seja um só. Pode também ocorrer que sequer creia neste deus das Escrituras. Sua concepção pode ser -como ocorre com muita gente que não gosta de freqüentar padres nem igrejas - de um deus vago e indefinível, algo que estaria na origem das coisas, mas que hoje, à semelhança dos deuses gregos (voltarei outro dia ao assunto), pouco se importa com o que acontece ou não acontece com os mortais. A pergunta pertinente, mas ausente no bestunto dos pesquisadores de opinião, seria esta: em que deus você crê? Muita gente, se levasse a pergunta a sério, acabaria talvez concluindo que não crê em nenhum.

Do total dos crentes, 86% acredita totalmente que Maria deu a luz a Jesus, sendo virgem. Mas entre os católicos este índice é de 88%. Quer dizer, um significativo percentual dos católicos não aceita o dogma talvez mais importante de sua igreja. E 93% de todos os entrevistados (95% dos que se dizem católicos) disseram crer que Jesus ressuscitou após morrer na cruz. Onde passa boi, passa boiada. Uma vez engolida a mentira maior, as menores passam dançando pelo esôfago.

Para don Geraldo Majella, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, estes dados "revelam que, no Brasil, o povo conserva um forte espírito religioso, não acompanhando a secularização radical de outros países". Em um país em que a Igreja Católica perde adeptos em ritmo acelerado, para um prelado é reconfortante saber que as pessoas pelo menos acreditam em deus. Os sacerdotes, não importa a qual religião pertençam, são todos cúmplices. Você não vai ver um padre tecer críticas ao judaísmo ou islamismo. Tampouco vai ver um rabino ou um mulá tecer críticas ao catolicismo. Crer em deus já é meio caminho andado para qualquer um deles. Essas pesquisas irresponsáveis, feitas sob medida para agradar ao bispo de Roma, em verdade pouco ou nada dizem sobre a religiosidade do brasileiro.

Os deuses gregos morreram. Morreram de rir, dizia Nietzsche, ao ouvir que no Ocidente havia surgido um que se pretendia único.


3 de mai. de 2007

"O Brasil Não Tem Povo"


Em 1881, em sua obra, L’esclavage au Brésil, Louis Couty afirmou:

O Brasil não tem povo”, pois, “em nenhuma parte se acharão massas de eleitores sabendo pensar e votar, capazes de impor ao governo uma direção definida”.

Cento e vinte e seis anos se passaram desde que Couty apontou o triste fato: “O Brasil não tem povo”. Mas, será que já tem, apesar das mudanças ocorridas?

Como é impossível analisar num pequeno artigo mais de um século de história, tomo como marco importante o processo de industrialização, iniciado nos governos de Getúlio Vargas e JK, que desembocou no atual perfil do Brasil urbano e em parte modernizado. Persistem, é verdade, os contrastes sociais. Predominam na pirâmide social os mais pobres. Mas, bem diferente do século em que Couty nos visitou agora temos classes médias e uma elite econômica. Mesmo assim, perdura nosso subdesenvolvimento político que, associado ao vácuo de valores que hoje se observa, leva a indagar se Couty continua ou não tendo razão. Afinal, são eleitos e reeleitos notórios bandidos, trambiqueiros, mentirosos, tanto para o Poder Legislativo quanto para o Executivo e, em muitos casos, não se distingue entre desembargadores, juízes, advogados, políticos, bicheiros e qualquer tipo de marginal. Isto pode significar que são poucos os eleitores que sabem pensar e votar, sendo ao mesmo tempo incapazes de impor ao governo uma direção definida.

A péssima escolha de nossos representantes pode ainda refletir uma profunda identificação popular com seus eleitos no que eles têm de pior, o que indicaria que não temos povo, mas plebe. Ao mesmo tempo, há muita ignorância relativa aos candidatos no que concerne às suas trajetórias políticas, demonstração de que conhecimento e informação não são coisas idênticas, pois não faltam, ainda que filtradas, informações sobre o festival de falcatruas prodigalizado por quem deveria dar o bom exemplo.

Paradoxalmente isso acontece apesar da profusão de ONGs, centrais sindicais, associações de artistas e de intelectuais, dos chamados movimentos sociais, enfim, de tantas entidades que vão das associações de moradores à OAB, à ABI, à UNE, à CNBB e muitas outras, agora denominadas de redes sociais que alguns imaginam ser fontes de conscientização, civismo e solidariedade.

Portanto, as redes sociais que sempre existiram, mas que com a complexidade urbana aliada à velocidade dos meios de transporte e comunicação (Internet e telefonia celular entre as mais recentes e notáveis revoluções da comunicação) se multiplicaram, não produzem necessariamente o cidadão cônscio, o indivíduo capaz de otimizar seu livre arbítrio, o ator que interfere em seu tempo. Novas “comunidades” nem sempre são atestados de “novo cidadão” solidário.

Na diversidade do mundo atual onde os grupos “primários” como a família são trocados por grupos “secundários”, estes podem também abrigar redes, por exemplo, de criminosos, de terroristas, de narcotraficantes que possuem um tipo de solidariedade, de aprendizado e de projetos comuns, mas que estão bem longe do homem naturalmente bom de Rousseau ou do revolucionário “para si” de Karl Marx, que o conteúdo do termo rede social quer ressuscitar.

Conferir à humanidade de hoje virtudes excelsas que ela jamais possuiu, é tão falso quanto o dilema indivíduo x sociedade, pois o que existe é uma interação entre o ser humano e seu ambiente sócio-cultural.

Finalmente, se mudanças sempre estão ocorrendo, pois a vida é dinâmica, por trás das transformações materiais, valorativas e comportamentais certas essências humanas nunca mudam e a humanidade como um todo permanece ignorante, crédula e facilmente manipulável.

No nosso caso, apesar das redes sociais prevalece o “mesmismo” de que falou Roberto Campos e uma acachapante e piorada passividade que tudo aceita como natural e politicamente correto. E continuamos, como, aliás, acontece com todos os povos, tangidos por poderes mais altos e ocultos em bastidores inacessíveis ao vulgo.

Concluindo, apesar das redes sociais o homem continua, como disse Henry Louis Mencken, “o caipira par excellence, um ingênuo incomparável, o bobo da corte cósmica. Ele é crônica e inevitavelmente tapeado, não apenas pelos outros animais e pelas artimanhas da natureza, mas também (e mais particularmente) por si mesmo – por seu incomparável talento para pesquisar e adotar o que é falso, e por negar ou desmentir o que é verdadeiro”. No nosso caso, isso muito se acentua e de certo modo explica, entre outras causas históricas e culturais aqui não abordadas, porque o Brasil não tem povo.

Publicado em 02/05/2007 no Ratio Pro Libertas