17 de nov. de 2015

Sobre fadas

"O País das Fadas não é outra coisa senão o ensolarado país do bom senso

 
Gilbet K. Chesterton
 
"Ortodoxia"

10 de nov. de 2015

besteiras e ...besteiras


"Tudo o que eu posso dizer é... vá em frente, leia um livro. Eles são fascinantes, você os amará"
Richard Dawkings
 
"Se as pessoas são boas só por temerem o castigo e almejarem uma recompensa, então realmente somos um grupo muito desprezível."
Albert Einstein

11 de mar. de 2015

Preciso de um psicólogo - por Professor Adonai Sant'Anna


Preciso honestamente da ajuda de um experiente e bem qualificado psicólogo ou psiquiatra. Li muitos artigos e livros sobre psicologia. Mas isso certamente não me qualifica para tratar do meu problema. Apresento nesta postagem sintomas de uma pessoa específica, mas muito comuns entre outras. E espero que esses sintomas sejam suficientes para um diagnóstico. A partir deste diagnóstico, preciso saber se o mal apontado tem cura ou, pelo menos, tratamento.

Ontem publiquei neste blog uma postagem que denuncia algo muito grave: o fato de um notório jornalista brasileiro opinar com incisividade sobre temas que evidentemente não conhece. Quando fiz isso, lembrei de uma postagem mais antiga, na qual mostrei uma lista de pesquisadores do CNPq cujas obras são ignoradas pela comunidade acadêmica internacional. Entre esses pesquisadores está Marilena Chauí, considerada por muitos como um dos mais importantes filósofos de nosso país. 

O livro mais conhecido de Chauí é Convite à Filosofia, com milhares de citações. Anos atrás tive contato com esta obra e confesso que fiquei assustado. Mas diante dos últimos eventos neste blog, creio que seja oportuno discutir sobre alguns tópicos tratados no livro.

A responsabilidade de um autor é algo que deveria ser muito grande. E se uma obra faz sucesso, como o livro acima citado, esta responsabilidade pode atingir níveis estratosféricos. No entanto, não percebo responsabilidade nem em Chauí e nem em outros autores muito conhecidos de nosso país (como Olavo de Carvalho). Pelo contrário, Chauí se comporta como se sofresse de alguma compulsão, algo como mitomania (em minha visão de leigo em psicologia). E mais estranho ainda é o fato de que essas mentiras injustificadas parecem ser absorvidas com enaltecimento por muitos dos ditos "intelectuais" de nosso país. É claro que o problema pode estar comigo e não com Chauí. Mas os argumentos que aponto abaixo contestam essa possibilidade.

Esclareço. 

Nas páginas 72 e 73 de seu livro, Chauí afirma o seguinte: "O princípio da identidade é a condição do pensamento e sem ele não podemos pensar. [...] é a condição para que definamos as coisas e possamos conhecê-las a partir de suas definições.". Em primeiro lugar, ela enuncia este suposto princípio da identidade de uma única forma e de maneira extremamente vaga. Existem muitas publicações importantes que tratam do problema da identidade em matemática, física e filosofia, o qual pode assumir múltiplas formas. Além disso, a questão da identidade de partículas elementares em mecânica quântica é tema de importantes pesquisas até os dias de hoje. Ora, é usual que seja admitido que partículas elementares em regime de baixas energias careçam de identidade. No entanto, físicos conseguem pensar sobre elas! Portanto, de duas uma: ou Chauí jamais pensou com seriedade sobre o problema da identidade em filosofia ou os físicos apenas pensam que pensam. Para detalhes, recomendo este livro

Na página 75 a autora afirma que a teoria da relatividade "mostrou que as leis da Natureza dependem da posição ocupada pelo observador" e que aquilo que é espaço e tempo para nós pode não ser para outros seres da galáxia. Essas estão entre as afirmações mais estapafúrdias que já li em toda a minha vida. Não existe uma única versão de qualquer uma das teorias da relatividade que sustente qualquer uma dessas afirmações! As equações de Einstein estabelecem uma lei física que independe da posição de um eventual observador. Além disso, não existe qualquer consideração sobre modos de percepção extraterrestres em qualquer uma das teorias da relatividade. 

