3 de nov. de 2006

The Devil Wears Prada

O diabo veste barba. Ele perverte a democracia. Ele perverte a Justiça. Ele perverte as leis. Ele põe a mão no nosso ombro, chama-nos de irmão e de semelhante e nos deixa pobres de nossas verdades.

Mister Bob Fields

"Ao contrário dos anglo-saxões, que prezam a racionalidade e a competição, nossos componentes culturais são a cultura ibérica do privilégio, a cultura indígena da indolência e a cultura negra da magia..."

...Professor Roberto de Oliveira Campos

O caminho da servidão - Profº Orlando Tambosi

Friedrich August von Hayek
Para meditar...

Friedrich August von Hayek, Prêmio Nobel de Economia, publicou O caminho da servidão em 1944. Trata-se de uma severa crítica às idéias coletivistas. No trecho transcrito abaixo, veja se o quadro descrito pelo pensador (ah, horror dos horrores) liberal não tem algo a ver com a situação aqui no Acampamento.

Há três razões para que um grupo numeroso, forte e de idéias bastante homogêneas não tenda a ser constituído pelos melhores, e sim pelos piores elementos:


1. Quanto mais elevada a educação e a inteligência dos indivíduos, tanto mais se diferenciam os seus gostos e opiniões, e menor é a possibilidade de concordarem sobre determinada hierarquia de valores. Portanto, se queremos lograr alto grau de uniformidade e semelhança de pontos de vista, teremos de descer às camadas em que os padrões morais e intelectuais são inferiores e prevalecem os instintos mais primitivos.

2. As autoridades ou o ditador conseguirão o apoio dos dóceis e dos simplórios, que não têm fortes convicções próprias, mas estão prontos a aceitar um sistema de valores previamente elaborado, contanto que este lhes seja apregoado com estrépito e insistência.

3. Parece ser mais fácil aos homens concordarem sobre um programa negativo – ódio a um inimigo ou inveja aos que estão em melhor situação – do que sobre qualquer plano positivo.

P.S.: aqui você tem acesso ao livro em HQ.

De um leitor puto ...Mas muito puto mesmo!

