9 de set. de 2006

Complexo de Inferioridade - por Rodrigo Constantino

Existem vários motivos que podem levar um indivíduo a aderir ao coletivismo. Um deles, entretanto, desperta-me um interesse maior, pois não faz distinção entre graus de inteligência ou renda nas vítimas. Trata-se de um anti-individualismo patológico, um estado mental onde há um certo ódio pela figura do indivíduo. A pessoa pode ser rica, inteligente e bem articulada, mas ainda assim sofrer desse sentimento anti-indivíduo, buscando refúgio em algum ente coletivo. Ela precisa de uma válvula de escape coletivista, de algum grupo o qual se identifique, podendo assim anular suas falhas – e virtudes – como indivíduo. A destruição do “eu” é o objetivo final. Por trás dessa fuga, está um grande complexo de inferioridade.

A comunidade da qual faz parte protege essa pessoa dos desafios e oportunidades individuais. O sentimento de participação numa espécie de rebanho bovino, onde as responsabilidades individuais são substituídas pela psicologia das massas, garante um conforto para aquele que está mais focado em evitar o fracasso que atingir o sucesso. Gustave Le Bon, que estudou a fundo as massas, concluiu que os indivíduos fazendo parte de um grupo com certas características coletivistas adquirem um sentimento de invencibilidade que os permite seguir instintos os quais seriam barrados caso eles estivessem sozinhos. Um caso típico é o linchamento público, ou a agressividade das torcidas organizadas. A lógica não exerce influência nesses grupos, e a estupidez é acumulada nessa massa monolítica, nunca a inteligência de cada um. O Fórum Social Mundial é um bom exemplo.

Os sentimentos mais característicos de um anti-indivíduo são inveja, ressentimento, descrença em si próprio e autocomiseração. Ele sente-se vítima do mundo e de todos. Trata-se não de uma falta de oportunidades, recursos ou direitos, mas de um defeito de caráter, um problema moral. Ele, não tendo senso de individualismo, é incapaz de amar o que tem de melhor. Substitui o amor próprio pelo senso de lealdade ao seu grupo. Ele precisa de um líder, de alguém que vá eximi-lo de suas responsabilidades individuais. Isso faz seu senso de comunidade ser patológico. Ele acaba com um líder que é seu espelho, no fundo. Um líder que é também um anti-indivíduo, que busca controlar outros porque não pode controlar a si mesmo, que procura a emasculação de indivíduos autônomos, que prioriza a igualdade e não a competição.

Se todos fossem formigas iguais, ele não mais teria que observar suas diferenças, que tanto o incomoda. A busca da igualdade suprime a liberdade individual, e a tirania pode ser um meio justificável para tão “nobre” fim. Os dissidentes e opositores do rebanho são apenas egoístas insensíveis, que podem – e devem – ser exterminados no processo dessa “maravilhosa” construção coletivista. Ninguém desperta tanta raiva nele quanto o indivíduo independente, que não liga para os dogmas do rebanho, que se basta sem precisar do consenso. Pensamento independente e questionamento são coisas que não combinam com o coletivismo. Não é coincidência que todo socialista perseguiu esses pensadores independentes, considerados traidores da causa. Calá-los na masmorra, num gulag ou no paredón era crucial para o projeto igualitário. Proibir os livros de George Orwell em Cuba tampouco é uma coincidência. A tentativa do PT em controlar a mídia e desqualificar todos os opositores como “golpistas” idem.

Igualitários não querem melhores oportunidades para todos, nem uma qualidade de vida melhor para as massas. Querem a destruição do sucesso alheio. Querem a morte do individualismo. Querem o término da responsabilidade – habilidade de resposta – individual. Querem seguidores autômatos. Querem adeptos do rebanho bovino. Querem um formigueiro. Tem que ter muito complexo de inferioridade para desejar um mundo desses, sem indivíduos livres assumindo as próprias rédeas de suas vidas. Deve ser muito triste sofrer dessa patologia coletivista...

Vereadores Federais - por Klauber Cristofen Pires

Das propostas dos candidatos a cargos públicos, legislativos ou executivos, que venho acompanhando desde há uma década, e afora aquela bobagem de “mais saúde e educação”, dita assim, em termos genéricos, sempre pronunciada sob chavão, a que mais tem se destacado é a da capacidade de angariar recursos. Todos, sem exceção, hoje, disputam o eleitor dizendo-se “campeões” de recursos para o seus Estados. Todos mesmo: candidatos a deputados estaduais, federais, prefeitos e governadores.