Na página 81 Chauí afirma que dedução consiste em partir de uma verdade já conhecida e que "funciona como um princípio geral ao qual se subordinam todos os casos que serão demonstrados a partir dela." A sala de Chauí, na Universidade de São Paulo, ficava ao lado da sala de Newton da Costa, um dos mais importantes lógicos da atualidade. Bastava ela perguntar para ele o que é uma dedução! Certamente da Costa responderia sem hesitar. Mas ela preferiu inventar uma visão fantasiosa sobre este importante conceito. As noções atuais sobre dedução em lógica independem de qualquer conceito sobre verdade. Além disso, o que seriam os tais princípios gerais que ela menciona? Ela simplesmente não esclarece. Além disso, Chauí afirma que deduções partem de verdades; mas não diz aonde essas verdades chegam. É uma partida sem chegada. Para uma visão elementar sobre deduções, indico esta postagem.

Na mesma página 81 ela sugere que é possível definir um triângulo como uma "figura geométrica cujos lados somados são iguais à soma de dois ângulos retos." O que é uma figura geométrica? Como é possível somar lados de um triângulo? Como é possível somar ângulos? Ela está confundindo lado e ângulo com medida de lado e medida de ângulo? Se ela não sabe matemática elementar de ensino fundamental, por que não estuda sobre o assunto? E se não quer estudar, por que falar sobre isso?

Ainda nesta mesma página rica em descalabros Chauí fala sobre a dedução de figuras geométricas. Deduções são operações lógicas aplicáveis sobre fórmulas (afirmações, em um sentido intuitivo). Triângulos não são fórmulas (ou afirmações) nas formulações usuais de geometria! 

Na página 239 Chauí fala sobre um tal de silogismo científico, afirmando que este não admite premissas contraditórias. Além disso, ela também afirma que as premissas do tal silogismo científico são universais e que sua conclusão não admite discussão ou refutação. Não tenho ideia do que seria este silogismo científico, pois o texto de Chauí mais parece um cansativo e confuso sermão da montanha, uma vez que ela se recusa a qualificar o que afirma e sequer apresenta referências no meio do texto. Mas silogismos são regras de inferência que envolvem três ou mais ocorrências de fórmulas (ou afirmações). No contexto do que hoje se entende por lógica, não há problema algum em assumir premissas contraditórias. E afirmar que alguma forma de inferência em ciência ou matemática não admite discussão ou refutação, é o mesmo que estabelecer um dogma. Ciência não se faz a partir de dogmas. Para piorar a situação, a autora afirma que premissas devem ser indemonstráveis. Pura loucura! Para um estudo muito bem feito sobre inferências dedutivas, recomendo este clássico da literatura. Para uma comparação muito didática sobre as diferenças entre deduções e induções, recomendo este livro

Na página 240 a autora assume explicitamente que a única forma de definições em ciência é a por gênero e diferença. Neste texto há uma discussão bastante resumida sobre alguns dos múltiplos tipos de definição que se usa em ciências reais e formais. Ou seja, Chauí ignora definições ostensivas, operacionais, contextuais, explícitas, entre muitas outras. 

Na página 326 a autora se refere a uma tal de geometria topológica, explicando, entre parênteses, que se trata do estudo do espaço tridimensional. Além do termo "geometria topológica" ser não usual, os poucos livros existentes com títulos que remetam a geometria topológica tratam de assuntos extraordinariamente mais complexos do que meros espaços tridimensionais, como álgebras de Clifford e variedades suaves, entre outros. 