Desabafo de um Brasileiro Envergonhado de sua Origem.
Desde que nasci, nunca tive muito orgulho de ser brasileiro. Hoje tenho vergonha !
Com tantos lugares no mundo para viver, triste a minha sorte de cair nesta terra premiada pela ignorância e pelo moral baixo (ou falta total dele).
Não sei o que meu bisavô tinha na cabeça, quando resolveu migrar da Itália para esta pocilga. Infeliz decisão.
Sinceramente, preferiria ser um miserável em qualquer lugar com dignidade, do que viver neste antro da esperteza.
Muitos se dizem aviltados com a corrupção e a baixeza de nossos políticos. Eu não, eles são apenas o espelho do povo brasileiro :
Um povo preguiçoso, malandro, e que idolatra os safados.
É o povo brasileiro que me avilta !
Não é difícil entender porque os eleitores brasileiros aceitam o LULA e a quadrilha do PT como seus líderes.
A maioria das pessoas deste país fariam as mesmas coisas que os larápios oficiais : mentiriam, roubariam, corromperiam e até matariam.
Tudo pela sua conveniência.
Com raras exceções, os brasileiros se dividem em 2 grupos :
1) Os que roubam e se beneficiam do dinheiro público, e
2) Os que só estão esperando uma oportunidade de entrar para o grupo 1.
Por que será que o brasileiro preza mais o Bolsa Família, que a moralidade?
Fácil : Com a esmola mensal do bolsa família não é preciso trabalhar, basta receber o dinheiro e viver às custas de quem trabalha e paga impostos.
Por que será que o brasileiro é contra a privatização das estatais?
Fácil :
Em empresa privada é preciso trabalhar, ser eficiente e produtivo; senão perde o emprego.
Nas estatais é eficiência zero, comprometimento zero e todos a receber o salário garantido, pago com o imposto dos mesmos idiotas contribuintes.
Para mim chega !
Passei minha vida inteira trabalhando, lutando e tentando ajudar os outros.
Resultado :
Hoje sou chamado de “Elite Privilegiada”.
Hoje a moda é ser traficante, lobista, assaltante, moto-boy e excluído social.
Por isso, tomei a decisão de deixar de ser inocente útil, e de me preocupar com este povo que não merece nada melhor do que tem.
Daqui pra frente, mudarei minha postura de cidadão. Vou me defender e defender os direitos e interesses da nossa “Elite Privilegiada”.
1) Ao contrário dos últimos 20 anos, não farei mais doações para creches, asilos e hospitais. Que eles consigam os donativos com seu querido “Governo voltado para o Social”.
2) Não contribuirei mais com as famosas listinhas de fim de ano de porteiros, manobristas, faxineiros e outros.
Eles já recebem a minha parte pelo Bolsa- Família.
3) Não comprarei mais discos e não assistirei a filmes e peças de teatro dos artistas que aderiram ao Lulismo.
Eles que consigam sua renda com as classes c e d, já que a classe média que os sustentou até hoje não merece consideração.
4) Não terei mais empregados oriundos do norte-nordeste (curral eleitoral petista).
Porque eles não utilizam um dos “milhões de empregos gerados por este governo”?
5) Depois de 35 anos pagando os impostos corretamente, entrarei no seleto grupo de sonegadores.
Usarei todos os artifícios possíveis para fugir da tributação, especialmente dos impostos federais (IR).
Assim, este governo usará menos do meu dinheiro para financiar o MST, a Venezuela, a Bolívia e as “ONG´s fajutas dos amigos do Lula”.
6) Está abolida toda e qualquer “gorjeta” ou “caixinha” para carregadores, empacotadores, frentistas, e outros “excluídos sociais”.
Como a vida deles “melhorou muito com este governo de esquerda”, não precisam mais de esmolas.
7) Não comprarei mais produtos e serviços de empresários que aderiram ao Lulismo.
É só consultar a lista da reunião de apoio ao Lula, realizada em Set/06.
Como a economia está “uma beleza”, eles não estão precisando de clientes da “Elite Privilegiada”.
8) As revistas, jornais e tv´s que defenderam os corruptos em troca de contratos oficiais estão eliminadas da minha vida (Isto É, Carta Capital, etc).
A imprensa adesista é um “câncer a ser combatido”.
As tv´s que demitiram jornalistas que incomodaram o governo (lembra da Record com o Boris Casoy?) já deixaram de ser assistidas em casa.
9) Só trabalho com serviços públicos privatizados. Como a “Elite Privilegiada” defende a Privatização, usarei DHL ao invés dos Correios, não terei contas na CEF, B.Brasil e outros Órgãos Públicos Corruptos.
10) Já avisei meus filhos : Namorados petistas serão convidados a não entrar em minha casa.
E dinheiro da mesada que eu pago não financia gasolina, nem balada com petista. Sem Negociação.
11) Não viajo mais para o Nordeste.
Se tiver dinheiro, vou para o exterior, senão tiver vou para o Guarujá.
O Brasil que eu vivo é o da "Elite Privilegiada", não vou dar PIB para inimigo.
12) Não vou esquecer toda a sujeira que foi feita para a reeleição do “Sapo Barbudo”, nem os nomes dos seus autores.
Os boatos maldosos da privatização (Jacques Vagner, Tarso Genro, Ciro Gomes), a divisão do Brasil entre ricos e pobres (Lula, José Dirceu), a Justiça comprada no STF ( Nelson Jobin), a vergonha da Polícia Federal acobertando o PT (Tomás Bastos), a virulenta adesão do PMDB (Sarney, Calheiros, Quércia), a superexposição na mídia do Lula (Globo) e também a hipocrisia do Serra e do Aécio Neves, sabotando o próprio partido pelos seus interesses políticos em 2010. Sugiro que vc´s comecem a defender sua ideologia e seu estilo de vida, senão logo logo, teremos nosso patrimônio confiscado pela “Ditadura do Proletariado”.
Estou pensando seriamente em viver fora do país.
Estou de luto !
O meu país morreu em 29/10/06.
ACORDEM !

