11 de set. de 2006

Vilania Triunfante - por Ralph J. Hofmann

“What did you expect? An opera with a happy ending? (O que você esperava? Uma ópera com final feliz?)” - Bugs Bunny, o Pernalonga

Devo estar errado, mas recentemente concluí que a Globo sempre torce pelos vilões. Talvez sejam os dramaturgos da Globo, que gostariam de se considerar escritores sérios. Gostariam de escrever “Anna Karenina”, com a heroína se jogando na frente do trem pelo seu amor mal resolvido. Nada da leveza de um “Til Eulenspiegel”, divertindo-se às custas dos poderosos (honremos aqui a exceção, “Que Rei Sou Eu”).

Os vilões da Globo sempre são super. Prevêem as resistências que possa ser esboçada pelas suas vítimas e as neutralizam. A legislação brasileira sempre é ignorada para que fortunas possam ser escamoteadas e os casais nunca têm suficiente confiança uns nos outros para evitarem desconfianças.

Com todas as vantagens que os roteiristas colocam a favor dos vilões estou convicto que lá no fundo, bem no fundo de suas almas argentarias, gostariam de ter a coragem de fazer o vilão ganhar no fim. Mas isto comprometeria seus próximos trabalhos. Então nos reduzem ao nojo. Por um lado sempre há alguém em casa que nos faça sair do canal a cabo e assistir as novelas. Por outro lado não agüentamos mais os vilões das novelas após assistirmos ao noticiário em que vemos os vilões de verdade.

Ha alguns anos atrás, após minha separação, vivi com um filho que tinha 13 anos. Este assistia “Malhação” todas as tardes, enquanto eu trabalhava ao computador na mesma sala. À época fiquei impressionado com a noção de crime e castigo, os problemas abordados e a maneira com que eram expostos. Eu poderia dizer que este programa me ajudou a criar meu filho. Despertou diálogos entre pai e filho. Coisa excelente.

Meu filho hoje não está mais em casa, mas restou o hábito de monitorar esse programa. Talvez eu assista um ou dois capítulos por semana. O suficiente para saber o que está acontecendo. Mas que desapontamento! Os vilões não são mais castigados exemplarmente. Os “bonzinhos” são uns panacas. O vilão de um ano aparece na temporada seguinte como objeto de pena por estar sendo castigado pelo mal que fez e se transforma em “bonzinho”. Os assuntos dignos de nota como passaram a escassear. Jovens de dezessete anos montam complôs para se dar bem e jogam a culpa nos outros. Descobertos tudo acaba em pizza.

Talvez com a pueril desculpa de mostrar o país como ele é, em que aparentemente as autoridades têm pena de castigar um corrupto, estamos criando mais uma geração que aceita desvios graves da ética e da moral.

Fica a pergunta. A série espelha o Brasil, ou ela está moldando o Brasil do amanhã?

Com autorização do Ralph J. Hofmann - fonte: Diego Casagrande

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