A partir da página 331, então, Chauí concentra todas as suas forças para mentir descaradamente sobre matemática, com uma incessante e perversa rajada de loucuras. Uma das piores afirmações é aquela na qual ela explica o que é um axioma. Chauí diz que "um axioma é um princípio cuja verdade é indubitável, necessária e evidente por si mesma, não precisando de demonstração e servindo de fundamento às demonstrações." Novamente preciso insistir no livro de Mendelson. Não há necessidade alguma de que um axioma seja verdadeiro ou evidente. E, além disso, todo axioma é demonstrável, resultado este muito conhecido em lógica-matemática. Para colocar a cereja vencida sobre o bolo mofado, Chauí ainda julga que axioma e postulado não são sinônimos em matemática. 

Há muito mais trechos no livro que contam com erros grotescos, como os já apontados. Mas acho que já consegui apresentar o meu ponto. Minha pergunta é a seguinte: será que essa compulsão para escrever incessantes mentiras, a partir de opiniões irresponsáveis sobre assuntos não dominados, não se caracteriza como um quadro clínico de alguma forma de distúrbio? É uma pergunta honesta! Eu realmente quero saber! Vejo esse tipo de atitude com expressiva frequência, principalmente entre profissionais das ciências humanas que se julgam capazes de escrever sobre ciências exatas. Além de Chauí, já discuti por aqui sobre o caso muito semelhante de Olavo de Carvalho. E sei que há muitos outros ainda. Por que essa necessidade? O que falta nas vidas desse tipo de gente para agirem desta forma? 

Se alguém puder me esclarecer, ficarei profundamente grato.
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3 de fev. de 2015

Luiz Gama, um intelectual negro, republicano e liberal no Brasil escravagista.



Meu amigo Paulo Roberto de Almeida escavou uma boa matéria sobre Luiz Gama, um intelectual negro no Brasil escravagista. Vale a pena ler o texto, de autoria de Eduardo Nunomura, publicado na revisa Fapesp. Vivo fosse, duvido que Gama apoiasse a doutrina racialista imposta no Brasil pelo lulopetismo. Ele não queria privilégios, mas liberdade. Vendido pelo próprio pai, "transformou seu drama pessoal em luta pela Abolição e pela República":

Luiz Gama foi um personagem tão extraordinário quanto complexo, a começar por suas qualificações: abolicionista, republicano, poeta, advogado, jornalista e maçom. Pertenceu a uma geração que preparou a derrocada do Segundo Império no Brasil, no século XIX. Com a pena e a oratória, embrenhou-se na luta contra os conflitos da época, tais como as relações entre Igreja e Estado, Monarquia e República, raça e nação. Tomava o partido das causas libertárias e havia um sentido pessoal nessa escolha: Gama foi escravo, que tinha sido vendido por seu pai quando criança. Quase adulto, conseguiu conquistar a liberdade. Autodidata, extraiu de sua dramática e épica história de vida força e obstinação para libertar mais de 500 escravos.

Esse personagem batiza logradouros por todo o país, sobretudo em São Paulo, onde foi maior a sua atuação, mas ainda é pouco conhecido. Conhecê-lo, estudá-lo e iluminá-lo tem sido uma tarefa de pesquisadores como Ligia Fonseca Ferreira, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Autora de uma tese de doutorado sobre a vida e obra do ex-escravo defendida na Universidade de Paris III – Sorbonne Nouvelle, Ligia é negra e assume a responsabilidade de estudar um personagem com quem guarda relações mais complexas que a de um pesquisador neutro diante de seu objeto. “Às vezes, minimiza-se, quando não se invisibiliza, o trabalho dos pesquisadores negros a respeito de personagens históricas negras que afirmaram esta condição”, afirma.

A contribuição de Ligia para a compreensão de Luiz Gama é ímpar. Ela organizou a reedição crítica das Primeiras trovas burlescas & outros poemas de Luiz Gama(Martins Fontes, 2000) e Com a palavra, Luiz Gama. Poemas, artigos, cartas, máximas (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2011). De formação em letras, com ênfase na área de língua e literatura francesa, Ligia tomou conhecimento do abolicionista quando realizava pesquisa na Sorbonne sobre a literatura negra no Brasil entre 1987 e 1988. Gama era ninguém menos que o pioneiro. Mas diante da fragmentada documentação sobre o poeta, e já mirando um doutorado, a solução foi percorrer bibliotecas, centros de estudos e até sebos de livros. O que encontrou não foi pouco.