Surrupiado dos Manguaçeiros

O quarto poder e o escorpião escarlate

por Glauco Fonseca

“Quando, alguma vez, a liberdade irrompe numa alma humana, os deuses deixam de poder seja o que for contra esse homem" - Jean-Paul Sartre

Lembra daquela fábula do escorpião, que faz um acordo com o sapo para atravessar um rio? Aquela historinha do batráquio que tem certeza de que o escorpião não o matará no meio do trajeto porque ambos morreriam, lembra? Isto mesmo, a velha e surrada história do escorpião que dá a ferroada no sapo no meio do rio e diz que é da natureza dele picar, mesmo que morra. Esta história é parecida com a de um partido político que nós conhecemos.

Só que o PT, como é de costume, adapta tudo que vê pela frente ao sabor de suas conveniências. A história do escorpião e do sapo foi modernizada pelo magnífico partido dos trabalhadores. Agora, o escorpião pica o sapo, mas apenas após chegar, em total segurança, à outra margem do rio. O sapo, como se vê na fábula original e na versão petista, sempre é trucidado no final.

Pois o escorpião acabou de atravessar o rio e o sapo já está tomando as primeiras ferroadas. Um dia apenas depois da proclamação de que o rio estava oficialmente vencido, as picadas ferozes apareceram e as prováveis vítimas todos já conhecemos: as rãs com gravadores, câmeras, microfones e bloquinhos de notas nas mãos, ligadas a “facções elitistas e irresponsáveis”, mais conhecidas, pelos petistas, como os tais veículos de comunicação.

Metáforas manjadas à parte, era mesmo de se esperar que as liberdades de expressão e de imprensa fossem ser atingidas num segundo governo do PT, alquebrado e embriagado de denúncias criminosas. Só que não se esperava que pudesse ocorrer tão cedo.

Que a revista Veja venha a sofrer retaliações do governo Lula por sua independência, já era esperado por ela e por todo o mercado. Que revistas como IstoÉ e Carta Capital venham a engordar seus faturamentos federais por suas posições favoráveis a Lula, também se entende como parte do jogo, mesmo que um tanto quanto opaco.

Só que, passadas apenas 48 horas da vitória de Lula, as primeiras e mais importantes vítimas são parte da tropa que, sim, ajudou Lula a se reeleger. A agressão da Polícia Federal aos jornalistas de Veja é uma grotesca agressão a toda uma categoria profissional e, cedo ou tarde, mais e mais jornalistas podem ser alvos de agressão, de intimidação, de ameaças. Isto para não dizer o pior.

Começa a ficar mais amargo o gosto de uma reeleição que sequer festejo teve (notaram?). A sensação é de que a maior parte dos cidadãos deste país, mesmo tendo votado em Lula, sabe instintivamente que pode ter cometido um equívoco de avaliação que pode ter graves conseqüências. Aliás, já começaram.

Não sabemos como terminará, mas que já começou, começou.
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O SAPO, O ESCORPIÃO E A PIZZA

por Paulo G. M. de Moura, cientista político

Com exceção de Reinaldo Azevedo, do site Primeira Leitura, jornalistas e comen-taristas políticos preferiram ver na pesquisa Ibope/CNI, divulgada ontem, a confir-mação da queda de popularidade do governo e a perda de competitividade da can-didatura Lula. Reinaldo Azevedo está certo. O Ibope apenas revelou números coin-cidentes com o Datafolha e a pesquisa CNT/Sensus.

Ainda que não seja correto comparar pesquisas de diferentes institutos, feitas em momentos diferentes e com metodologias diferentes, se Lula seguisse desabando, o Ibope deveria apresentar números piores para o petismo. Não foi o que aconteceu. Já se vai cerca de um mês que nenhum petista é envolvido em denúncias novas; o foco da mídia se voltou para Severino e o Congresso; a opinião pública está satura-da com os escândalos.

Só Lula, ao comentar o resultado do Ibope, constatou o que a mídia e a oposição não querem ver. Se fosse outro no meu lugar estaria em situação muito pior, co-mentou o presidente (com outras palavras, mas com o mesmo sentido).

Lula e o PT, outrora arautos da moralidade e detentores monopolistas das virtudes da ética e da moral na política, estão no centro de escândalos de corrupção há mais de cem dias seguidos, recebendo intensa cobertura negativa da mídia e igualmente intensa atenção da opinião pública e, mesmo assim, o candidato Lula, que fez 31,7% dos votos no primeiro turno da eleição presidencial de 1998, tem algo em torno de 33% a 35% nas pesquisas para a eleição de 2006.

