11 de abr. de 2006

Além da marca d’água - por José Alan Dias

Exceto pelas grandes companhias, aquelas que, em razão do próprio porte e por decisões estratégicas, atravessaram a década de 90 e início dos anos 2000 promovendo reformas em sua estrutura administrativa, equacionaram dívidas e aumentaram o investimento produtivo, o quadro geral do setor industrial brasileiro pode ser resumido da seguinte forma: assim como o investimento, a produtividade também é pró-cíclica. Se a economia cresce, o investimento cresce e a produtividade acompanha. Se a economia patina, investimento e produtividade patinam.

É um comportamento absolutamente racional, não fosse um detalhe: o ideal seria que, em períodos cíclicos, como neste ano, a produtividade crescesse em ritmo maior que a economia. Confirmadas as expectativas, a economia brasileira terá expansão de 3,5% — o Banco Central prevê um número maior, de 4%. A produtividade, no entanto, crescerá cerca de 2%, segundo estimativas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Dessa forma, não deveria causar nenhuma estranheza a constatação, em uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), de que entre 2000 e 2005 a produtividade da indústria brasileira acumulou ganho de apenas 3,4%, resultado que só perde para a segunda metade dos anos 1980. A constatação da CNI e do Iedi é que a produtividade não avança, deixando o país quase na rabeira entre 23 nações analisadas, porque o investimento também se mostra insuficiente às necessidades da indústria.

O Brasil é um grande desincentivo ao investimento produtivo. Se uma empresa tiver interesse em investir US$ 100 no país, na verdade precisará “separar” US$ 120, estima Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi, usando como base números da ONU e do Banco Mundial. Os US$ 20 se referem aos impostos, custos financeiros muito acima da média mundial e burocracia, que também custa muito. Nos EUA, para fazer o mesmo investimento de US$ 100, o empresário desembolsa, na realidade, apenas US$ 95 — os US$ 5 complementares são oferecidos pelo governo por meio de renúncia fiscal. No Chile, o custo desse mesmo hipotético investimento seria inferior a US$ 90.

As causas do baixo nível de investimento no país estão todas vinculadas ao conhecidíssimo e pouco combatido custo-Brasil. O governo fez algum esforço para amenizar a situação, como reduzir de dez para cinco anos o prazo de depreciação dos bens de capital, e de quatro para dois anos a devolução do PIS (Programa de Integração Social) e da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) para máquinas e equipamentos. Parou por aí. A reforma tributária se resumiu a um arremedo.

As taxas de juros reais, sinalizou mais uma vez o presidente do BC nesta segunda-feira, não devem retroceder abaixo do piso de 10%. Uma taxa de juros real de 10% pode até estar dentro da histórica média brasileira, mas é colossal quando comparada ao resto do mundo.

Grandes empresas conseguem se posicionar no primeiro nível em tecnologia e maquinário porque não dependem de financiamento interno e conseguem superar o custo-Brasil com ganho em escala. Os setores intensivos em mão-de-obra tornam-se mais vulneráveis aos efeitos do câmbio, da carga tributária e dos juros. Como alertou a CNI, “se não recuperar o crescimento da produtividade, o Brasil pode perder mercado em setores como o de vestuário, calçados e produtos têxteis”. Se esses setores já penam para se manter acima da marca d’água, como pensar que possam aumentar substancialmente os investimentos?

Fonte: Primeira Leitura

Somos um país de Ladrões e Corruptos.

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