29 de abr. de 2008

Sobre a popularidade de Lula


Diogo Mainardi

Timothy Mulholland, um brasileiro



Ele veio para o Brasil com apenas dois anos e, a despeito do nome do fato de ter nascido na Califórnia, é um brasileiro como cada um de nós, naturalizado em 1996. Aliás, a partir de seus últimos feitos, o Magnífico Reitor é tão brasileiro quanto o Presidente da República... Timothy é Doutor pela Universidade de Pittsburgh e está na UnB desde 1976, quando ajudou na implantação do curso de mestrado em psicologia.. Timothy era um brasileiro no poder e, como todo brasileiro no poder, adorava gastar o dinheiro dos outros, no caso os contribuintes "naturais" do Brasil. Foi denunciado por desvio de verbas para pesquisa acadêmica. O dinheiro – R$ 470 mil - foi usado para decorar, com móveis de luxo, o apartamento funcional do reitor. Entre os itens, havia uma lixeira de mil reais. Uma lixeira, hum..., o que tem mesmo a ver a esquerda brasileira com o lixo? E o cara é mestre em psicologia. Hum... Ele se "licenciou" e depois renunciou para que os estudantes – também brasileiros – suspendessem a ocupação do prédio da reitoria, depois que todos os demais brasileiros deste país descobriram a gastança. Segundo o movimento, a assembléia reuniu 1.600 alunos (desocupados, segundo Lula, o Natural do Brasil). A UnB não soube dizer o total de participantes e a PM não estava presente. Claro que não estava presente. Não se faz mais presidente da republica nem reitor nem estudante universitário como antigamente neste país. Presidente gasta demais, reitor gasta demais e estudante, em vez de protestar como protestava antigamente, agora fica arrumando bode expiatório. Timothy Mulholland é um gastador como Lula. Ambos torram dinheiro público das formas mais escabrosas. Timothy e Lula são a prova cabal de que diploma não é requisito nem para a prudência nem para a imprudência. Eles são absolutamente iguais, um dos EUA, outro de Garanhuns. Quanto aos estudantes brasileiros, outra triste distorção. Antigamente, iam às ruas para protestar contra a corrupção de outros que não os seus ídolos. Bradavam palavras de ordem contra a violência, a repressão, as mazelas brasileiras e a corrupção. Agora gritam "Timothy, go home!". Tornaram-se mais sofisticados, mas nem solidários entre eles são mais. Não se viu movimentos em universidades brasileiras de apoio aos colegas brasilienses. Eles hoje são incapazes até mesmo de gerar solidariedade entre si. São hoje um bando de "caras-desbotadas". "Coração de estudante, há que se cuidar da vida", como cantava Milton Nascimento, hoje discreto como Caetano, distante como Gil, inerte como Chico, todos cansados e mais ricos, como Jaguar e Ziraldo. "Há que se cuidar do mundo". Mas os nossos estudantes, cada vez mais parecidos com Da Silvas e Mulhollands, preferem mesmo é "tomar conta da amizade".

Robson Crusoé e a Liberdade

27 de abr. de 2008

Lya Luft - Ponto de vista, Veja

Lya Luft, escritora. Menina quase
morta, sozinha


"Não a vi abraçada, levada no colo por alguém
desesperado que tentasse lhe devolver a vida,
que a cobrisse de beijos, que a regasse de lágrimas.
Estava ali deitada, a criança indefesa, como um bicho
atropelado com o qual ninguém sabe o que fazer
"

Como grande parte do país, acompanho obsessivamente o caso da menininha de 5 anos brutalmente maltratada, espancada, jogada no chão, esganada, e finalmente atirada pela janela como um gato morto. Corrijo: nenhum de nós jogaria pela janela um gato morto. Talvez um rato: se encontrasse um rato morto em minha casa, num gesto insensato eu o pegaria pela ponta do rabo e o jogaria pela janela (a minha também fica num 6º andar). Seria, além disso, mal-educado: não se jogam coisas pela janela de apartamentos. Nem menininhas, mortas ou vivas.

Escrevo aqui com o maior cuidado: não devo afirmar que pai e madrasta trucidaram a menina e se livraram dela como se fosse um pedaço de lixo. Para isso temos a polícia, num trabalho de primeiríssimo mundo. Então: alguém a espancou, atirou-a ao chão, talvez lhe quebrando ossinhos da bacia, e a esganou por três minutos. O termo "esganar" é meio antigo: como será apertar por três minutos o pescoço de uma criança de 5 para 6 anos? É difícil entender o tempo de agonia e dor de três minutos. Quem faz fisioterapia eventualmente é instruído: contraia esse músculo por vinte segundos. Tentem contar os 180 segundos que compõem três minutos de pavor.

Essa história terá sua explicação em breve. Mas quem cometeu essa bestialidade terá seu merecido castigo neste país das impunidades e das leis atrasadas e frouxas? Recentemente, aqui perto, um menino de 15 anos confessou na maior frieza o assassinato de dezessete pessoas. Quinze deles já foram confirmados. "Matei, sim." Talvez tenha acrescentado, num dar de ombros: "E daí?". Por ser menor de idade, como tantos assassinos iguais a ele, foi para uma dessas instituições de ressocialização nas quais não acredito para esses casos pavorosos. Logo estará livre para reiniciar com alegria sua atividade de serial killer. E, se perguntarem a razão, talvez diga como um jovem criminoso que assaltou um amigo meu: "Nada. Hoje saí a fim de matar alguém". Nossas leis vão finalmente, segundo entendi nas palavras do novo presidente do Supremo, ser realistas, graves, portanto justas? Eu quero mais: pena de morte para casos como os que citei, independentemente da idade. Pelo menos prisão perpétua, sem misericórdia. Quem cometeu o horrendo crime de São Paulo deve apodrecer numa prisão pelo resto de sua miserável vida.

A menininha atirada no minúsculo jardim de seu edifício, ainda viva, ficou ali por muito mais que três minutos. Imagino sua alminha atônita e assombrada, no escuro. Ainda presa ao corpo, ainda presente. Na loucura que o caso provoca, porque ela poderia ser nossa criança sobre todas as coisas amada, o que mais me atormenta é a sua solidão. Não a vi, em nenhum momento, abraçada, levada no colo por alguém desesperado que tentasse lhe devolver a vida que se esvaía, que a cobrisse de beijos, que a regasse de lágrimas, que a carregasse por aí gritando em agonia e pedindo ajuda. O que teria feito a pobre mãe se estivesse presente.

Estava ali deitada, a criança indefesa, como um bicho atropelado com o qual ninguém sabe o que fazer. Na nossa sociedade, em que as sombras mais escuras do nosso lado animal andam vivas e ativas, lá ficou, por um tempo interminável, caída, quebrada, arrebentada, e viva, a menina quase morta. Sozinha.

25 de abr. de 2008

Carta ao General Heleno


Resumo: O correto é que, paulatinamente, os índios brasileiros tenham acesso à civilização e participem ativamente de toda a vida social, econômica e política, de modo a se tornarem proeminentes figuras nacionais.

© 2008 MidiaSemMascara.org

Exmo. Sr. general-de-exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira,
Comandante Militar da Amazônia

Gostaria de cumprimentá-lo por sua dura crítica à política indígena atual, que concede latifúndios a uns poucos milhares de índios, em detrimento dos milhões de não-índios do Brasil, ou seja, da maioria dos brasileiros. Afinal, não há motivo nenhum para se conceder um Portugal inteiro a cerca de 15 mil índios existentes na reserva de Raposa Serra do Sol, assim como foi entregue um outro inteiro Portugal aos índios ianomâmis, inviabilizando completamente o desenvolvimento econômico do Estado de Roraima. Com essa aberração, criaram-se os dois maiores latifúndios do planeta. Não há necessidade de se conceder tanta terra para tão poucas pessoas. Depois de 500 anos, está mais do que na hora de os índios amazônicos aprenderem a plantar feijão, arroz e milho, e criar umas galinhas para seu próprio sustento. Petrificá-los na Idade da Pedra, com arco e flecha nas mãos, como o faz a atual política indigenista, é um ato tão vergonhoso quanto os antigos bantustões existentes na África do Sul, onde negros eram confinados em reservas e de lá só podiam sair com autorização do governo do Apartheid. O correto é que, paulatinamente, os índios brasileiros tenham acesso à civilização e participem ativamente de toda a vida social, econômica e política, de modo a se tornarem proeminentes figuras nacionais.

Louvo também, general Heleno, sua defesa instransigente da Amazônia, de sua integridade física que deve ter seu processo de conquista fiscalizado pelo Governo Federal, não tolhido por este, como é o caso dos rizicultuores de Roraima que há décadas promovem o desenvolvimento daquele estado e agora estão prestes a ser expulsos pelos capitães-do-mato da Polícia Federal como se fossem perigosos delinqüentes. Há necessidade de se ter a presença de maior número de soldados na área, para sua integração e defesa. "Integrar, para não entregar" é o lema do Exército e de toda a nação brasileira. Infelizmente, o governo federal não concorda com esse lema e é entreguista, na medida em que dá mais apoio às ONGs estrangeiras que lá prosperam como praga do que aos poucos militares que lá servem nas guarnições de fronteira. A maioria das ONGs que lá operam estão a serviço de interesses alienígenas, não dos brasileiros e, por isso, deveriam ser imediatamente expulsas da área.