Convém observar que índices de pesquisas não se equivalem a resultados eleito-rais, pois não excluem do total aferido, os votos brancos e nulos. Isso significa que, se a eleição fosse hoje, Lula tenderia a ter, no primeiro turno, desempenho melhor do que teve no primeiro turno de 1998. Além disso, não vi ninguém dar a devida a-tenção ao quorum da eleição para a nova direção petista. É simplesmente impres-sionante.

Que partido, sob circunstâncias tão adversas como as que o PT vive, teria condi-ções de mobilizar cerca de 300.000 filiados para escolher sua nova direção?

Lula, portanto, embora tenha queimado a gordura que conquistou na eleição de 2002 e esteja perdendo uma parte de seu partido e de seus eleitores, que migram para outras legendas ou para a abstinência política, está mais robusto do que no passado se considerado o segmento dos seus eleitores em primeiro turno. Como se pode ver, não é qualquer denúncia de corrupção que derruba as convicções ideoló-gicas do petismo.

Para se convencer, essa gente parece que precisa ver mais podridão do que já apareceu. Caso contrário, com um partido com essa força e com o desempenho que Lula tem hoje nas pesquisas, o PT estaria garantido no segundo turno e faria belas bancadas legislativas.

Com Lula concorrendo no exercício do cargo e valendo-se de todas as vantagens competitivas daí decorrentes, corremos o risco de ver o PT reelegê-lo em segundo turno, no qual as condições de disputa lhe seriam bem mais favoráveis do que po-dem aparentar nesse momento. Suas condições de governabilidade num eventual segundo mandato, seriam péssimas. Mas isso é problema dos brasileiros. Não de Lula e nem do PT, que querem mesmo é o poder pelo poder.

Há, portanto, um aspecto dessa realidade que está sendo menosprezado por a-queles que acham que, mesmo diante de tantas evidências e provas de que esta-mos diante do maior esquema de corrupção da história política do país, protagoni-zado pelo PT e patrocinado por ação ou omissão do presidente da República, é me-lhor preservar Lula no cargo até a eleição de 2006, deixando ao povo a tarefa de removê-lo do poder.

Não estamos menosprezando as dificuldades que Lula e o PT deverão enfrentar na próxima eleição. Fruto dos escândalos, Lula perdeu o favoritismo, o PT está com a imagem seriamente arranhada, Lula terá dificuldades para compor alianças no primeiro turno, e sofrerá duros ataques pela esquerda. Mas ambos estão muito lon-ge da morte política, com estariam quaisquer outros políticos e partidos na mesma situação.

A displicência da oposição em considerar seriamente a hipótese do impeachment – e motivos jurídicos e políticos há de sobra para o recurso democrático a essa me-dida – nos força a relembrar a fábula do sapo e do escorpião, tão recorrente nos si-tes tucanos ultimamente.

O escorpião pede ao sapo que o ajude a atravessar um rio. O sapo resiste, te-mendo a ferroada fatal. Mas o escorpião argumenta: “Se eu viesse a matá-lo no meio do rio, morreríamos ambos, você envenenado e eu afogado, pois não sei na-dar”. Convencido pela lógica do argumento, o sapo oferece ao seu virtual algoz, as costas para a travessia. No meio do caminho, o sapo sente a ferroada. Entorpecido pelo veneno, exclama: “Mas vamos morrer os dois”. E o escorpião retruca: “Mas es-ta é minha natureza”.

Esse é o risco que as oposições correm ao flertarem com a idéia de dar carona a Lula até as urnas de 2006, aceitando o pacto indecente de abafar os crimes do pe-tismo em troca da mútua proteção dos envolvidos em denúncias, em ambos os la-dos do disputa pelo poder.

Nada impede que, concluídas as CPIs e devidamente abafados os escândalos com apenas meia dúzia de cassados, lá na frente, no início do ano eleitoral de 2006, o escorpião-PT, que está no governo; conhece as entranhas do passado de quem governou o Brasil antes de Lula e tem a ABIN a seu serviço, ressuscite denúncias ou encontre novidades a revelar sobre seus adversários, zerando a balança dos es-cândalos. Equilibrar-se-iam, assim, as condições da disputa entre tucanos e petistas nesse aspecto da pauta do debate eleitoral, recompondo dessa forma, a competiti-vidade da candidatura Lula.

