23 de fev. de 2008

Requiem para um assassino

Resumo: Depois de tomar conhecimento de todas as barbaridades e crimes cometidos pelo novo regime cubano, é possível acreditar na tal “transição política” de Raúl Castro tão propalada mundo afora, só porque Fidel reconheceu sua decrepitude e saiu de cena sem deixar o poder?

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O anúncio do ditador Fidel Castro de que estaria se afastando do poder da ilha-cárcere, provocou enorme comoção dentre aqueles que defendem com unhas, dentes, lágrimas nos olhos e voz embargada a maior miséria humana do século XX, embora não se tenha notícia de que nenhum desses defensores do genocídio castrista tenha fugido do seu país para viver no “paraíso caribenho”. Que o digam os comunas que vivem como “burgueses”, Chico Buarque em Paris e o caquético Niemayer numa cobertura em Copacabana.

Tão repugnante quanto as entrevistas destes defensores do genocídio cubano, nostálgicos e sentimentais como se descrevessem uma passagem de filme romântico, foi ler os títulos das matérias, dentre os quais destaco este do Portal Terra: “ América Latina elogia transferência do poder em Cuba”. Engloba-se a opinião de meia dúzia de palpiteiros esquerdopatas - como se fosse o pensamento de toda a América Latina - que acham natural um infeliz tomar um governo de assalto, permanecer lá por malditos 49 anos e quando não tem mais condições físicas de empunhar o chicote e a baioneta, designa seu irmão para continuar o criminoso ofício. Estabelece-se assim uma ditadura hereditária e esses mesmos palpiteiros que não economizam palavras na hora de execrar a ditadura militar – com alternância de presidentes - que fomos obrigados a enfrentar, para o bem do Brasil, referendam e acham absolutamente normal e elogioso o gesto que, aliás, nem consideram como “ditadura”.

Ao lado disso, outros tantos desandam a falar numa “transição com abertura política”, como se a dinâmica utilizada por Raúl Castro – o ditador herdeiro - fosse muito diferente daquela do pai da revolução cubana. Como se Raúl fosse mais flexível e humano que Fidel, como se Raúl fosse mais “liberal” (no sentido de respeitar as liberdades individuais) do que seu irmão mais velho, e como se o velho abutre estivesse saindo de cena definitivamente. Lamentavelmente, não está!

É o próprio Fidel quem dá o recado quando diz no final de sua mensagem enviada dia 19: “Não me despeço de vocês. Desejo só combater como um soldado das idéias. Seguirei escrevendo sob o título ‘Reflexões do companheiro Fidel’. Será uma arma a mais do arsenal com a qual se poderá contar. Talvez se escute minha voz. Serei cuidadoso”, o que significa que só vai largar o osso quando o puserem no caixão. Até lá, quem continua mandando é ele, mesmo que como eminência parda.

No domingo 24 de fevereiro haverá eleições (ou simulacro disto) para a Assembléia Nacional do Poder Popular (Parlamento) e Raúl será ratificado nos cargos de presidente do Conselho de Estado (que já ocupa interinamente) e de Comandante-em-Chefe das Forças Armadas que o converterá oficialmente em Chefe de Estado ou ditador vitalício hereditário. Além desses dois cargos, Fidel ocupava ainda os de presidente do Conselho de Ministros e Primeiro Secretário do Partido Comunista de Cuba (PCC), dos quais não se afastou oficialmente. Para a presidência do Conselho de Ministros três candidatos da maior confiança do clã Castro podem vir a ocupar o cargo: Ricardo Alarcón de Quesada, presidente do Parlamento, diplomata de carreira que é na prática o primeiro-ministro de Fidel e considerado o cubano com os maiores contatos no mundo; Carlos Lage, vice-presidente do Conselho de Estado e de Ministros e Felipe Pérez Roque, atual ministro das Relações Exteriores
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Não por acaso, neste mesmo dia 24 de fevereiro de 1996, a ditadura cubana abateu dois aviões dos “Hermanos al Rescate”, assassinando 4 de seus pilotos: Armando Alejandro Jr. de 45 anos, cubano-americano; Pablo Morales de 29 anos, cubano residente legalmente nos Estados Unidos; Carlos Costa de 29 anos, americano de origem cubana e Mario de la Peña, de 24 anos, americano de origem cubana. O “Hermanos al Rescate” é um grupo de abnegados voluntários que buscam compatriotas cubanos que se aventuram no Mar do Caribe, expostos a todo tipo de riscos, inclusive naufrágio ou ataques de tubarão e os resgata, levando-os à terra firme nos Estados Unidos.