Não tenho dúvida nenhuma, general Heleno, que todos os militares brasileiros, das três Forças Armadas, da ativa e da reserva, apóiam sua firme posição frente às questões amazônicas, assim como todos os brasileiros que ainda não estão comprometidos com a atual República Sindicalista (a “esquerda escocesa”, do uísque, ao qual o senhor se referiu com muita propriedade), de molde fascicomunista, iniciada no governo Collor, ampliada no governo FHC e exacerbada no governo Lula, que dá continuidade ao processo de criação de bantustões por todo o território nacional - os famigerados guetos indígenas, quilombolas e do MST -, dentro dos moldes stalinistas, em que a terra não pertence ao seu ocupante mas é destinada ao uso coletivo de sua população, como os kholkozes soviéticos de triste memória, em que o Leviatã estatal é seu único proprietário. Infelizmente, estamos caminhando rapidamente para a instauração do “Brasilistão” - uma mistura de Brasil com Afeganistão, em que prosperam grupos tribais com seus privilégios e suas leis próprias, não uma sociedade nacional organizada, existente em todos os países democráticos modernos.

A respeito dos bantustões brasileiros, sugiro a Vossa Excelência a leitura de Brasilistão: Os bantustões dos índios, quilombolas e MST, um texto de minha autoria.

A respeito dos quilombolas, sugiro Bantustolas: Os bantustões dos quilombolas, o MST dos negros.

Atenciosamente,

Félix Maier
Capitão QAO R/1

24 de abr. de 2008

Mestrados, Doutorados e porcarias afins


Nesta atividade diária da crônica, recebo tanto afagos como pauladas. Estas talvez sejam as mais. Mas não me desagradam. Vibro quando um leitor me insulta. É sinal que o deixei sem argumentos. Não nutro, bem entendido, “o amor da santa abjeção”, muito apreciado por são Sisoés, um dos santos anacoretas do deserto do século IV d.C., cuja maior aspiração era “ser desprezado por todos”. Meu grau de santidade não chega a tanto.

Se as pauladas não me desagradam, é com sumo prazer que recebo certas homenagens. Me agrada muito saber que esclareci melhor as dúvidas de um leitor, que o ajudei a tomar uma decisão, que fiz seu dia feliz. Esta é minha melhor paga. Nada gratifica tanto um cronista como tomar ciência de que o que escreve não caiu em terreno árido. Assim sendo, ontem foi um dia que me fez bem. É que recebi de uma leitora o mail infra. Este mal-estar com a pós-graduação não vem de hoje. Já aconselhei orientandos a abandonar mestrado, o que lhes foi muito saudável.

A pós-graduação, hoje, mais que uma opção acadêmica, é um paliativo ao desemprego. Que, conforme a área, acaba conduzindo a um futuro também sem emprego. Tenho uma amiga aqui em São Paulo, jovem, bonita, sensível, que está se arrancando os cabelos por ter feito um mestrado em Letras na USP. Não está vendo perspectiva alguma de emprego pela frente. Por inércia, entrou em regime de doutorado. Sabe que terá mais quatro ou cinco anos de purgatório pela frente e tem certeza que depois da purgação são será o céu que a espera.

O título que dei a esta postagem é o que foi dado pela leitora à sua mensagem.

Olá, Janer.

Apesar de acompanhar sua página há pouco tempo, devo dizer que você, involuntariamente, me ajudou a sair de uma enrascada tremenda: depois de um ano e meio de sofrimento sem sentido, finalmente abandonei meu mestrado. Discussões estéreis, excesso de marxismo, briga de egos entre professores, enfim, vi que estava perdendo minha preciosa juventude para escrever uma dissertação que:

1º - ninguém ia ler;
2º - não ia me auxiliar a conseguir um emprego melhor;
3º -só ia ajudar meu orientador a aumentar seu próprio Currículo Lattes.

Creio que você ainda não deve ter percebido como a situação piora a cada dia. Enquanto cursava o mestrado, vi doutorando atrasando a entrega de sua tese pois, quando finalmente a defendesse, perderia a bolsa e ficaria desempregado (aliás, creio que essa é a nova função do mestrado e do doutorado: absorver a mão-de-obra que o mercado de trabalho – muito mais racional, é claro – não absorve. Digo que o mercado de trabalho é mais racional porque nenhum empregador seria louco de pagar para alguém ficar escrevendo um calhamaço que carece de utilidade prática... só o generoso Estado faz isso, com dinheiro alheio, é claro).

Também cansei de ver doutores, já saídos do doutorado e, obviamente, desempregados, freqüentando cursinhos preparatórios para concursos públicos que exigem apenas o NÍVEL MÉDIO!!! Isso mesmo, doutores se preparando para vagas de 2º grau!! E mais: não sei se você já percebeu, mas, atualmente, nos concursos públicos, já existem provas de títulos (e não são só os concursos do magistério, concursos em geral!). Pois é, ter títulos garante ao candidato a vagas de 2º grau alguns pontinhos que farão aumentar sua nota de classificação!!! O Estado, percebendo que, mesmo depois de dar dinheiro para o esperto fazer mestrado e doutorado, não o ajudava a conseguir emprego, resolveu ele mesmo dar emprego aos calhordas.

Recebi essa semana, no local onde trabalho, uma carta de recomendação onde a ‘recomendante’ – orientadora de doutorado da ‘recomendada’ – implorava para que concedêssemos emprego a sua protegida, que passa por ‘muitas necessidades’. Ora, o que tem a empresa a ver com isso? Empresa privada virou sociedade filantrópica? Ela fez doutorado porque quis, numa área - humanas - que, sabidamente, gera desempregados (era doutoranda em literatura crítica. Desculpe minha ignorância: o que faz esse profissional?). Enfim, meu chefe nem chegou na metade da carta: mandou descartá-la, o profissional não tem o perfil da empresa...

Você, mesmo sem ser profeta, acertou sua previsão: dentro em pouco, teremos doutores dirigindo táxis, sendo porteiros de condomínios, caixas de supermercados...

Um abraço, Christianne.

Deplorável sucessão de escândalos

por Jarbas Passarinho no JB Online

Os escândalos neste governo têm sido tão irritantemente sucessivos que chega a ser surpresa não encontrar, na mídia, o relato do escândalo do dia. Desde a vergonhosa troca pelos deputados venais, dos votos pelo dinheiro a favor do governo, apelidada de mensalão, não param novas revelações constrangedoras e revoltantes. Chamamos a esse mar de corrupção de inerentes à democracia.

O primoroso Giovanni Sartori, em sua Democratic Theory, a respeito da confusão das definições de democracia, uma boutade de Eliot, em que ele, perplexo, diz que quando um termo se tornou universalmente santificado, como o é a democracia, pergunta-se se significa algo concreto, em face da multiplicação de significados atribuídos à democracia. Aduz Sartori: "Discussões acerca de democracia, argumentos pró e contra, são intelectualmente inócuos, porque não sabemos acerca do que estamos falando". Logo, a nossa democracia está incluída nessa confusão generalizada digna da Torre de Babel.

O presidente Lula se empenha de corpo e alma para proteger sua ministra da Casa Civil, no mais recente escândalo, o do dossiê, seqüela dos cartões corporativos em que a burocracia, que lembra a Nomenklatura soviética, pelos privilégios, um deles gastar o dinheiro de todos nós, os contribuintes. Ele faz tudo, junto aos seus súditos da base aliada, para evitar que ela tenha de explicar – se puder – o porquê da seleção do banco de dados o que consta de gastos realizados por FH e sua digna esposa, que um jornal especifica: "vinhos caros, comidas finas, fraldas e óculos", pagos também por meio de cartões corporativos.

Trata-se de uma arma de intimidação à oposição com assento na CPI que pretende pôr a nu o excesso de gastos do gverno atual. Outrora, chamava-se a isso chantagem, mas é um termo muito forte para invocar quando visando diretamente o mais alto magistrado da nação. Vale o cacófato, porque danação é o que expressa nosso estado de alma, ao ver que tipo de democracia é este e que vivemos.

A respeitada ministra Dilma afirma peremptoriamente que, no amplo âmbito de seu ministério, ninguém é culpado da existência do dossiê, (uma palavra que lembra ACM com os seus). A seu ver trata-se de "um vazamento de dados sigilosos". À falta de um Sherlock Holmes, serve-se de uma auditoria de que fica encarregado o Instituto de Tecnologia de Informação para descobrir o autor ou autores do vazamento. Estranho, porém, é que esse instituto é diretamente subordinado a ela e já parte da premissa da palavra da ministra de que os seus subordinados estão livres de suspeita. De mim, seria bom o povo, da Bolsa Família ou não, saber como se faz a farra dos cartões.

