25 de mai. de 2014

Roberto Campos e Carlos Lacerda

Roberto Campos


Roberto Campos já havia resumido bem o fenômeno quando disse: “É divertidíssima a esquizofrenia de nossos artistas e intelectuais de esquerda: admiram o socialismo de Fidel Castro, mas adoram também três coisas que só o capitalismo sabe dar – bons cachês em moeda forte, ausência de censura e consumismo burguês; trata-se de filhos de Marx numa transa adúltera com a Coca-Cola…”
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Carlos Lacerda no livro Depoimento


“Eu nunca fui, em outras palavras, da esquerda festiva. Essa glória eu tenho, nunca pertenci à esquerda festiva, que inclusive é um fenômeno relativamente novo. Eu nunca seria capaz de fazer o papel do Chico Buarque de Holanda, cuja música eu aprecio muito e cujo caráter não aprecio nada. Estou falando dele, mas não especialmente dele. Só citando um exemplo. Digo isso porque é uma esquerda festiva, que é contra um regime do qual ele vive, no qual se instala, do qual participa lindamente, maravilhosamente, etc. Eu não conheço nenhum sacrifício que ele tenha feito senão a censura em suas músicas por suas ideias. Agora, acho que se ele tem essas ideias, então seja coerente, viva essas ideias, viva de acordo com elas. Isso não é nenhum caso particular com Chico… Estou apenas dando um exemplo. Enfim, tenho horror à esquerda festiva, porque acho que é uma forma parasitária de declarar guerra a uma sociedade da qual se beneficia e participa integralmente.”

23 de mar. de 2014

Dante Alighieri



“As regiões mais sombrias do inferno estão reservadas para aqueles que permanecem neutros em tempos de crise moral”.
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por Rodrigo Constantino

19 de mar. de 2014

De Nietzsche para Manuela D'Ávila: o Socialismo sob o martelo impiedoso do Filósofo

A deputada Manuela D’Ávila citou o filósofo Nietzsche em seu desabafo sobre a reação nas redes sociais a seu assalto. Deve tomar cuidado ao olhar demais para o abismo para não cair nele, evitar se tornar um monstro depois de encará-lo por tempo demais.
Já que a deputada comunista citou o filósofo, gostaria de lhe oferecer outra passagem, mais longa, do mesmo. Dessa vez sobre o próprio socialismo. Está em Humano, Demasiado Humano (aforismo 473):
 
O socialismo é o visionário irmão mais novo do quase extinto despotismo, do qual quer ser herdeiro; seus esforços, portanto, são reacionários no sentido mais profundo. Pois ele deseja uma plenitude de poder estatal como até hoje somente o despotismo teve, e até mesmo supera o que houve no passado, por aspirar ao aniquilamento formal do indivíduo: o qual ele vê como um luxo injustificado da natureza, que deve aprimorar e transformar num pertinente órgão da comunidade. Devido à afinidade, o socialismo sempre aparece na vizinhança de toda excessiva manifestação de poder, como o velho, típico socialista Platão na corte do tirano da Sicília; ele deseja (e em algumas circunstâncias promove) o cesáreo Estado despótico neste século, porque, como disse, gostaria de vir a ser seu herdeiro. Mas mesmo essa herança não bastaria para os seus objetivos, ele precisa da mais servil submissão de todos os cidadãos ao Estado absoluto, como nunca houve igual, e, já não podendo contar nem mesmo com a antiga piedade religiosa ante o Estado, tendo, queira ou não, que trabalhar incessantemente para a eliminação deste – pois trabalha para a eliminação de todos os Estados existentes -, não pode ter esperança de existir a não ser por curtos períodos, aqui e ali, mediante o terrorismo extremo. Por isso ele se prepara secretamente para governos de terror, e empurra a palavra “justiça” como um prego na cabeça das massas semi-cultas, para despojá-las totalmente de sua compreensão (depois que esta já sofreu muito com a semi-educação) e criar nelas uma boa consciência para o jogo perverso que deverão jogar. – O socialismo pode servir para ensinar, de moro brutal e enérgico, o perigo que há em todo acúmulo de poder estatal, e assim instilar desconfiança do próprio Estado. Quando sua voz áspera se junta ao grito de guerra que diz o máximo de Estado possível, este soa, inicialmente, mais ruidoso do que nunca: mas logo também se ouve, com força tanto maior, o grito contrário que diz: O mínimo de Estado possível.
 
Assim falou Zaratustra!

Rodrigo Constantino

20 de jan. de 2014

Text and Comments

20/01/2014 - às 5:11 - Por Reinaldo Azevedo

Shoppings querem atuação federal contra rolezinhos. Ou: Se Dilma manda sua turma se calar, que então resolva, ora! Ou ainda: PT perde o pelo, mas não o vício

Comments:

Cris Azevedo - 20/01/2014 às 9:45

Rei
Li sobre o Fantástico de ontem. Parece que andaram fazendo aquela mesma porcaria que fizeram com os black blocs. De graça é que não é! Veja só: se uma pessoa ou empresa resolve deturpar, distorcer os acontecimentos por motivos financeiros ou mesmo por “ideal”, deixando de cumprir sua função, em razão disso é chamada “corrupta”.

Não posso ver o FANTÁSTICO e o JORNAL NACIONAL de outra forma que não como CORRUPTOS. Quem aceita fazer o serviço sujo, daquela forma, distorcendo, se apropriando, moldando, mentindo sobre a realidade dos fatos, deixando de fazer seu trabalho honestamente

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Alícia Maia

Albert Einstein não era um judeu praticante. Mas reconhecia a existência de Deus. Acreditava em padrões de certo e errado. Sua atividade intelectual era devotada à busca não só da verdade, mas também da certeza.

