18 de mai. de 2006

Em dose dupla - Primeira Leitura

A revolução da vulgaridade
17/5/2006
“(...) De repente, todos os lugares privilegiados e importantes do espírito estavam tomados por esse tipo de gente, e todas as decisões eram tomadas em seu sentido. (...). Não falta talento nem boa vontade, nem mesmo faltam caracteres. Falta ao mesmo tempo tudo e nada; é como se o ar ou o sangue tivessem mudado; uma doença misteriosa devorou a pequena genialidade dos velhos tempos (...).”É um trecho de Musil. Eu recorro a ele sempre que a vulgaridade tenta me afogar. Em tempos maus se fazem as piores casas e os piores poemas. Também se fazem os piores homens. Por Reinaldo Azevedo

A hora dos bárbaros
18/5/2006
Dez advogados escrevem um artigo que vale por um abaixo-assinado, ferem o bom senso, mas, estranhamente, não atacam o crime organizado. O Brasil está doente. E falo também sobre Cláudio Lembo: nós precisamos de um Júlio César, e ele resolve se comportar com o estoicismo de um Sêneca. Anime-se, governador: comece por botar na rua os incompetentes. Por Reinaldo Azevedo

A CADÊNCIA DO RETROGRESSO - Adriana Vandoni Curvo

Nos levaram a esperança, a fé, a dignidade. Mensaleiros e sanguessugas nos secam a crença na boa fé humana, ultrapassando os limites da decência. Nossa liberdade é um constante risco. Já não existe mais privacidade, nossas vidas são devassadas e nos desnudam da soberania.

Ficamos nus, e sem o menor pudor nos tiraram o direito a pudores.

Precisamos rasgar a Constituição brasileira, queimá-la, atear fogo mesmo, afinal ela parece ser apenas uma peça para os anais da imoralidade brasileira. De início vamos raspar o Art 1º onde está escrito que nosso Estado Democrático de Direito tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e ao pluralismo político.

Queimemos a nossa constituição por falácia. Se vivêssemos um Estado de Direito, nenhum indivíduo, presidente ou cidadão comum, estaria acima da Lei. Mas que besteira a minha. Quais Leis? Elas existem? Sim, mas apenas como decoração, para que nosso país se acredite como nação, já que a obediência a elas não é cobrada. Não precisamos de novas Leis, mas de menos frouxidão para que elas sejam cumpridas. Seguem a Lei apenas aqueles que ainda se imaginam cidadãos, que ainda nutrem a doce ilusão de viver em uma Nação e que insistem em acreditar que a sua dignidade como pessoa humana é respeitada pelo Estado.

Ter a soberania como fundamento do Estado significa que dentro do nosso território não se admitirá força outra que não a dos poderes juridicamente constituídos.

Uma Nação meio soberana ou de soberania relativa, não é uma Nação.

Qual é esse pluralismo político que se refere a Constituição? Vivemos em um país onde os partidos políticos são comercializados por homens rasteiros que se vendem, e por imorais que os compram.

O que somos? Um amontoado de pessoas que se une apenas em copas mundiais de futebol? Se somos isso, então não somos nada! O que devemos fazer? Esperar a hora que o limite da nossa resistência nos impulsione a partir desta terra que como mãe, é a pior das madrastas? Não abriga seus filhos, os tornam indignos, ultrajados, sujos.

Não sou deste ou daquele lado, apenas quero respeito. Quero a chance de ver prosperar meu trabalho. Quero a oportunidade de criar meus filhos e conhecer meus netos. Quero poder sair do meu país sem ter vontade de ficar por lá.

Quero sentir orgulho da minha pátria e não vergonha por ser ela uma pátria sem caráter.

Quero respeito!

Não quero mais viver em uma nação meia-boca, que faz do seu povo cidadãos meia-boca, um país que envergonha e puni os de bem, protege e enaltece os que matam, roubam, estupram.

Permanecer aqui está se tornando muito mais que um ato de coragem, está se tornando falta de amor próprio a ponto de se submeter à degradante condição de refém dos fragmentos de uma justiça que nem de longe faz justiça.

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