O eleitor é hipócrita, imediatista e interesseiro. Em troca de benefícios econômicos é capaz de relevar denúncias de corrupção. FHC abafou inúmeros escândalos e im-pediu várias CPIs em seu primeiro governo, e reelegeu-se em primeiro turno. Só perdeu apoio popular depois que desvalorizou o Real, gerando perdas aos eleitores.

O efeito prático dessa virtual situação, na cabeça dos eleitores, poderia ser mais ou menos o seguinte:

Se petistas e tucanos são corruptos, por que não seguir com Lula, que não se cansa de dizer que o desempenho de seu governo na economia é melhor do que o do governo dos tucanos?

Ou, por outro lado, se petistas e tucanos são corruptos, que tal eleger alguém que não seja nem petista nem tucano?

Na segunda hipótese, o escorpião poderá até morrer afogado, surfando nas costas do sapo envenenado. Mas terá impedido seus algozes nas CPIs de hoje, de voltar ao poder amanhã.

Quem tem a perder com isso?

22/09/2005

2 de nov. de 2006

Dia de Finados - por Rodrigo Constantino


Há séculos que os cristãos rezam para os mortos. O segundo dia do mês de novembro acabou sendo escolhido como data oficial para a homenagem aos falecidos, tornando-se o Dia de Finados. Eu gostaria de prestar aqui minha homenagem ao mais recente defunto brasileiro: a Moralidade. Seu falecimento gerou profunda tristeza em milhões de brasileiros dignos. Não foi morte acidental, mas sim assassinato deliberado. Em massa! Na verdade, cerca de 58 milhões de brasileiros executaram a Moralidade a queima roupa, no dia 29 de outubro. Um tiro certeiro, proveniente da ponta dos dedos dessa gente toda. As armas usadas foram as urnas.

De tabela, levaram daqui a Lógica também. O tiro ricocheteou e matou-a. Um duplo assassinato! Está certo que a Lógica não tinha o hábito de dar muito o ar de sua graça por essas terras, mas ainda assim não merecia tamanho desprezo por conta desses criminosos todos. Massacraram a Moralidade, e tiraram a vida da Lógica também. Macunaíma venceu. Derrotou tanto a Moralidade como a Lógica. Na luta, o heróico Bom-Senso ainda tentou virar a mesa, mas não teve chance. Era tarde demais. Digladiando-se com o aliado de Macunaíma, Gérson – o da lei – o Bom-Senso perdeu feio. Foi esmagado, trucidado, aniquilado. Está em estado grave, entre a vida e a morte. As pessoas de bem nesse país torcem muito pela recuperação do Bom-Senso, mas nada garante sua vitória. Seu coma, ao que parece, irá durar pelo menos mais quatro anos, e não há certeza de que depois irá se safar dessa com vida.

É Dia de Finados! Devemos homenagear os mortos. E a perda da vida tanto da Moralidade como da Lógica, assim como o estado de morto-vivo do Bom-Senso, são lastimáveis. Em 2002 havia ocorrido um grande atentado contra suas vidas. Mas havia a desculpa (esfarrapada) de que os autores do atentado não sabiam que estavam mirando nelas. Nesse triste 29 de outubro não. A ignorância não vale mais como escusa. Os que perpetraram o crime contra a Moralidade, a Lógica e o Bom-Senso sabiam muito bem o que estavam fazendo. O objetivo era mesmo sepultar todos eles. Entre o certo e o duvidoso, sendo o certo a podridão completa, ficaram com esta, afastando qualquer possibilidade de mudança. A grande inimiga da Moralidade, a Perfídia, soube executar seu plano com maestria. Conquistou quase 60 milhões de indivíduos, cegou seus olhos e domou suas mentes, e conseguiu o grande objetivo: eliminar de uma vez a Moralidade do Brasil. É dia de luto!

1 de nov. de 2006

Irascível - por Ralph J. Hofmann

Estou tomado de uma irascibilidade que chega a me assustar. Durante as últimas semanas das eleições, ouvi mentiras da boca do Sr. Lula e me contive razoavelmente bem Vi o Sr. Alckmin responder ponderadamente às acusações quanto suas intenções e me contive. Vi o PSDB evitar defender as privatizações, papel que coube apenas a articulistas e cronistas, particularmente demonstrando os benefícios que foram estendidos ao uma nação inteira, particularmente no caso da telefonia, um gargalo de garrafa que ameaçava o progresso e causava custos excepcionais à nação, e me contive.

