24 de set. de 2006

A quadrilha antidemocrática - por Orlando Tambosi

Conspiradores, mafiosos e intelectuais pelegos.

Em editorial com o título "Degradação", a edição deste domingo da Folha de S. Paulo reflete com clareza sobre a situação a que o lulo-petismo conduziu o país. Falta-lhe, porém, a altivez que teve em outras épocas de perigo institucional. Falta-lhe estampar na capa um editorial como este e dizer, sem meios termos, que toma a defesa do Estado de Direito e, por isso, é contra a continuidade de um governo degradado. Falta-lhe alertar que a reeleição de um governo que vê a imprensa como inimiga e tolera a existência de uma quadrilha que trama contra a democracia é uma desgraça para a nação. A Folha se declara apartidária, e isto é correto: nenhum jornal deve ser subserviente a interesses partidários. Mas isto não a exime - e a imprensa em geral - de tomar partido pela democracia e a preservação das instituições. É um ato de grandeza a que, miseravelmente, nossos jornais têm fugido. Transcrevo abaixo um trecho do editorial.

Conspiradores sem escrúpulo se dizem vítimas de conspiração. Mafiosos acusam quem os indicia. Intelectuais se tornam militantes da mentira. Como nos tempos de Stálin, setores de esquerda se esfalfam em condenar os que não ficam cegos aos desmandos do tirano.
Lula não é nenhum tirano. Mas, se ele próprio é levado a condenar a felonia de seus companheiros, sua candidatura representa a tolerância com toda uma quadrilha.
Uma quadrilha que vê, na ilegalidade, a volta ao charme romântico de uma época em que havia méritos em ser clandestino. Uma quadrilha que aproveita, do messianismo ideológico de outros tempos, os argumentos de que a elite quer apeá-la do poder. Uma quadrilha que, por fidelidade ao chefe, por submissão ao chefe, imagina agradá-lo quando mergulha na prepotência, no autoritarismo, na chantagem e na corrupção.Talvez o chefe goste disso. Talvez premie, num futuro mandato, asseclas menos desastrados.
Tudo depende do aval que lhe derem as urnas. Esta Folha mantém, como sempre, o compromisso de apartidarismo que está entre as razões de ser de sua atividade jornalística.
Nas eleições que opuseram Fernando Collor de Mello, de um lado, e Luiz Inácio Lula da Silva, de outro, este jornal não tomou partido. Os asseclas de Collor promoveram uma patética invasão da Folha uma semana depois da posse. Os asseclas de Lula por ora se limitam a reclamar de supostas malevolências oposicionistas.
Não há malevolência, porém, diante do fato consumado. Não há inocência tampouco. No âmago do governo Lula, age uma organização disposta a quase tudo para se manter no poder. De seu sucesso -ou não- depende o futuro da democracia brasileira

Blog do Professor Orlando Tambosi

ELEIÇÕES: CONTRA A CORRUPÇÃO

Pouco adianta descobrir se a crise moral por que passamos é maior ou menor do que as do passado. O fato é que ela é gigantesca. A corrupção atingiu os três poderes do governo: Executivo, Legislativo e Judiciário. É uma crise avassaladora e que não pára de crescer.

O espaço deste artigo seria insuficiente para enumerar todos os órgãos envolvidos em falcatruas com o dinheiro público. A corrupção tornou-se sistêmica e atingiu toda a máquina pública, com honrosas exceções.

Pouco adianta, tampouco, salientar os prejuízos que isso causa à nação, ao corroer os parcos recursos do governo e comprometer os investimentos mais essenciais. A crise moral extrapolou a dimensão econômica.

O que mais me preocupa nos dias atuais é a deterioração de valores que pode ocorrer em nossa juventude. Sim, porque é ela que vai carregar esta nação amanhã. Nada pior do que destruir o idealismo dos jovens. Uma nação sem jovens é uma nação morta. Nossos jovens estão sendo submetidos a uma acachapante contradição.

Eles vêem uma realidade que não tem nada a ver com os valores que seus pais lhes ensinaram. Essa contradição se repete a cada dia, com novos personagens que entram em cena com o mesmo pleito de inocência depois de cometerem as maiores barbaridades. Logo depois vêm outros, que tiram de cena os primeiros, numa sucessão de corruptos e corruptores que parece não ter mais fim.

Será que, de tanto ver essa tragédia nacional, os jovens de hoje vão ensinar os valores da realidade aos seus filhos? Ou transmitirão a eles os valores que aprenderam de seus pais?

Não podemos brincar com fogo. Estamos submetendo nossos jovens às mais absurdas frustrações e criando neles a nefasta filosofia do ceticismo, da descrença e da desilusão.

