29 de jun. de 2005

O exemplo chileno

por Rodrigo Constantino - publicado no MSM.org

"Economic history is a long record of government policies that failed because they were designed with a bold desregard for the laws of economics."(Ludwig von Mises)
Dentro de um cenário econômico cada vez mais preocupante na América Latina, com níveis de miséria assustadores, um país se destaca positivamente. O Chile vem apresentando dados estatísticos de melhoria consistente ano após ano, graças às reformas estruturais adotadas ainda na era Pinochet. Não é o foco aqui debater aspectos da ditadura chilena, mas apenas destacar que as medidas econômicas de um governo não podem ignorar as leis básicas da economia. E no campo econômico, com a ajuda dos liberais de Chicago, o fato é que Pinochet respeitou essas leis, possibilitando que o Chile entrasse em uma trajetória decente de crescimento, que o distanciou um pouco da realidade mais dura dos seus vizinhos.
Nos tempos de irresponsabilidade populista do socialista Allende, o Chile viveu o caos econômico. Não cabe aqui entrar nos aspectos políticos em si, que incluem desrespeito constitucional, agressões aos direitos de propriedade e medidas autoritárias. Vamos nos ater aos aspectos econômicos. A hiperinflação atingiu mais de 500%, faltando produtos básicos no mercado, e com desemprego em rápida escalada. A produção agrícola chegou a cair 23%, e a mineral cerca de 30%. O Chile vivia um retrocesso enorme nas mãos do "camarada" Allende. Veio o golpe, uma pequena guerra civil se segiu, e Pinochet assumiu o comando da nação. Ali começava uma reviravolta na economia chilena.
O PIB per capita saiu de US$1.775 em 1973 para US$4.737 em 1996; a mortalidade infantil caiu de 66 por 1.000 nascimentos em 1973 para 13 em 1996; o acesso à água potável subiu de 67% para 98%; e a expectativa de vida foi de 64 anos para 73 anos. A previdência foi privatizada, garantindo aos indivíduos o direito de escolha da gestão da poupança. A maioria migrou para a gestão privada, e atualmente o Chile é um dos poucos países do mundo onde o sistema previdenciário não é uma bomba-relógio. Seu sucesso vem sendo estudado pelo mundo inteiro. O respeito às leis de mercado, a solidez institucional e uma economia aberta permitiram avanços fantásticos ao Chile. Vamos comparar alguns dados relevantes entre os principais países da América Latina, utilizando como fonte os renomados CIA, The Economist e World Bank.
O desemprego atual no Chile está em 8,4%, comparado aos 17,3% da Argentina, 11,7% da Bolívia, 12,3% do Brasil, 14,2% da Colômbia e 18% da Venezuela. A mortalidade infantil é de 12 crianças por mil nascimentos, contra 19 na Argentina, 71 na Bolívia, 37 no Brasil, 23 na Colômbia, 29 no Equador, 11 na Costa Rica, 29 no México e 22 na Venezuela. Nos Estados Unidos esse índice é de 8 mortes apenas. A mortalidade maternal também é bem inferior no Chile, de apenas 31 por cem mil partos, contra 140 de média desses outros países, e 17 nos Estados Unidos. O percentual da população que ganha menos de dois dólares por dia é de 9,6% no Chile, enquanto a média desses outros países está em 25%. A renda per capita ajustada para o poder de compra está chegando nos dez mil dólares no Chile, contra US$6.700 de média dos demais, e quase US$40 mil nos Estados Unidos. O coeficiente de Gini, que mede a concentração de renda, ainda é elevado no Chile, demonstrando concentração de riqueza. Está em 56,7, enquanto a média é 50,7, e o pior é o do Brasil, em 60,7. Com certeza o Chile ainda pode melhorar nesse aspecto, mas vale lembrar que a concentração de renda não é o mais importante, e sim a renda e qualidade de vida da maioria da população. Uma nação pode ter renda concentrada e ainda assim ser formada por uma classe média infinitamente mais rica que a de outros países. É o caso chileno.
Os avanços chilenos foram obtidos sem que o Estado arrecadasse fatia elevada do PIB. A carga tributária no Chile é de 23% do PIB, enquanto no Brasil está beirando os 40%. A inflação desde 2000 ficou em apenas 14% no Chile, comparado a 40% no Brasil, medida pelo IPC da FIPE. Os juros chilenos estão em patamares de primeiro mundo. A economia do Chile é mais aberta, com o comércio internacional representando 55% do PIB, frente aos 43% de média desses outros países analisados. Os principais produtos exportados são cobre, peixe, frutas, celulose e vinho, sendo os Estados Unidos o principal destino. O Chile assinou acordo de livre comério com este país, indo na contramão do Mercosul, que posterga ad infinitum o Alca. A educação chilena também vai bem, com 96,2% da população sabendo ler e escrever, comparado a 92% de média dos outros, e 86,4% do Brasil. Existem 119 computadores por cada mil pessoas, contra apenas 70 de média das demais. Nos Estados Unidos, existem 659 computadores por mil habitantes. São 238 usuários de internet para cada mil pessoas no Chile, para 74 de média dos outros, e 551 nos Estados Unidos. A expectativa de vida das mulheres é de 79 anos no Chile atualmente, para uma média de 75 das outras nações.