Estou agora passando por momentos de roer perna de cadeira para não explodir. Tenho visões de assembléias gerais de jornalistas decidindo jogar proponentes do controle governamental da imprensa por uma janela (Não mais do que três andares, não exagerem!). Imagino um interlocutor do ministro da Justiça aplicando lhe uma joelhada na virilha. Senhores da Polícia Federal, longe de mim fazer isto, sou um homem de paz, apenas acho que seria sumamente interessante ver isto acontecer, afinal de contas, a cada patacoada deste senhor é exatamente o que ele faz conosco.

Tenho visões de certos homens públicos serem internados para reeducação na Isla de los Pinos, a mercê dos atuais guardas do Sr. Fidel Castro. Usem sua imaginação para pensar quem seriam esses homens. Tenho certeza que dadas as excelentes relações entre a China e o Brasil esse país amigo forneceria uma equipe absolutamente preparada, com os registros da reeducação dos anos 50.

O presidente foi eleito democraticamente. Sem dúvida. Mas junto com seus companheiros de mesa ele consegue despertar hoje ódio profundo. Na minha vida vi outros assumirem o poder sem merecê-lo. Mas sem nos despertar tal ódio. Sempre tivemos a noção de que a pessoa que assumia o poder tinha objetivos próprios, mas nunca podíamos colocar em dúvida que no geral essa pessoa pretendia o bem estar do país, pretendia encontrar o caminho do progresso.

Esta vez não. Temos absoluta certeza que pretendem as benesses dos cargos, a fortuna pessoal, o poder por longos anos, doa a quem doa.

Estarei completamente pirado?

Terceiro Turno - por Rodrigo Constantino




Democracia deve ser mais que dois lobos e uma ovelha votando sobre o que terão para jantar.” (James Bovard)


O presidente Lula está reeleito com expressiva votação, acima de 50 milhões de votos. Um fato inegável. Defensores do petista logo correm para afirmar a “legitimidade” garantida pelas urnas, já que seu governo foi marcado por um recorde nacional – quiçá mundial – de escândalos de corrupção. Ignoram, entretanto, que num Estado de Direito, com império das leis, não são as urnas que fazem automaticamente as leis. Não realizamos plebiscitos para votar se criminosos vão ou não para a cadeia. Aplicamos as leis.

O povo brasileiro parece não compreender ainda o valor das instituições republicanas, que não permitem colocar cidadão algum acima das leis. Fala-se aqui em democracia como um fim em si, esquecendo do alerta na epígrafe. Países que não conseguiram construir sólidas instituições, deixando que a democracia se transformasse numa simples ditadura da maioria, jamais prosperaram. Sem que as liberdades individuais sejam garantidas através do império das leis isonômicas, a democracia pode virar um leilão vulgar onde dois lobos decidem que o jantar será a ovelha indefesa. Quem defende a justiça precisa defender as minorias, e a menor minoria de todas é o indivíduo. Somente um governo de leis, válidas igualmente para todos, preserva tais minorias. Ditaduras da maioria disfarçadas de democracia não trazem semelhança alguma com tal modelo. Quem acha que a escolha da metade dos eleitores e mais um cidadão dá uma carta branca ao governante eleito, não compreendeu nada sobre justiça e liberdade.

Em seu livro Política, Aristóteles pergunta: “Se, por serem superiores em número, aprouver aos pobres dividir os bens dos ricos, não será isso uma injustiça?”. Claro que será! Mas demagogos nunca deixaram de explorar o sentimento de inveja nos mais pobres para obter poder. Governantes aproveitadores e astutos conseguem dinheiro dos mais ricos com o pretexto de protegê-los dos mais pobres, assim como votos dos mais pobres com a escusa de que irão defendê-los dos mais ricos. Os iludidos não notam que ambos, ricos e pobres, precisam de proteção justamente contra tais governantes. E esta proteção vem através das sólidas instituições, da garantia das liberdades individuais, do império das leis. Quando a democracia – leia-se os votos válidos de mais da metade dos eleitores – passa por cima dessas normas impessoais, temos a troca do necessário império das leis pelo perigoso império dos homens. O governo vira então refém das vontades de maiorias instáveis. Se amanhã mais da metade do povo desejar o extermínio de uma determinada minoria, nada estará no caminho para impedir tamanha injustiça. A Alemanha nazista que o diga!