As Primeiras trovas burlescas de Getulino foram publicadas em 1859, em São Paulo, àquela altura uma província de poucos leitores, escassos escritores e parcas tipografias e livrarias. O livro continha 22 poemas de sua autoria e três do político e professor de direito José Bonifácio, o Moço. A escolha do pseudônimo “Getulino”, derivado de “Getúlia”, território do norte da África, já indicava o posicionamento de um autor de origem africana, adentrando o restrito círculo de letrados, privilégio de brancos. Dois anos mais tarde, ele reedita a obra no Rio, na mesma gráfica que imprimia romances de José de Alencar. Na segunda edição, “correcta e augmentada”, publicou 39 poemas, dos quais 20 inéditos.

No Brasil escravocrata, escrever e ser lido eram duas formas de se manter próximo do poder. Procure se colocar no lugar de um ex-escravo, no início dos anos 1860. Imagine então usar seus escritos para satirizar os políticos e os costumes, parodiar as instituições arcaicas, criticar os “doutores” e trazer à tona os temas da corrupção, do preconceito racial, do embranquecimento dos mulatos que renegavam as raízes e do anticlericalismo. Segundo a pesquisadora, Luiz Gama fez isso com essa obra. Ao publicar em 2000 uma versão compilada com a produção poética integral do abolicionista, Ligia abriu um frutífero campo de estudos.

No periódico Cabrião, Luiz Gama empunha a bandeira dos liberais dissidentes que não aceitam a República sem o fim da escravidão; no destaque.


Luiz Gama nasceu em 21 de junho de 1830 em Salvador, filho de uma africana livre, a “altiva” Luiza Mahin, e de um fidalgo de origem portuguesa e membro de uma importante família baiana. O abolicionista jamais revelou o nome do pai que o vendeu como escravo. Foi entregue ao negociante e contrabandista Antônio Pereira Cardoso, que, sem conseguir revendê-lo, acabou ficando com o garoto de 10 anos. Gama aprendeu a ser copeiro, sapateiro, a lavar e engomar, e a costurar. Sete anos mais tarde, conviveu com o estudante Antônio Rodrigues do Prado Junior, que lhe ensinou as primeiras letras. Em 1848, “havendo obtido de forma ardilosa e secretamente provas inconcussas de sua liberdade”, segundo seu próprio relato, foge da casa de Cardoso.

Apenas dois anos antes de sua morte, em 25 de julho de 1880, Luiz Gama envia carta a Lúcio de Mendonça, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, revelando fatos inéditos de sua biografia. Ligia encontrou esse documento na Biblioteca Nacional, no Rio. “É um dos poucos relatos da vida de um ex-escravo no Brasil. Na história dos negros e das letras brasileiras, não há equivalentes das memórias de escravos, tão frequentes nos Estados Unidos”, diz. Esse texto é fundamental para compreender como Gama se tornou uma voz influente nos movimentos abolicionista e republicano.

A esse documento se soma uma carta anterior, de 26 de novembro de 1870, também na Biblioteca Nacional e publicada por Ligia no livro Com a palavra, Luiz Gama. Poemas, artigos, cartas, máximas – obra que traz uma seleção de mais de 40 textos de Gama, vários inéditos, e também cerca de 30 ilustrações, além de seis ensaios da autora. O destinatário da carta era José Carlos Rodrigues, fundador de O Novo Mundo, primeiro periódico em português publicado nos Estados Unidos. O abolicionista fala sobre o movimento republicano no Brasil e sobre a loja maçônica América, fundada por ele e um grupo de liberais que contava, entre seus membros notáveis, com Rui Barbosa e Joaquim Nabuco. “Asseguro-te que o partido republicano, graças à divina inépcia do sr. D. Pedro II, organiza-se seriamente em todo o império”, escreveu. Mas, segundo Ligia, defendia que a instauração de uma República deveria vir acompanhada da Abolição. A convicção era tamanha que ele abandonou a Convenção de Itu (1873), ao encontrar cafeicultores contrários à emancipação dos escravos na fundação do Partido Republicano Paulista.