Em resumo, o Chile merece destaque hoje em comparação com os demais países da América Latina. Sua economia, mais aberta e com respeito às leis básicas do mercado, vem despontando como a mais sólida da região. O desemprego é menor, a renda por habitante é maior, o nível de miséria é mais confortável. Os indicadores de educação são melhores, assim como os de saúde. Tudo isso com uma carga tributária menor, sem um Estado inchado e paternalista. Não há Fome Zero, cotas, Estatuto do Desarmamento, e ainda assim o Chile é bem mais próspero e seguro. Em vez de eliminar o inglês como exigência eliminatória para o cargo de diplomata, o Chile adotou a língua como obrigatória no ensino básico. Ao invés da retórica antiamericana, o Chile partiu para um acordo de livre comércio com o maior mercado consumidor do mundo. No lugar de uma previdência injusta, repleta de privilégios e regalias, o Chile privatizou sua previdência e hoje colhe os frutos dessa sensata medida. Enfim, o Chile foi um país que respeitou as leis básicas da economia, começando pelo axioma lógico de que não é possível ter e comer o bolo ao mesmo tempo. Abandonaram os discursos utópicos dos políticos para abraçarem a lógica do mercado livre. Ainda existe muito por fazer, claro. Mas o caminho das pedras foi dado. Menos Estado na economia; mais mercado livre! Eis o exemplo chileno.

27 de jun. de 2005

Pinochet: ditador assassino ou salvador da pátria?

por Rodrigo Constantino - em 09/09/2003 no MSM.org

Este texto visa resgatar a verdade sobre o que pode ser considerado uma das maiores inversões de fatos já feitas. Todos conhecem a propaganda socialista, e como foram sempre experts em ocultar fatos, inverter causalidades e criar falsas evidências. Como o tempo é amigo da verdade, novas provas de que a esquerda no mundo todo sempre distorceu a veracidade das coisas surgem a cada ano. Peço para os leitores ignorarem questões ideológicas, pois certos dogmas criam rigidez cognitiva, a qual impossibilita uma análise imparcial dos fatos. Vamos nos ater apenas aos fatos.

O assunto é o general Pinochet e o golpe militar do Chile, do qual poucas pessoas possuem razoável conhecimento, mas automaticamente repetem certas "verdades" implantadas pela propaganda esquerdista. Enquanto Augusto Pinochet permanece detido, Salvador Allende foi transformado em herói nacional, e verdadeiros ditadores como Fidel Castro são tratados como presidentes e chefes de Estado respeitados. Eu não pretendo ignorar atrocidades do período Pinochet, nem entrar num debate ideológico, mas apenas levantar a grande cortina que encobre inúmeros detalhes importantes desta conturbada fase chilena.

