20 de out. de 2006

Mídia Sem Máscara.org - 20/10/2006


Trapaça da grossa - por João Luiz Mauad

Resumo: Lembram-se da auto-suficiência em petróleo, cantada em prosa e verso por aquele que nunca sabe o que importa, mas que decora números e estatísticas melhor do que alguns experientes atores de teatro? Pois é: era tudo mentira.

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Definitivamente, estimado leitor, não dá para confiar nesse governo que aí está. Toda e qualquer informação deve ser confirmada, checada e analisada com muito cuidado, pois a possibilidade de estarem querendo nos engabelar é imensa. Tratam-nos como a um bando de imbecis, nos informam apenas o que lhes interessa politicamente (talvez melhor seja falar eleitoralmente), omitem tudo que lhes possa criar embaraço e mentem. Mentem descarada e solenemente, sempre visando, única e exclusivamente, as suas próprias conveniências. E o pior: contam com o beneplácito de uma imprensa complacente, seja por interesses econômicos ocultos, seja por um total e absoluto despreparo intelectual e profissional.

Lembram-se da auto-suficiência em petróleo, cantada em prosa e verso por aquele que nunca sabe o que importa, mas que decora números e estatísticas melhor do que alguns experientes atores de teatro? Lembram-se da propaganda maciça e inclemente da Petrobrás, no início do ano (eleitoral!), nos mostrando como ela é eficiente? Lembram-se da fotografia da famosa mão tetra-digital ensopada de ouro negro? Lembram-se da farra publicitária, para mostrar aos súditos de Sua Majestade o quanto deveríamos ser-lhe gratos por tamanha benção? (Aliás, esse pessoal das estatais adora falar de uma tal “governança corporativa”, mas do que eles gostam mesmo é de uma boa “gastança corporativa”).

Pois bem, nobre amigo, era tudo cascata. Mentira da grossa. Duvida? Pois então vá ao site da ANP (http://www.anp.gov.br/petro/importacao_dados.asp) e confirme você mesmo. Veja lá que importamos US$ 6,353 bilhões em petróleo cru e exportamos US$ 4,131 bilhões, no período de janeiro a agosto deste ano. Isto corresponde a um déficit nominal de US$ 2,222 bilhões até agosto. Em valores físicos, importou-se 91,24 milhões de barris e exportou-se 78,73 milhões, perfazendo um déficit total de 12,5 milhões de barris.

Aliás, eu gostaria muito que alguém desse uma explicação para uma questão que deixou-me, por assim dizer, embasbacado. A nossa gloriosa Petrossauro (Ave! Mestre Roberto Campos) importou petróleo cru a um preço médio de US$ 69,06 por barril (FOB) e vendeu ao exterior o nosso valiosíssimo “produto estratégico”, retirado de nossas reservas nacionais “estratégicas”, por um preço médio aproximado de US$ 52,46 (veja tabela abaixo). Tudo bem, tudo bem, eu sei que há diferentes qualidades de petróleo, mas uma diferença média de US$ 17 por barril? Que diabos de petróleo é esse que temos aqui, que vale perto de 20% menos que os outros?

A mesma ANP mostra que a produção total de petróleo no Brasil, de janeiro a agosto, somou 413.789.403 milhões de barris, o que dá uma média diária de 1.724.122 barris. Isto ainda é muito inferior à meta de 1,9 milhão de barris diários, necessários, segundo do diretor de exploração e produção da Petrobrás, Guilherme Estrela, para que alcançássemos a famigerada auto-suficiência. Segundo este mesmo diretor, falando à Agência Estado, malgrado todos os esforços da BR, está muito difícil atingir a meta até dezembro. (Se a minha matemática não estiver errada, o país precisaria produzir, entre setembro e dezembro, uma média diária de 2.25 milhões de barris diários para fechar o ano dentro da meta (da real auto-suficiência) de 1,9 milhão.

