25 de fev. de 2008
Ignorância bestial e tendenciosa. Ciência na TV
Cuba e o sedutor modelo chinês
Os leitores deste site que acompanham os meus artigos podem ter estranhado que até agora não falei na renúncia do ditador Fidel Castro. A razão para o meu silêncio é que considero toda essa história a respeito do afastamento de Fidel um embuste, uma jogada política para manter a dinastia de sua família. Aliás, seu irmão Raul já está no comando desde que Fidel adoeceu.
Quem apóia a ditadura cubana? Os sequazes de Fidel, seus familiares e mais alguns idiotas latino-americanos.
Em função dos últimos acontecimentos Cuba voltou ao centro do noticiário internacional. Em decorrência disso as pessoas puderam ver na televisão as paisagens insólitas dessa Ilha que evocam os anos 50.
A ditadura comuno-fascista de Fidel Castro congelou Cuba no tempo e há 49 anos e o ditador repete um mantra idiota segundo o qual a Nação cubana é uma vítima do imperialismo americano.
Com o afastamento de Fidel desenha-se uma tentativa de transformar Cuba numa espécie de mini-china. Isto significa governo ditatorial nas mãos do Partido Comunista, a abertura econômica capitalística e ausência total de liberdade política.
Mas esta saída à chinesa esbarra no componente patrimonialista que faz da família de Castro a proprietária da Ilha, como numa dinastia. É bem provável que a fórmula chinesa fará explodir a luta pelo poder dentro das hostes do próprio partido comunista.
A solução deverá ser mesmo a adoção do modelo democrático que, com seus mecanismos de divisão e alternância do poder, garantirá um processo de transição pacífico.
E a posição do Brasil nesta história toda se configura como um terrível desastre em termos diplomáticos, já que Lula e seus sequazes, quando tratam do assunto, o fazem na forma de compadrio, sem qualquer censura à ditadura cubana. Lula se manifesta não como chefe de Estado, mas como amigo de Fidel.
No fundo, Lula e seus sequazes gostariam de transformar o Brasil numa segunda China. E nisso são apoiados por um empresariado vagabundo que sempre viveu à cata de caraminguás governamentais.
Os capitalistas brasileiros e, de resto, os latino-americanos, não são capitalistas. São patrimonialistas. Odeiam o liberalismo e também a liberdade de mercado porque esta demanda competência e competitividade balizada pelo risco. Por isso sempre apoiaram todos os tipos de ditadura.
A prosperidade com o conseqüente bem-estar social dela decorrente só acontece com o modo de produção capitalista combinado com liberdade política. Pois são os mecanismos institucionais democráticos, a segurança jurídica e os direitos da cidadania os únicos elementos capazes de coibir os abusos do poder do Estado e da concentração de riqueza e poder dos grandes agentes econômicos.
“Só se salvarão os que sabem nadar”
Denúncias devassam o santo dos santos
Em meus dias de UFCSTUR – como denominei a Universidade Federal de Santa Catarina – denunciei na imprensa as centenas de professores contratados sob regime de Dedicação Exclusiva e que continuavam tocando serenamente seus consultórios de médicos ou dentistas, seus escritórios de advocacia. Mais outros tantos que ganhavam bolsas em outros Estados do País ou no Exterior e voltavam de mãos abanando, após quatro ou cinco anos de turismo regiamente subsidiado – extensivo a mulheres e filhos, é claro – sem nada devolver ao Erário. Minha denúncia causou comoção na Universidade, mas ficou tudo por isso mesmo. A desfaçatez da UFSC era tamanha a ponto de a Reitoria abrigar uma agência de turismo em suas instalações. (E talvez ainda a abrigue). O reitor processou-me por calúnia e difamação, mas teve de tirar o cavalinho da chuva. Em suma, tudo continua como dantes no quartel de Abrantes. A universidade é o Santo dos Santos, onde não há pecados nem impurezas.
Isso sem falar naquela corrupção perfeitamente legal, tais como doutorandos que vão a Paris ou Londres pesquisar a obra de Machado de Assis ou Nelson Rodrigues. Ora, por que não pesquisá-la aqui, onde estes autores a elaboraram? Depois de quatro ou cinco anos, elaboram um textículo de 300 ou 400 páginas, que não será lido por ninguém – talvez nem mesmo pelos participantes da banca – e ficará mofando nalguma biblioteca. Isso quando elaboram as 400 pagininhas. Pois muitos nem isso conseguem. Isso quando fica mofando nalguma biblioteca. Porque às vezes nem fica. Na UFSC, nos anos 60, um incêndio providencial numa sala da Reitoria queimou as “teses” de boa parte dos doutores da Universidade. Estranho incêndio, queimou só as teses. “Ainda bem que queimou” – me confessou um deles, doutor em História – . Porque a minha tese não se sustentava”.