Em primeiro lugar, das 2.279 mortes constatadas durante os 17 anos do regime Pinochet, aproximadamente metade ocorreu logo após o golpe de 11 de setembro de 1973. Creio que ficará claro durante o texto que isso era praticamente inevitável para se restaurar a ordem no Chile, e que a grande concentração de mortes nos primeiros dias de golpe se deve ao fato de estarmos tratando de facto de uma guerra civil, não um regime opressor que assassinava deliberadamente.

Um pouco de história do Chile nos mostra que este é um país com fortes raízes de patriotismo, instituições capazes de manter a ordem, e um povo respeitador da Constituição, datada de 1925. Os militares sempre se mantiveram fora da política. O governo sempre teve um papel central, principalmente para proteger o controle sobre os recursos naturais do norte.

O Partido Comunista Chileno é o mais antigo da América do Sul, e sempre foi altamente obediente ao Kremlin. O partido fundado por Salvador Allende era também declaradamente marxista. Em 1967, o seu Partido Socialista deu a seguinte declaração: "O Partido Socialista como uma organização Marxista-Leninista propõe a tomada do poder como objetivo estratégico a ser conquistado por esta geração, para estabelecer um estado revolucionário que irá libertar o Chile da dependência econômica e cultural e iniciar o processo do socialismo. Violência revolucionária será inevitável e legítima. Constitui o único caminho para se chegar ao poder político e econômico. A revolução socialista poderá ser consolidada apenas destruindo-se as estruturas burocráticas e militares do estado burguês."

O MIR, movimento revolucionário de esquerda similar as FARC e MST, era um corpo militar que defendia a tomada do poder pelos comunistas e socialistas. O sobrinho de Allende, Andres Pascal Allende, era um dos líderes de tal movimento. Outro pilar de sustentação das bases revolucionárias estava na Igreja Católica e sua teologia liberacionista, que acreditava na militância política como único meio de transmitir a mensagem divina. Com este conjunto de forças dando apoio, e mais promessas de respeito à Constituição que se mostraram mentirosas depois, em 1970 era eleito Salvador Allende para presidente. Em 1971, em uma entrevista, o novo presidente já deixava claro suas intenções, ao dizer que "nós precisamos expropriar os meios de produção que ainda estão em mãos privadas". Disse também que "nosso objetivo é o socialismo marxista total e científico".

Allende venceu as eleições com 36,5% dos votos, o que estava longe de ser considerado um maciço apoio popular. O primeiro aspecto de seu programa de governo foi um assalto às propriedades privadas agrícolas, na medida conhecida como tomas. As expropriações eram carregadas de violência, por bandos armados, normalmente membros do MIR. Várias vítimas foram assassinadas, e alguns morreram de ataques do coração ou se suicidaram. Entre novembro de 1970 e abril de 1972, 1.767 fazendas foram tomadas por bandos armados.

Em seguida, Allende iniciou um programa de nacionalização de diversos setores da economia, como mineração e têxtil. Seu governo utilizou pequenas brechas na lei para infernizar a vida das empresas, e conseguir assim expulsar o capital estrangeiro do país. A liberdade de expressão também foi fortemente atacada, como em todos os países socialistas. Allende chegou a afirmar que "coisas são boas ou ruins dependendo se elas nos trazem para mais perto ou longe do poder". Seu governo atuou diretamente e indiretamente contra jornais e estações de rádio não socialistas.

Foi criada uma instituição bizarra conhecida como "Corte do Povo", onde juízes não treinados mas ligados às organizações de esquerda eram indicados. Seus poderes eram amplos, e batiam de frente com as leis já estabelecidas. Além disso, Allende criou, em 1971, sua própria Guarda Pessoal, a GAP, fortemente armada.

Todas essas medidas inconstitucionais, num país que respeitava sua Constituição desde 1925, fizeram com que o governo de Allende entrasse em conflito com a Suprema Corte. Vários casos eram questionados na justiça, mas Allende simplesmente ignorava as decisões da Corte. Ele chegou a dar a seguinte declaração em rede nacional: "Num período de revolução, a força política tem o direito de decidir em última instância se as decisões do judiciário se enquadram ou não nos objetivos e necessidades históricas de transformação da sociedade. Conseqüentemente, cabe ao Executivo o direito de decidir seguir ou não os julgamentos do judiciário".