Quanto ao vazamento, pouco importa. Pouca diferença faz se o abuso é deste ou do governo anterior. O essencial é desvendar-se quem e como se gasta o dinheiro público, desbragadamente, depravando-se um instrumento, em si, adequado a governo sério, onde a senhora Matilde Ribeiro, quando a cargo do ministério da Igualdade Racial não exageraria seu encargo a verificar nos free shops se essa igualdade está sendo lesada. Depois de flagrada, pede demissão, e o presidente a elogia fraternalmente e encontra a razão da denúncia: foi preconceito racial. Só que a Controladoria-Geral da União, ao inventariar despesas gerais feitas com cartões, mostra que dona Matilde é a terceira na lista dos mais gastadores.

Outro ministro, posto que não seja isso sua missão oficial, vai ao Rio de Janeiro, para acompanhar os Jogos Pan-Americanos e assistir os atletas na companhia de um ministro estrangeiro, que nos cabia homenagear. Para isso, leva a família toda, passagens, hotel de cinco estrelas e restaurante fino, para fazer jus à nossa tradição de bons hospedeiros.

Lula, que ainda não esqueceu a vaia inesperada que lhe secou a voz de sua habitual logomaquia, acha o procedimento do ministro normal. Já o controlador-geral vangloria-se de haver apurado centenas de casos, "na maioria improcedente o abuso" e diz: "A ex-ministra da Igualdade Racial, o da Pesca e o do Esporte até ressarciram o erário". O grifo do pronome é meu, porque ele soa como um elogio. Essa é a nossa democracia e é melhor seguir o adágio de Sartori...

23 de abr. de 2008

O Redespertar de uma Consciência


Convém não ter ilusões. Apesar do que se diga em Brasília, a fala do General Heleno no Clube Militar não foi manifestação estritamente pessoal. Que nos círculos governamentais assim se pense e diga à imprensa compreende-se; na realidade, teme-se — e daí se insistir no caráter pessoal da fala do Comandante Militar da Amazônia — que, ao dizer que o Exército serve o Estado e não ao Governo, o General Heleno tenha sido o porta-voz de amplos círculos militares, a começar pelo Alto Comando do Exército, que julgam ter chegado a hora de o Exército (e, por sua voz, as Forças Armadas) recuperarem o papel que a História fez dele com justiça: partícipe das decisões que dizem respeito ao Estado.

O Comandante Militar da Amazônia deixou isso bem claro, quando disse que se oferecia para discutir com todos a política indigenista do Governo Lula, vale dizer, a avidez em demarcar terras e em criar as condições para que mais dia menos dia as “nações” indígenas reclamem sua autodeterminação e a criação de Estados indígenas, parte integrante da República Federativa do Brasil, como os 27 Estados que mandam representantes ao Senado... Isso para não dizer que esses “Estados indígenas” poderão, à maneira de Kosovo, reclamar independência e assento na ONU. Afinal, o Brasil não votou a favor da Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada na ONU contra o voto dos Estados Unidos, da Austrália e da Nova Zelândia, também países com minorias indígenas, que deixaram bem claro que o documento compromete a sua soberania? Para o delegado brasileiro, seguramente seguindo as instruções do Itamarati, a soberania brasileira (seja o que for que este entenda por isso) nunca esteve em risco. O Exército não foi consultado sobre esse voto comprometedor. Aliás, convém também lembrar que, quando o Presidente Collor demarcou a reserva Ianomâmi, o General Heleno, que representava o Exército na comissão encarregada de resolver a questão, foi contra a demarcação de terras contínuas, temendo exatamente por arranhões na soberania brasileira.

A fala do General Heleno — e quem pôde ver, na TV Globo, alguns minutos dela, terá observado que ele estava emocionado — tem dois sentidos sobre os quais é preciso atentar, no início do processo de fermentação de uma crise que não é político-militar (embora tenha aí seus aspectos), mas que é militar-institucional, fundamentalmente.

O primeiro sentido é o que salta aos olhos: o Exército teme que a ação governamental conduza, mais dia, menos dia, a que a soberania brasileira seja atingida. O assalto irá verificar-se sob amparo da ONU, docemente constrangida pela ação da miríade de ONGs que insistem em defender os direitos dos povos indígenas, como se brasileiros esses povos não fossem, e dos Governos estrangeiros que reclamam o Direito de Ingerência na Amazônia para salvar a humanidade...

O segundo é mais importante: o Exército reclama efetiva participação na elaboração das políticas que comprometem a soberania. Não se trata apenas de dizer que a função constitucional do Exército é defender as fronteiras. A Constituição não fala em “soberania”, mas o General Heleno sabe (e o Alto Comando do Exército assim pensa) que o que está em jogo, quando se insiste em fazer que terras indígenas sejam contínuas, é uma ação governamental que escancara as portas para que as tribos remanescentes se constituam “nações” e, depois que assim elas sejam reconhecidas, constituam “Estados”. O público em geral pode não ter refletido sobre o que significa o fato de um deputado apresentar projeto de lei concedendo passaporte a índios. O Exército meditou nisso e em outras providências e tirou delas as conseqüências. O conflito em torno da reserva Raposa do Sol apenas deu ao General Heleno, secundado, no Clube Militar, pelo aplauso do General Comandante do Comando Militar do Leste, a oportunidade de dizer o que o Exército pensa.

É preciso completar o raciocínio: não se trata apenas de permitir ao Exército participar da elaboração das políticas; trata-se de fazer que a voz do Exército não seja sufocada, em comissões, pela de tantos civis quantos sejam necessários para dar, às decisões que atingem aquilo que se sabe ser a soberania (para não dizer o bom senso), o “caráter democrático” que o mundo de hoje (?) reclama.

Há um outro sentido nas frases do General Heleno: tomou posição contra a palavra e a voz, para não dizer os atos, da esquerda que — à la Nelson Rodrigues, que fala em “padres de passeata” — chamou de “esquerda escocesa”.

A intervenção do General Heleno na mesa-redonda organizada pelo Clube Militar foi o momento publicamente ostensivo (com perdão da redundância) da retomada de consciência do Exército de que ele serve o Estado e não Governos; e de que, sabedor de sua missão e função moderadora (controladora) das paixões cosmopolitas daqueles que nos governam, quer decidir. Aliás, é importante notar que não houve reação governamental às falas do General Heleno na TV Bandeirantes e na Fiesp, quando externou posições que teriam exigido igualmente, à luz dos critérios do Planalto, a interpelação do chefe de Estado, que apenas se sentiu desagradado com a repercussão (isto sim!) da fala no Clube Militar.

Escrevo antes que se saiba o desfecho desse "combate" — pois é disso que se trata. De um "combate" e não de um “entrevero" particular. É provável que, para manter intacto o “princípio do chefe”, o Ministro Jobim decida demitir o General Heleno do Comando da Amazônia. Poderá fazê-lo, seguindo o RDE. Mas não lhe poderá retirar as quatro estrelas, nem proibi-lo de ter assento no Alto Comando, ainda que em função meramente burocrática. Poderá também seguir o exemplo dado pelo Presidente Goulart, que agregou o General Cordeiro de Farias a função nenhuma, mas não pôde retirar-lhe a condição de General da Ativa.

A consciência do velho e sempiterno Exército — o de 1840 e de 1889 — finalmente redespertou para o público pensante. Resta saber o que o Ministro da Defesa, especialista em incluir ou rever artigos de uma Constituição a ser promulgada, fará para salvar a face de seu chefe, e salvar a face da chefe da Casa Civil, que, nos tempos em que os mosqueteiros tinham honra e Luis XIII governava por direito divino, seria confundida com Richelieu.

O alerta do titular do STF


O problema é de “padrão civilizatório”. Poucas vezes um observador da cena política brasileira, figura pública ainda por cima, conseguiu sintetizar em duas palavras carregadas de significado a essência dos desvios de conduta que se acumulam na era Lula: mensalão, aloprados e dossiês, para citar apenas os mais gritantes. O autor da expressão é o jurista Gilmar Ferreira Mendes, que assume hoje, por dois anos, a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), no lugar da ministra Ellen Gracie. “Acredito”, disse ele em entrevista ao Estado, publicada na edição de segunda-feira, “que é preciso trazer a luta política para outro padrão civilizatório.”

A entrevista decerto representa um dos mais fundamentados convites à reflexão sobre a atualidade nacional abertos ao grande público - pois outro não é o sentido dos seus argumentos nem devem eles ser entendidos como mero movimento numa batalha política subalterna. O ministro respalda, em última análise, a percepção dos que ainda não sucumbiram ao rolo compressor do lulismo, segundo a qual a mentalidade da nova elite dirigente legitima a apropriação do aparelho de Estado para a produção em série de atos que põem em risco os avanços alcançados pelo País, no pré-Lula, para a consolidação do sistema democrático. É o credo confortável de que os fins justificam os meios - sendo o fim primeiro, naturalmente, a permanência no poder.

