1 de set. de 2006

A Esperança é a última que morre ...sacuméquié ...brasileiro

SEGUNDO TURNO, QUEM ACREDITA?
01.09, 15h01
por Guilherme Fiúza, do site NoMínimo

A diferença das intenções de voto em Lula para a soma dos outros candidatos está em 12 pontos percentuais a favor do presidente, segundo o Datafolha, última pesquisa divulgada. Mas pode haver distorções nessa leitura.

O número de votos nulos, brancos e abstenções tenderia a ser mais alto entre o eleitorado de Lula – menos instruído – e essa tendência as pesquisas não captam.

Se estiver certo o cálculo feito pelo prefeito e analista eleitoral César Maia, no dia da eleição esses “não-votos” serão o dobro do que as pesquisas mostram (ou seja, passando de 20% do eleitorado). E 80% desse aumento estariam entre os que hoje dizem que votarão em Lula.

O resumo da ópera é que os 12 pontos de vantagem do presidente sobre a soma dos outros seriam, na verdade, observadas essas projeções, apenas 4 pontos. Ou seja, o segundo turno estaria muito mais próximo do que parece.

Este seria o motivo, apontado por Alckmin, pelo qual o programa de governo do PT foi tão agressivo nas críticas ao governo FHC.

Pode ser ciência. Ou pode ser torcida. A resposta chegará em um mês.

Paulo Moura31.08, 17h39

por Paulo G. M. de Moura, cientista político

Faltam cerca de 30 dias para o fim do 1º turno. Os institutos Sensus e Datafolha convergem ao apontarem que Lula superou a marca dos 50% das manifestações de intenção de voto. Convergem, também, ao apontarem aumento da rejeição e pequena queda de Heloisa Helena, confirmando o que as pesquisas anteriores já demonstravam. Mas, divergem sobre os índices de Alckmin nas pesquisas e sobre os índices de aprovação do governo. Para o Sensus, a avaliação do governo Lula não caiu e Alckmin estaria estacionado na marca dos 19%. Para o Datafolha a avaliação de Lula caiu e Alckmin cresceu cerca de 2 pontos percentuais, indo de 25% para 27%.

Prefiro achar que o Datafolha está certo. Ao se comparar com Lula em sua propaganda, o candidato tucano começou a recuperar eleitores que havia perdido para Heloisa Helena. A face radical-sorridente da “candidata-Orloff” (eu sou o PT de ontem) do PSOL só agrada a quem votaria nulo ou aos petistas arrependidos. O eleitor antilulista conservador é de Alckmin e está voltando para casa.

Mas os 50% de Lula são de causar infarto na oposição. Sinto-me um náufrago perdido no meio do oceano por defender as posições que defendo aqui sem poder analisar pesquisas de monitoração da propaganda na TV e seus efeitos (tracking diário e grupos focais). Não vejo ninguém correr o risco de admitir em público que a estratégia de Alckmin pode estar certa. Minha intuição me diz que a opinião dos eleitores está se movendo por baixo da superficialidade dos números das pesquisas que fazem as manchetes lulistas.

Mas Lula já anuncia seu ministério. Cláudio Lembo atira a toalha antes da hora. As manchetes compram como verdade definitiva pesquisas que simulam uma votação que só ocorrerá daqui a 30 dias. Articulistas e líderes da oposição criticam Alckmin por ter deixado a corrupção de fora da agenda de uma eleição que não terminou.

Compreensível esse sentimento de desamparo de gente que entende a natureza autoritária do PT e quer ver Lula ser dura e frontalmente criticado por Alckmin, por suas omissões e/ou cumplicidades com a mega-corrupção que se instalou em seu governo. Sou solidário a esse sentimento. Mas prefiro ver Lula perder a apenas tomar pau na hora errada e vencer. Se eu estiver entendendo a estratégia de Alckmin, a hora de Lula tomar pau está chegando.

Na primeira fase da propaganda na TV, Alckmin foi apresentado a eleitores que não o conheciam. Segundo os manuais de marketing político e segundo minha percepção do tabuleiro dessa disputa, essa foi uma iniciativa necessária e correta. Nem mesmo Lula deixou de apresentar-se e de relembrar seu passado humilde aos eleitores. Há casos em que é necessário romper com a lógica dos manuais. Não me parece ser isso o que se impõe ao caso de Alckmin.