Guilherme Estrela é, provavelmente, um técnico preocupado com metas de produção e outros fatores objetivos. Seria, se isto aqui fosse um país sério, a pessoa mais qualificada para informar, à plebe ignara, sobre um assunto eminentemente técnico. Mas, em Pindorama, não é assim que as coisas funcionam. O diretor da área foi devidamente atropelado pelo excelentíssimo senhor ministro das minas e energia, Silas sei lá das quantas, que em entrevista ontem, 18/10, em São Paulo, garantiu, peremptoriamente, que a “meta será atingida”. Ponto. Só faltou completar com o velho jargão “doa a quem doer”. Provavelmente, o ministro está mais bem informado que o diretor da área.

O que mais me espanta, quando olho para esses números e assisto ao festival de desinformação governista, não é nem a grande trapaça que eles acobertam, até porque eu já ando meio que vacinado contra as fraudes dessa turba torpe e sem escrúpulos que anda lá pelo Planalto Central. O que realmente assombra é a total complacência dos meios de comunicação. É a sua capacidade, pelo menos quando o assunto é Petrobrás, de não enxergar meio palmo adiante do nariz. Mas isto também tem uma explicação, estimado leitor. De acordo com o deputado Alberto Goldman, a Petrossauro gastou em publicidade, só no primeiro semestre do ano, a bagatela de R$ 134 milhões. Vai que esta “deusa magnânima”, que não tem concorrentes no mercado e, por isso, não carece de tanta gastança em propaganda, se enfurecesse e resolvesse parar com tal orgia publicitária. O que seria dos pobres jornais e TV’s desse país?

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Ah! Esses debates... - por Percival Pugina

Resumo: Ouvir Lula comparar o número de mega-operações da Polícia Federal durante seu governo com as ocorridas na gestão anterior é mais excitante que desarmar bomba-relógio.

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O australiano Steve Irwin, recentemente falecido, curtia sua dose de adrenalina brincando com cobras venenosas e crocodilos. Há quem dela se abasteça surfando em ondas de vinte metros ou se jogando de penhascos em minúsculas poças de água. Eu curto assistir debates. E, como esses outros performáticos, ainda morro disso. Aliás, minha mulher está sob forte risco de viuvez antes do dia 29.

Não é para menos. Ouvir Lula comparar o número de mega-operações da Polícia Federal durante seu governo com as ocorridas na gestão anterior é mais excitante que desarmar bomba-relógio. E a tensão se multiplica porque ninguém o adverte de que tinha que ser assim mesmo já que nenhum governo anterior deu tantos motivos para o trabalho policial. Olívio é outro que tem efeito muito positivo nas minhas supra-renais. Principalmente quando fala sobre a Ford e diz que estava “negociando com a empresa”. Que negociação bem sucedida, companheiro! Se Olívio cumprisse o contrato, a empresa, por força do contrato, ficava no Estado por mais que a Bahia lhe fizesse acenos, requebros e mandingas. Para que ele, em 1999, pusesse no Caixa Único os R$ 200 milhões da Ford, os gaúchos perderam 80 mil postos de trabalho bem remunerados e a economia do Estado jogou fora algo como R$ 6 bilhões/ano, pelo resto de nossas vidas. Haja adrenalina!

Lula adotou a estratégia de mostrar que seu governo foi muito melhor do que o de FHC. E ninguém lhe diz que ele e seu partido foram contra tudo que hoje conta a favor da gestão petista: o Plano Real (que diziam ser uma mentira), o pagamento da dívida externa (que queriam calotear), as privatizações (só as teles já geraram R$ 118 bilhões em impostos), a reforma da previdência (que Lula acabou arrochando ainda mais), a abertura do mercado brasileiro (que chamavam de globalização neoliberal).

Mas nada me eleva tanto os batimentos cardíacos quanto perceber Lula e seus companheiros empenhados em assemelhar Alckmin a FHC. Mas que coisa! Não há governo mais parecido com o do FHC do que o de Lula. Muito tem sido dito, aliás, que o governo Lula é o terceiro mandato do Fernando Henrique. Alguém, aí, tem uma tenda de oxigênio?