10 de jul. de 2006

A Irlanda de Bono - por Rodrigo Constantino

O U2 é uma banda realmente sensacional. Um caso irrefutável de sucesso estrondoso no mundo musical, tendo produzido inúmeros hits e vendido milhões de discos. Seu líder, Bono, costuma se engajar em causas sociais também, tendo ficado ainda mais famoso por conta desse passatempo. Acho ótimo que cantores famosos tentem reverter a fama em prol de causas nobres. Não duvido da boa intenção de Bono também. Mas acho que o “bom moço” é vítima do politicamente correto, que reduz absurdamente a liberdade para expressar certas verdades. E assim, acaba prestando um desserviço aos pobres que pretende ajudar.

Bono fez questão de ir se encontrar com Lulla ao chegar no Brasil, e disparou elogios ao presidente brasileiro. Ao mostrar uma foto do presidente no show, foi alvo de vaias. Seria melhor se Bono procurasse se informar mais antes de pregar suas causas sociais politicamente corretas. Talvez ele tivesse sabido do “mensalão”, do escândalo da cueca, do lamaçal que o partido do presidente se atolou e das medidas autoritárias que Lulla tentou passar no Congresso. Talvez tivesse tomado conhecimento de como o Brasil vai perdendo o bonde do progresso, crescendo bastante aquém do potencial e dos demais países emergentes. Poderia ter se informado sobre o fracasso do populista Fome Zero. Tivesse Bono estudado mais a fundo o caso brasileiro, saberia que Lulla representa o oposto de tudo aquilo que possibilitou a reviravolta do seu país, a Irlanda.

A Irlanda vem experimentando um choque liberal há anos, com redução de gastos públicos, abertura comercial e maior liberdade econômica. O país já está em terceiro lugar no ranking de liberdade econômica do Heritage Foundation, perdendo apenas para Cingapura e Hong Kong. A economia apresentou crescimento superior a 7% ao ano desde 1993. O país conta com uma das mais favoráveis políticas para investimentos estrangeiros do mundo, assim como ambiente bastante amigável para os negócios. Os impostos corporativos foram reduzidos para 12,5%, um dos mais baixos da Europa. A Irlanda se tornou um enorme ímã de investimentos de americanos e ingleses, que são também os maiores parceiros comerciais do país. A tarifa média ponderada para importação é de apenas 1,3%, bastante inferior a do Brasil, acima de 13%. Não existe controle de preços por parte do governo. A proteção à propriedade privada é forte, e o sistema legal é transparente. Em resumo, a Irlanda é um ótimo exemplo das reformas defendidas pelos liberais.

Os resultados são claros. Fora o excelente crescimento econômico já citado, a renda per capita está chegando perto dos US$ 40 mil, uma das maiores do mundo. O desemprego é baixo, perto dos 5%. Os indicadores sociais estão melhorando a cada ano. O gasto com educação não é muito diferente do brasileiro, em cerca de 4,3% do PIB. O que faz a diferença mesmo é o grau de liberdade econômica. A Irlanda vem reduzindo o tamanho do Estado, assim como sua interferência na economia. Vem abrindo seu comércio, atraindo investimentos estrangeiros, tratando bem os empresários e adotando o império da lei. Exatamente a receita liberal. E com isso, vem colhendo os doces frutos dessas medidas.

Como ficou claro, a Irlanda de Bono está na contramão do Brasil de Lulla. Aqui, o Estado é cada vez maior, mais inchado e mais interventor. Falta muito para chegarmos ao grau de abertura comercial da Irlanda. Falta muito para chegarmos ao ambiente amistoso para os negócios. Falta muito para termos um império da lei que respeite as propriedades privadas. Enfim, falta muito para o Brasil virar uma Irlanda.