Isso sem falar em professoras que voam de Porto Alegre a Tóquio, para expor durante vinte minutos um comunicado vital... sobre Literatura Comparada. Em velhotes que se candidatam a doutorado aos 50 anos, quando já estão perto da aposentadoria. O doutorado, que deveria ser um especialização para o exercício do magistério, passa a ser um prêmio de consolação na velhice. Encontrei em Paris uma de minhas colegas de magistério, uma velhota quase sexagenária com dificuldades de locomoção, pois mal conseguia enxergar um semáforo. Fazia doutorado em Lingüística. Passaram-se os anos e não escreveu uma linha. A universidade queria trazê-la de volta. Mas para isso ela tinha de ser comunicada – sei lá porque razões – aqui no Brasil. Como ela não queria receber essa comunicação, permanecia em Paris. Com seus salários e subsídios de bolsa preservados. Não sei como foi resolvida a situação.
Mas isso tudo é perfeitamente legal. A UFSC teve um caso caricatural. Um professor, que foi contemplado com uma bolsa na Bélgica, jamais foi à Bélgica. Encontrou uma fórmula para abrir uma conta em um banco belga e receber seu dinheiro no Brasil. Com a bolsa, construiu uma mansão em Itapema. Me consta que a universidade não conseguiu afastá-lo de seus quadros.
Graças ao escândalo dos cartões corporativos, a universidade brasileira finalmente entrou na berlinda. Descobriu-se que o reitor da Universidade de Brasília (UNB), Timothy Mullholland, gastou apenas 470 mil reais na reforma do apartamento em que residia. Em que residia gratuitamente, diga-se de passagem. Homem refinado, o Magnífico comprou – com o cartãozinho mágico – uma lata de lixo no valor de R$ 990 e um saca-rolhas de R$ 859. Gente fina é outra coisa.
Mais ainda. Leio hoje no Estadão (18/02) que os cartões corporativos da UnB serviram para pagar compras de valor elevado em supermercados, mercearias, açougues, peixarias e armazéns no ano passado. De 2004 a 2006, esse tipo de gasto tinha produzido uma despesa abaixo de R$ 13 mil, somadas as contas dos três anos. Levantamento do Estado mostra que somente em 2007 os cartões pagaram R$ 69.721,99 em compras feitas em estabelecimentos especializados na venda de gêneros alimentícios, como Carrefour, Pão de Açúcar, Tigrão e Oba, entre outros.
Mas também aparecem compras em lojas que vendem artigos mais refinados, como o minimercado e delicatessen La Palma, a confeitaria Monjolo - que vende biscoitos, tortas e bolos finos - e a padaria Pão Italiano, por exemplo. A profusão de compras desse tipo, pela universidade, mostra que o cartão público de débito é usado como um cartão pessoal - com a diferença de que a fatura é emitida contra o caixa do Tesouro Nacional.
É o que nos conta o jornal. Também informa que a segunda universidade com maior despesas de cartão corporativo é a Federal do Piauí, cujos gastos nem de longe rivalizam com os feitos pela UnB. Em 2007, a Universidade Federal do Piauí gastou R$ 356.772 nos cartões.
As denúncias chegaram ao Santo dos Santos do mundo acadêmico. Mas ainda são tímidas. No Brasil, quando se puxa um fio da corrupção, vem atrás um imenso novelo. E as demais universidades do país? Seus Magníficos Reitores e funcionários não usam cartões corporativos? Ora, se usam, é de supor-se que também terão caído na farra dos cartões. Alguém consegue acreditar que só as universidades de Brasília e do Piauí fazem uso indevido dos cartões?
As denúncias seguirão adiante? Duvido. Se seguirem, vai ser bom para o mercado de trabalho dos jornalistas. As empresas terão de contratar mais profissionais para apurar tanta malversação de dinheiro público.
De qualquer forma, a corrupção universitária é anterior à prática dos cartões. Corrupção são essas bolsas para pesquisas rumo ao nada, viagens para congressos inúteis, dobradinhas com Dedicação Exclusiva e exercício simultâneo de outra profissão, doutorandos que voltam de mãos vazias e nada devolvem à universidade. Em um colóquio literário, por exemplo, quem mais ganha não é a cultura, mas a hotelaria e as agências de turismo.
Puxa-se um fio e vem o novelo. Começou com o Executivo. Logo descobriu-se que Legislativo e Judiciários tinham também suas fórmulas de salário indireto. Agora, entra a Academia no baile. Antes tarde do que nunca. Mas se bem conheço os bois com que lavro, ninguém será punido. É gente demais para ser punida. Melhor então não punir ninguém.