3 de mar. de 2006

O pescador nunca viu nada igual

por Alfredo Guarischi - reproduzido do Diego Casagrande

Este país é mesmo um samba do crioulo doido. O saudoso Stanislaw Ponte Preta, o dono do gueto, faria rolar a festa neste eterno febeapa (FEstival de BEsteira que Assola o PAís).

O melhor mestre-sala-passista de São Paulo é japonês. A maior platéia VIP em Copacabana no show dos Rollings Stones foi de paulistas. De Very Important People transformou-se em Very Important Paulista. O Presidente não sabia de nada que os companheiros faziam, mas, ao mesmo tempo, diz que foi traído. O Serra é super simpático e foi o melhor Ministro da Saúde do mundo, segundo alguns, sendo economista de formação. O Palloci que é o atual Ministro da Economia, mas é médico, utiliza uma receita neoliberal, fazendo parte de um governo supostamente de esquerda. Os bancos nunca lucraram tanto como neste governo, suplantando os lucros auferidos nos governos passados, todos considerados de direita pelo PT. Para quem não sabe o PT é o partido do Lulla, que não significa PL – Partido Liberal, um dos P que receberam o mensalão, segundo a CPI. O ACM, avô, ex-amigo de Collor, ficou amigo do Lulla, que é amigo de Sarney, desafeto de Collor, mas agora não é mais amigo do companheiro. A grande metáfora é descobrir porque ficou amigo. O Aécio é o governador de Minas que mais vive no Rio, mas, segundo o próprio, tem uma pilha de processos para despachar, em Gerais. O PC Farias parece que foi incompetente, pois, diante dos números atuais, levou pouco e literalmente acabou morrendo na praia. A mulher do Presidente acredita tanto no marido que pediu cidadania italiana, pois deseja um futuro melhor para os seus. O que aconteceu quando do aumento de quatro para cinco anos do governo Sarney e a emenda da reeleição aprovado no governo do Fernando Henrique, popular FFHHCC, são futrica do segundo escalão. Justiça seja feita, o PT não inventou nada, segundo Lulla em Paris, apenas aperfeiçoou o caixa-dois.

Pelo amor de DEUS, caro leitor, não tenho nada contra japonês ou paulista. Contra políticos, só sou contra – em tese - os picaretas do Congresso que o Lulla uma vez afirmou conhecer. Além disso, existe um acordo secreto - que todos respeitam, por isso é secreto - podendo-se falar mal de político à vontade. Não se pode exigir que atirem a primeira pedra, pois seria falta de coleguismo, e nós – os do andar de baixo - não podemos xingar a mãe – deles. Esse acordo vem desde o descobrimento e todos falam mal dos políticos, a começar por eles mesmos. Trocam de palanque e juras de amor, que nem um Paulo Gracindo, na velha Sucupira, seria capaz de interpretar com tanta desenvoltura.

A grande surpresa para esta semana poderá ser o próximo café com o presidente, que Lulla - assim como George, o Bush - tem como seu programa de radio. Lulla foi pescar e descansar no carnaval, como, segundo conselho presidencial, deveria fazer todo brasileiro – atenção: deveria. A nossa italianinha, D. Marisa, até tirou carteirinha de pescador para evitar qualquer acusação maldosa da imprensa - esta imprensa perversa que cisma de fazer o seu trabalho correto. Caso nosso Presidente ou Guia começar: “Nunca se viu nada antes igual”, ninguém poderá, injustamente, criticá-lo, pois desta vez provavelmente será mais uma estória de pescador.

O VALOR DO AMANHÃ

Por Rodrigo Constantino, com autorização do mesmo - Diego Casagrande

Em seu livro O Valor do Amanhã, Eduardo Giannetti discorre sobre o tema das escolhas intertemporais de forma bastante objetiva e didática. O autor deixa claro que o fenômeno dos juros é inerente a toda e qualquer forma de troca em diferentes períodos no tempo, representando o prêmio da espera para o lado credor, ou o preço da impaciência na ponta devedora. Ou seja, os ganhos decorrentes da transferência de valores do presente para o futuro, ou os custos de antecipar valores do futuro para o presente. Nesse cenário, os juros monetários são apenas uma pequena fatia do conceito geral de juros.

O economista trata também da questão da miopia temporal, quando o indivíduo dá demasiada importância ao que está mais próximo no tempo, e seu espelho, a hipermetropia temporal, quando é atribuído um valor excessivo ao amanhã, em prejuízo das demandas correntes. De um lado, o sujeito que vive literalmente o carpe diem, de forma hedonista ou mesmo irresponsável, e do outro lado, o que adia tanto seu viver que o hoje vira um enorme vazio. Se o míope com freqüência é vítima do remorso, porque o futuro chega e cobra seu preço pelo passado despreocupado, o hipermétrope normalmente sofre com o arrependimento pelo desperdício de oportunidades perdidas com o excesso de zelo pelo amanhã. Como disse Schopenhauer, “muitos vivem em demasia no presente: são os levianos; outros vivem em demasia no futuro: são os medrosos e os preocupados”. É raro alguém manter com exatidão a justa medida.

