21 de jul. de 2008

A crise da crise - por Nilson Borges Filho (*)

O quadro pintado pelo delegado Protógenes Queiroz, delegado da Policia Federal e responsável pela Operação Satiagraha, que consta do seu relatório, faz justiça às pinturas do seu homônimo grego. Protógenes, o grego, foi considerado um dos artistas mais brilhantes da sua época.

Dizia-se dele, com razão, que era incapaz de considerar um quadro seu totalmente acabado, tamanho era o preciosismo com que se dedicava à obra. Um de seus admiradores foi Apelles, tido como o maior pintor da Antiguidade. Nenhuma de suas obras sobreviveram ao tempo.

Uma das mais reverenciadas recebeu o titulo de “A Calúnia”. Protógenes, o novo, também é conhecido pelos seus pares como um homem perfeccionista, ou seja, um profissional obcecado pelo trabalho que realiza, chegando à fronteira de um messianismo moral de fazer inveja ao mais moralista dos mortais.

Protógenes, o brasileiro, também conta com grandes admiradores, de dentro e de fora da Polícia Federal, mas nenhum desses chega aos pés de um Apelles, no quesito brilhantismo. Assim como Protógenes, o velho, Protógenes, o novo, também deixou pelo caminho muitos desafetos que, mais do que nunca, desejam a sua caveira.

Segundo me consta, se encontram em curso dois processos disciplinares contra o delegado Protógenes Queiroz, conseqüência de algumas atitudes, nada formais, que tomou para a obtenção de provas contra as malfeitorias do banqueiro Daniel Dantas, que vive o seu pior inferno.

Não se pode dizer de Protógenes, o novo, que seu relatório é resultado de meras elucubrações e de que não passa de uma “calúnia de Apelles”. Botticelli tentou reproduzir o quadro “A Calúnia”, mas não obteve o menor êxito.

Parece que o governo tenta de todas as maneiras afastar o delegado Protógenes e conseguir, a qualquer preço, um Botticelli para terminar o inquérito policial da Operação Satiagraha. A questão aqui é saber se vão aparecer interessados em cumprir o papel de Botticelli.

Quando todos imaginavam que a crise gerada pelo prende-e-solta do banqueiro Daniel Dantas ficasse no âmbito da Polícia Federal e do presidente da Suprema Corte, eis que surge, sabe-se lá de onde, a figura do presidente Lula dando “pitaco” na condução do inquérito policial.

É difícil de imaginar que a principal figura da República abandona a liturgia do cargo de presidente da Nação brasileira e incorpora a do policial de quarteirão.

Ocorre que não é segredo para ninguém que Sua Excelência está por conta com o delegado Protógenes, por incluir nas investigações pessoas da cozinha presidencial, como o seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho e a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Mas ao falar sobre a disputa interna na Policia Federal, o presidente Lula trouxe a crise para dentro do Palácio do Planalto. O grupo duro da presidência sabe que a medida urgente que deve ser tomada é tirar, o mais breve possível, o presidente Lula do cerne da crise e, se possível, transferir toda a responsabilidade para Tarso Genro, ministro da Justiça e chefe da Policia Federal.

Não é de hoje que o ministro está sendo fritado pela cúpula palaciana. A cabeça de Tarso Genro foi colocada a prêmio, principalmente pelas suas falas tresloucadas, muitas delas servindo, justamente, para agudizar uma crise que o governo está fazendo de tudo para colocar um fim.

E Lula, como é do seu feitio, não levantará uma palha para segurar o seu ministro no cargo. O ex-ministro José Dirceu já encomendou as champanhotas.

(*) Nilson Borges Filho é doutor em Direito, professor e colaborador deste blog.

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