17 de out. de 2006

A HORA É AGORA! - por Augusto de Franco

"Não fomos suficientemente firmes na denúncia política de todo esse descalabro no momento adequado. Não será agora, durante a campanha eleitoral, que conseguiremos despertar a população. Mas, para nos diferenciarmos da podridão reinante, temos a obrigação moral de não calar".

Fernando Henrique Cardoso, "Carta aos Eleitores do PSDB" (07.09.06).

Agora é tarde? Sim, é tarde, por certo, para esperar - salvo um novo "milagre" - que a oposição consiga, na reta final da campanha, desvelar para a maioria da população o 'banditismo de Estado' instaurado pelo governo Lula.

Mas não é tarde para começar a organizar a resistência democrática no Brasil. A provável vitória de Lula só será equivalente a uma absolvição do chefe de governo e da quadrilha que se organizou no coração do Estado brasileiro se não houver uma oposição enraizada na sociedade (e não apenas representada figurativamente nos parlamentos) e disposta a resistir em defesa da democracia e do desenvolvimento.

É agora, quando tem sobre si os holofotes, que Alckmin poderá lançar as sementes da nova oposição popular, começando a falar, no mínimo, para os quarenta milhões que o escolheram no primeiro turno. Senão quando? Quando voltar para casa, sem mandato, cabisbaixo, recebendo o conforto fraternal dos amigos dizendo-lhe que foi o "campeão moral" da disputa?

É agora - não depois - que, além de orientar esse imenso contingente de cidadãos que já não querem mais saber de Lula, pode-se tentar falar para os que ainda resistem à verdade. A mensagem é simples:

É necessário juntar os homens e as mulheres de bem do país para lutar contra o crime organizado no governo. O banditismo de Estado é um fator exterminador de desenvolvimento, numa proporção incomparavelmente superior àquela que poderia advir dos tradicionais desvios de conduta dos nossos chefes políticos ou de orientações programáticas erradas de nossos governos.

Chegamos no limite: banditismo de Estado, a partir de certo grau, inviabiliza a própria idéia de desenvolvimento. Quando os responsáveis pelo governo do seu país se transformam, eles próprios, em bandidos, não lhe cabe outra coisa a fazer a não ser resistir.

Um golpe contra o processo democrático

Resistir agora, antes do desfecho do segundo turno, é denunciar o golpe contra o processo democrático que foi desferido pelo PT no governo.

A campanha de Geraldo Alckmin deve servir para começar a moralizar o Brasil. Alckmin agora tem a obrigação moral e política de ser o porta-voz da decência, da lei, do Estado de Direito e da democracia. Basta ler a revista Veja, que chegou ontem às bancas, para comprovar o acerto dessa orientação tática: o centro da questão agora é saber de onde veio o dinheiro e o grau de envolvimento dos homens de confiança de Lula (sobretudo Freud Godoy, mas também o Espinoza e vários outros como Bargas, Lorenzetti e Berzoini) na trama do falso-dossiê, que constitui um golpe contra o processo eleitoral. A oposição não pode ir para as urnas do dia 29 sem que o Brasil saiba as respostas. As eleições estão sob o efeito de um golpe que foi dado pelo governo (por auxiliares íntimos do presidente) contra o processo democrático. É hora de colocar a boca do trombone junto à imprensa nacional e internacional.

O futuro está sendo desenhado agora

São pequenas as chances de uma virada que ocorra em virtude de uma tomada de consciência da população. O momento de fazer isso já passou, quando Alckmin preferiu seguir outro caminho, da "acumulação primitiva" de popularidade - na base do "de grão em grão a galinha enche o papo" - confiante de que seduziria os eleitores lendo bons textos no teleprompter.

Mas mesmo que sejam muito pequenas as chances de vitória de Alckmin, temos a obrigação de não calar e de fazer uma campanha que denuncie a podridão reinante no governo. Não apenas por obrigação moral, como assinalou Fernando Henrique, mas também por razões políticas. Eleito no segundo turno, Lula deverá prestar contas aos tribunais. E deverá sofrer um processo de impeachment. Para isso, entretanto, é necessário que a oposição partidário-parlamentar não se desorganize nem esmoreça. E é necessário que surja uma oposição mais enraizada na sociedade brasileira, um movimento em rede de resistência democrática capaz de impedir que o mal continue a graçar no Brasil, pervertendo a política e degenerando as instituições.

