7 de set. de 2006

Uma Nação Sem Álibi - por Percival Puggina


Na gelada manhã de segunda-feira, enquanto planejava a semana, lembrei-me de que precisava escrever o artigo para este espaço que quinzenalmente ocupo. Contei nos dedos e percebi que o texto seria publicado no Sete de Setembro. O tema da Pátria se tornava incontornável. Fui invadido, desde então, por uma tristeza e um desalento que teimam em não me abandonar. Perdoem-me, pois, os leitores. Não há verde-amarelo, não há salva de canhão, não há clarineta, nem banda, nem bandeira tremulante capazes de melhorar meu astral.

Estou convencido de que desde o momento em que D. Pedro proclamou a Independência, nosso país jamais passou por um Sete de Setembro tão melancólico e afastado do sonho de nossos fundadores. Já fomos mais pobres. Já fomos menos integrados como nação. Já vivemos sob ditaduras e regimes militares. Já estivemos quase sem moeda, crédito e câmbio viável. Já enfrentamos guerras e convivemos com a escravidão. Já nos deparamos com casos de corrupção. Mas nunca, nunca como nestes últimos meses, nós brasileiros fomos constrangidos a sentir tão profunda vergonha! Esse sentimento, que se volta para o topo das instituições e dos Poderes de Estado, não se limita a eles. Desgraçadamente, não se limita a eles.

Por tudo que se presume, pelo que as pesquisas nacionais revelam, estamos em vias de construir perante a história universal o maior caso de cumplicidade de uma nação com a vilania nela instalada. A partir de outubro seremos um povo sem álibi. O presidente declara que nada sabe e lava as mãos. E nós? Chamados a depor, o que diremos? Que não estávamos aqui? Que nada sabemos nem vimos? Estávamos, sabemos e vimos.

Do mesmo modo como eventualmente se desenvolve entre o seqüestrado e o seqüestrador uma dependência emocional chamada “Síndrome de Estocolmo”, estamos presenciando o surgimento da “Síndrome de Brasília”, na qual nos consagramos, democraticamente, à cultura da pilantragem. Este é, portanto, o pior Sete de Setembro da minha vida. Embora já tenha passado por muitos sob circunstâncias políticas desagradáveis, sempre restava a Nação como precioso bem. Mas agora? No que nos tornamos, agora?