23 de jan. de 2006

A Esquerda Chilena

por Rodrigo Constantino no Diego Casagrande

O Partido Socialista, em uma coalizão de centro-esquerda, saiu vitorioso nas eleições do Chile, elegendo Michelle Bachelet como presidente. Membros da esquerda brasileira logo comemoraram, pelo que chamam de total guinada à esquerda na América Latina. Para a sorte dos chilenos, a esquerda lá em nada se parece com figuras pitorescas como Evo Morales, Kirshcner, Vasques, Hugo Chávez ou mesmo Lulla. No Chile, os “socialistas” mais parecem tocadores de violino: pegam o governo com a mão esquerda, mas tocam-no com a direita.

Desde que o verdadeiro socialista Allende afundou a nação no completo caos e miséria que os chilenos não querem mais saber dessas aventuras fracassadas, e curiosamente tão idolatradas pelo eterno “idiota latino-americano”. Após as reformas liberais adotadas pelos “Chicago boys”, que salvaram o país do triste destino que assola seus vizinhos, tais pontos são considerados “vacas sagradas”, e sequer entram no debate das eleições.

Logo, aquelas saudáveis e lógicas medidas que os liberais defendem, chamadas aqui de “submissão ao FMI” ou simplesmente “neoliberalismo”, lá não são contestadas pela esquerda. O Banco Central é independente por lei, o governo gera superávit fiscal há anos, a Previdência Social foi privatizada, o endividamento público é pequeno etc. Não existe uma Justiça do Trabalho no Chile, que tanto é utilizada para agredir injustamente os negócios aqui. O imposto máximo corporativo é de 17%, e a carga tributária total está próxima dos 20% do PIB, quase metade da brasileira. O setor financeiro, que atrai investimentos, é bem tratado, e não está tão concentrado no governo como aqui. Há uma abertura comercial muito maior lá, com tarifas bem menores, e foi fechado um excelente acordo bilateral com a ALCA, enquanto o Mercosul patina no lamaçal da demagogia, abraçando agora a populista Venezuela de Chávez também.

Com tudo isso, a economia chilena vem crescendo há duas décadas em acelerado ritmo, e com boa estabilidade, mesmo em anos de crise internacional. A miséria foi drasticamente reduzida, e a inflação, que chegara a 500% na era Allende, ficou abaixo de 2% ao ano na última década. Todos os indicadores sociais estão bem melhores que a média da região, e a renda per capita ultrapassou os US$ 10 mil em 2004.

O Chile está realmente se distanciando cada vez mais do quadro caótico que está sendo pintado pela esquerda nacional-populista da América Latina. Como ficou claro, isso deve-se às reformas liberais que vem sendo implementadas há anos lá, sem que a esquerda ouse mexer neste campo. O Chile está, assim, em 14o lugar no ranking de liberdade econômica do Heritage Foundation, o primeiro colocado da região. Como seria bom se o Brasil tivesse uma esquerda tão liberal assim...