23 de fev. de 2006

O BAND-AID DO ASTRONAUTA

por Ralph J. Hofmann - com autorização do autor - Diego Casagrande

“Senhor presidente, o senhor aqui? Quanta honra!”

“Pois é, eu estava passando e o prefeito me avisou que o senhor estava dando uma festa de cumeeira para sua casa. Achei que isto era motivo para celebrar.”

“Verdade, senhor presidente. Aqui, a gente dá festa de cumeeira. Senão der uma churrascada para os operários, ele pregam uma vassoura no cume da casa.”

Ah, precisa celebrar, precisa celebrar. Aliás, nós viemos participar da sua festa, e gesticula aos assessores e duas vans começam a descarregar churrasqueiras, carvão, barril de chope, chopeiras, bonés do partido e outras tralhas. Carros de transmissão de TV montam seus equipamentos de transmissão por microondas. Em pouco tempo, os vizinhos começam a chegar porque se espalhou a notícia da festa. Numa das vans, o presidente está sendo maquiado e escolhendo a jaqueta do dia.

De repente, o dono da residência em construção é chamado, suas roupas de classe média são trocadas por um jeans esfarrapado, adiciona-se sombra escura no seu rosto bem barbeado. Levam-no para o portão onde um fitilho verde amarelo foi estendido.

O presidente sai de sua van, caminha solenemente para o fitilho, toma uma tesoura das mãos do assessor, corta o fitilho e passa a falar para os microfones.

“Para mim, é uma honra ter sido chamado para inaugurar essa obra por este jovem batalhador que, com as próprias mãos e o financiamento dado pelo governo federal, construiu esta belíssima residência .”

“Mas, presidente... a construtora...”

É este espírito que resolverá... E, para finalizar, devo anunciar que, na viagem ao espaço de nosso astronauta, os seus anfitriões russos optaram por dotar a caixa de primeiros socorros da nave com band-aid e mertiolate de fabricação brasileira, demonstrando, assim, a pujança da tecnologia nacional" (seguem-se cinco minutos de aplauso gravado).

“Apesar de resistir até agora à compra de um DVD, acho que vou precisar de um nos próximos oito meses. Devia compartilhar com os vizinhos. Quem sabe com um pequeno transmissor de TV com alcance de 50 metros. Com filmes antigos, garanto que faço o melhor Ibope do bairro.”