Mas nada disso impediu que Bono ignorasse esse abismo existente entre os discursos populistas do nosso presidente e a realidade dos fatos. Estivesse o cantor melhor informado, e mais livre das amarras do politicamente correto, poderia ter dado um recado muito melhor para o mundo. Poderia ter condenado a demagogia de Lulla, assim como suas idéias anti-liberais, e ter defendido justamente o caminho adotado pela sua pátria. Este caminho não tem mistério. Em graus distintos, foi o mesmo tomado por nações como Cingapura, Espanha, Austrália, Holanda, Nova Zelândia e Chile. É o caminho liberal. Fica na contramão do destino traçado pelos países da América Latina. Fica na direção contrária ao rumo pregado por Lulla. Sorte dos irlandeses. Azar dos fãs brasileiros de Bono...

Com autorização do Rodrigo Constantino

Leia ainda "ROBSON CRUSOÉ E A LIBERDADE", também do Rodrigo.

Prometo escrever apenas o que me der na telha...

Reinaldo Azevedo está bombando.

Quem quiser anunciar, que o faça. O Blog é um sucesso. Parabéns!

CRISE DE VALORES - por Denis Rosenfield, no Estadão

Jogos de futebol, como quaisquer jogos, inclusive o político, expressam as sociedades em que estão inseridos. Se uma sociedade se apresenta com vigor, com ânimo, com decisão e com valores, sua equipe nacional tenderá a reproduzir essas mesmas virtudes. Se, ao contrário, essas virtudes se encontrarem em crise, uma equipe estará ainda mais propensa a reproduzir uma crise de fundo moral. Nem aquém, nem além dos valores de sua sociedade, a equipe brasileira se mostrou uma infeliz reprodução dos impasses que estamos vivendo.

O desânimo - Os jogadores brasileiros apresentaram-se sem ânimo, sem sentido de conjunto, como se a alma de cada um não estivesse ali envolvida. Poder-se-ia talvez dizer que havia uma dissociação entre a alma e o corpo, este se movimentando ritualmente, enquanto aquela parecia estar envolvida em outras questões, como se toda uma nação não estivesse neles apostando. Jogadores que não correm como deveriam, que não se movimentam adequadamente, mostram o quanto estão dissociados daquilo que estão fazendo. No jogo político temos uma atitude semelhante, quando observamos as ações de parlamentares que dizem uma coisa e fazem outra, declaram representar o bem comum e agem segundo o pagamento que recebem de mensalões e valeriodutos. Ou, ainda, temos a dissociação, que beira a esquizofrenia, entre um partido que diz defender a ética na política e se compraz com a sua própria corrupção, nem investigando internamente o que os seus "companheiros" fizeram.

A falta de vigor - Outra característica da equipe brasileira foi a falta de vigor, a falta de empenho de seus jogadores. O sentido de conjunto desaparecia em proveito de algumas individualidades, que não conseguiram nem dar o seu recado. Em equipes européias, os mesmos jogadores, com outra organização e refletindo outras sociedades, souberam se desempenhar a contento, não se resignando a uma espécie de apatia. No momento de defenderem o Brasil, esses mesmos jogadores se metamorfosearam, terminando por encarnar outros valores, os de uma sociedade que não consegue reagir diante dos desmandos de seu atual governo. De fato, como pedir vigor a uma equipe nacional de futebol, se essa mesma sociedade se encontra apática diante da crise de valores que a perpassa? O procurador-geral da República apresenta uma bem fundamentada denúncia contra 40 políticos, alguns grandes figuras do governo federal, e o próprio presidente da República demonstra o maior afeto e reconhecimento por esses mesmos personagens, declarando que se trata de meros "erros" e "desvios" de conduta. Onde se encontram os caras-pintadas? Faltou a tinta da moralidade?