O novo titular do STF recorre a um conceito clássico da ciência política - patrimonialismo - usualmente aplicado às práticas das velhas caciquias quando se aboletam em qualquer instância de governo para nele se manter indefinidamente. À primeira vista, poderia parecer paradoxal que o PT, tendo chegado ao poder envolto na bandeira da moralização dos costumes políticos - como condição necessária ao combate efetivo à miséria e à desigualdade -, reproduza os comportamentos dos quais apregoava ser a antítese. Mas é patrimonialismo puro, por exemplo, acionar a estrutura do Estado para a confecção do que não passa de um instrumento de coação política, o preparo de um rol seleto de gastos palacianos pagos com cartões corporativos na gestão Fernando Henrique.

“Eu acho que fala mal do nosso processo civilizatório a cultura do dossiê, da chantagem, do constrangimento”, julga Gilmar Mendes. “Revela um patrimonialismo porque as pessoas têm a noção de que essas informações, às quais tiveram acesso apenas por serem funcionárias públicas, lhes pertencem, pertencem ao seu partido ou à sua causa e, portanto, podem fazer o uso que bem entenderem disso.” Se isso não é privatizar o poder, fica difícil imaginar o que seja. A questão de fundo, de todo modo, é a dos efeitos potenciais dessa perversão para a democracia. Já não se trata, no caso, da preservação dos direitos e liberdades fundamentais que lhe são inerentes.

Se a ordem democrática é a da conquista do governo mediante eleições livres, competitivas e regulares, assegurada a plena manifestação do pensamento, é também a do respeito, por parte dos vitoriosos, à integridade da coisa pública. É o que respalda a convicção do jurista de que “a tentativa de aparelhamento do aparato estatal não é uma atitude democrática”. Mendes exemplifica: “Eu não posso ter um procurador a meu serviço, não posso ter um agente da Polícia Federal a meu serviço enquanto entidade partidária, não posso induzir um agente da Receita a fazer a investigação que quero contra o meu inimigo.”

Eis por que, apropriadamente, ele aconselha “os nossos muitos dirigentes que se dizem fãs de Lenin, Trotski” a ler Karl Popper e Norberto Bobbio, os grandes pensadores da liberal-democracia. Pode esquecer. A “cultura do dossiê” não se voltará contra o lulismo enquanto as coisas continuarem a ser o que são. É ominoso constatar, por exemplo, que, segundo pesquisas de opinião, o escândalo da vez teria até servido para dar à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, apontada como genitora da operação, mais do que obteve, presumivelmente, nos “comícios” (palavra dela) em que o presidente a apresenta como “mãe do PAC”: visibilidade e simpatia.

A propósito, soa definitivo o comentário que se atribui ao governador paulista José Serra: “O povo não sabe o que é dossiê. Acha que é um doce.

O quilombo do mundo


"O Supremo Tribunal Federal está julgando a constitucionalidade das leis que instituíram as cotas raciais no Brasil. É uma chance para acabar de vez com o quilombolismo retardatário que se entrincheirou no matagal ideológico das universidades brasileiras"

Barack Obama, num debate eleitoral, na última quarta-feira, respondendo a uma pergunta sobre as cotas raciais: – Se olharem minhas filhas, Malia e Sasha, e disserem que elas estão numa situação bastante confortável, então (raça) não deveria ser um fator. Por outro lado, se houver um jovem branco que trabalhe, que se esforce, e que tenha superado grandes dificuldades, isso é algo que deveria ser levado em consideração. Barack Obama costuma mudar o discurso de acordo com a platéia. O que ele disse a uma platéia branca em Filadélfia pode perfeitamente ser desmentido daqui a uma semana, diante de uma platéia negra numa igrejinha batista, no interior da Carolina do Norte. Mas o fato é que ele quebrou um tabu e defendeu abertamente o fim das cotas raciais. O poder público, segundo ele, tem de ajudar os pobres em geral, conforme os méritos de cada um, e não os negros em particular. O Brasil macaqueou o sistema de cotas raciais dos Estados Unidos. E macaqueou tarde, num momento em que o próprio candidato negro à Casa Branca já admite aboli-lo. O Supremo Tribunal Federal está julgando a constitucionalidade das leis que instituíram as cotas raciais no Brasil. É uma chance para acabar de vez com o quilombolismo retardatário que se entrincheirou no matagal ideológico das universidades brasileiras. O ministro Carlos Ayres Britto deu um voto a favor do sistema de cotas raciais, argumentando o seguinte: "É pelo combate a situações de desigualdade que se concretiza o valor da igualdade". Isso se aplicaria se a desigualdade se originasse na universidade. A gente sabe que a realidade é outra. A gente sabe que a desigualdade nasce no ensino básico, e é lá que ela tem de ser combatida. A má qualidade da escola pública cria uma casta de párias analfabetos, os intocáveis da tabuada, dalits brancos e negros, que nunca poderão se igualar aos que estudam na escola particular. É desolador ter de repetir sempre a mesma lengalenga. E a lengalenga é: o Brasil gasta dinheiro de mais na universidade e dinheiro de menos no ensino básico. Se é para macaquear os Estados Unidos, temos de macaqueá-los por inteiro. A universidade pública americana cobra mensalidade dos alunos. Quem pode pagar, paga. Os outros se arranjam com bolsas, empréstimos ou bicos. Se o Brasil fizesse o mesmo, cobrando mensalidade na universidade pública, sobraria mais dinheiro para investir onde importa: no bê-á-bá. O sistema de cotas raciais foi rapidamente introduzido na universidade brasileira, beneficiando-se de um ambiente que sempre soube acolher as idéias mais regressivas, como o petismo bandoleiro e o parasitismo estatal getulista. O Brasil se refugiou no passado. O Brasil é o quilombo do mundo.

A cabra-cega e o partido sectário

por Rosângela Bittar, no Valor Econômico

Registra-se uma mudança essencial na ação do Movimento Sem Terra nos últimos dois anos que leva à convicção de que o MST está se transformando em partido político. Talvez isto não tenha se oficializado ainda pelas divisões internas e temor generalizado das perdas de bandeira, verbas, poder, base, por sinal presentes nas perspectivas do movimento.

O MST ocupa ferrovias, rodovias, invade empresas privadas e bancos, o tema do combate às multinacionais domina o discurso das lideranças, tudo isto já está inteiramente dissociado do seu objetivo inicial, sua razão de ser: a reforma agrária. A terra deixou de ser o foco dos sem-terra.

íntegra no Diego Casagrande

19 de abr. de 2008

A verdade sobre Lula

Nós e as FARC


A patética foto de Ingrid Betancourt, prisioneira das Farc, possivelmente correu o mundo. É o retrato da dor, da profunda solidão, do sofrimento infindo que essa mulher padece há seis anos nas mãos dos impiedosos e sanguinários terroristas e narcotraficantes das Forças Revolucionárias da Colômbia – Farc. E aquela face transfigurada pelo padecimento tornou-se emblemática de tantos que, como ela, foram arrancados do convívio familiar e amargam no cárcere asfixiante e insalubre da selva a desumanidade dos que, a principio se investindo de guardiões do paraíso na terra se tornaram os carrascos do inferno.

Betancourt não sofre sozinha as inenarráveis humilhações que um ser humano é capaz de suportar antes de enlouquecer. Aproximadamente 700 pessoas dormem acorrentadas em árvores, não recebem tratamento médico necessário, são obrigadas a caminhar pela selva mesmo sem condições físicas. No cativeiro das Farc onde a misericórdia não existe prolifera a mesma essência maléfica dos campos de concentração, pois em tal miserável sobrevivência homens e mulheres, além dos agravos físicos, são despidos de sua dignidade.

As Farc seqüestram, torturam, matam os pobres que não têm dinheiro para pagar resgate, mantêm entre centenas de prisioneiros alguns que, tendo relevância política podem funcionar como moeda de barganha para libertar os companheiros capturados pelo Estado Colombiano que tem à frente o presidente Álvaro Uribe, um estadista, algo raro na América Latina.

Há pouco tempo uma missão médica francesa, apoiada pela Espanha é pela Suíça esteve na Colômbia na tentativa de socorrer e resgatar Ingrid Betancourt e outros três reféns cuja saúde precária inspira cuidados. Em vão o presidente Álvaro Uribe anunciou a suspensão das atividades militares no sudeste do país para possibilitar a ação da missão médica. Em vão o presidente francês, Nicolas Sarkozy dirigiu apelo ao chefe das Farc, Manoel Marulanda, para que libertasse a senadora Ingrid Betancourt, seqüestrada em 23 de fevereiro de 2002, em plena campanha para a presidência de República.

Todavia é necessário, é urgente, é imprescindível que a França retome seu objetivo, insista nele, persista no afã de salvar Ingrid e quantas vítimas puder das garras de seus algozes.

Aliás, não só a França, a Espanha e a Suíça devem se empenhar nessa meta. A questão é humanitária e não pertence a esse ou aquele país. Estranhamente os países sul-americanos permanecem indiferentes diante do horror perpetrado em sua vizinhança. Parece que o entendimento das Farc como sendo de esquerda dá glamour ao terrorismo. Exemplo disso é o presidente Lula da Silva, companheiro das Farc no Foro de São Paulo, que se negou a classificar os bestiais guerrilheiros e narcotraficantes como terroristas, conforme apelo feito pelo presidente Uribe. Talvez Lula prefira para as Farc o falso rótulo de “forças insurgentes”. Assim estaria mais uma vez de acordo com a vontade de outro de seus maiores companheiros, Hugo Chávez.

