20 de ago. de 2006

SÍNDROME DA BRANCA DE NEVE - por Percival Puggina

Apesar de sua imensa significação no destino dos povos, a questão dos consensos permanece como tema restrito ao debate acadêmico. Não deveria ser assim porque o assunto é muito importante. Consensos corretos sobre coisas relevantes produzem resultados positivos e consensos errados determinam inevitáveis desastres. Sob o ponto de vista político, não hesito em afirmar que o mais danoso de nossos consensos se expressa na idéia de que as instituições nacionais não funcionam. Bem ao contrário, elas funcionam. E grande parte dos males que observamos decorre de seu funcionamento. Cito alguns dos mais evidentes: a transformação da administração pública em moeda de troca dos acordos, a hipertrofia do Estado, a politização do judiciário e a judiciarização da política, a irresponsabilização dos parlamentos, a impunidade geral, os muitos instrumentos de corrupção cristalizados nas práticas políticas, e o estímulo institucional à representação política dos grupos de interesse.

O lamentável consenso segundo o qual as instituições que temos poderiam operar dando origem a resultados diferentes e melhores, imobiliza a sociedade em relação à necessária reforma institucional e nos leva a esperar que um dia, com outros figurantes, as coisas possam andar melhor. Com isso, fulanizamos o debate político, desprezamos a imperiosa reflexão sobre as relações de causa e efeito que determinam os fatos da vida do país, e empobrecemos partidária, política, cultural, social e economicamente.

Se instituições democráticas devem ser como as que adotamos, e que para resolver nossos problemas basta fazê-las funcionar, cabe indagar: e como ficam a Alemanha, Itália, França, Holanda, Bélgica, Noruega, Suécia, Dinamarca, Espanha, Portugal, Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda, Austrália, Canadá, Japão? Não são democracias? Não adotam outros padrões e funcionam melhor do que nós? Pois é. Mas persistimos na convicção de que democracia de qualidade é a que se obtém com o bem sucedido modelo que utilizamos no Brasil, na Bolívia, no Paraguai, na Argentina, na Venezuela, na Colômbia, no Peru, no Equador e tutti quanti.

À semelhança de todos os nossos vizinhos, tornamo-nos portadores da Síndrome da Branca de Neve. Alimentamo-nos com as maçãs envenenadas que frutificam do péssimo modelo que adotamos. Entramos em letargia sobre as necessárias mudanças. E ficamos esperando o príncipe que nos conduzirá, na garupa de seu cavalo branco, para o reino encantado da boa governança. Enquanto não aparece esse nobre cavalheiro que estamos aguardando há mais de um século, nos empanturramos de análise marxista. Vamos lendo Frei Betto e Eduardo Galeano e pondo a culpa nos perversos exploradores da nossa alva e dormente inocência: o capitalismo, a globalização, o latifúndio, o FMI, o Consenso de Washington, o neoliberalismo, o Bush, o Império (para falar como o adoecido Fidel Castro) e por aí afora. A cada ano esse indigente discurso escolhe a Rainha Má da vez.

Um parágrafo que me é familiar

Tento caminhar um pouco todos os dias. Dizem que faz bem. É uma chatice, como todo exercício físico. Fumar é muito mais gostoso. Mas você deve andar, não fumar. Não conseguiria fazer esteira sem me sentir idiota. Em academia, nem pensar: há algo em mim parecido com pudor. Aquele que sua ao lado não é “meu semelhante, meu irmão”. Para não me sentir maluco além da conta, estabeleço um ponto qualquer de referência e para lá me dirijo com a determinação de um carteiro. Chego, respiro resignado e volto. E acendo um cigarro.
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O apedeutismo é uma legião, como o demônio. ... Não é preciso dizer de quem é

Um povo marginalizado - por Olavo de Carvalho

Resumo: O destino do Brasil está nas mãos de homens ricos e poderosos que tremem como donzelas diante dos tagarelas cínicos e semiletrados que dominam o meio intelectual provinciano. Resultado: um povo conservador que não tem políticos conservadores e líderes empresariais conservadores que o representem porque todos estão psicologicamente seqüestrados por uma claque subintelectual grotesca.

