17 de out. de 2006

A pior das desonestidades - por Percival Puggina

Quem é mais danoso? O Silvio Pereira ao receber aquela Land Rover de uma empresa que prestava serviços ao governo ou o Ministro da Justiça quando oculta informações? O Roberto Jefferson que sabia de tudo ou o Presidente que proclama nada saber, mesmo sobre o que foi alertado? A pior das desonestidades, a meu ver, é a mentira usada como instrumento de conquista ou de manutenção do poder. Conquistadas ou mantidas as posições através da falsidade, tudo mais é conseqüência, corolário da mesma falta essencial de caráter.

Circula na internet um quadro comparativo das gestões de Lula e FHC. O leitor desprovido de capacidade de análise, memória e senso crítico, lendo aquilo, não duvidará: Lula é um estadista e seu antecessor um incompetente; Lula e o PT salvaram o Brasil de um desastre que será inevitável se Alckmin chegar à presidência.

Suponhamos que seja bem sucedida essa estratégia, à qual se somam o mensalão dos ricos, o mensalão dos pobres e a mentira adicional de que o primeiro não existiu e o segundo se extinguirá em caso de vitória oposicionista. Teremos, então, mais quatro anos com um presidente que nada sabe, rodeado por uma ciranda de patifes (há exceções), oriundos de inesgotável usina, que se vão sucedendo nas poltronas do poder assim como são trocados os bastões numa corrida de revezamento.

O tal comparativo silencia sobre verdades indispensáveis. Praticamente todos os indicadores que o governo Lula pode exibir se apóiam em políticas produzidas na gestão anterior, sob intensa oposição petista. O risco Brasil caiu? Sim, porque o país honrou seus compromissos externos. Mas enquanto era Fernando Henrique que assumia o ônus de pagar a dívida, o PT oposicionista angariava simpatias com um "plebiscito" e um acalorado discurso pelo calote. A inflação cedeu? Sim, graças ao Plano Real, concebido, criado e mantido contra a metralhadora retórica petista, que não cessava de tagarelar sobre "a mentira do Real". Lula dispôs de mais recursos para programas sociais e luxos pessoais? Sim, mas isso foi possível graças à Reforma da Previdência, à estabilidade e às privatizações. E a tudo o velho PT se opunha. Só a privatização das teles geraram R$ 118 bilhões em impostos ao proporcionar, com investimentos de R$ 135 bilhões, o salto das comunicações que se produziu no país. A balança comercial produz bons resultados? Sim, graças à abertura ao mercado global, que Lula e o PT sempre denunciaram como algo diabólico, o bebê de Rosemary do tal neoliberalismo.

Eu poderia prosseguir, mas me falta espaço para denunciar todo esse parasitismo de chupim que não apenas bota ovos no ninho alheio como ainda critica o construtor antes, durante e depois. Quem comete tais desonestidades intelectuais praticará as outras com a mesma naturalidade e a mesma falta de constrangimento. Tudo bem coerente com a conduta de um grupo político que antes se apresentava como o único honesto e agora se esfalfa para provar que não é o mais corrupto.

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