Silenciaram os “bons revolucionários” latino-americanos enquanto Chávez, o ditador de fato da Venezuela, simulou gestos humanitários ao negociar a soltura de algumas vítimas das Farc, enquanto as financia e lhes dá respaldo político. Aos demais governantes da América Latina, incluindo o brasileiro, é mais cômodo culpar o presidente Uribe pela situação, em que pese ele estar fazendo há tempos todos os esforços para combater aqueles celerados. Condenar Uribe, tática comum dos esquerdistas que são exímios em alterar, distorcer, manipular fatos, na verdade equivale a condenar a vítima e absolver os criminosos. Tudo indica que a esquerda latino-americana aprendeu direitinho a lição com o mestre Stalin.

Em trecho da carta, exigida pelos facínoras para provar que estava viva Ingrid escreveu:

“A vida aqui não é vida, é um desperdício lúgubre de tempo. Tudo está sempre pronto para partirmos às pressas. Aqui nada é seu, nada dura, a incerteza e a precariedade são a única constante. A cada dia resta menos um pouco de mim mesma”.

No Brasil, o embrião das Farc, o MST, está exacerbando sua violência. O chamado movimento social agora invade não só terras produtivas, mas propriedades da Vale do Rio Doce (maior mineradora do mundo), hidroelétricas, Assembléias Legislativas, agências de Banco, praças de pedágio, além de bloquear estradas. O flagrante desrespeito ao Estado de Direito, o esbulho da propriedade particular, o prejuízo causado ao País avançam impunemente sob o olhar complacente das autoridades constituídas, que até financiam as ricas e vistosas manifestações do MST.

Como afirmou Edmund Burke: “Tudo que é necessário para que o mal triunfe, é que os homens de bem nada façam”.

18 de abr. de 2008

Bagunça organizada


Lula, em Minas, estava no melhor da sua forma. No evento em que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, chamou a solenidade do PAC de “comício”, o presidente afirmou que “rico não precisa de governo” e conclamou a massa pobre presente a não acreditar nas promessas dos políticos, que só estariam interessados no seu voto e nada mais. O presidente que, também ali, tratou a elevação dos juros como se fosse uma banalidade qualquer — a derrota de um jogo de futebol —, parecia introduzir no discurso o surrado jargão da luta de classes. Horas antes, a racionalidade econômica de sua gestão tinha sido cantada em prosa e verso pela Federação Brasileira dos Bancos. Há um aspecto aparentemente confortável em tudo isso: o “evento” Lula é irrepetível. Outro com suas características, cuja biografia mitificada incensa e perdoa qualquer coisa que diga, não mais haverá. Mas o conforto é rápdo. O Apedeuta não passará pelo poder sem deixar alguns efeitos colaterais.

Enquanto o presidente protagonizava a sua pantomima eleitoreira, o MST ia passando por cima da lei em manifestações em vários pontos do país. Impedido por ordem judicial de voltar a atacar instalações da Vale do Rio Doce, os sem-terra assumiram a fachada de um tal Movimento dos Trabalhadores da Mineração e ocuparam as... instalações da Vale!!! Sem que a lei e o estado de direito movessem uma palha. Na Universidade de Brasília, o “intelectual” socialista Fernando Haddad, que vê no MST um modelo de movimento social, dava aos estudantes invasores o caminho das pedras para burlar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Isto mesmo: o representante do governo e, no caso, do estado brasileiro ensinava como tornar letra morta o texto legal.

Da Lei Eleitoral à Constituição da República, o código legal foi sendo esbulhado de maneira que pode ser considerada metódica, determinada, sistemática. Lula só se lembrou de reagir quando ficou sabendo do teor da intervenção — legal e constitucional — do general Augusto Heleno, comandante da Amazônia, no Clube Militar. Recorrendo, aí sim, à sua autoridade, convocou o comandante do Exército e o ministro da Defesa para que dessem explicações. Ele não gostou de ver o militar falar o óbvio: a política indigenista brasileira é desastrada e despreza a história da colonização do país. No alvo. Em Brasília, índios já mobilizados por ONGs foram ao STF e protestaram em frente ao Ministério da Defesa.

Que os deuses nos protejam mesmo, por um bom tempo, de uma crise, já que assistimos a essas manifestações de desconstituição da legalidade num momento em que a economia vai bem. Nas democracias do mundo inteiro, a divergência política é o motor da sociedade, mas não há quem aposte na divisão e, pois, no confronto entre classes, entre etnias (sinto-me até um tanto ridículo ao escrever isso), entre saberes, entre Poderes. No mais recente debate entre Hillary Clinton e Barack Obama, pré-candidatos democratas à Presidência dos EUA, ele foi obrigado a se desculpar por ter criado uma oposição entre o americano meio caipira e o cosmopolita. O país não aceita esse tipo de afronta.

Por aqui, ao contrário, aproveita-se a estabilidade para investir ainda mais no confronto, já que o Demiurgo precisa manter a personagem do homem humilde que veio governar para os pobres, para os destituídos, para os humilhados. E a forma que tem de manter o mito, ao lado do assistencialismo do Bolsa Família, é sacar contra os mais comezinhos conceitos de nação. As divisões lhe serão sempre favoráveis.

Lula vai passar — um dia passa. Mas vai deixar uma herança. Seus apologistas pretendem que tenha trazido para o cenário político “as massas”, antes supostamente ausentes do processo. Trata-se de uma bobagem mistificadora. O fato de permitir que os chamados “movimentos sociais” desrespeitem, de forma acintosa, a lei — o que ele próprio fez, em cima de palanque — está longe de ser um “avanço da democracia”. A “reforma agrária” do MST é o melhor exemplo de atraso.

Todas as democracias do mundo têm seus limites permanentemente testados. Se os governantes se atêm ao que dizem as leis e as aplicam, então o modelo se revigora; se, no entanto, são os primeiros a burlá-las, vão-se instalado mecanismos paralelos — ilegais — de equacionamento de conflitos. E isso, claro, é do interesse tanto de alguns delinqüentes políticos que apostam na desconstituição do estado para fazer a “revolução” como dos oportunistas que usam os embates ideológicos apenas como pretexto para fazer negócios tão bons quanto ilegais.

16 de abr. de 2008

"Lula e seus sequazes contam com a maioria botocuda. Brasileiros de modo geral são malfeitores, imorais e aproveitadores. Trata-se, sem nenhuma dúvida, de uma sub-raça, o homus botocudo."

No auge da derrocada - por RA

A pobre figura, vocês sabem, desintegra-se de modo deprimente em sua cega obstinação. Tenta ainda lançar teses sobre o Brasil, o mundo, as esferas celestiais. Desesperado, põe a sua pobre gramática a serviço daquela indignação a favor que só os mascates de bugigangas ideológicas têm. Cego, atropela língua e sentido, separando, com espantosa freqüência, o sujeito de seu verbo, retrato sintático dos valos imensos que abre entre os fatos e suas versões delirantes. Dá pena! Eu teria de ser muito perverso para imaginar esse destino ao pior inimigo. click e leia a íntegra
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Pô, de Gregório de Matos eu sou bom. Mesmo! Meus amigos sabem que sei de cor e salteado. Vejam esta da página 334 do livro citado abaixo — na verdade, o poema é longo: o trecho está nas páginas 336 e 337.

DESCREVE COM MAIS INDIVIDUAÇÃO A FIDÚCIA, COM QUE OS ESTRANHOS SOBEM A ARRUINAR SUA REPÚBLICA.

Senhora Dona Bahia,
nobre, e opulenta cidade,
madrasta dos Naturais,
e dos Estrangeiros madre.
(...)

Passa um ano, e outro ano,
esperando, que ele pague,
que uns lhe dão, para que junte,
e outros mais, para que engane.
Nunca paga, e sempre come,
e quer o triste Mascate,
que em fazer a sua estrela
o tenham por homem grande.
O que ele fez, foi furtar,

que isso faz qualquer bribante,
tudo o mais lhe fez a terra
sempre propícia aos infames
e eis aqui a personagem.
(...)
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NOTA: “Bribante”, que não está no dicionário, é uma variante de “birbante”, que está lá: vadio, ladino, desonesto, velhaco, tratante, canalha...

15 de abr. de 2008

RA

A senadora Ideli Salvatti (PT-SC) é, com efeito, uma das personalidades mais raras que já apareceram no Senado brasileiro. Há um traço notável no seu caráter: ela não tem medo de parecer, reiteradamente, ridícula. E a constância faz com que a parecença vá se constituindo numa essência. De fato, senadora, onde já se viu a oposição “instrumentalizar” uma comissão do Senado, não é mesmo? A “instrumentalização” deveria ser um princípio garantido apenas ao governismo — desde que, é claro, o PT esteja no poder. Se um dia o partido migrar para a oposição, leva junto a prática.Não tem jeito. Eles não têm cura. Tarso Genro, o ministro da Justiça, afirma que fazer dossiês é parte da luta política, mas convocar uma ministra para falar aos senadores é, certamente, uma grave agressão à civilidade democrática. A delinqüência intelectual dessa gente é só um ornamento de sua delinqüência política.