Anúncio em que Luiz Gama oferece sua mão de obra

Naquele momento, Luiz Gama já era uma personalidade. Em 1864, havia fundado, ao lado do caricaturista italiano Angelo Agostini, o Diabo Coxo, primeiro periódico humorístico ilustrado da capital paulista. Dois anos depois, colaborou no semanário Cabrião, também com Agostini e Américo de Campos. Em polêmicos artigos, criticava com veemência o regime escravocrata e passava a sofrer perseguições políticas. Sua ira se voltava contra o uso abusivo do Poder Moderador e o próprio imperador dom Pedro II, cuja imagem havia sido abalada na Guerra do Paraguai (1864-1870).

Em 1869, Luiz Gama obteve autorização para exercer a profissão de advogado em primeira instância, mesmo ano em que funda o Clube Radical Paulistano com outros membros da Loja América. Com sólidos argumentos, Gama revela a fragilidade do sistema judiciário. De acordo com a pesquisadora, além das críticas, tratou de inovar no plano jurídico, como quando desenterrou a Lei de 7 de novembro de 1831, que extinguiu o tráfico negreiro, para conseguir libertar africanos comercializados depois dessa data. Em um processo de 1869, entrou em choque com um dos principais juízes da capital, Rego Freitas, a quem exigiu que “respeita[sse] o direito e cumpri[sse] seu dever, para o que é pago com o suor da nação”. O discurso de Gama continua atualíssimo.

Foi também proprietário e redator do semanário político e satírico O Polichinelo(1876). A imprensa e a maçonaria foram fundamentais para o ativismo de Gama, porque lhe franquearam espaço para defender os ideais republicanos e o apoiaram na libertação dos escravos. No século XIX havia outros negros abolicionistas, como os jornalistas Ferreira de Menezes e José do Patrocínio ou o engenheiro André Rebouças, mas nenhum deles vivenciou o drama da escravidão. Pode-se comparar o brasileiro só a abolicionistas americanos, como os ativistas Frederick Douglass, autor de The life of an american slave (1845), ou Booker T. Washington, autor de Up from slavery (1901).

Gama manifestava admiração pelos Estados Unidos, para ele “o farol da democracia universal”. Um modelo exemplar: república federativa, de cidadãos livres e iguais, e ancorada nos ideais iluministas da liberdade, igualdade e fraternidade. Incomodava ao abolicionista o fato de que o Brasil se mantinha como única monarquia das Américas e última nação escravagista do Ocidente. A pesquisadora não deixa de questionar, no artigo “Representações da América nos escritos de Luiz Gama”, a ser publicado na Revista de Estudos Afroasiáticos, a ausência de alusões por parte de Gama aos conflitos raciais e à segregação dos negros nos Estados Unidos pós-escravista.

Ligia chama atenção para o fato de ele jamais ter mencionado Joaquim Nabuco em seus escritos, numa recíproca quase verdadeira. Isso decorreria do fato de que o também líder na luta antiescravista era filho de Nabuco de Araújo, ex-presidente da província de São Paulo e denunciado por Gama por sua conivência com a escravização ilegal de africanos. Gama, provavelmente cansado de esperar pela libertação dos africanos, defendia a incitação de um movimento popular, já que, para ele, se a insurreição é um “crime”, a “resistência” afigura-se como “virtude cívica”. Já Joaquim Nabuco estava convencido de que a Abolição deveria ser feita pela via parlamentar.

Luiz Gama morreu em 1882, antes de testemunhar a libertação dos escravos e o fim do Império. Para a pesquisadora, ele foi poupado de ver a República nascer de um golpe militar, constatar que os ideais de igualdade entre os homens não foram aplicados e que a campanha imigrantista tinha, entre seus propósitos, embranquecer o Brasil para eliminar os traços da estigmatizada e incômoda presença africana no país.


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