O primado dos interesses particulares - Os jogadores pareciam mais preocupados com suas carreiras individuais e, sobretudo, com os seus dividendos em termos de venda de imagens do que com o país que deveriam representar. Jornais relatam a relação de empresários com os jogadores, tratando de negócios em plena temporada do que deveria ser uma concentração. Jogadores estariam mais preocupados com os seus lucros, com os seus dividendos futuros, do que com o bem coletivo. Tudo indica que o egoísmo de alguns terminou preponderando sobre o sentido de conjunto. Não deixa de ser escandaloso o salário que recebem se medidos não apenas em relação à média salarial brasileira, mas, principalmente, em relação aos seus resultados. Seus contratos deveriam ter uma cláusula do seguinte tipo: conforme os resultados forem sendo atingidos, as suas remunerações respectivas seriam correspondentes. Os maiores valores seriam progressivos, de acordo, por exemplo, com a passagem para a semifinal e para a final. O contrato poderia inclusive conter uma cláusula de ressarcimento. O que não pode é que o Brasil fracasse e eles partam de bolsos cheios. Não haveria também aqui uma analogia com a situação atual, em que certos setores sociais, econômicos e políticos agem segundo o mais estrito interesse particular, a sua visão não ultrapassando a dimensão dos seus respectivos narizes?

A falta de liderança - Os brasileiros encantaram-se com a garra do Felipão e menosprezaram a apatia de Parreira e Zagallo, símbolos, neste sentido, de um Brasil que não dá certo. Psicologicamente, poder-se-ia dizer que eles apresentaram sintomas de depressão, mais especificamente de melancolia. Como pode uma equipe liderada por melancólicos dar certo, principalmente num esporte que exige ânimo, vigor, espírito de luta e disposição de vencer, em que abatimentos e hesitações não podem ter lugar? Na macrossociedade observamos um fenômeno semelhante, quando constatamos que a nossa figura presidencial se compraz consigo mesmo, utilizando a esmo bravatas e se gabando de inovações e iniciativas das quais não é o autor. O "nunca antes" revela um uso demagógico das palavras, uma tentativa de enganar que tem seu correspondente na ausência de decisão do treinador da equipe brasileira. São "brasis" que deveriam ser superados por um verdadeiro Brasil.

Parreira e Lula compartilham a mesma soberba - A equipe brasileira chegou à Alemanha como virtual vencedora, como se não tivesse de fazer maiores esforços do que mostrar algumas individualidades reconhecidas internacionalmente. Os jogos estavam, por assim dizer, vencidos antes de serem jogados. O jogo era um detalhe, uma contingência da realidade que não teria nenhum valor, quando os telespectadores (todos nós) estavam esperando com emoção, com coração, que o Brasil se fizesse efetivamente representar, se fizesse, aos olhos do mundo, um vencedor. A auto-estima seria ressaltada e valorizada. Ora, o que esperar de uma equipe que reflete um presidente omisso e irresponsável pelo feito por seu governo e seu partido, jactando-se de ter realizado em quatro anos mais do que em toda a História do Brasil? A soberba paga o seu preço.

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Quem ganhou a partida Brasil x Japão? A meu ver, o Japão. Alemanha e Japão ganham do Brasil - e dos brasileiros - em tudo. Sem uma gota de Petróleo.
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Leia ainda: "Porque não me ufano do meu país", por João Luiz Mauad, no Mídia Sem Máscara.
...Por princípio, sou rigorosamente avesso a qualquer tipo de manifestação coletivista, inclusive o patriotismo. Não dá para esquecer que essa praga foi responsável pela pior e mais degradante experiência que a humanidade já vivenciou: o nazismo.
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No campo, o grande vencedor é a Itália.
Fora dele, a Alemanha.


O jornalista Antonio Bulhões escreveu uma matéria especial para o site ABKnet (link permanente na coluna ao lado) sobre a Copa do Mundo na Alemanha. Diz ele: no gramado, venceu a Itália. Fora dele, o campeão é, disparado, a Alemanha, país anfitrião, que mostrou ao mundo o que é alegria e festa, mesmo quando se é o perdedor no campo de jogo. A copa 2006 transferiu dos estádios para as ruas com telões o quartel-general dos torcedores. Leia ainda como Beckenbauer, maior jogador alemão de todos os tempos, é ligado no Brasil e dá sua força a Pelé. Vale a pena conferir.


Copiado do Blog do Aluízio