Em janeiro de 1972, o Congresso aprovou o impeachment do ministro de Interior por falhar na proteção dos direitos à propriedade e liberdade de expressão, apenas para vê-lo assumir a pasta de Ministro de Defesa. Em julho do mesmo ano, um novo ministro de Interior sofreu impeachment, mas foi apontado por Allende para um alto cargo administrativo. Em dezembro, o Ministro de Finanças também sofreu impeachment por ações ilegais contra trabalhadores em greve, mas foi transformado em ministro da Economia. O desrespeito de Allende às claras regras do jogo, à Constituição, ao Congresso e à Suprema Corte, era simplesmente total.

A crise econômica se alastrava de maneira assustadora no Chile de Allende. A hiperinflação atingiu mais de 500%, faltavam produtos nas prateleiras e o desemprego crescia rapidamente. No meio deste caos econômico, Carlos Matus, um dos ministros de Allende, disse que "o que é uma crise para outros representa uma solução para nós". O único setor que prosperou durante os anos de Allende foi o paralelo, o mercado negro. Assim como na URSS, a nomenklatura chilena, composta de pessoas ligadas ao governo e influentes, enriqueceu através da importação de produtos escassos no Chile. O dólar, que no mercado livre da era pré-Allende valia 20 escudos, atingiu 2.500 escudos em agosto de 1973. A produção agrícola caíra 23% e a mineral uns 30%. No Chile de Allende, reinava o caos econômico e social, fruto de um total desrespeito à ordem.


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Foi nesse contexto que se deu o golpe de 1973. Os militares na verdade apenas cumpriram com suas obrigações constitucionais. Uma guerra civil era iminente, e inúmeras armas já estavam sob o poder dos revolucionários, enviadas sobretudo por Cuba. Allende era bastante próximo de Fidel Castro, e no passado, como presidente do Senado, já havia oferecido refúgio aos membros do grupo terrorista de Che Guevara. Durante seu governo, não só centenas de guerrilheiros cubanos migraram para o Chile, como membros de diversos grupos revolucionários do Brasil, Uruguai, Argentina, Peru, Nicarágua e Honduras. A residência de Allende no El Canaveral serviu como importante centro de treinamento para tais terroristas. Castro chegou a mandar dois de seus maiores especialistas para ajudar na organização da violência política chilena.
Um documento descoberto na sala de um secretário comunista do governo revelou as intenções de usar as festividades do Dia Nacional da Independência para um golpe fatal e "impor a ditadura do proletariado". O alto comando das forças militares seriam convidados para um banquet oficial no palácio presidencial de La Moneda para que a guarda pessoal de Allende pudesse matá-los. Em agosto foi descoberto também um plano desenhado pelos mais altos membros do governo para incitar uma rebelião naval. No dia 23 de agosto de 1973, a Câmara dos Deputados considerou que estava rompido o Estado de Direito no Chile, e publicou uma resolução completa comprovando sua acusação.
Essas foram, resumidamente, as causas que forçaram uma atitude militar no Chile. Os militares, historicamente afastados da política, se viram obrigados a resgatar a ordem e a Constituição. Durante o cerco ao Palácio, várias ofertas foram feitas ao então presidente para que este saísse do país em segurança, mas tais ofertas foram recusadas. Allende acabou cometendo suicídio.
Evidente, os exageros e mortes de inocentes despertam ódio e ressentimento, mas é fundamental colocarmos o período Pinochet sob um julgamento imparcial, levando em conta todo esse contexto. A "guerra civil" chilena gerou bem menos mortes que as do México e da Nicarágua, sem falar em Cuba, cujo paredón já fuzilou mais de 17 mil pessoas. E no caso chileno, como já foi dito, cerca de metade das perdas se deram logo no começo do "golpe", enquanto no caso cubano estamos diante de uma repressão duradoura, que ano após ano elimina inocentes sob acusações ridículas, sem prova ou julgamento justo. A triste verdade é que as perdas da era Pinochet, em sua maior parte, representaram um preço necessário para o resgate da ordem.
Pinochet estabeleceu um programa claro de reconstrução do Chile. Restaurou a ordem e trouxe economistas liberais da escola de Chicago, que criaram um programa de governo que possibilitou um estrondoso crescimento econômico. O risco de golpe terrorista ainda existia, e isso impossibilitou um rápido retorno à democracia. Em 1974, 52 membros das forças armadas e da polícia foram mortos ou feridos em ataques terroristas. No campo econômico e social, os números não mentem: o PIB per capta saiu de US$1.775 em 1973 para US$4.737 em 1996; a mortalidade infantil caiu de 66 em 1973 para 13 em 1996 (a cada mil nascimentos); o acesso à água potável subiu de 67% para 98%; e a expectativa de vida foi de 64 anos para 73 anos.
O que se seguiu é história, e hoje o Chile desfruta da privilegiada posição de país mais avançado da América do Sul. Como de praxe, os socialistas venderam um sonho utópico e entregaram terror e caos, enquanto os que consertaram os problemas acabaram condenados e crucificados pela propaganda esquerdista. Pinochet nem sequer seguiu o ritual de um ditador. Ele nunca fundou um partido próprio: usou soldados profissionais e economistas renomados durante seu governo, não aderiu ao nepotismo e nunca adotou um culto à personalidade. Em 1988, realizou um referendo popular onde o candidato da junta, ligado a Pinochet, venceu com 44% dos votos, mais que Allende em 1973. Ainda assim, Pinochet respeitou a Constituição, que afirmava serem necessários mais de 50% dos votos, e anunciou sua saída do governo. A democracia, assim como a economia, havia finalmente sido salva, graças ao "temido ditador".

