11 de set. de 2006

A Cruzada Reversa - por Rodrigo Constantino

Twin Towers

Com autorização do Rodrigo Constantino

Existem momentos na vida onde manter-se em silêncio é um erro, e falar uma obrigação; um dever cívico, um desafio moral, um imperativo categórico do qual não podemos escapar.” (Oriana Fallaci)

Passados cinco anos do atentado terrorista que estarreceu o mundo, choca-me que muitos ainda preferem ignorar fatos da realidade sobre o que representa a verdadeira ameaça islâmica. À época do ataque coordenado por Bin Laden, a escritora italiana Oriana Fallaci escreveu um pequeno livro – um verdadeiro desabafo – intitulado The Rage and the Pride. Trazer alguns pontos da autora nessa data, para relembrar determinados argumentos esquecidos, é meu objetivo com este artigo.

O próprio Bin Laden reforça as palavras de Oriana, quando esta afirma que as pessoas não entendem, não querem entender, que há uma Cruzada reversa em andamento, uma guerra religiosa a qual os fanáticos chamam de Jihad. O Ocidente é um mundo a ser conquistado, subjugado ao Islã. Antes que os relativistas acusem, Oriana Fallaci não é uma cristã fanática, tampouco uma defensora de Bush. Ela mesma se reconhece atéia, e não poupa críticas aos governos conservadores. Porém, isso não a impede de enxergar o que os fanáticos pretendem, com o apoio de uma razoável parcela dos muçulmanos. Não se trata de um confronto militar, mas sim cultural, religioso. As vitórias militares do Ocidente não resolvem a ofensiva do terrorismo islâmico, mas encorajam-na. Elas exacerbam tal ofensiva, multiplicam-na. “O pior ainda está por vir”, prevê Oriana. Um choque de civilizações, como escreveu Huntington.

Os inimigos usam as qualidades do Ocidente como arma contra o próprio Ocidente. Quanto mais uma sociedade é aberta e democrática, mais exposta ao terrorismo ela está. Os próprios americanos costumavam enaltecer a ilusão de invulnerabilidade da América, ignorando que a vulnerabilidade advém justamente de sua força, sua riqueza. São as razões que incitam todo tipo de ciúmes e raiva. A própria essência multiétnica e sua tolerância viram-se contra ela. O que o Ocidente em geral e os Estados Unidos em particular apresentam de melhor é justamente o que é usado pelos fanáticos contra o Ocidente.

Fallaci escreve, segundo ela mesma, para as pessoas que, apesar de não serem estúpidas ou más, enganam-se na piedade e incertezas, buscando suavizar o que o Islã de fato representa. O medo de nadar contra a corrente e parecer racista – um erro gritante, já que não se trata de uma raça, mas de uma religião – cega tais pessoas, impedindo a visão da Cruzada reversa em marcha. Não querem ver que se o Ocidente não lutar, não se defender, a Jihad irá vencer. O raciocínio de Oriana, há anos, tem sido o seguinte: que lógica há em respeitar aqueles que não nos respeitam? Exatamente na mesma linha de Karl Popper, quando disse que “não devemos aceitar sem qualificação o princípio de tolerar os intolerantes senão corremos o risco de destruição de nós próprios e da própria atitude de tolerância”. Muitos que se dizem defensores da tolerância, no fundo, desejam a derrocada do modelo ocidental, torcem pelo êxito dos fanáticos. Por antiamericanismo patológico, desejam ver o colapso da América, ignorando que isso significaria o colapso da Europa, de todo o Ocidente. Seria o reino da barbárie.

Uma parte da raiva da autora é dedicada aos que tentam analisar tudo pelo prisma de “diferenças culturais” apenas. Fallaci refresca a memória dos leitores a respeito do atraso e da barbárie que tal “civilização” representa. Questiona qual a grande contribuição ao mundo que veio de lá, citando Copérnico, Galileu, Newton, Darwin, Pasteur e Einstein do lado de cá, nenhum deles seguidor do “profeta”. O motor, o telégrafo, a luz elétrica, a fotografia, o telefone, o rádio, a televisão, o computador, nada foi inventado por um aiatolá da vida, mas pelos ocidentais. O trem, o automóvel, o avião, o helicóptero e as espaçonaves, tudo criação ocidental. Os transplantes de coração e pulmão, as curas para tipos de câncer, a decodificação do genoma, tudo que é avanço medicinal, nada fruto dos seguidores de Alá. Quais as conquistas da outra cultura, da cultura dos barbados com burca que maltratam as mulheres? Nenhuma vitória nos campos da ciência, tecnologia ou bem-estar social.

Como os relativistas culturais justificam a monstruosidade da lapidação de esposas adúlteras em pleno século XXI? Como explicam a pena de morte para quem bebe álcool ou a mutilação de ladrões, a mão esquerda amputada pelo primeiro roubo, a direita pelo segundo, o pé esquerdo pelo terceiro, e por aí vai? Os esquerdistas que defendem o Islã esqueceram agora que a “religião é o ópio do povo”, como dizia Marx? Por que não acusam as teocracias orientais? As tiranias islâmicas não são igualmente inaceitáveis como o fascismo e o nazismo?

Oriana não pretende interferir nas escolhas dos outros, mas sim evitar que tais loucuras sejam impostas a nós. E eis justamente o objetivo deles, segundo as próprias palavras de Bin Laden: o mundo todo deve virar muçulmano. Não há diálogo possível com gente assim. Alguém acha que conversar com Hitler teria alguma utilidade? Mostrar indulgência é suicídio, acreditar no contrário é tolice. A duplicidade, ambigüidade e hipocrisia de muitos “pensadores” ocidentais colocam em risco a própria sobrevivência do Ocidente, a própria liberdade de expressão que hoje eles usam contra si mesmos. Reconhecer que tal Cruzada reversa existe é um primeiro passo para que o Ocidente possa se defender. Antes tarde que nunca. Já se passaram cinco anos do atentado de 11 de Setembro que assustou o mundo. Antes, vários outros aconteceram. Depois, idem. Manter os olhos fechados para a realidade não é uma opção aceitável. Quando resolverem abri-los, poderá ser tarde demais...

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