Viveu o suficiente para sofrer com a interpretação equivocada do seu trabalho científico. “Como aquele que no conto de fadas transformava tudo o que tocava em ouro, comigo é em confusão que tudo se transforma nos jornais” – o comentário de Einstein, em carta a seu amigo Max Born, em 1920, reflete sua angústia.

Uma leitura errônea da Teoria da Relatividade Geral estimulou a crença de que não havia mais absolutos: de tempo e espaço, de bem e mal, de conhecimento, sobretudo de valores. Assistiu, atônito, à metamorfose de seu trabalho na epidemia do relativismo moral, assim como padeceu a dor de ver a sua equação dar à luz o terror nuclear. Houve muitas vezes, confidenciou Einstein no final de sua vida, em que desejou ter sido um simples relojoeiro.

Recentemente, reli a encíclica Veritatis Splendor, texto obrigatório para quem tem o ofício, comprometedor e fascinante, de tentar iluminar a verdade profunda dos fatos e, ao mesmo tempo, defender aquilo que está no DNA da raça humana: a liberdade.

João Paulo II, um papa dotado de extraordinária cabeça filosófica, pretendeu resgatar este “mundo desconjuntado”, como tristemente observava Hamlet. Na encíclica, o pontífice falecido advertiu para a “decadência do sentido moral” na sociedade e suas consequências dramáticas para a democracia.

“Uma democracia sem valores se transforma com facilidade num totalitarismo visível ou encoberto”, afirma o texto, com um realismo cortante. “A origem do totalitarismo moderno deve ser vista na negação da dignidade transcendente da pessoa, sujeito natural de direitos que ninguém pode violar; nem o indivíduo, nem a família, nem a sociedade, nem a nação, nem o Estado.” Trata-se de uma vibrante defesa da liberdade e dos direitos humanos.

A democracia é, sem dúvida, o regime que melhor funciona. É o sistema que mais genuinamente respeita a dignidade da pessoa humana. Qualquer construção democrática, autêntica, e não apenas de fachada, reclama os alicerces da lei natural.

No respeito aos seus princípios está o melhor antídoto contra aventuras ditatoriais. Por isso, não obstante a força do marketing que apoia certas campanhas contra a vida, é preocupante o veneno antidemocrático que está no fundo de certos slogans dos governos.

Não se compreende de que modo obteremos uma sociedade mais justa e digna para seres humanos (os adultos) por meio da organização da morte de outros seres humanos igualmente vivos (as crianças não nascidas).

Há um elo indissolúvel entre a prática do aborto, o massacre do Carandiru, a chacina da Candelária e outras agressões à vida: o ser humano é encarado como objeto descartável. Os argumentos esgrimidos em defesa dessas ações, alguns cruéis, outros carregados de eufemismos, não conseguem ocultar o desrespeito ao primeiro direito humano fundamental, base da sociedade democrática: o direito à vida.

Situações traumáticas merecem compreensão e podem representar atenuantes, mas jamais devem justificar a eliminação de uma vida. O aborto, estou certo, é o primeiro elo da imensa cadeia da violência e da cultura da morte. Após a implantação do aborto descendente (eliminação do feto), virão inúmeras manifestações do aborto ascendente (supressão da vida do doente, do idoso e, quem sabe, de todos os que constituem as classes passivas da sociedade).

Delírio premonitório? Penso que não. Trata-se, na verdade, do corolário de um silogismo dramaticamente lógico. A vida deixa de ser um fato sagrado. Converte-se, simplesmente, numa realidade utilitária.

A encíclica de João Paulo II estabelece uma forte conexão entre verdade e liberdade. Faz a síntese que faltava. Só na verdade a liberdade tem um caráter “humano e responsável”, salientou o papa. Num mundo tantas vezes dominado por uma visão utilitarista, o documento rasga o generoso horizonte da autêntica liberdade.

De fato, poucas ideias gozam, por parte dos homens em geral, de um apreço tão universal quanto a liberdade, mas nem todos aprofundam igualmente na sua essência. Muitos se conformam com uma consideração superficial desse conceito: a liberdade lhes sugere simples espontaneidade, ausência de compromissos, e isso já é o suficiente.

Uma das doenças culturais do nosso tempo é o empenho em contrapor verdade e liberdade. As convicções, mesmo quando livremente assumidas, recebem o estigma de fundamentalismo. Impõe-se, em nome da liberdade, o dogma do relativismo.

Trata-se, na feliz expressão do cineasta marxista Pier Paolo Pasolini, da “intolerância dos tolerantes”, que, obviamente, conspira contra o sadio pluralismo democrático. O pós-modernismo é dramático ao dizer que não há valores absolutos, que não há uma verdade, que a linguagem não pode alcançar a verdade. Sem verdade as sociedades caminham para a ruína.

Qualquer pessoa sensata é capaz de intuir que os estragos causados pelo fundamentalismo relativista são dramaticamente evidentes. Na verdade, ele está no cerne da espiral de individualismo, de violência e insensatez que, diariamente, vai esgarçando as relações humanas.

Por isso, a encíclica de João Paulo II, permeada de extrema coerência, é de grande atualidade. Ela propõe o urgente desafio ético de conjugar liberdade e verdade. (Carlos Alberto Di Franco-Estadão)