21 de jun. de 2005

O PROBLEMA DA EDUCAÇÃO

por Rodrigo Constantino, economista - no Diego Casagrande

If the consumer is free to choose, an enterprise can grow in size only if it produces an item that the consumer prefers because of either its quality or its price.” (Milton Friedman)

A educação do povo é um dos mais valiosos recursos de uma nação, principalmente em um mundo onde o capital humano ganha cada vez mais importância frente ao capital físico. Justamente por ser tão importante para o progresso da nação, ela não deve ficar a cargo do governo, sempre com gestão mais ineficiente e corrupta, por causas inerentes ao modelo do Estado. A alimentação é uma necessidade ainda maior, e quando ficou sob o comando do Estado, como na ex-URSS ou China, tivemos como resultado a fome generalizada. Nas nações capitalistas, sobra comida.

Na verdade, as escolas, academias e universidades têm suas origens na livre iniciativa privada. Mestres e alunos participavam de trocas em benefício mútuo. O mundo conheceu filósofos como Sócrates desta forma, e o governo, quando interveio, foi para dar cicuta a ele. Até 1918, a presença dos alunos nas escolas americanas não era obrigatória. Os pioneiros em controle estatal na educação foram a Prússia autoritária, de Bismark, e a França imperial. Desde então, o avanço do Estado na educação tem sido expressivo, normalmente com resultados bem aquém dos desejados.

A educação é um serviço, como tantos outros. O fato de ser tão importante apenas ressalta que devemos buscar o maior grau de eficiência possível. Se o consumidor é livre para escolher, e há competição no mercado, somente as escolas que atendem a demanda irão sobreviver. A eficiência de resultados é que garante o sucesso delas. Já quando a pesada mão do Estado entra, os consumidores, no caso os alunos e seus pais, perdem o controle, que passa para os burocratas. Estes possuem interesses próprios, nem sempre, ou quase nunca, alinhados com o dos alunos. A concentração de poder no Estado facilita a vida dos produtores, no caso os donos das escolas, que são “amigos do rei”, e trocam favores pela via política, em vez de bons produtos no mercado livre. E é o poder de decisão dos consumidores que força a constante busca de melhoria do produto por parte dos produtores.