Giannetti inicia sua explanação sobre os juros pelo fator biológico, lembrando que a senescência é o valor pago pelo rigor da juventude. “A plenitude do corpo jovem se constrói às custas da tibieza do corpo velho”, como coloca o próprio autor. Há um claro trade-off implícito em cada escolha intertemporal que fazemos, entre “viver agora e pagar depois”, ou “plantar agora e colher depois”. Não podemos ter e comer o bolo ao mesmo tempo.

Animais e crianças costumam viver mais intensamente o momento, reagindo basicamente por instinto. Os desejos exigem pronto atendimento, e a busca de rápida satisfação fala mais alto que tudo. Ainda não aprenderam o valor da espera, e não possuem ferramentas racionais para avaliar se esta compensa ou não. A impaciência infantil é fruto da combinação da dificuldade de figurar mentalmente o amanhã e uma baixa capacidade de autocontrole, de resistir ao apelo de impulsos. Como resultante, há uma forte propensão a desfrutar o momento e descontar o amanhã. Infelizmente, são muitos os adultos que não conseguem também dominar tal impulsividade através da razão.

Retardar o consumo atual para poder investir na produtividade rende frutos no futuro. Os recursos não caem do céu, e faz-se mister uma escolha intertemporal entre menos agora, mais depois. Hoje mais que nunca, a preocupação com o amanhã deve ser enorme. Os nômades caçadores viviam o aqui-e-agora, ignorando a necessidade da previdência. Entretanto, quem nasce atualmente vive aproximadamente o dobro do que era comum antes da Revolução Industrial. O progresso da técnica tem aumentado de forma bastante acelerada a expectativa média de vida. O mundo necessita mais da racionalidade da formiga que da impulsividade da cigarra. A poupança de hoje é que permite o consumo maior de amanhã. Tal obviedade parece ignorada quando observamos a situação caótica dos sistemas de previdência social modernos. Talvez as pessoas não saibam que o governo não cria riqueza, e portanto não pode garantir a renda da aposentadoria futura sem a contrapartida da poupança atual. O conforto de amanhã exige um sacrifício hoje.

Um dos problemas do curto horizonte temporal no Brasil, com baixa taxa de poupança, é o coletivismo. Trata-se de um ambiente social em que o futuro pessoal de cada indivíduo pouco depende dele mesmo, ou seja, depende apenas em pequena medida das escolhas que ele faz. É o moral hazard do nosso modelo previdenciário, sem contas individuais e independente da contribuição de cada um para a determinação do benefício futuro. Além disso, nosso grau de impaciência como nação é absurdamente elevado, devido às necessidades urgentes impostas pela miséria. Por fim, as oportunidades de investimento, prejudicadas pelo péssimo ambiente institucional, oferecem baixo valor para o uso de recursos que deixam de ser consumidos no presente, podendo assim ser deslocados para render frutos à frente. A confiabilidade da ordem jurídica aumenta a confiança no amanhã.

O somatório dessas características faz com que a sociedade brasileira tome emprestado do futuro, de forma irresponsável até. Desta forma, a dívida pública através do Estado beira um trilhão e meio de reais, e a taxa de poupança é absurdamente baixa, menor que 20% do PIB. O Brasil vive demasiadamente no presente, com seu governo inchado e assistencialista, sem a necessária poupança que se reverte em investimentos produtivos. Como uma criança, age por impulso, para atender os desejos do momento. Quer o bônus da prosperidade sem o ônus da poupança. Quer o crescimento sem o custo da espera, e quando o resultado não é inflação ou crise na balança de pagamentos, é juros altos.

O valor do amanhã continua baixo por aqui, como nos tempos indígenas. E quem tudo quer, nada tem. No afã de querer tanto o consumo maior no presente quanto o conforto da farta poupança no futuro, o país corre o risco de terminar sem nada: a cigarra triste e a formiga pobre.

A SA petista está de volta

As tropas de assalto do petismo estão de volta. Antes, com vergonha do mensalão, eles se calavam. Ora, perderam também a vergonha. Uma certa Rosana Ramos, no site do PT, acusa-nos de agentes da CIA. Na próxima edição, respondo a um artigo de José Dirceu, que me atacou no Jornal do Brasil.

Reinaldo Azevedo, como sempre, não usa eufemismos. Clique aqui - no Primeira Leitura

...Começo afirmando que “Eles” estão de volta. Durante um bom tempo, a Tropa de Assalto do PT (“SA”, na sigla em alemão) andava um pouco envergonhada. Ora, perder a vergonha era questão de tempo. Bastou o Apedeuta melhorar seu desempenho nas pesquisas, e a canalha se assanhou: violentos, com o dedo em riste, ameaçadores, torcendo pela volta da censura, vendo fantasmas em todo canto, dispostos à ação direta. Os e-mails me chegam aos montes. Poderia ser tudo apenas obra do apparatchik, aquela militância burra, que os dirigentes costumam usar e depois tratar com um pé no traseiro. Mas vai um pouco além. ...