19 de fev. de 2006

AO JUIZ JULIER - por Adriana Vandoni, economista.

Senhor Juiz Julier, há sete meses escrevi um artigo com o mesmo nome que este, dando meu apoio à sua intenção de reabrir a CPMI do Banestado. Na época, eu disse que o Brasil não tinha ficado satisfeito com o fim sem fim dos trabalhos, o Brasil merecia uma resposta e precisava saber o porquê do relator José Mentor, hoje na lista de cassáveis, ter poupado nomes reconhecidamente criminosos como Paulo Maluf, Marcos Valério e outros.

Não foi por acaso que o apoiei. Fiz isso por acreditar que fazia parte da leva de jovens representantes da Justiça do Brasil que foram responsáveis pelo renascimento da esperança de que no Brasil teríamos uma Justiça real. Por diversas vezes, acreditei que não era verdade que seus sonhos ou ideais políticos da juventude pudessem orientar suas ações profissionais. Sempre imaginei que, em um confronto entre o justo e as suas convicções políticas, o primeiro prevalecesse. Comecei a desconfiar, doutor Julier, quando as suas ações bravas e guerreiras passaram a acompanhar as pesquisas eleitorais. Por coincidência, suas atitudes se tornavam ainda mais valentes, proporcionalmente inversas às pesquisas de intenção de votos ao PT e ao seu amigo Alexandre Cesar. Nessa hora, percebi que tinha algo estranho. Seu comportamento em uma entrevista a uma rede de televisão local foi degradante, por desmoralizá-lo e também a instituição à qual pertence.

Hoje, doutor Julier, tive a tristeza de ter que explicar ao meu filho, um garoto aspirante a advogado, que a justiça não é aquilo que ele acompanhou na CPMI dos Bingos na quinta-feira passada. Que aquele comportamento foi apenas um deslize de conduta ou um caso isolado dentre vários jovens que, como ele e o senhor, um dia sonharam com um país mais justo, sem ranços ideológicos, partidários ou seja lá o que for. Na ânsia de incentivar uma vocação, o usei como exemplo, naquele tempo em que, de forma vigorosa e brilhante, ajudou a demolir os castelos do comendador Arcanjo. Não tiro o seu grande mérito nesse caso, mas creio que o senhor não pode mais ser usado como exemplo.

Quando passei a observar que estava extrapolando seus poderes e sua função de neutralidade, que até então eu considerava uma conduta, como diria o ex-ministro Magri, “imexivel” e irrepreensível, eu o alertei em um outro artigo quando cobrei uma atitude condizente à sua postura em relação aos indícios de crime eleitoral na campanha do PT à prefeitura, que tinha como candidato seu amigo Alexandre Cesar. Eu vi, doutor Julier, notas e mais notas fiscais de empresas teoricamente diferentes preenchidas com a mesma letra, na mesma data, dando a impressão de que foram escritas pela mesma mão. Sei que a função de um juiz é inerte e que ele só age quando provocado, mas sei que qualquer juiz de bom senso busca a provocação quando a corrupção é ostensiva e se torna uma afronta à população digna.

Lastimável! Foi deplorável o vê-lo na CPMI dos Bingos. Senti vergonha, não de ser mato-grossense, mas pelo senhor, pelo vexame que estava passando ao vivo e a cores. Quanto ao fato de ser de Mato Grosso, me senti honrada pela atuação do seu desafeto político. Senti, doutor Julier, ao ver o senador Antero, que não estou sozinha ao falar até a rouquidão, que devemos, acima de tudo, ser leais e fiéis aos nossos princípios e convicções e que, ao assumirmos uma função, em especial uma profissão da qual vários dependem, devemos exercê-la com dignidade. Em tempos de crise moral, onde homens públicos foram cooptados a participar da institucionalização do crime, organizado pelo partido do governo, ver a contundência com que o senador Antero se defendeu é algo para nos sentirmos orgulhosos.

Identifiquei-me com aquela garra na defesa do nome, porque penso e ajo da mesma forma. Ninguém pode mexer desajuizadamente com a dignidade de uma pessoa que possui nome, família, princípios e honra.

Entendo que se a sua vocação política sobrepõe à sua atual função de juiz, deve ter a coragem de escolher uma delas, já que são incompatíveis. Pois com a postura que vem assumindo, o senhor deixa margem para pensarmos que, se um médico fosse, possivelmente deixaria a míngua um moribundo não-petista. O senhor partidarizou a justiça da forma mais deplorável que poderia fazer. Incorreu no erro de achar verídico um relatório apenas por ser de um companheiro do seu ex-partido.

Apesar do comportamento de alguns políticos, continuo acreditando na política e na existência de homens de bem. Apesar do senhor, continuo acreditando que um dia teremos uma Justiça imparcial, igualitária, que contribua para o aprimoramento da nossa democracia e para o bem estar do nosso povo.

Com autorização da autora, no Blog Argumento & Prosa

Sobre obstinação e democracia tucana

Falo hoje sobre a diferença entre a obstinação virtuosa e a viciosa, entre o apego a uma idéia e a pura e simples teimosia contraproducente. E, por que não?, sobra um pouco do meu mel a certo jornalismo que cobra “democracia interna” no tucanato, mas se cala diante do descalabro clepto-stalinista. São batedores de carteira intelectuais e morais, lobos da lógica, vestindo a pele de carneirinhos sofisticados.

Por Reinaldo Azevedo - clique aqui para ler o texto no Primeira Leitura

Do Blog: Às favas o País, o Povo e a Democracia. Ao Governador Alckmin, só interessa Geraldo Alckmin. Mas, a meu ver, é muita moleza do PSDB.
Essa "birra" chamada Alckmin, só representa 1 voto. Só tem um Título de Eleitor.

Notinhas do Primeira Leitura - por Reinaldo Azevedo

Mulheres que mudaram o mundo: num dia, Chaui descasca a moral; no outro, Marta recomenda ao PT a fuga do debate ético

Marta Suplicy, pré-candidata do PT ao governo de São Paulo, discursou ontem na Câmara dos Vereadores de São Paulo para 90 correligionários e fez um forte ataque ao governador Geraldo Alckmin (PSDB). No momento mais emblemático de sua fala, mandou brasa: “A oposição vai tentar falar da crise sem parar. Não vamos cair na armadilha de discutir ética na campanha”. Depois sugeriu que se usasse muito a imagem de Lula para conquistar os votos dos mais pobres. É isso aí: para esta nova pensadora da política, “debater ética” se tornou uma “armadilha”. Convenhamos: a mulher está certa. Afinal, só é possível falar com propriedade daquilo que se conhece... O PT falando a fazer digressões sobre ética cheiraria a “moralismo”, como disse Madame Marilena Chaui. Eis aí duas das minhas candidatas ao rol das “mulheres que mudaram o mundo”. Uma matou a moral, e a outra deixou órfã a ética. Admiro a coragem de ambas. Bem poucas pessoas não teriam vergonha de dizer o que elas dizem. Estão entre aquelas que não têm.