Naquele 24 de fevereiro de 1996, esses quatro rapazes faziam um vôo em águas internacionais em busca de alguma embarcação, quando foram atingidos por disparos de mísseis cubanos. A ordem veio de Raúl Castro, este que os palpiteiros acreditam ser mais “flexível” e “bonzinho” que seu irmão Fidel. Em entrevista a Dan Rather da CBS News, Fidel Castro admite cinicamente a responsabilidade por mais este crime, pois mesmo a ordem tendo sido dada por Raúl, que é o comandante das Forças Armadas, a última palavra era – e continuará sendo – de Fidel. No site www.rescatecubano.com, sob o título “A quien pueda interesar”, pode-se assistir um vídeo com a gravação feita na hora do ataque aos aviões. Lá pode-se ouvir todo o horror e sadismo dos criminosos que festejaram com gritos de “Pátria ou morte!”, o sucesso da investida contra civis desarmados e que não atentavam contra nenhuma “soberania”, como alegaram os irmãos Castro. Este crime foi denunciado e condenado pelo Conselho de Segurança da ONU em julho de 1996, mas os criminosos irmãos Castro continuam impunes, até hoje.

Durante esses quase dois anos em que Raúl comandou a ditadura, a repressão e a perseguição aos disidentes recrudesceu enormemente mas estas coisas nunca são divulgadas pelos meios de comunicação dos países livres porque seria “trair os ideais” desta revolução que os psicopatas comunistas adoram endeusar, desde que os confortos do mundo capitalista lhes sejam garantidos. Em 10 de dezembro do ano passado, Dia Internacional dos Direitos Humanos, por exemplo, uma pequena manifestação foi barbaramente reprimida e sete dos manifestantes acabaram presos porque vestiam camisas com a palavra “Cambio”.

Em 29 de novembro de 2007, dois jovens líderes estudantis foram presos na unidade de polícia nacional de “Zanja y Dragones” por pedir a autonomia universitária em Cuba; disseram-lhes que seriam processados e condenados sob a acusação de “periculosidade”. Em 28 de janeiro deste ano, opositores ao regime foram presos e golpeados por terem tido a “ousadia” de querer depositar flores no túmulo de José Martí! A quantidade de denúncias que recebo diariamente sobre abuso de poder, repressão autoritária, prisões arbitrárias e infundadas, além de torturas físicas e psicológicas aos que apenas desejam liberdade e respeito aos direitos mais comezinhos do ser humano, ocorridas neste curto período do comando de Raúl Castro, são incontáveis. Destaquei algumas para que se tenha idéia de como Raúl é generoso e respeitador dos direitos humanos: Condenado em julgamento sumário e oculto; sete são detidos pela atividade considerada criminosa conhecida como “o Rosário”, onde familiares de presos políticos se reúnem para rezar em prol da libertação de todos os presos; esposa de preso político, grávida, fica presa por cinco dias em calabouço por “desacato a autoridade” e é ameaçada de agressão física pela mulher do chefe da Polícia. Num só dia foram presos mais de 30 dissidentes por motivos tolos, como se reunir para rezar ou portar uma Bílbia na bolsa, todos considerados como crimes de “periculosidade pré-delitiva” que não se sabe exatamente o que quer significar.

A mais notável de todas as farsas e desrespeito ao ser humano, entretanto, ocorreu no início do mês de fevereiro após uma audiência promovida pela Universidade de Ciências Informáticas (UCI) com o presidente da Assembléia Nacional do Poder Popular, Ricardo Alarcón. O estudante Eliécer Ávila Cicilia fazia perguntas sobre direitos que lhes são negados, tão óbvios, que chega a ser estarrecedor ver alguém que não cometeu nenhum crime mendigar pela liberdade de ir e vir, como se isto fosse um favor enorme concedido por seu “dono”.

Com perplexidade, Eliécer perguntava: por que o comércio da ilha utilizava os pesos convertíveis em dólar e os trabalhadores – classe não pertencente à Nomenklatura – recebiam seus miseráveis salários em peso cubano, que tem 25 vezes menos poder aquisitivo? Por que os cubanos não podem freqüentar hotéis ou viajar para outros lugares do mundo? Por que é censurado o uso de internet, sobretudo proibido acessar o site Yahoo? Com um cinismo nauseante Alarcón respondeu que, “Se no mundo todo, os 6 bilhões de habitantes pudessem viajar para onde quisessem a confusão que haveria nos céus do planeta seria enorme; os que viajam realmente são uma minoria”, fazendo de conta que não sabe a diferença abissal entre ser livre para fazer escolhas próprias e depender da autorização de um tirano para tudo na vida. Assistam aqui o pseudo debate, num vídeo que foi feito clandestinamente e repassado à BBC.

