28 de out. de 2006

O Nazista em Allende - por Rodrigo Constantino


Rodrigo Constantino

“Quem não é são física e psiquicamente, e, por sua vez, não é digno, não tem o direito a eternizar sua miséria em um filho; o Estado deve permitir que só saudável venha a ter família.” (Adolf Hitler, em Minha Luta)

Em meu último artigo, Socialismo e Nazismo, mostrei com sólidos argumentos os claros paralelos entre o socialismo e o nazismo, semelhantes em inúmeros aspectos. Lembrei também que os socialistas, acostumados a repetir chavões sem reflexão alguma, xingam de nazistas seus opositores, ainda que coloquem assim estes lado a lado com liberais, enquanto na verdade os liberais são totalmente contrários tanto ao nazismo como ao socialismo. Neste artigo, pretendo demonstrar o nazista que existia num dos maiores ídolos socialistas da América Latina. Trata-se de Salvador Allende, presidente que afundou o Chile no caos e miséria. A fonte é o último livro de Víctor Farías, doutor em filosofia e autor de Os Nazistas no Chile. Seu mais recente trabalho, Salvador Allende: Anti-Semitismo e Eutanásia, busca em fatos históricos um passado sombrio do personagem, muitas vezes ocultado propositadamente pelos seus biógrafos. Levantar essa poeira e expor a real face nazista desse grande símbolo esquerdista é o objetivo do estudo.

Víctor Farías foi pesquisar Allende desde o seu passado como médico, passando também pelo período em que foi ministro. A figura de Allende já vem sofrendo consideráveis rachaduras, como quando foi descoberto que, durante seu governo, ele protegeu direta e deliberadamente Walther Rauff, um dos maiores criminosos nazistas, responsável direto pelo assassinato de cem mil judeus. Além disso, nos anos da fundação do partido socialista do Chile, seu criador, Marmaduke Grove, foi pago regularmente pelo Ministério de Assuntos Exteriores nazista. Um outro ponto controverso diz respeito à Colônia Dignidade, enclave racista alemão dirigido por nazistas e ex-nazistas, que cresceu e se consolidou consideravelmente durante o governo de Allende. Como fica claro, a simbiose entre socialismo chileno e nazismo alemão sempre existiu.

Mas o livro de Farías foca na fase médica de Allende, época em que sua tese Higiene Mental e Delinqüência foi escrita. Este texto de Allende é uma aberração que mostra um profundo racismo do autor, que chega a informar, com aprovação, sobre experimentos cirúrgicos feitos com réus de cárceres públicos a fim de fazê-los “recuperar sua identidade sexual”. Para Allende, uma das causas naturais da delinqüência é “a raça”. Ele chega a escrever que “os hebreus se caracterizam por determinadas formas de delito: fraude, falsidade, calúnia, e, sobretudo, a usura”, alegando que esses dados “fazem suspeitar que a raça influi na delinqüência”. Em resumo, no seu primeiro escrito científico, Allende afirma que os judeus são naturalmente delinqüentes.

Enquanto ministro da Salubridade do governo da Frente Popular, Allende teve a oportunidade de lutar para colocar em prática suas idéias bizarras. Anunciou em 1939 um projeto de Esterilização de Alienados Mentais como programa para a “defesa da raça”, e confiou a elaboração e implementação do projeto a cientistas abertamente racistas como o dr. Eduardo Brücher, associado ao dr. Hans Betzhold, fervoroso partidário da eutanásia nazista. O Artigo 1º do projeto dizia que “toda pessoa que sofra de uma enfermidade mental que, de acordo com os conhecimentos médicos, possa transmitir à sua descendência, poderá ser esterilizada”. Pelo projeto, seriam consideradas enfermidades mentais transmissíveis por via hereditária: a esquizofrenia; a psicose maníaco-depressiva; a epilepsia essencial; a idiotia; a debilidade mental profunda; a loucura moral constitucional e o alcoolismo crônico. As vítimas poderiam, pelo projeto da lei, ser forçadas pelo Estado a fazer a esterilização, como fica claro no Artigo 23º: “Todas as resoluções ditadas pelos Tribunais de Esterilização serão obrigatórias para toda pessoa ou autoridade, e se levarão a efeito, com caso de resistência, com auxílio da força pública”.

As semelhanças entre este projeto e a Lei para Precaver uma Descendência com Taras Hereditárias, ditada pelo governo do Terceiro Reich, são impressionantes. Alguns parágrafos parecem cópia direta. Os nazistas pretendiam esterilizar vítimas nos casos de imbecilidade congênita, esquizofrenia, mania depressiva, epilepsia hereditária, cegueira hereditária, surdez hereditária e graves deformidades físicas hereditárias. Como resume Frías, “em ambos os casos a vontade esterilizadora radical não deveria ser impedida ou prejudicada por problemas financeiros”, pois “até para os indigentes havia recursos, entregues ao Estado pelos contribuintes”.