Um segundo mandato de Lula não fará bem para a democracia e nem para o desenvolvimento. O prejuízo de deixar o país nas mãos de Lula por mais quatro longos anos será muito maior do que os riscos de removê-lo juridicamente ou por processo parlamentar, com base nas leis ou na Constituição Federal. Caso seja reeleito e continue no governo - sobretudo se a quadrilha não for desbaratada e os bandidos punidos - caminharemos para um buraco negro da democracia e da liberdade no Brasil.

Novamente faço aquela ressalva de praxe. É claro que sempre pode haver um "milagre", como, aliás, já ocorreu no primeiro turno. Mas sujeitos políticos responsáveis não podem contar com milagre, menos ainda contar com a repetição do milagre. Não é razoável que Alckmin permaneça rezando para aparecer um novo dossiê falso na cozinha do Alvorada. Com a eleição virtualmente ganha e sem necessidade de destruir reputações, eles agora não cometerão erros tão grosseiros.

Acabou-se, portanto, o tempo de contar com a sorte. Acabou-se também o tempo da covardia e da preguiça, de ficar esperando que apareça algum desavisado para tirar do fogo as castanhas. Está chegando a hora de ver quem verdadeiramente tem a democracia como um valor fundamental na sua vida política.

Não ficar esperando os partidos

Em um momento gravíssimo como este que estamos vivendo, os democratas não podem ficar esperando tudo de partidos constituídos, em grande parte, como coligação de interesses e vaidades de atores individuais. É necessário que os cidadãos, seja na sociedade civil, seja no setor empresarial, seja, até mesmo, em governos éticos e democráticos que não aceitam a roubalheira petista, tomem a iniciativa de exigir o fim do banditismo de Estado - inclusive dos seus métodos de fundraising, como a 'corrupção de Estado' - com a apuração dos delitos e a punição dos culpados.

Se Lula for reeleito, a verdadeira luta contra os atentados que estão vitimando a democracia brasileira e inviabilizando nosso desenvolvimento humano e social sustentável, estará apenas começando. Será uma luta árdua e de longa duração. As chances de sucesso dos democratas nessa luta dependem muito da maneira como as oposições se comportarem agora - ainda no segundo turno da eleições de 2006 - e no período imediatamente seguinte à derrota, se ela vier.

Mas dependem também - e fundamentalmente - do que formos capazes de fazer, nós, os democratas, em termos de análise crítica, denúncia, proposição de alternativas, articulação de redes, organização de coletivos, blogs, sites, iniciativas de educação política e de mobilização.

Estamos em um daqueles momentos nos quais parece que tudo o que foi feito antes não vale mais e o que será feito muito depois também não. Antes, já passou. Depois, "já era". A hora, portanto, é agora!

IMPOTÊNCIA SEM CURA - por Glauco Fonseca

As pesquisas indicam que Alckmin perderá a eleição para Lula. O que elas não indicam, entretanto, é que a perda maior, com a reeleição de Lula, será de toda a nação. Com algumas poucas exceções, a derrota de Alckmin não será a derrota de Geraldo. Será a derrota da lei, da mídia, da imprensa e de todas as pessoas deste país, mesmo as que insistirem em votar em Lula da Silva.

A vitória de Lula será o êxito da corrupção, do desmando, da impunidade. A provável posse de Lula será a posse da impotência na imprensa, a consagração da fraqueza na mídia que, em pleno século XXI, não chega aos cidadãos como gostaria. Será possível, com mais 4 anos de Lula, rasgar mais e mais códigos e, dentro em breve, as manchetes de jornal serão escritas assim:


“Meninos cometem erro em instituição financeira” (Assaltantes de banco foram presos em flagrante).

“Recolhido por grosseria com menina, alega que não sabia” (Estuprador se diz inocente)

“Aloprados são recolhidos por abordagem equivocada” (Ladrões presos por tentativa de roubo)

“Afastados companheiros por imbecilidade” (Corruptos processados por denúncias)


A mídia deve estar se sentindo mais ou menos como os EUA no Iraque, incapaz de eliminar o problema que tanto ajudou a criar. De nada adianta 20 minutos de pauleira no Jornal Nacional, todos os dias da semana. A crise de identidade, de poder e de funcionalidade recaiu sobre aquela parte da imprensa que, mesmo tendo denunciado, mesmo tendo escancarado, irá acabar amargando, com toda a população brasileira, um futuro nada alvissareiro para si própria como instituição.