Esta é a tônica dos dias de hoje. Mesmo no caso dos candidatos a governador, este é o carro chefe – no caso deles, a alegação reside no fato de pertencerem ao partido ou à coligação do presidente da República. No Rio, já assisti à campanha televisiva da candidata Benedita da Silva, ao cargo de senadora, em que ela, inclusive, ensinava ao seu público-alvo que a missão de um senador é a de “trazer recursos para o seu Estado”...

O fato é que ninguém mais pensa em administrar e governar, ou fazer leis para os seus eleitores: viraram todos o que se pode chamar de “vereadores federais”. Isto porque, ora bolas, quem deveria passar seu mandato buscando recursos para obras seriam os vereadores.
Mas, qual seria a causa de tal deturpação das funções públicas? Isto talvez possa ser compreendido se nos estendermos um pouco mais...

Recentemente, tem sido veiculada uma campanha promovida pelo poder judiciário legislativo, cujo mote é um cenário onde um professor cobra de seus alunos que se lembrem em quem votaram. A propaganda me pegou em cheio. Eu não me lembro de nenhum. Só me lembro - e olhe lá – de quem votei para cargos executivos. Para falar a verdade, lembrar ou não, para mim, faria pouca diferença. Quando votei, nem sequer sabia quem eram.

Antes que queiram pegar no meu pé pela minha explícita demonstração de anti-civismo, o que desejo aqui salientar é o seguinte: nosso sistema de democracia está viciado; a representatividade dos detentores de cargos públicos é nula!

Afinal, sejamos francos: votar em vereadores, deputados estaduais e federais, prefeitos e governadores, para quê?

Que fará um vereador, além de leis de proibição de fumar e nomes de ruas? Que fará um deputado estadual, além de elaborar leis idênticas às leis federais, justamente porque estas ordenaram? Sobrou o deputado federal, mas, o que este pode fazer, se o executivo legisla por medidas provisórias e utiliza seu poder (justamente, ora o quê, detém os “recursos”!) para submeterem os parlamentares? Isto, se não apela para o mensalão...

Que fará um prefeito, se apenas 5% de seu orçamento vem de tributos municipais? O resto, para quem não sabe, tem origem no Fundo de Participação dos Municípios ou na transferência de recursos voluntários da União. Portanto, tudo o que faz um prefeito é aplicar os recursos federais segundo políticas, diretrizes e legislações federais. Estes recursos são auditados por órgãos de controle federais (Controladoria Geral da União e Tribunal de Contas da União). Na prática, o prefeito não é mais do que um funcionário público federal, com a única diferença de ter sido colocado no cargo por meio do voto.

Da mesma forma, acontece com o governador. Seus impostos são definidos pelo Senado Federal e pelo Confaz, uma absurda entidade criada para centralizar o que era para ser descentralizado. A União, por meio das Contribuições Federais, foi gradativamente aumentado sua participação no bolo tributário, de modo que hoje goza de cerca de setenta por cento de tudo o que se arrecada neste país.

Para piorar, também o Estado depende do Fundo de Participação dos Estados e das Transferências da União. Desta forma, prefeitos e governadores, se quiserem “ver algum” pingando em seus municípios ou estados, têm de se submeter à União, porque senão os critérios para distribuição ou alocação destes recursos “podem variar”, de modo a privilegiar os entes representados por correligionários ou aliados.

Os Estados não gozam de praticamente nenhuma competência legislativa; praticamente todas já foram pré-definidas para serem privativas da União, na própria Constituição Federal. Ironicamente, em nossa carta magna, o parágrafo primeiro do art 25 dispõe que “são reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição”. Palhaçada: fizeram isto para copiar a constituição norte-americana. Só que lá, a constituição deles reservou umas poucas competências para a União, e consagrou a maior parte – tudo o mais que houvesse ou que viesse a aparecer – para os Estados, enquanto que na Carta cabocla, a União reservou já de antemão quase tudo para si, tendo em seguida enumerado as competências dos municípios, e ao fim, para os Estados, praticamente nada restou.

Resumo da Ópera: de nada adianta votar! Depois de eleito, o político simplesmente extingue sua relação política com o eleitor. Ele não pode fazer leis que nos interessem, pois “federação”, no Brasil, é apenas um nome bonito. Ele não pode cortar impostos porque a lei de responsabilidade fiscal não permite. Ele não pode desenvolver políticas ou planos de obras próprios porque os recursos são da União, esta sim que decide como usá-los. E nós nem sequer podemos cobrar algo deles, porque não temos recursos para tirá-los de onde estão e substituí-los por outros.No fim das contas, o político brasileiro não tem mais nada a fazer se não exercitar a sua capacidade de ser um bom “pedinte” de recursos junto à União. Só.

Recebido do Klauber Cristofen Pires, para publicação