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Segundo uma pesquisa da Folha de S. Paulo , 47% dos brasileiros se dizem de direita e só 30% de esquerda; e entre os 23% restantes, que se definem como centristas, predominam amplamente as posições conservadoras em matéria de moral e segurança pública. Por que não existe então um partido conservador para dar expressão política a essa opinião majoritária? Por que, num país de direitistas, a última eleição presidencial foi disputada entre quatro esquerdistas? A coisa mais óbvia do mundo é que uma plataforma conservadora teria o apoio maciço do eleitorado. Por que ninguém tem a coragem de levantar essa bandeira?

A resposta está no mesmo jornal. Segundo sua edição de 14 de agosto, a 4ª edição da Festa Literária Internacional de Parati , com um público total estimado em 12 mil pessoas, foi uma orgia de vociferações esquerdistas e anti-americanas. “Até aí, sem novidades”, comenta a Folha : “Desde sua primeira edição, em 2003, a Flip sempre reuniu autores e público que não hesitam em esbravejar contra os EUA. ‘Noventa e nove por cento das pessoas que vêm para festivais como esse pensam assim’, disse o escritor inglês Christopher Hitchens.” Será preciso mais para comprovar o abismo que se abriu entre a nação brasileira e a miúda elite falante que domina as instituições de cultura, a educação e a mídia?

Para não dizerem que tomei birra com a Folha , vejam o caderno Prosa & Verso de O Globo . Boa ou ruim, é uma publicação cultural importante, expressa as preferências dos medalhões acadêmicos.

Vejam os escritores que aparecem na edição de duas semanas atrás. Fora o próprio Hitchens, um esquerdista que irrita um pouco os seus pares por não ser apaixonado pelo Hezbollah, e Jorge Amado, que o jornal lembra sobretudo como vítima de perseguições anticomunistas na juventude, aparecem: Ricardo Piglia (do Partido Comunista Argentino); Tariq Ali (ídolo do esquerdismo mundial); Mourid Barghouti (apologista dos palestinos); Alonso Cueto (autor de um livro sobre as maldades cometidas pelos militares peruanos contra os pobres terroristas do Sendero Luminoso ); Mário de Carvalho (militante histórico do Partido Comunista Português e admirador devoto do stalinista Álvaro Cunhal); Olivier Rolin (militante maoísta); Faïza Guène, jovem escritora de origem argelina autora de choradeiras quanto à condição dos árabes na Europa, onde eles respondem com bombas ao Estado malvado que lhes dá ensino e assistência médica.

Todas as seções culturais dos jornais do Rio e de São Paulo são assim: propaganda esquerdista ostensiva, interbadalação desavergonhada entre os politicamente corretos. Nessa atmosfera, todas as opiniões conservadoras, sem exceção, são marginalizadas e criminalizadas como “extremismo de direita”. Mas, ante os políticos e os líderes empresariais brasileiros, essa troupe de palhaços desfruta de uma autoridade verdadeiramente eclesiástica.

Olavo de Carvalho
Os homens práticos, incapazes de entender do que os papagaios estão falando, curvam-se diante deles em sinal de temor reverencial, acreditando que eles estão mesmo falando de alguma coisa. É ridículo, mas é verdade. O destino do Brasil está nas mãos de homens ricos e poderosos que tremem como donzelas pudicas diante dos tagarelas cínicos e semiletrados que dominam o meio intelectual provinciano.

Resultado: um povo conservador não tem políticos conservadores e líderes empresariais conservadores que o representem porque todos estão psicologicamente seqüestrados por uma claque subintelectual grotesca. Até quando?

Olavo de Carvalho é Jornalista, Escritor, Filósofo e Editor do Mídia Sem Máscara.