No dia 9 de fevereiro, dias depois deste espetáculo montado para dar a impressão de que o novo ditador quer promover uma abertura política, este jovem foi levado de sua casa às 8 horas da manhã para a capital por agentes da Segurança e do Conselho do Estado. Os pais de Eliécer fizeram a denúncia a dissidentes do regime alegando que tinham muito medo, pois foram advertidos de que não podiam falar e que estavam sob vigilância. Eles estavam em pânico, temendo pela vida do filho, não sem razão, pois sua casa passou a ser vigiada constantemente por duas mulheres do Comité de Defensa de la Revolución (CDR) que interrogavam todas as pessoas que iam visitá-los.

No dia da detenção, um dos funcionários que identificou-se como sendo filho de Carlos Lage, disse para a família não se preocupar pois logo veriam Eliécer no programa “Mesa Redonda” informativo da televisão estatal. Conforme temiam seus pais, devem ter feito lavagem cerebral no jovem que ousou desafiar o todo-poderoso Alarcón para que diante da televisão se retratasse para todo o país. No dia 11 ocorre um novo debate entre alguns dos estudantes que estiveram presentes ao episódio com Alarcón e uma repórter de “Cuba Debate”, cujo slogan é “contra o terrorismo midiático”. Os estudantes negaram que foram reprimidos, presos e pior ainda, afirmaram que foram “vítimas de manipulação” de uma campanha difamente contra Cuba. Vejam neste vídeo como Eliécer se retrata e neste aqui os depoimentos dos outros estudantes. É de chorar de tristeza ver a lavagem cerebral que sofrem estes jovens...

Depois de tomar conhecimento de todas estas barbaridades e crimes, é possível acreditar nesta tal “transição política” de Raúl Castro tão propalada mundo afora, só porque Fidel reconheceu sua decrepitude e saiu de cena sem deixar o poder? Como se pôde constatar, ambos são criminosos sem escrúpulos, mentes pervertidas e más até as entranhas que não desejam o bem do seu povo mas escravizá-lo sempre e cada vez mais para compensar seus sentimentos de inferioridade: Fidel, por ser filho bastardo só reconhecido aos 17 anos e Raúl, por ser uma figura inexpressiva, mal amada e desrespeitada até mesmo dentro das Forças Armadas, invejoso do poder do irmão e cansado de ser durante toda a vida apenas uma sombra e uma escada para que Fidel brilhasse e aparecesse perante o mundo como o “Grande Líder”.

O povo cubano está farto de ser objeto na mãos desta sub-raça e os que acreditam nesta fanfarronice de folhetim barato são os colaboracionistas do regime, os que sonham com o mesmo poder que hoje lhes esmaga o crâneo e as vísceras. Esses aceitam o “borrão e conta nova” porque, em sua maioria não sofreram na carne nenhuma perseguição, tampouco tiveram parentes fuzilados pelo simples crime de serem cristãos ou discordar do regime comunista imposto na marra. Não há motivo para celebração nem sonho de dias melhores enquanto a máfia castrista estiver no poder, controlando a vida e a morte de cada um dos filhos daquela ilha.

O povo cubano digno não quer esmolas nem migalhas; não quer ser considerado cidadão de segunda classe dentro do seu próprio país nem quer a interferência de nenhum outro povo senão do seu próprio, cubano, residente na ilha ou em outros países, livre para decidir o que melhor lhe convém, livre para expressar-se sem medo dos calabouços ou “paredons”, livre para ir e vir, livre para ser dono de sua casa, do seu comércio, da sua vida. Enquanto esta maldita máfia castro-comunista não for deposta, julgada e condenada por seus milhares de crimes, tudo o que se fizer será apenas um arranjo mal feito, um faz-de-conta para inglês ver, e a esquerda mundial continuará tecendo loas nostálgicas ao “grande mito” Fidel e visitando Cuba, para dela desfrutar de tudo aquilo que seus legítimos donos há 49 anos não têm direito mas que ela, a maligna esquerda, aplaude e ajuda a manter.