27 de out. de 2006

Um Líder Carismático - por Rodrigo Constantino

Quem espera que o diabo ande pelo mundo com chifres será sempre sua presa.” (Schopenhauer)

Era uma vez um sujeito humilde, que resolveu entrar para o Partido dos Trabalhadores, logo no começo de sua existência. Foi praticamente um dos fundadores do partido. Tamanha era sua influência sobre os demais membros, que logo se tornou o maior líder dentro do partido. Praticamente redigiu o programa que seria defendido pelo partido. Este programa era uma mistura de socialismo com nacionalismo.

O programa defendia a “obrigação do governo de prover aos cidadãos oportunidades adequadas de emprego e vida”. Alertava que “as atividades dos indivíduos não podem se chocar com os interesses da comunidade, devendo ficar limitadas e confinadas ao objetivo do bem geral”. Demandava o “fim do poder dos interesses financeiros”, assim como a “divisão dos lucros pelas grandes empresas”. Também demandava “uma grande expansão dos cuidados aos idosos”, e alegava que “o governo deve oferecer uma educação pública muito mais abrangente e subsidiar a educação das crianças com pais pobres”. Defendia que “o governo deve assumir a melhoria da saúde pública protegendo as mães e filhos e proibindo o trabalho infantil”. Pregava uma “reforma agrária para que os pobres tivessem terra para plantar”. Combatia o “espírito materialista” e afirmava ser possível uma recuperação do povo “somente através da colocação do bem comum à frente do bem individual”. O meio defendido para tanto era o centralismo do poder.

O líder era muito carismático, e sua retórica populista conquistava milhões de seguidores. Ele contava com um brilhante “marqueteiro”, que muito ajudava na roupagem do “messias restaurador”, enfeitiçando as massas. Foi projetada a imagem de um homem simples e modesto, de personalidade mágica e hipnotizadora, um incansável batalhador pelo bem-estar do seu povo. Seus devaneios megalomaníacos eram constantes. Sua propaganda política incluía constante apelo às emoções, repetindo idéias e conceitos de forma sistemática, usando frases estereotipadas e evitando ao máximo a objetividade. O Estado seria a locomotiva do crescimento econômico, da criação de empregos e do resgate do orgulho nacional. A liberdade individual era algo totalmente sem importância neste contexto.

Seu Partido dos Trabalhadores finalmente chegou ao poder, através da mesma democracia que era vista com desdém por seus membros. Uma “farsa” para tomar o poder. O real objetivo tinha sido conquistado. As táticas de lavagem cerebral tinham surtido efeito. Uma vez no governo, o líder foi concentrando mais e mais poder para o Estado, controlando a mídia, as empresas, tudo. Claro que o resultado foi catastrófico, como não poderia deixar de ser. O povo pagou uma elevada conta pelo sonho do “messias” que iria salvar a pátria.

Caro leitor, o líder carismático descrito acima não é quem você está pensando. Ele é, na verdade, Adolf Hitler, líder do Partido dos Trabalhadores Nacional-Socialista da Alemanha, mais conhecido apenas como “nazistas”. Schopenhauer estava certo no alerta da epígrafe. O diabo costuma se vestir de nobre altruísta. Os chifres aparecem somente depois que a vítima vendeu-lhe sua alma. Aí já é tarde demais...

Com autorização do Rodrigo Constantino

Denise x Cabral: entre o sonho e o zero absoluto

Fabio Grecchi da Tribuna da Imprensa

De um lado, um candidato que aposta no relacionamento intenso com o governo federal a solução de boa parte dos problemas do Estado do Rio. Do outro, uma candidata que assegura que somente resolvendo a questão da violência é que as mazelas serão superadas. De um lado, um candidato que prevê o sétimo céu via plano de governo. Do outro, uma candidata cujo realismo por vezes soa como pessimismo e ceticismo. De um lado, Sérgio Cabral Filho prometendo um futuro róseo, com base em trabalho e esperança. Do outro, Denise Frossard, que pretende partir do zero, mesmo porque seu programa de governo não parece muito bem explicado.

Os dois se enfrentaram ontem à noite, no debate da Rede Globo. E procuraram marcar suas posições: um como a antítese do outro. Denise, aliás, percebeu que se entrasse na exposição de metas e planos administrativos, daria a Cabral o palco que pretendia. Então, partiu logo para a desconstrução do adversário: sob a capa de querer a opinião sobre o segundo emprego dos policiais, colocou em dúvida a honestidade do rival, pois lembrou que o senador justificou a compra da mansão na Costa Verde do Estado como sendo a prestação de um serviço de assessoria.

Da mesma maneira, Denise aproveitou uma pergunta sobre energia nuclear para alfinetar Cabral sobre a privatização da antiga Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro (Cerj), hoje Ampla. Lembrou que o então presidente da Assembléia Legislativa teve imenso interesse na venda a empresa.

A deputada espertamente quis jogar em sua seara, discutindo a questão da violência e colocando Cabral como propositor de idéias mirabolantes, que jamais se concretizarão. A ponto de, na última pergunta do bloco, afirmar que era balela a história de que dois portos, um em Quissamã, outro em São João da Barra, dariam emprego à população local. Denise explicou que o Rio é o maior importador de mão-de-obra exatamente porque não qualifica quem mora aqui.

A candidata foi eficiente ao rotular Cabral como um enganador, que está prometendo demais coisas que não poderá cumprir. Ficou uma dicotomia interessante: Denise, a senhora da realidade; o senador, homem que enxerga as soluções para o Rio panglossianamente. A ponto de ele tachar a deputada como uma figura de "baixo astral". Melhor para ela, que deixou evidente que a resposta para boa parte dos males do Estado passa pelo combate inteligente à violência e ao crime organizado.

Cabral apelou para a decoreba de números, dados e fatos para sustentar suas propostas de governo. Um cérebro fabuloso, capaz de discorrer sobre qualquer assunto do Estado; um conhecedor profundo dos males do carioca e do fluminense. Postura artificial que ficou mais evidente quando Denise sustentou que estava há pouco tempo na política e que somente agora, como candidata ao governo do Estado, conheceu um hospital público. Pode até representar despreparo, mas passa uma imagem mais palatável e mais de acordo com o que pretende o eleitorado, farto de promessas que são realidade apenas na campanha.