Sobre seu livro e os fatos que trouxe à tona, Víctor Frías acredita que muitos irão optar por um constrangedor silêncio, para proteger a fé ideológica e a imagem de Allende, que já era terrível antes disso tudo, mas ignorada pelos camaradas socialistas. Outros verão analogias fundamentais entre socialismo e nazismo, e conhecerão um pouco mais dessa figura que tanto contribuiu para o colapso chileno. Quanto ao que concerne o autor, ele acredita que “tudo o que foi investigado até aqui merece ser processado, incansavelmente, a fim de recuperar a luz que nossa gente merece”. Infelizmente, os idólatras do fracasso parecem nunca aprender com os fatos, preferindo um mundo de fantasias onde o socialismo trará uma vida melhor para todos. Entre a luz ou a escuridão ideológica, ficam com a última. E assim, o nazista em Allende acabará provavelmente ignorado e esquecido, enquanto os socialistas continuam rotulando seus opositores de nazistas, como se não fossem ambos uma mesma família.
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por Rodrigo Constantino

"Que significa ainda a propriedade e que significam as rendas? Para que precisamos nós socializar os bancos e as fábricas? Nós socializamos os homens." (Adolf Hitler, citado por Hermann Rauschning, Hitler m´a dit, Coopération, Paris 1939, pg 218-219)

Ensinada desde os tempos de Lênin, muitos socialistas usam a tática de acusar os opositores daquilo que eles mesmos são ou fazem. Tudo que for contrário ao socialismo, vira assim “nazismo”, ainda que o nacional-socialismo tenha inúmeras semelhanças com o próprio socialismo. Tanto o nazismo como o marxismo compartilharam o desejo de remodelar a humanidade. Marx defendia a “alteração dos homens em grande escala” como necessária. Hitler pregou “a vontade de recriar a humanidade”. Qualquer pesquisa séria irá concluir que nazistas e socialistas não eram, na prática e no ideal coletivista, tão diferentes assim.

Não obstante, para os socialistas, aquele que não for socialista é automaticamente um “nazista”, como se ambos fossem grandes opostos. Assim, os liberais, que sempre condenaram tanto uma forma de coletivismo como a outra, e foram alvos de perseguição dos dois regimes, acabam sendo rotulados de “nazistas” pelos socialistas, incapazes de argumentar além dos tolos rótulos de “extrema-esquerda” e “extrema-direita”. Tal postura insensata coloca, na cabeça dos socialistas, uma “direitista” como Margaret Thatcher mais próxima ideologicamente de um Hitler que este de Stalin, ainda que Thatcher tenha lutado para defender as liberdades individuais e reduzir o poder do Estado, enquanto Hitler e Stalin foram na linha oposta. O fim da propriedade privada de facto foi um objetivo perseguido tanto pelo nazismo como pelo socialismo, que depositaram no Estado o poder total. O Liberalismo, em sua defesa pela liberdade individual cujo pilar básico é o direito de propriedade privada, é radicalmente oposto tanto ao nazismo como ao socialismo, que em muitos aspectos parecem irmãos de sangue.

A conexão ideológica entre socialismo marxista e nacional-socialismo não é fruto de fantasia, e Hitler mesmo leu Marx atentamente quando vivia em Munique, tendo enaltecido depois sua influência no nazismo. Para os nazistas, os grupos eram as raças; para os marxistas, eram as classes. Para os nazistas, o conflito era o darwinismo social; para os marxistas, a luta de classes. Para os nazistas, os vitoriosos predestinados eram os arianos; para os marxistas, o proletariado. Além da justificativa direta para o conflito, a ideologia de luta entre grupos desencadeia uma tendência perversa a dividir as pessoas em parte do grupo e excluídos, tratando estes como menos que humanos. O extermínio dessa “escória” passa a ser desejável seja para o paraíso dos proletários ou da “raça” superior. Os individualistas, entrave para ambas ideologias coletivistas, acabam num campo de concentração de Auchwitz ou num Gulag da Sibéria, fazendo pouca diferença na prática.

A acusação de que a Alemanha nazista era uma forma de capitalismo não se sustenta com um mínimo de reflexão. O “argumento” usado para tal acusação é de que os meios de produção estavam em mãos privadas na Alemanha. Mas como Mises demonstrou, isso era verdade somente nas aparências. A propriedade era privada de jure, mas era totalmente estatal de facto, da mesma forma que na União Soviética. O governo não só nomeava dirigentes de empresas como decidia o que seria produzido, em qual quantidade, por qual método, e para quem seria vendido, assim como os preços exercidos. Para quem tem um mínimo de conhecimento sobre os pilares de uma sociedade capitalista-liberal, não é difícil entender que o nazismo é o oposto deste modelo. Para os nazistas, assim como para os socialistas, é o “bem-comum” que importa, transformando indivíduos de carne e osso em simples meios sacrificáveis para tal objetivo.

Existem, na verdade, vários outros pontos que podemos listar para mostrar que o nazismo e o socialismo são muito parecidos, e não opostos como tantos acreditam. O fato de comunistas terem entrado em guerra com nazistas nada diz que invalide tal tese, posto que comunistas brigaram sempre entre si também, e irmãos brigam uns com outros, ainda mais por poder. Apesar do Liberalismo se opor com veemência a ambos os regimes, os socialistas adoram repetir, como autômatos, que liberais são parecidos com nazistas, apenas porque associam erradamente nazismo a capitalismo. Se ao menos soubessem como é o próprio socialismo que tanto se assemelha ao nazismo!