Além disso, os pais com certeza estão mais interessados na educação dos seus filhos que os burocratas do governo. Os governantes, muitas vezes, preferem a ignorância do povo, para vender sonhos utópicos e ganhar votos. Passar o poder para os pais é fundamental, portanto. Um meio efetivo de fazer isto seria através de um sistema de vouchers, ou vales. Desta forma, os pais com menos condição financeira poderiam bancar a educação dos seus filhos, ou parte dela, mas escolhendo livremente a escola. Os vales só poderiam ser usados para esta finalidade, reduzindo assim os riscos de fraude. Tal medida iria assegurar a competição pelo lado da oferta, a melhor garantia que existe para a boa qualidade do serviço via-à-vis seu custo. E iria retirar o enorme poder dos burocratas, que gera ainda mais ineficiência no setor, além do risco de doutrinação ideológica, já que as escolas perdem a liberdade e ficam dependentes demais do Estado. Um dos maiores defensores desse modelo é o economista Milton Friedman, da Escola de Chicago. Infelizmente, o modelo encontra fortes barreiras nos interesses particulares dos burocratas e políticos, assim como professores de escolas públicas com visão míope ou receito da competição livre de mercado.


O Estado deveria vender todas as suas universidades, e focar seus recursos no ensino básico, através deste modelo de vouchers, que permite aos mais pobres um melhor ensino, por ser privado. A maioria ajuda uma minoria verdadeiramente carente, sempre tentando buscar uma maior responsabilidade individual. As universidades públicas, hoje, acabam utilizadas pela classe média alta, que teria condição de pagar por faculdades privadas. Claro, imaginando que os impostos seriam também menores, já que o governo reduziria seus gastos com esse modelo. Igualar oportunidades é uma utopia, pois geneticamente indivíduos já nascem diferentes, fora uma criação distinta. Mas reduzir a discrepância é possível, e justamente através desse modelo. Já igualar resultados é não só utópico, como indesejável, posto que os humanos não são cupins. Os resultados serão frutos de uma interação livre no mercado, respeitando a meritocracia e as preferências individuais. Eis o único jeito de se fazer justiça verdadeira, além de resolver o grave problema da educação.

12 de jun. de 2005

SOMOS O QUE PENSAMOS

por Alberto Oliva, filósofo - publicado no Diego Casagrande

As idéias que povoam nossas mentes têm origens as mais variadas. Algumas são frutos da dura aprendizagem pessoal, outras nos contagiam pela freqüência com que circulam na sociedade. Há também o grupo das que nos foram inculcadas por doutrinadores e professores. É fácil notar que certos tipos de idéia encontram condições mais favoráveis ao seu vicejo em determinados solos culturais. A simpatia por determinadas filosofias contribui decisivamente para que a liberdade anule a escravidão, a ordem controle o caos e o realismo da eficiência se imponha à retórica vazia, ao passo que outros modelos de pensamento ajudam a percorrer o caminho inverso. Caso pretendamos conhecer a sociedade na qual vivemos é fundamental identificar a matriz filosófica das idéias que nela estão difundidas e as causas e razões que fazem com que os estereótipos ideológicos sejam absorvidos como verdades elementares pela maioria distraída. Contrariamente ao que sustenta o materialismo, o mundo caminha enfunado pelos ventos do espírito. Os modos compartilhados de pensar ditam os rumos da vida coletiva. Conhecedores desse fato, de há muito os marxistas sutilmente se livraram da camisa-de-força do materialismo reducionista original. Passaram a adotar o ideologismo – tudo é guerra de idéias - que lhes permite explorar, manipulando ingredientes culturais arraigados na consciência coletiva, as “contradições” latentes e manifestas das sociedades democráticas.

Na formação das mentalidades está a chave para se entender como estilos de pensamento desencadeiam os padrões comportamentais que definem muito da identidade de uma nação. As formas típicas de ação –individuais ou institucionais – mais generalizadas no interior das sociedades estão atreladas a visões de mundo normalmente endossadas sem que se tenha consciência de seu alcance e de suas implicações. As idéias se transformam em fantasmagoria perigosa quando se instalam nos cérebros sem que os hospedeiros saibam como as adquiriram. Com isso, passam a papagaiá-las sem saber exatamente o que são e em que se fundamentam. Idéias absorvidas aleatoriamente enfeitiçam o intelecto gerando uma adesão emocional ao que deveria ser tratado com o máximo rigor crítico. Tirante um ou outro esforço de pensamento questionador, somos repetidores dos erros alheios. É raro encontrar alguém que desconfie que as crenças mais difundidas foram geradas em palafitas apoiadas em pântanos ideológicos.