Democracia Degradada

por Jarbas Passarinho, no Correio Braziliense

íntegra no Diego Casagrande
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É Créu neles! É Créu nelas! - Diogo Mainardi


Dilma Rousseff encolheu. Sua candidatura presidencial durou menos de duas semanas. Foi logo ceifada pelo bando de José Dirceu. Ou pelo bando de Marta Suplicy. Ou por seu próprio bando. Eu, que defendia ardorosamente a candidatura da princesinha do Créu, terei de escolher outro nome do PT. Qualquer um é pior do que ela. Qualquer um tem mais chance de ser eleito. Fala-se muito sobre a popularidade de Lula. É espantoso que o eleitorado ainda o apóie desse jeito. Mas ninguém contabiliza o ganho que isso pode representar para o futuro. Para proteger a imagem de Lula, todas as maiores figuras do PT foram sacrificadas. E as menores também. Dou um conselho aos mais aflitos: pendurem na parede uma fotografia do primeiro ministério lulista, de 2003. A mortalidade entre seus membros foi maior do que a do politburo de Stalin. A velha-guarda petista sumiu do cenário político. Agora só pode agir às escondidas, nos bastidores. De José Dirceu a Humberto Costa, de Luiz Gushiken a Miguel Rossetto, de Antonio Palocci a – qual era o nome dele? – José Fritsch. Lula é o Ricardo III de Garanhuns. Só falta a corcunda. E o pé manco. Nos últimos seis anos, para conseguir manter-se no poder, ele se desfez de fosse quem fosse. Os herdeiros do trono foram degolados um a um, sem o menor remorso, sem a menor piedade. Lula tem até aquele ar insolente de Ricardo III. Seu mote shakespeariano: Consciência é apenas uma palavra que os covardes usam. A inescrupulosidade de Ricardo III foi premiada por algum tempo, garantindo-lhe o poder absoluto. Mas tudo se perdeu depois de sua morte. Ele foi o último rei da casa de York. Assim como Lula será o primeiro e último presidente eleito pelo PT. O aniquilamento que ocorreu na política se estendeu também às outras áreas. O lulismo se tornou um estigma. Quem se associou a Lula está condenado para sempre. Os lulistas do cinema, os lulistas da música, os lulistas da academia, os lulistas da imprensa – o engulho que a gente sente por eles jamais poderá passar. Lula canibalizou todos os seus aliados, em particular os do PT. Ele é a bolha que engole o que está por perto. Os lulistas ganharam um bocado de dinheiro nestes anos. Uns se transformaram em lobistas. Outros receberam financiamento estatal ou renegociaram suas dívidas com o BNDES. Mas um dia isso passa. Porque a imunidade que os brasileiros concederam a Lula é limitada a ele. Só a ele. Se o Ricardo III shakespeariano é elaborado demais para Lula, ele pode recorrer a outro mote, ligeiramente menos refinado: É Créu! É Créu neles! É Créu nelas! Olhe a fotografia pendurada na parede. Olhe aquele ministro. Olhe aquele outro. Repito: um dia isso passa, garanto que passa.

14 de abr. de 2008

Golpe Constitucional

por Denis Rosenfield, no Estadão


Notícias de Jornal Velho: Declaração da quebra da democracia chilena


A Desigualdade Social

Hayek

Quando as palavras perdem seu significado, as pessoas perdem sua liberdade." (Confúcio)

12 de abr. de 2008

O Poder Sicofanta


A vida dos outros (2006), filme sem sucesso no Brasil, ajuda o exame do escândalo causado pela Casa Civil, novamente a dois passos do Sr. Da Silva. A película narra o caso de um diretor teatral, contrário ao regime apodrecido e violento do Partido Comunista, na Alemanha “democrática”. O regime emprega policiais que espiam com meios ignóbeis. No apartamento de certo amigo do diretor espionado são instaladas escutas, sem o seu conhecimento. As conversas do círculo teatral passam aos ouvidos dos camaradas. Começam as metamorfoses na vida das pessoas. A primeira ocorre com o policial encarregado de bisbilhotar o teatrólogo. Ele percebe o horror do regime e de sua posição nele. Com gestos tímidos, o espião resgata sua humanidade, arruina o plano de corroer a vida íntima e pública do teatrólogo. No fim, o policial surge como cidadão comum, merecedor de respeito. Por enfrentar a máquina repressiva, o sicofanta vira gente. A segunda mudança ocorre na mulher do teatrólogo. Artista presa aos aplausos, ao ser pega por ajudar nas denúncias sobre os abusos do poder, delata o marido para continuar no palco. Valores éticos, artísticos, políticos são por ela abandonados em proveito da carreira. Mas ela morre na sarjeta, vitimada por uma correria, numa batida policial efetiva no apartamento do marido.

Existem filmes que enfocam as aporias de indivíduos e os dramas coletivos. Mefisto é um deles. Em A vida dos outros temos a mentira do regime, o qual funciona com dedo-durismo e espionagem. A cultura totalitária reúne os dois elementos. Os camaradas ou companheiros estalinistas e nazistas (e os congêneres liderados por Franco, Salazar, Mussolini, Vargas, Peron, ditadores militares da América do Sul e da Grécia no século 20) respiram com a vida dos outros. Para subir no partido e no Estado (os dois são o mesmo sob o tacão totalitário) o indivíduo sem escrúpulos (nas Escolas do Partido, nos movimentos da juventude, ele aprendeu que escrúpulos são preconceitos burgueses) espia adversários reais ou supostos do poder, camaradas e concorrentes, famílias alheias e a própria, disposto a prestar serviços “gloriosos” aos dirigentes, com o dedo apontado em riste. Para montar fichas alheias é preciso espionar com método.

Os processos de Moscou e a covardia de quem não resistiu ao nazi-fascismo, resultam da educação militante, cujo preceito é aniquilar valores “ultrapassados”, como o respeito pela vida alheia. O militante totalitário sabe que os outros não têm direito à vida própria, pois todas as vidas pertencem ao Partido, condutor da massa rumo ao Futuro, quando a comunidade será comandada por uma só idéia e vontade, impostas pelos dirigentes infalíveis. Na pedagogia totalitária, não basta moldar almas e mentes dos militantes segundo o modelo do Partido. O alvo é impor à sociedade inteira, se possível ao mundo, a forma e o conteúdo das doutrinas salvadoras. Pessoas devem ser tidas como páginas em branco, onde são aplicadas as imagens dos líderes. Ou então, devem ser vistas como página borrada de erros, a ser embranquecida pela tortura, exílio, perseguição, calúnia, injúria. Os informados sobre a Alemanha nazista e congêneres; a URSS e satélites; os partidos comunistas vários (leia-se o libelo Camaradas, de William Waack, nunca desmentido, que relata as vilanias internas do PC) sabem que “militante”, na maioria dos casos, é sinônimo de espião, policial, juiz, carrasco a serviço do Estado em potência (Partido), ou em ato.

Muitos petistas hoje no poder foram educados naquela escola. Quando na oposição, espionavam (com apoio logístico de sindicalistas) os adversários e associados a “jornalistas” em redações estratégicas, forçavam escândalos, caluniavam e injuriavam, mas vestiam a máscara da ética. Nos palácios usam a mesma espionagem, os mesmos jornalistas amigos, idênticas maneiras de atacar a vida alheia, para disfarçar o seu controle social e político. A consciência que montou o dossiê contra Serra, recebeu afagos do presidente, que a batizou de “aloprada”, opera no escândalo atual. Mentiras distraem a opinião pública. Assim, a tese do Planalto é que existe dossiê, mas que ele não seria usado contra opositores. A lógica é desobedecida, na pseudologia palaciana.

Um regime policial está sendo gerado no país. A sua mão-de-obra foi bem treinada, e seu número é imenso, pois emprega os cérebros lavados nas máquinas totalitárias e os oportunistas, cuja espinha se curva diante das ditaduras tendo em vista sua carreira pessoal ou interesses de grupo. Os sinais do Estado sicofanta são evidentes, só não os enxergam os cegos de alma e os cúmplices dos espiões militantes. Estamos no alvorecer do Estado sicofanta, a República dos alcagüetes.

9 de abr. de 2008

O saldo do ciclo militar

Jarbas Passarinho no JB Online

Ao receber o governo, Castello Branco convidou Roberto Campos para ministro extraordinário, a fim de retomar os trabalhos do Ministério do Planejamento, interrompidos na fase final do governo Jango. Roberto aceitou, certo de que – disse ele – que o governo Castello Branco seria um "governo contador: Juscelino deixara contas a pagar, Jânio não tivera tempo de pagá-las e Jango as havia aumentado mais".

