6 de mar. de 2008

Férias no narcotráfico - É uma vergonha! - diria Boris Casoy

((Interessante ler também Avacalhar Para Dominar da Maria L. V. Barbosa))

Perdemos, em qualquer hipótese (original do autor)

Por estarem fardados e armados, ocupando determinado território, grupos de bandidos, narcotraficantes e seqüestradores devem ser considerados um Estado independente, ou receber a prerrogativa de beligerantes? É o caso das Farc, na Colômbia, que mantém cerca de 700 cidadãos em cativeiro e tiram a maior parte de seus recursos da proteção e até da produção e comercialização da cocaína. Dirão alguns ingênuos fazerem essas acusações parte de uma campanha diabólica do governo de Bogotá, amparado pelos Estados Unidos, mas não dá para ignorar as imagens e os depoimentos a respeito da transformação da selva em monumental cárcere privado. Também ajudam as confissões de integrantes de cartéis do tráfico de drogas, que quando presos confirmam a espúria relação com as Farc. Feito o preâmbulo, porém, é bom atentar para o que vem depois. A Colômbia não tinha nada que invadir território do Equador para bombardear e metralhar contingentes de bandidos lá instalados. Foi um injustificado ato de guerra, jamais se aceitando a teoria do tal ataque preventivo. No reverso da medalha, porém, o que dizer do governo de Quito? Complacência e até conivência com as Farc, permitindo que atravessassem a fronteira e se instalassem no seu país? Ou, alternativa ainda mais triste, a prova de profunda incompetência, ignorando o ingresso e a presença de tropas alienígenas em seus limites? Nessa novela de horror, muito menos poderiam os Estados Unidos estar usurpando a soberania dos países da região, mantendo amplos contingentes militares na Colômbia e monitorando, através de satélites e outras parafernálias eletrônicas, movimentações de toda espécie. Ainda mais, se essas informações são repassadas para um governo subordinado a seus interesses. Pior ainda, se a operação militar teve a colaboração de oficiais americanos. Por último, exacerbou de sua competência e do bom senso o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, ao mobilizar blindados para a fronteira de seu país com a Colômbia, quando o conflito militar aconteceu do lado de lá, nos limites com o Equador. Em suma, lambuzaram-se todos, sem exceção. Uma tremenda trapalhada onde as responsabilidades são gerais. A pergunta que se faz é o que tem o Brasil com isso, arriscando-se a ser respingado pelo melado em que se transformou o extremo norte do continente sul-americano. Se de um lado a diplomacia existe para dirimir conflitos e construir a paz, de outro ela deve sempre funcionar na defesa dos interesses de quem a pratica. Aqui surge o perigo: oferecendo-se o presidente Lula para mediador do conflito entre nossos vizinhos, a hipótese mais provável é de desagradarmos a todos. As Farc acusarão o Brasil de não compreender nada sobre o direito à rebelião que têm os povos oprimidos. O presidente Álvaro Uribe, da Colômbia, reclamará por não estarmos sustentando integralmente a existência de um governo democrático que se defende contra bandidos. Já o presidente Rafael Correia, do Equador, protestará por não termos sidos veementes na condenação à invasão armada de seu território. Hugo Chávez torcerá o nariz por não estarmos condenando a intervenção dos Estados Unidos na América do Sul. E o presidente Bush poderá ser tentado a imitar o rei Juan Carlos, da Espanha, dirigindo-se ao presidente Lula com a contundente pergunta: "Ppor que não se cala?" Vamos com calma Ex-diretor-geral da Receita Federal, antigo ministro da Fazenda e tributarista de excepcional capacidade, o senador Francisco Dornelles desabafou, ontem, em reunião da Comissão de Economia. Votava-se projeto referente à devolução do Imposto de Renda quando o representante do Rio de Janeiro pediu a palavra e protestou contra a presença de funcionários da Receita Federal no recinto, fazendo lobby junto aos senadores. Pediu a retirada dos intrusos e denunciou que a Receita Federal jamais apoiou qualquer projeto de qualquer senador, mantendo-se sempre em oposição ao interesse dos contribuintes. Pelo jeito, o governo abre espaços para que ressurjam os filhotes do dr. Travancas, antigo diretor-geral da Receita Federal, que nos tempos do consulado de Roberto Campos na economia assustava o Brasil inteiro, tanto pelo seu nome quanto pela truculência com que tratava os contribuintes, para ele todos suspeitos de sonegação. Foi preciso que viesse depois o ministro Delfim Netto como czar da economia para dizer que não era nada daquilo, que o trabalho da Receita Federal era zelar pela arrecadação mas sem transformar cidadãos em réus. Namoro ou noivado? A direção nacional do PMDB chegou a levar as alianças, mas o governador Aécio Neves pediu mais tempo para celebrar o noivado, preferindo permanecer no namoro. Mas namoro quente, desses dos tempos modernos. Foi durante jantar na casa de José Yunes, na noite de segunda-feira, em São Paulo. O presidente Michel Temer já falava em festa de casamento mas o governador, pelo jeito, queria antes discutir o dote. Não afasta, em particular, a hipótese de trocar o PSDB pelo PMDB, mas, por enquanto, ainda cultiva os tucanos. Afinal, inexistem leis determinando que José Serra será o candidato, apesar de tudo indicar que será. Para Aécio Neves bandear-se para o PMDB será necessária a garantia integral de que o partido o lançaria candidato à sucessão de 2010, uma possibilidade, mas ainda não uma probabilidade. Afinal, Roberto Requião e Nelson Jobim trabalham nesse sentido e poderiam botar água no chope do governador mineiro. Além do que, as pesquisas favorecem seu colega de São Paulo, cujo sonho maior seria uma chapa café-com-leite, ou seja, Aécio como candidato à vice-presidência. Pressa, propriamente, não há para as decisões. Tudo se resolverá ano que vem, ainda que importe sempre repetir o provérbio árabe de que "bebe água limpa quem chega primeiro na fonte"... Férias no narcotráfico O presidente Lula visitará três favelas cariocas, amanhã. Estará no Complexo do Alemão, depois em Manguinhos e, finalmente, na Rocinha. Acompanhado do governador Sérgio Cabral e de alguns ministros, anunciará obras do PAC nos locais onde já estão sendo armados palanques para seus pronunciamentos. Há dias os organismos federais e estaduais de segurança trabalham em tempo integral, monitorando e já se instalando nas favelas, de olho nos esconderijos do narcotráfico. Pelas informações que fluem do Rio, não haverá motivo para muita preocupação, porque os bandidos podem ser tudo, menos bobos. Qualquer suspeita de atos de inconformismo ou agressão por parte deles determinaria a maior blitz de todos os tempos nas respectivas favelas, com prejuízos fatais para suas atividades criminosas. Assim, o mais provável é que os chefões determinem férias coletivas para suas quadrilhas. Até eles talvez se afastem, mas recomendando antes às respectivas comunidades todo o apoio à visita do presidente Lula...
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