As idéias que se disseminam ajudam a formar atitudes e a tornar certos tipos de conduta recorrentes. Para que se tenha uma radiografia espiritual do estado geral de um país é imprescindível saber que idéias organizam e dirigem sua “consciência coletiva”. Por que as idéias socialistas, sobretudo nas versões mais simplistas, têm muito mais penetração por aqui que as idéias de extração liberal? Uma resposta apressada poderia atribuir esse fato ao capitalismo selvagem, à subsistência de abismos sociais em nossa pátria mãe gentil. Mas a evidência empírica mostra que as idéias socialistas pouca influência exercem em muitas sociedades pobres e profundamente desiguais. Um dado curioso é que, no Ocidente, os partidos comunistas sempre tiveram mais força nos países católicos. As idéias socialistas continuam pegando carona na censura religiosa à competição e ao lucro. A verdade é que sociedades com histórico de patrimonialismo levam as pessoas a acreditar que o Estado é a força capaz de engendrar o bem-estar coletivo: empregar todo mundo e distribuir o que a natureza pródiga oferece. E, last but not least, dividir a renda nacional de forma justa e equânime. Poucos se dão conta de que esse tipo de mentalidade produz estagnação social decorrente da falta de iniciativa individual.

A força das idéias socialistas decorre de sua capacidade de aprofundar a velha visão, instalada no subconsciente coletivo desde a época colonial, de que as provisões – o conspícuo das elites e básico do povo – dependem mais do Poder do Estado que do Fazer da Sociedade. Não é coincidência que governos autoproclamados socialistas, como até outro dia gostava de se apresentar o do Estado do Rio de Janeiro, tiram dinheiro dos serviços básicos de saúde e educação para aplicá-lo em assistencialismo que ilude pobres e miseráveis. A distribuição de benesses para as elites – dos subsídios aos altos salários da burocracia - e de migalhas para o povão nunca causaram a devida indignação cívica porque se harmonizam com a mentalidade que começou a prosperar desde o alvorecer do Brasil. O socialismo, que por estas plagas se confunde com o mais deslavado estatismo, se coaduna com a expectativa do atendimento de cima para baixo tanto dos fortes quanto dos fracos, tanto dos “amigos do rei” quanto dos deserdados. Da conquista e preservação de privilégios se nutrem os favorecidos e da ilusão da esmola vivem os que sofrem de carências e privações graves.

No Programa “Canal Livre” da Rede Bandeirantes, o eminente antropólogo Roberto da Matta declarou que o século XXI será o século da igualdade. Não lhe foi dada a chance de detalhar seu pensamento. O conceito de igualdade está longe de ser unívoco. Se a equalização for associada a projetos políticos intervencionistas, capitaneados por Estados neo-absolutistas, assistiremos de novo a matanças ideológicas como as cometidas no século XX. Mais que o período novecentista, o século XX foi, até 1989, marcadamente antiliberal. Os EUA, por lá ser forte o consenso em torno da economia de mercado, resistiram à vaga estatista/intervencionista e foram premiados por isso. Muito do atual ódio antiamericano deriva da vitória, no apagar do milênio, do liberalismo sobre o socialismo.

O século XXI não pode reeditar o laboratório de igualação dirigido por Estados hipertrofiados. O custo disso foi muito elevado em termos de vidas humanas e retrocessos materiais. A engenharia social põe em ação engrenagens que trituram vidas a pretexto de tornar os homens iguais. Se o objetivo é tornar as pessoas menos desiguais, o desafio consiste em como fazer isso sem transformar o Estado no Leviatã que esmaga indivíduos com a desculpa de acabar com suas diferenças. Para que se preserve a liberdade, é necessário que a busca por maior igualdade leve as pessoas a assumirem voluntariamente formas de associação que as façam menos desiguais material e simbolicamente. Do contrário, o máximo que se conseguirá é despertar os velhos fantasmas do totalitarismo em alguns lugares sofridos deste planeta.