18 de ago. de 2005

POR QUEM OS SINOS DOBRAM?

por Ralph J. Hofmann

"Ask not for whom the bells toll. They toll for you...” – Não perguntes por quem os sinos dobram. Eles dobram por você.

Esta frase de um ensaio de John Donne pervade o romance “Por quem os sinos dobram” de Ernest Hemmingway. O herói, professor universitário, idealista, como tantos jovens inclusive brasileiros, vai para a Espanha em plena guerra civil, se engaja nas tropas legalistas contra os falangistas de Franco e participa de combates.

Não interessa aqui dizer que a Rússia fez um saque no tesouro espanhol, levou todo seu ouro a título de pagamento de armas, mandou comissários que executavam qualquer um que desviasse de sua ortodoxia, afinal aquela foi uma guerra tipicamente espanhola, com muito sangue e ajuste de contas de lado a lado. Não há heróis nessa guerra. Bem ou mal os comunistas haviam sido eleitos. Mas não tinham uma procuração para mudar o mundo espanhol em meia dúzia de anos. Deu no que deu. Cito Guernica dos falangistas para que não digam que só cito atrocidades comunistas.

O que interessa é que ao fim do livro, o jovem agoniza ferido de morte, defendendo a retaguarda, enquanto sua namorada grávida é levada pelos guerrilheiros para continuar sua vida nos Estados Unidos aos cuidados da mãe do professor. No filme os sinos dobram. Lindo!

Imaginem quão melhor estão os mortos do Araguaia do que o José Dirceu, José Genoino e outros. Sempre serão heróis, enquanto os sobreviventes carregam nas costas atos mesquinhos, a tortura de um tenente por um de seus comandantes e outros atos indescritíveis, assim como os legalistas tem nas costas a chacina de freiras e das pessoas albergadas pelas mesmas, enfim, coisa dos porões nazistas. No fim a ação armada apenas gerou mortes de parte a parte. Foi a consciência coletiva do mundo e a comprovação final da inadequação do comunismo para gerar prosperidade por abafar a criatividade, seja empresarial, seja artística, que trouxe as esquerdas ao poder de forma democrática, tanto na Espanha quanto no Brasil.

Mas esses sobreviventes, que sempre iconizaram grandes artistas do século 20 como Rivera, Orozco e Frida Kahlo, que defenderam a liberdade de expressão, subitamente se vêem no poder e tentam impor regras para o cinema, regras para o jornalismo, ou seja, comporta-se como quem venceu pelas armas um exército aguerrido, em lugar de quem foi gentilmente convidado a competir democraticamente pelo poder. Criam sua Nomenklatura quando no poder, espalhando benesses consumistas aos seus leais escudeiros e, através de seu braço MST iniciam uma perseguição aos Kulaks brasileiros.

Ou seja, varrem para a lata de lixo as experiências mal sucedidas dos 88 anos decorridos da Rússia, os 68 anos decorridos desde a Guerra Civil espanhola e os 55 anos de experiências falhadas da ortodoxia socialista européia, já abandonados pela própria Espanha, palco de um dos focos iniciais da segunda guerra mundial.

Se José Dirceu e outros tivessem morrido jovens teríamos prazer em lembrá-los como jovens heróis cheios de energia, de vontade de fazer o bem. Hoje apenas podemos lamentar o herói que se perdeu, que abusou da confiança de cônjuge e filhos, que trama pelo poder e não pela justiça que dizia buscar. O herói morreu. Ficou um espectro sem dó nem consciência no seu lugar.

Os sinos dobram por nós!