26 de jan. de 2006

Imposturas Intelectuais

por Rodrigo Constantino - reproduzido do site Diego Casagrande

Any intelligent fool can make things bigger, more complex, and more violent. It takes a touch of a genius - and a lot of courage - to move in the opposite direction.” (Albert Einstein)

De acordo com os solipsistas, a falsificabilidade de Popper não faria sentido, posto que provas inexistem. Mas a epistemologia randiana, em contrapartida, objetiva aprioristicamente determinados fatos, independentes do princípio da incerteza de Heisenberg. A própria etimologia de “fato” corrobora tal assertiva. Dependendo da esfera cognitiva, entretanto, poderemos cair na famosa incomensurabilidade de paradigma, segundo Kuhn. Restaria uma explicação somente através da topologia psicanalítica de Lacan. E assim a questão poderia se dar por encerrada, com razoável grau de certeza. Ou não.

Caro leitor, muita calma nessa hora! Se você não entendeu nada do que eu quis dizer acima, é bom sinal. Afinal de contas, realmente não quis dizer absolutamente nada. Esse artigo pretende desmascarar determinado tipo de pseudo-intelectual, que apela com assustadora freqüência aos estratagemas conhecidos para impressionar leigos.

Não estou sendo sequer original aqui, pois Alan Sokal adotou exatamente essa estratégia para desmascarar vários intelectuais. Sokal mandou para uma famosa revista um artigo com título complexo, e trechos mais obscuros que os utilizados acima. Seu artigo não só foi aceito, como gerou bastante reação positiva. Qual não foi a surpresa geral quando o autor confessou tratar-se de um emaranhado de frases soltas e sem sentido? A revolta foi grande, e Sokal decidiu transformar seus argumentos em livro, com o mesmo título desse meu artigo, refutando intelectuais do peso de um Lacan, Kuhn ou Feyerabend.

Segundo o próprio autor, “a obra trata da mistificação, da linguagem deliberadamente obscura, dos pensamentos confusos e do emprego incorreto dos conceitos científicos”. São desmontadas táticas, como o uso de terminologia científica ou pseudocientífica sem dar a devida atenção ao seu real significado, ou ostentar uma erudição superficial, usando termos técnicos fora de contexto, para impressionar. Fora isso, frases são manipuladas constantemente. Sokal, com o auxílio de Jean Bricmont, mostra que o “rei está nu”, com casos manifestos de charlatanismo. A reputação que certos textos têm em virtude de suas idéias serem “profundas”, em muitos casos, são apenas reflexo de serem na verdade incompreensíveis, pois não querem dizer absolutamente nada.

Os leitores precisam entender que a prolixidade não significa bom conteúdo, ou que a complexidade não quer dizer lógica. Precisam saber ainda que a erudição e abuso de citações não garantem o embasamento do argumento, e que o apelo à autoridade costuma ser um desvio para quem não sabe refutar concretamente um determinado ponto. Um debate intelectualmente honesto precisa contar com razoável grau de objetividade. Caso contrário, muito provavelmente estaremos diante de um embusteiro.

Deixo a conclusão para Isaiah Berlin, que em seu livro A Força das Idéias, ataca basicamente o mesmo ponto exposto aqui: "Uma retórica pretensiosa, uma obscuridade ou imprecisão deliberada ou compulsiva, uma arenga metafísica recheada de alusões irrelevantes ou desorientadoras a teorias científicas ou filosóficas (na melhor das hipóteses) mal compreendidas ou a nomes famosos, é um expediente antigo, mas no presente particularmente predominante, para ocultar a pobreza de pensamento ou a confusão, e às vezes perigosamente próximo da vigarice."

.:Sobre o Autor
Rodrigo Constantino é economista pela PUC-RJ, com MBA de Finanças pelo IBMEC. Trabalha no mercado financeiro desde 1997. É autor dos livros "Prisioneiros da Liberdade" e "Estrela Cadente: As Contradições e Trapalhadas do PT", ambos pela editora Soler.

AQUELES DIAS, OU SERÃO ESTES? - por Saramar

Minha mãe me conta que, quando era jovem, havia "aqueles dias" aliás, tema de campanha publicitária. E fico pensando como eram bons aqueles tempos em que campanhas publicitárias tratavam de assuntos tão delicados e femininos quanto "aqueles dias". Invejo minha mãe.

"Naqueles dias", tudo se interrompia. A mocinha geralmente ficava em casa, meio envergonhada. Não saía porque "todos poderiam perceber que estava naqueles dias". Era um período de quase recolhimento em que quase nada acontecia principalmente por um certo decoro fisiológico, se me permitem o trocadilho.

Depois da minha lição diária lá no Azimuth percebi que as autoridades brasileiras estão "naqueles dias". Ninguém faz nada. Tudo está interrompido.

O presidente não governa (ele sempre esteve naqueles dias, desde o início do governo), só vive em palanques, mas nada a ver com eleições. Ele ainda não sabe. Ele realmente não sabe de nada. Mas, aproveita "aqueles dias" para visitar companheiros pobres e esquecidos nos confins do país, desde que estejam no mesmo trajeto dos buracos em que despeja inutilmente, milhares de reais.

O Congresso Nacional também está "naqueles dias", principalmente porque depois de tantos dias de convocação extraordinária remunerada em dobro, ninguém é de ferro para ir voltando assim, tão aceleradamente. Há que passar por um fase adaptativa de retorno ao trabalho, ou "aos trabalhos", como eles dizem. Por enquanto, vão permanecendo "naqueles dias". Estão se "guardando pra quando o carnaval passar".

O Judiciário também está "naqueles dias". Afinal, a Constituição não proíbe diferenças entre os cidadãos? Por que eles os juízes não poderiam seguir o costume, fonte do direito? Ninguém pode contestar o costume dos brasileiros de ficar uns 60 dias "naqueles dias". Mas, não pensem que "aqueles dias" dos juízes é semelhante aos dos mortais. Nem poderia, uma vez que seres tão excelsos, têm obrigações intrínsecas à sua estatura. "Aqueles dias" dos meretíssimos são utilizados de outra forma. Estão cuidando da manutenção das esposas, amantes, filhos, genros, noras, cunhadas, sobrinhos, netos e outros nos seus dignos empregos.

Assim, amigos, enquanto os dirigentes do país estão "naqueles dias", nós, os palhaços, os otários, os ingênuos, os indiferentes e os indignados estamos vivendo os nossos dias de total abandono. Até quando?

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