5 de set. de 2008

Por que Satyagraha?


A escolha do nome Satyagraha para uma operação da Polícia Federal deve ser uma indicação de que algo está faltando no país.

Por que ter de procurar um dicionário sânscrito para achar um nome de operação? De um ponto de vista puramente nacionalista acho ofensivo. Não poderia ser simplesmente uma “Operação Safadeza” ou “Safardanas”? Palavras não faltam no idioma português.

Poderíamos estipular que o nomear das operações obedecessem aos mesmos princípios dos furacões. O primeiro do ano é um nome começando por “A”, o vigésimo terceiro começando por “Z”. Após os primeiros vinte e três viriam nomes compostos. Assim a trigésima oitava operação do ano poderia ser chamada de “Antônio Palocci”, digna homenagem a um homem que garantiu e garantirá muito serviço para a categoria dos policiais federais.

Este método inclusive estaria em conformidade com as leis da caça. O caçador desportivo sempre manda um cão assustar os pássaros para que estes decolem e sejam, abatidos. Da mesma forma, se um meliante controlar os nomes das operações divulgadas quando a polícia começa a arrebanhar os acusados, se a operação precedente for a operação Dilma (nada a ver com a ministra) e a operação divulgada for a operação Mangabeira (nada a ver com o ministro) sabe-se imediatamente que há mais nove operações ainda em andamento. Criminosos sabedores disto teriam chance de usar técnicas de cálculos progressivos e regressivos para prever estatisticamente se já é hora de ocupar aquele chalezinho nas ilhas Seychelles ou o bangalô em Dubai comprados sob aquela identidade húngara falsa adquirida em Marselha.

A Caixa Econômica Federal poderia até lançar uma nova modalidade de apostas. Poder-se-ia apostar na letra da próxima operação a ser divulgada ou no nome que corresponderia a cada letra. Haveria ainda aquelas apostas após a fuga dos bandidos. Onde está Wally? Bangkok na Tailândia, Kodiak no Alaska? Talvez Bali, talvez Nouméa no Pacífico Sul?

Mas talvez um controle alfabético seja muito formalizado para os espíritos ávidos de exprimir o lado poético que residem nas altas esferas policiais. Neste caso seria de bom tom ao menos assegurar-se que os nomes fossem fáceis de lembrar. Por exemplo, operação “Rapto das Sabinas” para redes de escravas brancas; “Operação Alfafa” para bois piratas.

Mas por favor, simplifique. No máximo uma operação “Ipon” tirada das artes marciais. “Budokan” já seria um excesso.