Como seria possível a Alckmin, desconhecido de uma parcela expressiva dos eleitores - especialmente dos eleitores do petista, de baixa renda e baixo grau de instrução, que vêem no “pai dos pobres” alguém que é “gente como a gente” - acusar Lula frontalmente de ter vendido a alma para o diabo para chegar e ficar no poder, sem fazer com que esses eleitores se sentissem agredidos? É preciso criar condições para isso. E é isso o que Luiz Gonzalez (marqueteiro de Alckmin) vem fazendo.

Depois de apresentá-lo aos eleitores, Gonzalez começou a estabelecer contrastes de estilo entre Alckmin e Lula. A queda da avaliação positiva do governo e o crescimento de Alckmin apontado pelo Datafolha pode ser um primeiro e ainda insipiente resultado desse segundo movimento da estratégia. No programa de TV do último dia 29 Gonzalez introduziu o primeiro ataque a Lula no terreno da ética. Hoje deve dar outro tiro. Mas, Gonzalez tomou o cuidado de desassociar o ataque do seu autor. O artifício consistiu de “encurtar” o programa de TV de Alckmin, que fechou alguns segundos antes com a vinheta que demarca seu fim, introduzindo um módulo de ataque no qual um personagem relembra aos eleitores a cronologia da corrupção no governo Lula e chama-os à reflexão. O recurso tático me parece correto e adequado ao objetivo dessa fase da campanha.

Com a elevação gradual do tom dos ataques na propaganda de Alckmin, é possível que mais eleitores antilulistas voltem para o candidato tucano. Mas, por mais alguns dias ainda, não será hora do “vazamento de lá para cá” a que fiz referência em meu último artigo. Observe-se que os críticos de Alckmin na oposição, que querem vê-lo jogar a corrupção na cara de Lula, ainda não estão totalmente satisfeitos. Mas, não é para conquistar o voto deles que Gonzalez pensou sua estratégia.

Se a propaganda negativa que os críticos de Gonzalez querem ver é a solução para derrubar Lula, ela pode prestar esse serviço daqui a pouco, como prestaria se fosse usada no início do horário eleitoral gratuito. Qual a diferença entre atacar Lula frontalmente antes, ou atacá-lo daqui apouco?

Ora, se um candidato desconhecido dos eleitores de cujo voto precisa, ataca frontalmente um candidato conhecido, que já é presidente da República e que é visto como “gente como a gente” e como “pai dos pobres” por esses eleitores, quem tende a levar a melhor? Comunicação é um bicho complexo, mas a lógica sugere que Lula levaria a melhor, tornando-se vítima de críticas percebidas como injustificadas aos olhos de seus eleitores, desinformados, deseducados e desmemoriados.

Em breve, as imagens das CPIs e as cenas gravadas de Waldomiro Diniz e do funcionário dos Correios pedindo e pegando propina; do dirigente petista admitindo ter levado um carro importado de segunda mão como propina da empresa GDK; da opressão sobre o caseiro da mansão dos horrores; das demissões de Zé Dirceu e Palocci; ou outras, virão ao ar acompanhadas de críticas diretas de Alckmin a Lula. Cenas de corrupção explícita não faltam ao governo Lula. Cesar Maia tem sugerido idéias ótimas para serem aproveitadas. Quando a hora chegar.

Repito, se peças de comunicação como essas funcionam para tirar votos de Lula, funcionariam antes como podem funcionar daqui a pouco. A diferença está no resultado de seu uso, na hora certa ou na hora errada. Bater desde o início poderia garantir o segundo turno, mas dificultaria a Alckmin tirar eleitores de Lula.

Os eleitores de centro que estão com Lula; óbvio, não são antilulistas. Podem mudar de candidato, desde que Alckmin consiga convencê-los que será melhor presidente, garantindo-lhes que vai preservar o “bolsa-esmola” e que, diferente de Lula, não é omisso, nem cúmplice, nem conivente com a corrupção. O voto dos antilulistas já é de Alckmin. Ou será no segundo turno. O objetivo de Gonzalez é tirar votos de Lula para Alckmin vencer e não apenas para ir ao segundo turno. Vamos ver se consegue.

Gosto do Paulo Moura. Admiro o seu pervicaz otimismo; a meu ver, uma aposta. Se o mesmo acertar, o país - num todo - ganha, a Democracia ganha.

Leia ainda PÓS-LULA: O BRASIL SAI DESSA PIOR, de 18/08/2005

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