3 de mai. de 2006

BOLSA FAMÍLIA: O MENSALÃO DOS POBRES - por Paulo Moura, cientista político

O desafio da candidatura da oposição está em tirar de Lula pelo menos uma fatia desse eleitorado que apóia o molusco em troca da mesadinha que lhes incentiva o ócio e a vontade de votar no “pai generoso”. Nesse território da disputa os argumento$ de Lula são imbatíveis. “Porta de saída” do “Bolsa-Família”, na boca de Alckmin é sinônimo de fim da mesada. A maior parte desse eleitorado comprado, portanto, é causa perdida para a oposição. Alckmin deve prometer que vai preservar e ampliar o “Bolsa-Família”; deve dizer que vai gerar emprego e renda para essa gente, etc. Mesmo assim, a força dos argumento$ de Lula é superior.

O curioso, no entanto, é que, depois de seis meses de CPI 24 horas no ar, na TV, no rádio nas revistas e os jornais, finalmente, em dezembro de 2005, Lula sangrou votos mesmo nessa parcela sem renda e sem educação do eleitorado. Se já aconteceu uma vez, pode acontecer outra...

Leia a íntegra no Diego Casagrande

Paulo Moura escreveu "PÓS-LULA: O BRASIL SAI DESSA PIOR" em 17/08/2005.

Brasil: um país cada vez menor

A saída do Uruguai do Mercosul e o circo armado por Morales mostram um Brasil cada vez menor no cenário internacional. É resultado da diplomacia altiva.

Por André Soliani - íntegra no Primeira Leitura

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MAFIOSOS - por Ralph J. Hofmann

Nos Estados Unidos, uma das maneiras de definir uma pessoa como bandido, fora-da-lei ou desonesto é dizer que “parece um empresário do lixo de Nova Jersey”. O motivo é simples, a capital do crime não é mais Chicago. A sabedoria popular vincula, e os livros “best-sellers” usam como chavões, o controle do crime como sendo em Nova Jersey, e a remoção de lixo nesse estado gera um rio de propinas e até guerras pela posse dos contratos. Já os assassinos de contrato seriam de Filadélfia, na Pensilvânia, onde, segundo a sabedoria popular, o lixo também sempre é controlado de uma forma ou outra.

É difícil ser preciso, pois normalmente os contratos de lixo são por diferentes áreas, mas realmente a quantidade de indiciamentos de empresários da coleta de lixo, posteriormente vinculados ao crime organizado é bastante grande. É um crime tipicamente vinculado ao tráfego de influência, são contratos de alto valor. É dinheiro que não precisa ser lavado, pois tem origem formal, enquanto que as propinas podem ser obtidas do dinheiro de drogas ou proteção, não precisando ser previamente lavado, ou seja, é uma forma de obter dinheiro limpo com dinheiro sujo. O valor da propina passa a ser quase imaterial.

Há outro fator. Na década de 20 as altas receitas da Máfia vinham da bebida ilegal, da prostituição, da proteção, de participações em assaltos e do controle aos sindicatos de carreteiros e outros.

Com o passar dos anos a bebida foi legalizada novamente, a prostituição passou em grande parte às mãos de pequenas redes de rufiões, e, com o passar dos anos até às mãos de “call girls” individuais, os assaltos também são atividades de livre-atiradores, os sindicatos, apesar de haver ainda uma alta influência de crime organizado em alguns setores, estão constantemente sendo monitorados, especialmente pela fiscalização de seus fundos de pensão.

Restaram certas atividades como as drogas, o jogo. O lixo passou a ser uma grande atividade. Novas gerações de mafiosos preferiram se envolver a construção civil e com o jogo e hotelaria em Reno e Las Vegas, atividades aparentemente dentro da lei, mas com algumas possibilidades de realizar lucros excepcionais.

O interessante é notar que no Brasil alguns destes crimes foram a fonte do caixa dos movimentos de esquerda nos anos sessenta e setenta. Assaltos a bancos em particular.

Portanto, não surpreende que, com o passar do tempo, a coleta de lixo tenha se tornado uma das fontes de receita dos homens que iniciaram suas carreiras militando nas organizações que combatiam o governo nos anos sessenta e setenta. Ao ficarem à margem do “establishment”, atacando-o, passaram a raciocinar fora-da-lei. Esperávamos o que? Que ao assumirem o poder simplesmente se tornassem vestais? Sim, esperávamos isto, já que muitas vezes na história do país, os revolucionários ou golpistas brasileiros foram para o exílio, e após alguns anos, com as mudanças políticas voltassem ao país, ocupassem suas posições na política, no comércio ou nas forças armadas e levassem vidas dignas continuando a se bater por seus ideais.

Mas a diferença é que o grupo de pessoas que aí está foi levado ao poder, após o retorno, não por um líder com ascendência intelectual sobre o grupo, mas um homem de puro carisma. Quem foi elevado ao poder não tem muita percepção dos caminhos que levam aos resultados concretos para o país como um todo. E os que cercam nosso Grande Timoneiro têm mais semelhanças com o Collor do que apenas a facilidade com que se dispõe a depenar a economia. Estava claro que o Collor queria fundar uma dinastia para exercer o poder. Estava fazendo caixa para tanto. Já os atuais rapinantes da economia almejam uma perpetuação de sua agremiação no poder, e, acostumados à clandestinidade, em sua maioria acham perfeitamente normal locupletar-se.

Não esqueçamos que alguns dos elementos que viveram a clandestinidade contam que muito da renda de assaltos ou desvios de dinheiro dos anos de ferro acabou gasto em “vinho e mulheres”, ou seja, havendo dinheiro à mão, bastando para obter mais atacar outro banco faziam bom proveito. De posse do poder, sendo um grupo, e muito melhor organizados e afinados do que P.C. Farias, seu sucesso foi estrondoso, a ponto de neutralizar alguns, e executar outros de seus dissidentes que se atreviam a denunciar a bola de neve em que se havia transformado a corrupção.

De qualquer maneira, a semelhança com Nova Jersey salta aos olhos. Basta começarmos pela preferência por contratos de lixo, e acertos de proteção a companhias de transporte urbano. O Brasil tem relativamente poucos descendentes de imigrantes Sicilianos, a maioria era do Norte da Itália. O que meramente prova que ser Mafioso é um estado de espírito e uma vocação, não uma etnia.

“Por exemplo: O João Pedro Stédile é descendente de vênetos, a maioria de seus primos consiste de respeitáveis empreendedores, pequenos, médios e grandes. Mas sempre existe uma ovelha negra na família.”

Com autorização do autor.

Publicado inicialmente no Diego Casagrande