Propôs que, não tendo recursos para obras, fizesse reformas, começando pela política antiinflacionária, pois a inflação estimada era de 145% ao ano. O FMI insistia em política de choque. Castello discordou optando pelo gradualismo. O FMI era contra a correção monetária. Foi criada. As reformas se sucederam: lei de remessa de lucros, política salarial, o imposto de renda, o sistema financeiro da habitação e criação do Banco Nacional de Habitação, a reforma bancária e a criação do Banco Central, o Estatuto da Terra, a política cambial, a reforma do sistema fiscal e a lei do inquilinato, entre outras.Prof° Roberto Campos

Modernizado o país, a inflação cedeu e o PIB começou a crescer. Os governos seguintes colheram os êxitos da sementeira de Castello, sobreveio o milagre econômico (assim batizado pela mídia estrangeira e não pelo governo), crescendo o PIB à média de 9,5% ao ano, na gestão do presidente Médici, de emprego pleno, o que Lula reconheceu entrevistado pelo historiador Ronaldo Costa Couto, em 1989: "Nós trabalhadores escolhíamos o emprego que queríamos".

A economia brasileira atingira a oitava posição no mundo. A comparação com os 20 anos do poder civil, em que a economia cresceu em média 2,5% ao ano e foi para o 15º lugar no mundo, dá vantagem indiscutível ao ciclo militar.

Já no campo político, tivemos 10 anos de AI-5, com limitação de direitos políticos e civis, para vencer as guerrilhas comunistas. O regime autocrático, porém, terminou uma vez aprovada a Emenda Constitucional nº 11 de outubro de 1978, que restabeleceu os direitos políticos e civis, a anistia, a liberdade da imprensa, o pluralismo bipartidário, a economia no mesmo 8º lugar, a despeito dos dois choques brutais do preço do petróleo.

Reconheci que, no campo da política social, os governos civis, nos 20 anos seguintes, foram mais vantajosos que os do ciclo militar. Mas lembrei que Fernando Henrique Cardoso, perto do término de seu segundo mandato, disse que "o Funrural é o maior programa de renda mínima do mundo". Omitiu que foi iniciado no governo Costa e Silva, com o Plano Básico da Previdência Rural.

A esquerda é que pretende ignorar todas as conquistas do ciclo militar. Seu pretenso argumento é uma litania surrada: "Minha opinião não é partilhada por quem viveu o outro lado da moeda e perdeu entes queridos ou sofreu nas mãos dos sádicos interrogadores do governo". Não dizem que esses "entes queridos" foram financiados e adestrados em treinamento de guerrilha, em países comunistas, como China e Cuba.

Na luta armada que desencadearam – a que Prestes foi contrário – não visavam derrubar o autoritarismo, mas instalar a ditadura do proletariado segundo Marx. Derrotados, têm ganho polpudas indenizações nos governos que lhes são simpáticos. Alegam ter sofrido violências, mas mataram por vezes torpemente, até "por engano".

O major Lício Maciel, que me honro de ter sido seu capitão na Aman, ele cadete de artilharia, flagrou guerrilheiros comunistas do Araguaia, trocou tiros e feriu uma guerrilheira, caída depois de atingida na perna. Cumpriu a Convenção de Genebra. Disse-lhe que seria salva e prosseguiu na perseguição aos outros. Ao retornar e aproximar-se dela, foi ferido gravemente pela arma que escondera. O tiro o deixou entre a vida e a morte, à noite, até o primeiro socorro.

Os "generosos entes queridos", após a retirada da patrulha, foram à casa do pequeno fazendeiro Antonio Pereira, cujo filho João, de 17 anos, servira de guia ao major. Frente à mãe e ao pai, fatiaram o corpo do menino, até matá-lo, para escarmentar a quem auxiliasse os militares. Muitos que choram seus "entes queridos" nada fizeram para poupá-los da loucura da paixão ideológica. Recusam enfrentar a verdade, porque ela, como o foco forte de luz, cega.


Rolling Stones perform at the Alexandra Palace in London on June 26, 1964

8 de abr. de 2008

A anarquia política brasileira

por Benedicto Ferri de Barros

Resumo: O fato histórico que originou a anarquia constitucional sob a qual vivemos tem sua origem no golpe branco de 1988, quando uma Assembléia Ordinária se erigiu espuriamente em Assembléia Constituinte.

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A estrutura política de uma nação repousa sobre sua Constituição, que em sua essência define a relação entre os poderes do Estado e garante os direitos dos cidadãos. Durante todo o período imperial, de 1822 a 1889 (67 anos), fomos regidos por uma única Constituição, a chamada Benjamina, redigida por Benjamin Constant para Napoleão Bonaparte, no período de seus Cem Dias, e considerada o melhor instrumento do gênero. Vivíamos sob um regime parlamentarista, com um governo considerado dos mais livres e democráticos do mundo. E se houvesse na época um ranking mundial do desenvolvimento das nações, estaríamos talvez como uma das primeiras, posto que em virtude das iniciativas de Mauá, que se estendiam de Norte a Sul do País, já tínhamos uma siderúrgica na Ponta da Praia e construíamos navios que batiam naves inglesas em corridas na Baía de Guanabara.

A anarquia política brasileira se iniciou com a República, um acidente de jornada a que, no depoimento de Machado de Assis "o povo assistiu bestializado, sem compreender o que aquilo significava", o que parece ter acontecido com seu próprio autor putativo, o marechal Deodoro. Do dia para a noite, o império unitário brasileiro se esfacelara na República dos Estados Unidos...-do Brasil, para gáudio dos políticos que correram para as repúblicas de seus Estados, criando até bandeiras próprias.

Três coisas alteraram radicalmente a vida política da nação. Em primeiro lugar, sua convivência pacífica. Em segundo, a estabilidade de seu Estado, em terceiro, a honestidade de sua administração, substituída pela corrupção como processo adotado pelo próprio governo para obter maioria congressual.

Ao quase meio século de paz da unidade imperial de governo parlamentarista de feitio britânico (a última revolução se deu no Império em 1847) seguiu-se o século da instabilidade da república presidencialista, cuja divisão de poderes à Montesquieu ainda suscita o debate, a barganha e o conflito entre os interesses e atribuições dos poderes. Vêm daí a instabilidade e mau funcionamento do Estado, os problemas de sucessão, as crises de governabilidade, de que os estados de sítio, as revoluções, golpes, renúncias e deposições, as ditaduras parecem ser o modo de vida natural de nossa política. Aparentemente, a doutrina e prática da divisão de poderes jamais os concilia, induzindo, ao contrário, a gula de sua infinita divisão atômica, como o retalhamento do Estado brasileiro entre os feudos "estatais". O recente incidente em que o chefe do Executivo aparentemente dispensava o Judiciário de suas funções, mais do que mostrar suas disposições ditatoriais, exprimia a realidade da "ditadura factual" que exerce.

O fato histórico que originou a anarquia constitucional sob a qual vivemos tem sua origem no golpe branco de 1988, quando uma Assembléia Ordinária se erigiu espuriamente em Assembléia Constituinte. Com o "mensalão", que permitiu a um partido minoritário, o PT, constituir a chamada "base de sustentação" do governo, o Executivo ganhou o poder de promover, comandando o Congresso, as reformas que lhe interessam.

Já estamos em nossa sétima Constituição, seis promovidas no período republicano. E ainda não temos resolvida a questão da independência e harmonia dos três poderes, a questão fundamental de um verdadeiro Estado de Direito. Some-se a isso o fato de termos 27 partidos (um deles com 3.200 afiliados), mais dez em processo de legalização e outros dez que nem iniciaram esse processo e tem-se um rascunho da nossa república democrática. Se não fora a vocação integradora de nossa cultura e o permanente movimento de migração das nossas populações, que asseguraram a unidade do País, de há muito nos teríamos esfacelado em dezenas de "republiquetas de bananas".

Continuamos nominalmente a ser uma democracia, mas como foi explicitado pelo trabalho do professor José Pastore, estamos sendo convertidos em um Estado comunista por táticas e estratégias preconizadas por Gramsci, um comunista da era pré-stalinista que não conheceu a os horrores da nomenklatura subseqüente. Aqui a cúpula do PT começou pela nomenklatura do mensalão. Por atos e palavras, a estratégia gramsciana continua a ser a ideologia governamental, mesclada a táticas de outros regimes como o de Fidel (guru de Lula). O processo avança, sustentado pela euforia do desenvolvimento mundial. E embora nosso desenvolvimento não haja alcançado metade da média mundial, a popularidade de Lula alcança 70% do eleitorado...

7 de abr. de 2008

Boas notícias


A propaganda governamental tem se esmerado em difundir boas notícias. É comum em meio aos jornais de TV o apresentador dizer: agora, uma boa notícia do governo Lula. Segue-se algo fabuloso. Pois é, nosso paraíso começou na era PT e o povo, que não conhece história, acredita piamente.

Semana passada a boa notícia chegou pela Veja de 02/04 2008, através de matéria que mostrava o estudo Observador 2008 “feito pelo Instituto de Pesquisas Ipsos sob encomenda da financeira Cetelem, pertencente ao banco francês BNP Paribas”. Tal estudo mostra a redução da população miserável e o ingresso de considerável contingente populacional no mercado de consumo.