Isso os leva ao individualismo extremado, à prática da Lei de Gerson e ao salve-se-quem-puder.

Caro leitor. Temos de reagir. Não podemos apagar a chama da nossa juventude. Vamos fazer uma cruzada em favor da moralização dos costumes elegendo em outubro próximo apenas os que têm um programa claro de combate à corrupção.

Mais do que isso, vamos nos preparar para cobrar dos eleitos, de todas as formas possíveis, a concretização de seus compromissos de campanha.

Democracia é isso: é o melhor regime, mas, também, o mais trabalhoso.

Por isso, caro leitor-eleitor, prepare-se para votar bem e, sobretudo, para enviar cartas, fax, e-mails aos eleitos. O tempo todo. Durante quatro anos. Até que limpemos este país dessa gangue de destruidores de valores e de jovens.

Antonio Ermírio de Moraes, Empresário

Surrupiado da Amiga Saramar

PORQUE VOTO EM ALCKMIN - Percival Puggina

Revista Voto, edição de setembro de 2006

Percival Puggina

Vários leitores me pediram para escrever sobre as razões pelas quais não votarei em Lula. Tarefa complicada. Se fosse relacionar todos os motivos para não cometer essa loucura seria necessário escrever um livro inteiro. E para isso me falta tempo e disposição.

A saída me veio através de um amigo com quem conversava sobre o assunto. Disse-me ele: "Puggina, existem políticos da direita que às vezes pensam que eu sou bobo. Mas os da esquerda me tomam por bobo todos os dias". Quanta lucidez nessas palavras! De fato, o que estamos assistindo no Brasil é o sucesso eleitoral de um discurso que pressupõe platéia em estado mental letárgico. De fato, quanto mais eufórico eu vejo o presidente Lula, quanto mais seus índices flutuam sobre esse líquido espesso e pestilento onde teima em não afundar, mais me convenço de o quanto seria higiênica uma troca de comando na política brasileira. A essas alturas, um governo não petista passa pelas narinas e chega aos pulmões com jeito de ar aspirado entre as orquídeas da montanha.

A democracia nos concede uma oportunidade singular. Com raras, raríssimas exceções, o joio da política brasileira foi atraído para o governo Lula e para sua base parlamentar como limalhas de ferro são capturadas por um imã. Se você erguer esse imã, que está localizado no Palácio do Planalto, os folículos da limalha se erguerão junto, presos uns aos outros em longos filamentos. Já pensou? Depois, é só jogar tudo fora e pronto!

Não, caro leitor, não estou exagerando. No governo, no Congresso, espalhando-se pelos estados da Federação, numa infindável seqüência de escândalos e denúncias, as figuras que sempre se vê ocupando as constrangedoras manchetes são membros do governo, dos partidos que o compõem e de sua sustentação parlamentar. A grande vantagem que estes últimos quatro anos nos proporcionaram foi que o destemido trabalho da imprensa tornou conhecidos, pelos nomes próprios, praticamente todos os pintados e barrosos dessa até então anônima boiada.

Nos últimos dias, assistindo tanto os debates entre os candidatos a governador quanto os programas de tevê da dona Heloísa Helena, fiquei pensando que o partido da senadora está proporcionando ao do presidente Lula miligramas daquilo que o PT durante décadas e às toneladas jogou para cima de quem se antepusesse aos seus projetos políticos. Mas isso não faz da senadora e de seus candidatos uma alternativa melhor. Para que também não nos tomem por bobos todos os dias como vêm tentando fazer, é bom lembrar: os parlamentares líderes do PSOL não pediram para sair do PT porque não quisessem andar em más companhias ou por rejeitarem o que febrilmente transitava pelas vísceras do partido desde antes da eleição de 2002 e se tornou ainda mais grave na composição da sua maioria parlamentar. Não, a senadora e os deputados do PSOL foram expulsos por discordarem da reforma da Previdência. E a expulsão os contrariou. Fizeram o que podiam para permanecer no PT.

Uma coisa é uma coisa. Outra coisa, sabem todos, é outra coisa. Uma coisa é divergir da forma como se chega ao poder, do modo como o poder se estrutura, reparte e exerce. Outra é a dissidência de base ideológica. E os pupilos da senhora senadora deixaram o ninho antigo por motivos que em nada me sensibilizam, na medida em que o fizeram para preservar a pureza de uma ideologia de péssimo passado e, por isso mesmo, mais nenhum futuro. Essa ideologia não pode apresentar um caso bem sucedido, uma democracia construída ou um único estadista nascido em suas entranhas.

Por isso, voto em Geraldo Alckmin.