Tendo explicado esse ponto importante, de que democracia não deve ser a simples ditadura da maioria, podemos agora analisar um dado estatístico interessante. Na verdade, sequer podemos falar em maioria do povo quando falamos da reeleição de Lula. Foram quase 24 milhões de abstenções, um pouco mais de um milhão de votos brancos, quase 5 milhões de votos nulos e mais de 37 milhões de votos para seu adversário, Alckmin. Somando tudo isso, temos quase 70 milhões de eleitores que não votaram em Lula, contra menos de 60 milhões que nele votaram. Em outras palavras, sequer podemos falar mesmo em ditadura da maioria!

Os petistas acusam de “golpistas” aqueles que gostariam de um “terceiro turno”, ou seja, aplicar as leis através do TSE podendo cancelar as eleições caso ficasse comprovado o uso de dinheiro ilegal na campanha de Lula. As evidências de que isso ocorreu abundam, quando lembramos do dossiê que os petistas bastante ligados ao presidente tentaram comprar. Foram pegos com a “boca na botija”, em flagrante, usando dinheiro ilegal, quase 2 milhões de reais. O que podemos concluir disso é que golpe, para os petistas, é aplicar as leis em seus companheiros. Acham que eles, e especialmente Lula, estão acima das leis. E usam as urnas como “prova” dessa suposta legitimidade. Não se constrói um país sério, justo e próspero desta maneira. Será que estamos fadados a ser uma republiqueta das bananas?

Acusações não devem permitir a Lula uma segunda lua-de-mel - por Larry Rohter, no New York Times

Ao conquistar reeleição no domingo com 60,8% dos votos, Luiz Inácio Lula da Silva quase repetiu o desempenho acachapante que o tornou presidente do Brasil quatro anos atrás. Mas não parecem prováveis uma segunda lua-de-mel ou uma pausa nas acusações de corrupção e outras dificuldades que vêm prejudicando seu governo.

Lula enfrentará um segundo mandato difícil. Seu PT está debilitado por escândalos de corrupção, e ele está sob pressão para adotar políticas econômicas mais populistas. Mas para conseguir aprovar seu programa legislativo, ele corre o risco de se ver forçado a aceitar acordos eticamente questionáveis, exatamente como aqueles que causaram as dificuldades que seu governo vem enfrentando.

Mesmo antes do início de seu segundo mandato, Lula enfrenta a perspectiva daquilo que alguns brasileiros vêm definindo como "o terceiro turno" da eleição. Embora a dimensão de sua vitória deva desencorajar os oposicionistas a pedir seu impeachment, há processos em curso nos tribunais, e pode se mostrar ser mais difícil detê-los.

Há também a questão prática de como Lula planeja administrar a máquina do governo. O PT tinha escassa experiência administrativa, para começar, e como resultado dos escândalos muitas das figuras em que ele confiava caíram em desgraça.

Lula ocasionalmente expressa frustração por não conseguir o que quer do Legislativo. Em jantar recente, diz-se que ele teria afirmado que tinha "vontade de fechar o Congresso".

Lula se recusou a assinar uma petição que solicitava que os candidatos assumissem o compromisso de não convocar Assembléia Constituinte. Oposicionistas tomaram esses lapsos como motivo para sugerir que um segundo mandato veria Lula ceder a seus impulsos autoritários. Mas a maioria dos analistas desconsidera as declarações ambíguas e os alertas sombrios da oposição como simples retórica de campanha.

Não está claro se Lula interpretará sua vitória esmagadora como absolvição pelos casos de corrupção. "O PT disse que estava se reestruturando, e logo a seguir se envolve em um escândalo bizarro como esse", disse Jairo Nicolau, professor de ciência política: "Se não aprenderam nada de 2005 para cá, não há garantia de que não repetirão os mesmos erros".