A revista admite também, “que outros estudos e pesquisas já haviam detectado esse avanço, que nada mais é senão a recompensa ao ciclo de reformas e ajustes econômicos feitos desde o Plano Real”. Mas a impressão que fica é que somente agora fomos presenteados com tal progresso.

Algumas dúvidas, contudo, devem ser apresentadas antes que se chegue ao estado de euforia provocado pelos dados oferecidos pelo Observador 2008:

A primeira se refere ao critério de renda familiar utilizado pelo estudo, ou seja: as classes D/E, 39% da população, ou 72,9 milhões de pessoas teriam uma renda familiar de 580 reais. Não sei se a pesquisa foi realizada também no nordeste onde a renda familiar geralmente é muito baixa entre os mais pobres.

O estouro ascensional, porém, aparece na classe C, composta por 46% da população, quer dizer, 86,2 milhões de pessoas com renda familiar de 1062 reais.

Certamente a mobilidade social deve ter se dado através das Bolsas-esmolas do governo Lula, do crédito consignado, do crédito parcelado a perder de vista (concedido pelas lojas), do crédito bancário bastante incentivado, dos reajustes acima da inflação para o salário mínimo, sobretudo para o aposentado do setor rural. Através dessas facilidades uma parcela das classes mais baixas migrou para a média baixa e passou a consumir eletrodomésticos, celulares, computadores, etc.

As classes A/B da população, 15% da população, 28 milhões de pessoas, para o estudo Observador 2008 teriam uma renda familiar de apenas 2217 reais. Dúvida: não seria essa renda familiar extremamente reduzida considerando-se as classes mais altas? E por que as classes A/B estão reunidas, apresentando uma só renda?

Há tempos se noticiou que os ricos do Brasil (classe A) tinham aumentado. Será que sua renda familiar só alcança em média 2217 reais? Isto seria um caso inédito em todo mundo de ricos-pobres.

Note-se que a renda média familiar das classes A/B, ao se aproximar bastante da renda familiar da classe C é uma boa notícia para o presidente da República, que teria transformado o Brasil numa sociedade quase igualitária, algo que muito ajuda a incrementar a idéia do terceiro mandato que segue a todo vapor.

Outra dúvida que pode surgir: se a ascensão das classes mais baixas se deveu também como é dito à oferta de empregos, por que aumentou a imigração de brasileiros em busca de vida melhor em outros países? Em contrapartida, nunca tantos compatriotas foram barrados em fronteiras ou deportados, e se eles estão de volta vai-se precisar de mais empregos.

Em 2006 o Reino Unido mandou de volta 11,3 mil brasileiros e a Espanha impediu a entrada de cerca de 7,7 mil brasileiros. Em 2007 os espanhóis fizeram dar meia volta 9,7 mil brasileiros. Quanto aos Estados Unidos, devolveu em 2006 apenas 2.957 brasileiros, talvez porque está havendo maior controle das autoridades mexicanas, o que dificulta a entrada em território norte-americano pela fronteira do México. (dados da Folha de S. Paulo de 25/03/2008).

Será também prudente perguntar, até quando o governo sustentará as classes mais baixas tornando-as consumidoras, mas improdutivas. E até quando créditos de todo o tipo serão honrados, para que não corramos o risco de repetir o erro dos Estados Unidos referente aos empréstimos de alto risco para a habitação, o que originou a crise que começa a afetar todo o mundo. Finalmente, é lícito questionar se escaparemos ilesos da crise mundial, como afirma o presidente Lula entre brincadeirinhas com o presidente Bush.

Afinal, por mais que o governo negue a inflação já começa a sair de controle e outros sinais não muito auspiciosos jazem sob a capa de euforia das boas notícias. Por isso o PT tem pressa, fala em reforma política (leia-se 3º mandato), plebiscito (governo de massas, modelo Hugo Chávez).

Já a incômoda novela do dossiê dos gastos com cartões corporativos vai ganhando múltiplas, nervosas e pouco convincentes versões da ministra Dilma Rousseff. Ela quer porque quer achar culpados pelo que fez e o senador Álvaro Dias (PSDB) chegou a ser responsabilizado pela chantagem.

Diante da pantomima da ministra só me resta contar que sei, de fonte limpa, quem fez o dossiê para incriminar FHC e chantagear o PSDB. Foi o Etê de Varginha. Não é uma boa notícia?

6 de abr. de 2008

Capitão "diego" Mainardi

De volta ao escambo - por Diogo Mainardi, Veja

"A compra da Brasil Telecom pela Oi está sendo calculada em 8,5 bilhões de reais. Resta saber de onde sairá o dinheiro. Eu chutaria que sairá dos bancos estatais. Escambo é assim mesmo. O homem branco dá um espelho, o cacique tremembé entrega todos os bens da tribo"

A Oi está engolindo a Brasil Telecom. Chega ao fim aquela que Luiz Gushiken chamou grandiosamente de "a maior disputa societária da história do capitalismo brasileiro". O resultado mostra qual é o atual estágio do nosso capitalismo: com Lula, regredimos à economia do escambo. Eu sei que metade dos leitores foi embora depois de ler "Oi". Eu sei que a outra metade foi embora depois de ler "Brasil Telecom". Na primeira linha do artigo, perdi todos os leitores. Sem contar os que se enforcaram depois de ler "Luiz Gushiken". Lamento muito. O assunto é aborrecido. A disputa pelo controle da telefonia nacional foi manchete dos jornais por dez anos seguidos. Um espionou o outro. Um se aliou ao outro. Um traiu o outro. No fim, chegou-se a um acordo nebuloso que satisfez todos os lados. Os processos judiciais que poderiam emperrar o negócio foram suspensos. Só sobraram os meus. Minhas colunas sobre o tema me renderam dezoito processos. O que eu dizia nelas? Em primeiro lugar, que o lulismo se intrometera na disputa pelo controle da telefonia nacional, tomando o partido de alguns de seus maiores financiadores. Em segundo lugar, que a Oi acabaria engolindo a Brasil Telecom, com o apoio de Lula. Isso é o que conta: o apoio de Lula. A compra de uma operadora pela outra é ilegal. Para que ela possa ser realizada, Lula tem de mudar a lei que regulamenta a telefonia. O plano era mudá-la em 2005, mas tudo desandou quando se soube que a Oi dera uma bolada ao filho de Lula, para a compra de sua empresa de fundo de quintal. Agora ninguém mais se preocupa com isso. O Brasil piorou. O Brasil se abastardou. Lula faz o que bem entende. O caciquismo aplicado à economia resultou num retorno à prática do escambo. Por enquanto, o negócio está confinado nas páginas de economia dos jornais. A imprensa pegou bode do assunto. Muitos jornalistas se emporcalharam trabalhando para um lado ou para o outro. Agora todos temem ser associados a uma das partes em disputa. Só para dar uma idéia de como isso funciona, um dos sócios da Oi, dois anos atrás, chegou a me acusar de beneficiar Daniel Dantas, embora eu sempre tenha responsabilizado o mesmo Daniel Dantas pelo pagamento dos mensaleiros. Mas o que realmente importa nessa história – bem mais do que seu aspecto comercial ou a sordidez de alguns jornalistas – é o papel desempenhado pelo lulismo. A compra da Brasil Telecom pela Oi está sendo calculada em 8,5 bilhões de reais. O mercado avaliou quanto deve sobrar para cada sócio: Citibank, 1,5 bilhão de reais; Daniel Dantas, 1 bilhão de reais; Previ, 1 bilhão de reais. Agora resta saber de onde sairá o dinheiro. Considerando o atual estágio do nosso capitalismo, eu chutaria que ele sairá dos bancos estatais. Escambo é assim mesmo. O homem branco dá um espelho, o cacique tremembé entrega alegremente todos os bens da tribo.

1 de abr. de 2008

Cínico, debochado e mentiroso - o PT se apropriou do país

por Rebecca Santoro
Íntegra no Diego Casagrande

O que mais se poderia dizer do discurso no presidente reeleito do Brasil, na eleição mais fenomenal da história das eleições mundiais. Fenomenal no sentido de fenômeno, fato extraordinário, não comum. Sim, quem é que não se lembra do milagre da caixa-preta eletrônica eleitoral que fez 11 milhões de pessoas mudarem seu voto do primeiro para o segundo turno das eleições, nas quais, sem motivo aparente nenhum 2 milhões de pessoas resolveram deixar de anular seu voto e mais outras 6 milhões migraram de candidato? O resultado do fenômeno inquestionado e inconferível está aí: o senhor da Silva reeleito, aparelhando cada vez mais o Estado e todas as suas instituições e colocando a ele, a seus familiares, a seus amigos e companheiros, todos, acima da Lei, do Bem e do Mal.

Ontem, talvez inflado por resultados divulgados sobre pesquisa de popularidade de seu governo, pelo CIN/Ibope, Lula exagerou na dose de "eu digo o que é real ou não", durante...