Se a imprensa é insuficiente, o judiciário inerte e as oposições boazinhas, então se nos acomete uma impotência sem chance pra Viagra. Os “meninos” voltarão a mandar, a fazer “grosserias”. Os “aloprados”, hibernantes, voltarão a “cometer erros” e os “companheiros”, por mais “imbecilidades” que cometam, novamente comandarão a rapina. Esta será a síntese de Lula e seu novo “governo”.

A não ser que... Não. Agora é tarde. Não adianta agora tentar fazer o que deveria ter sido feito há um ano atrás. Não adianta o congresso nacional tentar manobras que não vão colar. Temos é que encarar pedagógica e terapeuticamente mais 4 anos de Lula. Só assim aprenderemos. Isto é, se Lula e os “meninos” não conseguirem finalmente o que estão tentando desde o início, ou seja, serem novamente flagrados e encaminhados para um congresso sedento de sangue e de prestígio, coisa que por lá está em falta há muito tempo.

Mesmo que se descubra que o dinheiro para comprar o dossiê “Tal” (eu chamo de Tal porque sempre se referem a ele como o “tal” dossiê) seja de um amigo pessoal, de um publicitário ou de um banqueiro, não será suficiente para um processo de impugnação. Aliás, nada mais é suficiente, uma vez que nós já fomos todos impugnados, cassados, e violados.

No Brasil é assim. O crime compensa, atriz pornô tem orgasmo e quanto mais corrupto, melhor.

A pior das desonestidades - por Percival Puggina

Quem é mais danoso? O Silvio Pereira ao receber aquela Land Rover de uma empresa que prestava serviços ao governo ou o Ministro da Justiça quando oculta informações? O Roberto Jefferson que sabia de tudo ou o Presidente que proclama nada saber, mesmo sobre o que foi alertado? A pior das desonestidades, a meu ver, é a mentira usada como instrumento de conquista ou de manutenção do poder. Conquistadas ou mantidas as posições através da falsidade, tudo mais é conseqüência, corolário da mesma falta essencial de caráter.

Circula na internet um quadro comparativo das gestões de Lula e FHC. O leitor desprovido de capacidade de análise, memória e senso crítico, lendo aquilo, não duvidará: Lula é um estadista e seu antecessor um incompetente; Lula e o PT salvaram o Brasil de um desastre que será inevitável se Alckmin chegar à presidência.

Suponhamos que seja bem sucedida essa estratégia, à qual se somam o mensalão dos ricos, o mensalão dos pobres e a mentira adicional de que o primeiro não existiu e o segundo se extinguirá em caso de vitória oposicionista. Teremos, então, mais quatro anos com um presidente que nada sabe, rodeado por uma ciranda de patifes (há exceções), oriundos de inesgotável usina, que se vão sucedendo nas poltronas do poder assim como são trocados os bastões numa corrida de revezamento.

O tal comparativo silencia sobre verdades indispensáveis. Praticamente todos os indicadores que o governo Lula pode exibir se apóiam em políticas produzidas na gestão anterior, sob intensa oposição petista. O risco Brasil caiu? Sim, porque o país honrou seus compromissos externos. Mas enquanto era Fernando Henrique que assumia o ônus de pagar a dívida, o PT oposicionista angariava simpatias com um "plebiscito" e um acalorado discurso pelo calote. A inflação cedeu? Sim, graças ao Plano Real, concebido, criado e mantido contra a metralhadora retórica petista, que não cessava de tagarelar sobre "a mentira do Real". Lula dispôs de mais recursos para programas sociais e luxos pessoais? Sim, mas isso foi possível graças à Reforma da Previdência, à estabilidade e às privatizações. E a tudo o velho PT se opunha. Só a privatização das teles geraram R$ 118 bilhões em impostos ao proporcionar, com investimentos de R$ 135 bilhões, o salto das comunicações que se produziu no país. A balança comercial produz bons resultados? Sim, graças à abertura ao mercado global, que Lula e o PT sempre denunciaram como algo diabólico, o bebê de Rosemary do tal neoliberalismo.

Eu poderia prosseguir, mas me falta espaço para denunciar todo esse parasitismo de chupim que não apenas bota ovos no ninho alheio como ainda critica o construtor antes, durante e depois. Quem comete tais desonestidades intelectuais praticará as outras com a mesma naturalidade e a mesma falta de constrangimento. Tudo bem coerente com a conduta de um grupo político que antes se apresentava como o único honesto e agora se esfalfa para provar que não é o mais corrupto.