A INDIGNAÇÃO - por Denis Rosenfield, na FSP

Um país que perde a capacidade de indignar-se arrisca a sua própria existência política. A moral não é um utensílio qualquer que possa ser utilizado segundo as conveniências partidárias. Ela é uma finalidade em si mesma que, instrumentalizada, perde seu próprio significado. A política se mostra como uma forma superior de sociabilidade humana se tiver um comprometimento com princípios morais e com a verdade, sem os quais as relações humanas abandonam sua própria dimensão cívica, a que se realiza pelo exercício dos mais diferentes tipos de direito.

O país cresceu nas últimas décadas pelo desenvolvimento e pelo aperfeiçoamento da cena pública. A liberdade de imprensa e dos meios de comunicação em geral propiciou uma nova configuração da opinião pública, atenta ao comportamento de seus dirigentes. Líderes partidários e governantes tiveram de responder por suas ações e de se responsabilizar pelo que faziam. Políticos que baseavam suas ações em máximas do tipo "é dando que se recebe" ou "rouba, mas faz" perderam progressivamente credibilidade e foram sendo abandonados pelos eleitores.

Parecia que o país tinha ingressado em um distinto e superior patamar político. Um presidente da República chegou a ser afastado do seu cargo por corrupção e por infrações à moralidade pública em manifestações que tomavam conta das ruas deste país.

Nos escândalos que dominaram a cena do governo Lula, as ruas permaneceram vazias. As vozes, dificilmente audíveis, começaram a se calar, como se a perplexidade tivesse tomado o lugar da indignação. É como se as seguintes perguntas martelassem as cabeças: "O que fez com que o partido da ética a infringisse tão duramente?"; "Era tudo uma mera encenação de um partido oposicionista?".

A única resposta a essas perguntas veio sob a forma do "errar é humano" para justificar a corrupção e a falta de ética na política. É como se uma "nova teoria" estivesse nascendo das cinzas da moralidade, a de que "erros" justificam todo tipo de ação.

Ora, uma "teoria dos erros", cuja finalidade consistia apenas em acobertar a verdade, só podia se traduzir por uma valorização da "mentira" como forma de governo. O seu rebento é o "direito de mentir". Triste fim dos que se diziam defensores da moralidade, embora tenham com isso aferido "belos" resultados eleitorais.

Acontece que a beleza e a eticidade desapareceram em proveito de uma grande enganação pública. Criticar, porém, é preciso. Uma cena pública que perde seus parâmetros começa a se desestruturar. Entra-se no lugar do vale-tudo em que a verdade e a moralidade são as primeiras vítimas.

O mundo do vale-tudo é o mundo dos heróis sem caráter, que aproveitam as mínimas circunstâncias em proveito próprio. O tesouro público se torna privado ou privado-partidário, como se a República, a coisa pública, a coisa de todos nós e os recursos dos contribuintes pudessem ser dilapidados à vontade. Sempre explicações e justificativas serão apresentadas, algumas adornadas de belas expressões, como se um novo mundo estivesse sendo construído, um novo mundo possível, só que este surge sob a forma da usurpação e da perversão.

O exemplo que está agora sendo vendido ao país é o de que o crime compensa, toda regra e toda norma podendo ser transgredidas.

Tudo depende da "teoria do erro", chave mestra que procura colocar aquele que o cometeu na posição de vítima, de agente involuntário, injustamente acusado pelos malfeitores da imprensa, uma imprensa que não saberia investigar corretamente, porque não segue os ditames do partido no poder. De reveladora de fatos, ela se torna ré de um mau exercício da liberdade. De pequenos passos se constitui uma mentalidade e um uso autoritário do poder.

Quem defende a imoralidade, quem a justifica, a trai. Defende, na verdade, a asfixia da cena pública, a asfixia lenta e gradual das liberdades democráticas. O comprometimento do pensamento é com a faculdade de julgar, de emitir juízos sobre fatos e comportamentos que atentam contra princípios morais, contra a verdade e contra tudo aquilo que baliza as instituições republicanas.

Os que defendem os "erros" cometidos pelo governo Lula e pelo PT estão, de fato, abandonando o próprio exercício do pensamento, que não pode se tornar refém da servidão política -aqui, uma espécie de servidão voluntária. Se a "causa" toma o lugar da verdade e da liberdade, muito pouco se pode esperar da reflexão, da crítica. Lula ganhou, a ética e a verdade perderam.